A F1 parecia viver um período de transição no início da década de 80. As equipes tradicionais, como as duas últimas campeãs mundias, Ferrari e Lotus, ainda estavam bem abaixo das expectativas e no lugar delas, um batalhão de equipes emergentes davam as cartas naquele início de campeonato de 1980, com Williams, Renault, Ligier e Brabham dominando as primeiras corridas daquela temporada. Fora a Brabham no longuínquo ano de 1967, nenhuma delas haviam conquistado um título até então. Junto com esses times, vários pilotos praticamente novatos mandavam no certame, com René Arnoux liderando o campeonato após vencer as duas últimas corridas, enquanto Nelson Piquet e Didier Pironi faziam ótimas corridas até então. Em comum a esses três pilotos, apenas que eles estrearam em 1978, ou seja, tinham, no máximo, quarenta corridas de F1 no currículo.
Piquet já dava sinais que a aposta da Brabham em promovê-lo a primeiro piloto após a saída de Niki Lauda foi mais do que acertada e o brasileiro procurava sua primeira vitória para provar que tinha condições de brigar pelo título mundial apesar de estar apenas em sua segunda temporada completa na F1. Com um carro excepcionalmente acertado para o circuito de Long Beach, Piquet conseguiu sua primeira pole na F1 com mais de 1s de vantagem sobre o 2º colocado René Arnoux, surpreendendo com uma primeira fila num traçado que claramente não favorecia o seu carro com motor turbo. Na segunda fila, duas surpresas. A Alfa Romeo finalmente conseguia resultados condizentes ao seu investimento e Patrick Depailler, um piloto considerado acabado após um acidente de asa-delta em 1979, conseguia a 3º posição, à frente de Jan Lammers, estreando de forma incrível seu novo ATS. Enquanto isso, os campeões mundias de 1978 e 1979, Mario Andretti e Jody Scheckter, respectivamente, amargavam apenas a oitava fila. Emerson Fittipaldi conseguia a última posição no grid, superando o Shadow de David Kennedy por apenas dois décimos. Ao lado do bicampeão, largaria Clay Regazzoni, único piloto ainda na ativa da geração de Emerson.
Grid:
1) Piquet (Williams) - 1:17.694
2) Arnoux (Renault) - 1:18.689
3) Depailler (Alfa Romeo) - 1:18.719
4) Lammers (ATS) - 1:18.783
5) Jones (Williams) - 1:18.819
6) Giacomelli (Alfa Romeo) - 1:18.924
7) Reutemann (Williams) - 1:18.964
8) Patrese (Arrows) - 1:19.071
9) Pironi (Ligier) - 1:19.276
10) Villeneuve (Ferrari) - 1:19.285
O dia 30 de março de 1980 estava perfeito para uma corrida de F1 em Long Beach. A primeira curva do circuito de rua, um apertado hairpin, sempre foi pródigo em causar acidentes e por isso, todo cuidado era pouco. Sabendo da superioridade que tinha, Piquet fez uma largada perfeita, contornando a primeira curva em primeiro, seguido de Depailler e Arnoux. Uma pena foi o abandono precoce de Lammers, enquanto mais atrás a Brabham de Ricardo Zunino recebia um toque de Andretti e batia no muro ainda na primeira curva. Os sempre cuidadosos americanos resolveram deixar o carro do mexicano na área de escape. Um lugar aparentemente sem perigo, mas que mais tarde causaria uma tragédia.
Nelson Piquet fazia uma corrida perfeita e ninguém naquela tarde pôde sequer igualar o ritmo do brasileiro e o Brabham aumentava a diferença para os demais a cada volta. Ainda na terceira volta, Bruno Giacomelli vinha em 5º lugar, mas segurando um enorme pelotão atrás de si. O italiano era conhecido pela sua velocidade e, digamos, ser um pouco desastrado em suas opções táticas durante uma corrida. O italiano da Alfa Romeo vinha tentando segurar sua posição e fez com que ele, Reutemann, Jarier e Elio de Angelis fossem para a freada do final da reta dos boxes juntos. O cotovelo à direito era estreito e o resultado foi o pior possível, com Giacomelli rodando, fazendo com que Jarier e Reutemann batessem entre si e De Angelis acertasse o carro de Eddie Cheever, que estava abandonado a poucos metros do local. Quem se deu mal foi Elio de Angelis, que quebrou o seu tornozelo direito com o acidente. Enquanto isso, Clay Regazzoni e Emerson Fittipaldi, que haviam largado na última fila, utilizavam sua experiência para galgar posições e juntos, subiam pelo pelotão, enquanto os problemas não paravam de acontecer.
O líder do campeonato René Arnoux perdia rendimento a cada volta e ainda na volta 4 foi ultrapassado por Alan Jones, sendo posteriormente deixado para trás por Villeneuve, que sofria com sua quase indomável Ferrari. O segundo colocado Depailler não resistiu muito tempo ao assédio de Jones e foi ultrapassado na volta 17, com Villeneuve repetindo a manobra sobre o francês algumas voltas depois. A Alfa Romeo já mostrava velocidade, mas a pouca confiabilidade do equipamento italiano fez Depailler abandonar na volta 41 com a suspensão quebrada. Villeneuve, repetindo o erro de 1978 quando abandonou a corrida enquanto colocava uma volta num retardatário, tocava na traseira de Derek Daly enquanto colocava uma volta no irlandês e acabou tendo que ir trocar o bico do seu carro. Então, a tragédia.
Na volta 50, Regazzoni tinha acabado de assumir a 4º posição com o abandono de Jones. O suíço vinha fazendo uma corrida estupenda, enquanto Fittipaldi, igualmente sensacional, vide o equipamento que tinha, acompanhava Rega de perto. Então, no final da reta dos boxes, Clay Regazzoni perdeu os freios do seu carro a mais de 280 km/h e atingiu em cheio a Brabham de Ricardo Zunino, deixado no local desde a primeira volta. O Ensign de Regazzoni pegou fogo, mas os bombeiros agiram rápido e extinguiram o incêndio. No entanto, a situação era séria. Regazzoni estava desacordado, presos nas ferragens do seu carro e com as duas pernas quebradas. Foram precisos 30 minutos para tirar o piloto de 40 anos do seu bólido destruído. Quando chegou ao hospital, se descobriu que Regazzoni tinha a 12º vértebra esmagada e isso significava que o suíço estava definitivamente paralítico. Meses depois, Regazzoni tentou processar os organizadores por negligência, ao deixar o carro de Zunino naquele local, mas Rega acabou perdendo a causa. Ele continuou disputando corridas em carros especiais até morrer tragicamente no final de 2006.
Com todos esses incidentes, todos esperavam ansiosamente o final da corrida, que era dominada de forma abusurda por Piquet. Patrese estava muito longe para tentar uma aproximação ao brasileiro, enquanto Arnoux apenas tentava levar seu problemático Renault até o fim. Tentava. Na volta 78, o francês tem problemas em seu carro e perde um enorme tempo nos boxes, entregando o 3º lugar a Fittipaldi, que no dia anterior quase não conseguia colocar seu carro no grid. Nelson Piquet encerrava um jejum de cinco anos sem vitórias brasileiras na F1 e conseguia sua primeira vitória na F1 de forma categórica, conseguindo logo de cara seu primeiro hat-trick, com direito a vitória, pole e volta mais rápida na corrida. "Eu queria ganhar assim. Dominando a corrida, não vencendo porque alguém abandonou," diria Piquet mais tarde. Para melhorar aquela tarde para o Brasil, Emerson Fittipaldi conseguia o que viria a ser seu último pódio na F1. A imagem do velho campeão levantando o braço de Piquet significava muita coisa. Foi uma espécie de passagem de bastão, principalmente quando Emerson ficou sabendo da gravidade do estado de Regazzoni. O acidente tinha acontecido na frente de Fittipaldi e o suíço era o único piloto que tinha estreado no ano dele na F1, dez anos antes. Enquanto relaxava em uma banheira após a corrida, Emerson diz a Maria Helena, sua esposa. "Só vou correr até o final do ano. Depois, acabou." Realmente a F1 passava por um período de transição, onde saía de cena um campeão para a entrada de outro.
Chegada:
1) Piquet
2) Patrese
3) Fittipaldi
4) Watson
5) Scheckter
6) Pironi