terça-feira, 17 de agosto de 2010

História: 35 anos do Grande Prêmio da Áustria de 1975


Chegando a sua corrida natal, Niki Lauda estava com a faca e o queijo na mão. O austríaco vinha numa fase exuberante e naquele momento, todos esperavam apenas a confirmação de quando Lauda confirmaria seu primeiro título na F1. A Ferrari parecia um relógio e Lauda conquistava ótimos resultados, mesmo quando não vencia. Para melhorar, muitos dos seus principais adversários tiveram todos os tipos de problemas, inclusive seu companheiro de equipe Clay Regazzoni, que não conseguia mais acompanhar Lauda em todas as corridas.

Toda a Áustria parecia que havia invadido as suas montanhas, em direção a Zeltweg ver Niki Lauda vencer em casa. E o anfitrião fez bem o dever de casa ao conseguir mais uma pole, mas com uma pequena vantagem sobre James Hunt, na já decadente Hesketh, que, por falta de dinheiro, alugava o carro reserva de Hunt a cada corrida a quem tivesse dinheiro. Apesar de Emerson ter conseguido um bom terceiro lugar no grid, o sábado não foi de felicidade para a família Fittipaldi, pois Wilsinho bateu forte seu Copersucar num guard-rail e o brasileiro acabou quebrando a mão. O susto foi grande, mas o pior ainda estava por vir...

Grid:
1) Lauda (Ferrari) - 1:34.85
2) Hunt (Hesketh) - 1:34.97
3) E.Fittipaldi (McLaren) - 1:35.21
4) Stuck (March) - 1:35.38
5) Regazzoni (Ferrari) - 1:35.41
6) Pace (Brabham) - 1:35.71
7) Depailler (Tyrrell) - 1:35.78
8) Brambilla (March) - 1:35.80
9) Mass (McLaren) - 1:36.12
10) Scheckter (Tyrrell) - 1:36.14

O dia 17 de agosto de 1975 começou com um belo dia de sol, mas havia a previsão de chuva para a hora da corrida. Durante o warm-up, o americano Mark Donohue, um piloto multi-campeão do outro lado do Atlântico, perdeu o controle do seu March-Penske quando teve um pneu furado. A batida foi muito violenta, destruindo o guard-rail e atingindo dois comissários de pista. Os dois ficaram seriamente feridos e um deles viria a falecer mais tarde. Donohue saiu sozinho do seu carro, tendo que se desfazer das cercas que tentaram, em vão, diminuir a velocidade do seu carro. Alguns pilotos, ao verem a cena do acidente, chegaram a parar seus carros e falaram com Donohue, que se dizia bem. Porém, quando chegou aos boxes, o americano começou a sentir fortes dores de cabeça e foi levado imediatamente a Graz, onde se constatou um sério traumatismo craniano.

Com o guard-rail destruído pelo acidente de Donohue, a largada foi atrasada, proporcionando a esperada virada do tempo e a chegada da chuva, fazendo da largada, sempre um momento difícil em Zeltweg, ainda mais dramática com a pista molhada. O moral dos pilotos estava baixo quando a bandeira austríaca foi mostrada e Lauda largou muito bem, seguido de perto por Hunt. Cansado de tragédias, os pilotos não queriam ainda mais acidentes. Porém, Depailler, um notório piloto muito bom de chuva, pula para terceiro, trazendo consigo as duas Marchs de Hans-Joachim Stuck e Vittorio Brambilla.

Mesmo em condições traiçoeiras, Lauda tratou de imprimir um ritmo forte, mas Hunt era sempre uma sombra perigosa atrás do austríaco. Mais atrás, Brambilla fazia uma corrida extremamente forte e em seis voltas ultrapassa seu companheiro de equipe Stuck e também Depailler. Uma corrida assim do italiano era extremamente perigosa por outros motivos. Conhecido como o 'Gorila de Monza', Vittorio Brambilla era, por assim dizer, uma versão anterior de Andrea de Cesaris e seus acidentes eram conhecidos. Apesar de simpático e até mesmo simplório, poucos apostavam que Brambilla pudesse algo de bom na F1, mesmo o italiano tendo mostrado alguma velocidade. Em Zeltweg, Brambilla fazia sua melhor corrida na carreira e se aproximava de Hunt, outro piloto conhecido por ser propenso a acidentes. A corrida era tensa e, para piorar, a chuva aumentava de intensidade. Cauteloso com a nova situação, Lauda diminui o seu ritmo e é alcançado por Hunt e Brambilla.

Mesmo tendo toda a torcida a seu favor, Lauda praticamente entrega a posição para Hunt e Brambilla na mesma volta, a décima quinta. E vão embora! Os austríacos ficam chateados quando vêem Lauda sendo deixado para trás por dois pilotos considerados piores, mas ainda havia corrida pela frente. De forma surpreendente, Brambilla ainda não havia provocado um acidente e pressionava fortemente Hunt, que se segurava como dava. Na volta 19, ambos se aproximaram de colocar uma volta no retardatário Brett Lunger, que usava um carro da Hesketh alugado. O americano tenta dar espaço para os líderes, mas Brambilla enxerga uma chance de assumir a liderança da corrida e numa brilhante manobra, deixa os dois carros para trás no mesmo instante. Para supresa geral, Brambilla abre uma boa diferença para Hunt, enquanto a chuva já ganhava ares de temporal. Com medo de novos acidentes, ainda traumatizados pelo o que viram de manhã, os organizadores resolveram mostrar a bandeira quadriculada na volta 29. Quando enxerga a bandeira xadrez à sua frente, Brambilla se emociona e larga o volante, fazendo com que perdesse o controle do seu March e vancesse a corrida no seu melhor estilo: sofrendo um acidente!

Porém, o italiano ainda teve tempo de colocar uma ré e comemorar a vitória com a frente do seu carro toda arrebentada. Após cinco anos, finalmente a March vencia uma corrida de F1, mesmo que só valesse somente a metade dos pontos. Ao chegar aos boxes, Brambilla foi recebido com festa pela equipe, mas como a cerimônia de pódio era diferente e mais demorada, a chuva cessou e alguns times protestaram, pedindo que a corrida fosse reiniciada. Porém, o resultado foi homologado e Brambilla guardou em sua oficina, em Monza, o bico laranja todo arrebentado do seu March até a sua morte, em 2001.

Chegada:
1) Brambilla
2) Hunt
3) Pryce
4) Mass
5) Peterson
6) Lauda

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