quarta-feira, 13 de abril de 2011

História: 25 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1986

Após a já tradicional corrida de abertura no Rio de Janeiro, a F1 retornava à Europa para a primeira grande novidade do calendário de 1986. A Espanha sediou por muitos anos corridas de F1, principalmente em Jarama e no malfadado circuito de rua em Mointjuich, nos arredores de Barcelona. Desde 1981 não havia uma corrida no país ibérico, mas os responsáveis resolveram construir um novo autódromo para atrair novamente a F1, mesmo a motovelocidade sendo bem mais popular do que o automobilismo na Espanha. O circuito de Jerez de la Frontera não agradou aos pilotos e aos críticos, pois o achavam muito travado e estreito.

Como já era comum desde 1985, Senna conquistava a pole com larga vantagem sobre os demais, mas assim como aconteceu em Jacarepaguá, Nelson Piquet era o mais próximo, mostrando a rápida adaptação do brasileiro ao carro da Williams, que crescia a olhos vistos e Mansell era a prova disso, ao ficar logo atrás do companheiro de equipe. Não devemos nos esquecer que Mansell, mesmo com duas vitórias na carreira, não era considerado uma estrela na companhia até então. Em decadência ou não, a McLaren vinha logo a seguir, enquanto as Ferraris decepcionavam amargamente, com nenhum carro vermelho entre os dez primeiros do grid.

Grid:
1) Senna (Lotus) – 1:21.605
2) Piquet(Williams) – 1:22.431
3) Mansell(Williams) – 1:22.576
4) Prost(McLaren) – 1:22.886
5) Rosberg(McLaren) – 1:23.004
6) Arnoux(Ligier) – 1:24.274
7) Berger(Benetton) – 1:24.501
8) Laffite(Ligier) – 1:24.817
9) Fabi(Benetton) – 1:25.052
10) Dumfries(Lotus) – 1:25.107

O dia 13 de março de 1986 estava quente e ensolarado em Jerez, mas o público não lotou o novo autódromo. Esse clima lembrava um pouco a famosa corrida na Espanha, em Jarama, cinco anos atrás quando houve uma histórica chegada com Villeneuve recebendo à bandeirada na frente de outros quatro carros. Senna sempre dizia que largava bem para poder aproveitar sua pole e evitar problemas que sempre ocorrem nas largadas e assim o brasileiro da Lotus fez, deixando para trás os outros quatro concorrentes à briga pela corrida, com os cinco primeiros permanecendo na mesma posição no contorno da primeira curva. Teo Fabi tem o bico de sua Benetton quebrado na primeira curva, enquanto Alan Jones e Jonathan Palmer batiam no meio da primeira volta, mostrando que ultrapassar no estreito circuito de Jerez não seria tarefa fácil.

Ainda durante a primeira volta, Rosberg ultrapassa seu companheiro Prost, mas os cinco primeiros permanecem no mesmo ritmo, colados um ao outro. O finlandês, campeão mundial em 1982, sempre foi conhecido por sua agressividade e logo na 2º volta deixa Mansell para trás, subindo para terceiro. Numa tática de tentar preservar os pneus, Mansell praticamente permite Prost o ultrapassar na 6º volta, mas o inglês não desgarrava do pelotão da frente. Senna, Piquet, Rosberg, Prost e Mansell andavam como um relógio atrás do outro. Cada um com no mínimo um título de campeão. Era uma briga de cachorro grande! A Ferrari conseguia galgar algumas posições, sempre com Johansson à frente de Alboreto, mas o sueco tem problemas com os freios de sua Ferrari, passa reto numa curva e bate forte, machucando seu pé direito e tendo que ser levado ao hospital. Após ficar algum tempo atrás das McLarens, Mansell ataca e ultrapassa os dois carros brancos e vermelhos em poucas voltas, se aproximando do seu companheiro de equipe. Não era segredo que Piquet foi para a Williams tentando ficar com o status de primeiro piloto da equipe e nunca imaginou ser importunado por Mansell, até 1985 um piloto mediano. O inglês queria provar que 1986 seria seu ano de virada e na volta 32 faz uma tranqüila ultrapassagem sobre Piquet no final da reta dos boxes. O próximo alvo seria Senna. Porém, Mansell e Senna haviam protagonizados toques nas duas últimas corridas e o inglês havia se dado mal em ambas. Na abertura da volta 40, Mansell estava colado na traseira de Senna no início da reta dos boxes e no momento em que colocavam uma volta da Tyrrell de Martin Brundle, o inglês usou a potência do seu motor Honda, colocou de lado e efetuou a ultrapassagem, assumindo a ponta da corrida.

Quase ao mesmo tempo, Nelson Piquet abandonava com o motor quebrado e era Prost quem assumia o 3º lugar. O francês fazia sua corrida de espera, usando a velha tática de resguardar seu equipamento para dar o bote na hora certa. Jerez era um circuito novo e o desgaste de pneus era desconhecido para todo mundo. Rosberg, um piloto agressivo, fez sua parada nos boxes. Mansell, após abrir uma boa diferença, começava a perder rendimento e permitiu a aproximação de Senna, que já trazia Prost na sua traseira. Mansell queria se segurar na ponta até a bandeirada, mas estava claro que o Williams do inglês dificilmente seguraria na frente de Senna e Prost, que davam sinais de que não parariam nos boxes. Após ser ultrapassado pelos seus perseguidores praticamente na mesma manobra, Mansell se dirigiu aos boxes, totalmente sem pneus, na volta 62. Faltavam apenas dez para o final. Mansell parecia ter perdido a corrida nesse momento, enquanto Prost esperava um cada vez mais desequilibrado Senna também fosse aos boxes. Porém, naquela tarde de março de 1986 vimos pela primeira vez duas exibições que surpreenderam o mundo da F1. Senna só havia vencido duas corridas na chuva, mas no forte calor de Jerez tinha gerenciado tão bem seus pneus Goodyear, que não apenas faria toda a corrida sem parar nos boxes, como estava segurando sem grandes sustos o rei da tática Prost. Mais atrás, Mansell iniciava uma empolgante recuperação e sua atitude de não desistir nunca era mostrada a todos naquele dia ensolarado em Jerez. Mansell estava 16s atrás dos líderes, mas vinha 3s mais rápido do que eles. Era volta mais rápida em cima de volta mais rápida. Com pneus novos, o piloto da Williams ultrapassou Prost como se o francês estivesse parado quando faltavam quatro voltas para o fim. Rapidamente Senna estava nas visões de Mansell. O inglês da Williams parecia se aproximar a cada curva e Senna nada poderia fazer para segurar o Leão. Quando o piloto da Lotus abriu a última volta, sua diferença havia caído para perigosos 1.5s. Mansell não achava muito espaço para ultrapassar, mas chegou na curva Ducados, a última antes da reta dos boxes, colado em Senna. Com melhor aderência, o inglês foi para a esquerda e colocou de lado. Senna só podia acelerar seu Lotus-Renault e rezar para que a linha de chegada chegasse o mais rápido possível. Os dois cruzaram a bandeirada lado a lado. Nenhum dos dois comemorou com muito entusiasmo, pois não sabiam se haviam vencido. Na chegada mais apertada da história da F1 (já que a final do GP da Itália de 1971 pode ter sido 0.010s ou 0.019s, nunca saberemos ao certo), Senna ainda cruzou à frente de Mansell por 0.014s. Como havia acontecido cinco anos antes, a Espanha vinha outra chegada histórica.

Chegada:
1) Senna
2) Mansell
3) Prost
4) Rosberg
5) Fabi
6) Berger

2 comentários:

  1. Aquela volta que o Mansell (com novo jogo de pneus) não conseguiu ultrapassar Prost na reta dos boxes, foi praticamente decisivo para a vitória de Senna na pista espanhola.

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  2. Foi um dos finais de corridas mais emocionantes que eu já vi, Mansell voou demais e Senna fez o possível e o impossível com aquele carro que mais parecia uma pipoqueira de tanto que balançava e enrabiava. É claro que a segurada que o Prost deu no Mansell foi decisiva, mas a inteligência do Senna em se defender também foi demais. Na última reta ele colocou o carro numa posição em que o Mansell só teve um lado para abrir e Senna vinha fechando aquele lado, dando pouco espaço para a aceleração brutal do Nigel, talvez com isso ele tenha ganhado importantes milésimos (o próprio Mansell falou que a aquela defesa ali foi importante). Se a chegada estivesse 1m mais distante Mansell teria vencido!

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