sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A maior de todas



Para os incautos, a maior tragédia da história da F1 foi a morte de Ayrton Senna em Ímola, no dia primeiro de maio de 1994. Ledo engano. Por coincidência, o trágico dia 10 de setembro de 1961 também ocorreu na Itália, mas mais ao norte, no circuito de Monza. Naquele dia, há exatos cinqüenta anos atrás, o duelo particular entre Wolfgang Von Trips e Phil Hill, ambos da Ferrari, daria um passo importantíssimo, com o alemão ainda liderando o campeonato com quatro pontos de vantagem sobre o companheiro de equipe, faltando apenas duas corridas para o fim do Mundial de Pilotos.

A temporada de 1961 foi dominada de forma flagrante pela Ferrari, com Hill e Von Trips praticamente dividindo entre si as vitórias. Tanto que o time de Maranello conquistou as cinco primeiras posições do grid em Monza, com Von Trips, o pole, dividindo a primeira fila com a jovem revelação Ricardo Rodríguez. Phil Hill, que não tinha nada a ver com o inglês Graham Hill, era apenas quarto. Ambos os pilotos tinham estilos completamente diferentes, mesmo ambos tendo vindo da mesma escola: os carros-esporte. Enquanto Phil Hill era suave ao volante (ele venceu as 24 Horas de Le Mans para a Ferrari mais de uma vez) e gostava de ópera, Von Trips era agressivo ao volante (tinha sofrido vários acidentes em sua carreira) e rebelde, a ponto de ter sido suspenso pela Ferrari alguns anos antes por declarações que desagradaram a Enzo Ferrari.

Vale lembrar que Monza tinha um lay-out muito particular, com uma volta durando 10 quilômetros em que os pilotos faziam uma volta pelo traçado interno, parecido com o atual, e depois indo para as famosas curvas inclinadas, onde a volta finalmente terminava. Para diferenciar os dois traçados, a reta dos boxes era dividida ao meio, para os pilotos que ainda estavam na ‘metade’ da volta, completando o circuito interno, e os que ainda estavam ‘terminando’ a volta, após findar o circuito externo, pelas curvas inclinadas.

Von Trips larga mal e para sua maior apreensão é Phil Hill quem liderava ao fim da primeira volta, mas a potência da bela Ferrari 156 não tardaria a levar o alemão novamente a briga pela primeira posição, totalmente vermelha Ferrari. Mas havia um intruso. Jim Clark fazia sua segunda temporada pela Lotus e se metia entre os potentes Ferraris, numa atuação surpreendente. Von Trips não queria perder tempo e atacou o escocês na entrada da Parabolica, na ‘metade’ da segunda volta. Monza também era caracterizada pelo vácuo e com um carro menos potente, Clark dependia unicamente disso para se manter no pelotão dianteiro junto com as Ferraris. Com tantos carros andando juntos, um toque foi inevitável. Um toque fatal.

Von Trips bate em Clark e dá uma forte guinada para à esquerda. Com a Ferrari muito forte, não foi surpresa os tifosi lotarem Monza e havia muito gente na beira da pista. A Ferrari de Von Trips foi em direção a um barranco e com a velocidade que estava, o alemão foi jogado para fora do seu carro no impacto, morrendo mais tarde. O pior foi que o carro acabou atingindo vários torcedores que estavam nesse barranco, matando treze. Uma tragédia similar ao ocorrido em Le Mans seis anos antes e como havia acontecido na França, a corrida continuou.

E Phil Hill venceu a corrida e, por conseguinte, o campeonato. O americano saiu do pódio diretamente para a Alemanha acompanhar o funeral de Von Trips, que não era seu amigo, mas não deixava de ser seu colega de equipe e por ele tinha muito respeito. Clark não foi julgado pela tragédia e após o calor do momento, o piloto da Lotus chegou a dizer que o culpado pela tragédia tinha sido o próprio Wolfgang Von Trips. O conde alemão tinha sido agressivo demais novamente. Infelizmente, pela última vez.

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