Muitos podem não gostar dele e seu olhar arrogante não melhora muito sua imagem, mas é praticamente impossível ficar impassível a Fernando Alonso. Esse espanhol foi trazido para a Ferrari para ser ele o substituto de Michael Schumacher e garantir títulos se a Ferrari assim permitir ou fazer milagre, se os italianos errarem. E como a Ferrari errou redondamente em 2012, Alonso fez um verdadeiro milagre ao conseguir a vitória hoje na Malásia e ainda sair do sudeste asiático com a liderança do campeonato nas mãos com um carro que, com sorte, é a quarta força no campeonato. Porém, todo campeão tem que ter sorte. Esta história de ‘fulano só ganha com sorte’ é pura lorota, pois essas mesmas pessoas nunca apontaram um campeão azarado. E até isso, a sorte, Alonso teve que usar hoje na confusa corrida malaia para segurar o excepcional Sérgio Pérez, que fez uma corrida memorável e colocou seu nome entre os grandes da F1.
Sepang viu hoje ser contada duas belas histórias de superação por parte de Alonso e Perez, começando pela tradicional chuva que aparece toda tarde na capital Kuala Lumpur e fez com que a corrida fosse paralisada. Até então, a McLaren dominava, o que era esperado por todos. Então, a bandeira vermelha se fez presente e mais de uma hora depois, as coisas mudaram radicalmente. Pérez já havia dado o pulo do gato ao colocar pneus de chuva extrema antes de todos, que permaneceram com intermediários. Alonso havia largado muito bem, pulando para quarto e perseguia de perto os líderes. Com a paralisação, a chuva diminuiu, foi preciso trocar os pneus de chuva forte para os intermediários novamente e a mistura fez com que Alonso saísse na frente, seguido por Pérez. A lógica indicava a McLaren de Hamilton, o mais rápido em todo o final de semana, indo para cima de Pérez e chegasse depois em Alonso, tendo sérias dificuldades em ultrapassar o rival espanhol, mas conseguindo seu objetivo pela ruindade do carro da Ferrari. Isso na teoria. A prática mostrou um quadro completamente diferente, com a pista ainda úmida e Alonso se mantendo tranquilo em primeiro, com Pérez se sustentando com extrema solidez o segundo lugar. As ameaças de chuva pipocavam nas orelhas dos pilotos, mas a realidade era que a pista secava e a normalidade poderia ser estabelecida. Só que isso aconteceu em parte. Realmente a ruindade do carro da Ferrari se fez presente, mas Pérez passou a marcar volta mais rápida em cima de volta mais rápida, não deixando Hamilton se aproximar e mais. Estava chegando em Alonso. Um atraso no pit-stop para colocar pneus slicks fez Pérez se atrasar, mas rapidamente o mexicano voltou ao seu ritmo de mais rápido na pista e chegou a abrir a asa traseira para ultrapassar Alonso, mas um erro acabou com os sonhos de Pérez e continuou os de Alonso. A placa MAGICO mostrado para Alonso e o choro do engenheiro do espanhol dava a real sensação do feito que o ferrarista tinha acabado de fazer em Sepang. Era nítida a falta de velocidade da Ferrari tanto em linha reta, como em curva. Alonso fazia das tripas coração para se manter na ponta e se livrar de Pérez, com o F2012 acima do seu limite e a Sauber se aproximando teimosamente, mas Alonso conseguiu o milagre de se sustentar na ponta e vencer logo na segunda corrida do ano, que começou terrível para a Ferrari, mas após duas corridas, lidera o campeonato. São corridas assim que fazem um piloto ser adorado pelos tifosi. E Alonso pode ter conseguido isso hoje pela manhã.
Se ver um italiano chorando não é uma surpresa pela paixão que esses latinos tem, ver um sisudo suíço, com quase vinte anos de F1, chorando, mostra o quão impressionante foi Sérgio Pérez nesta manhã em Sepang. Senhores, podemos estar vendo o surgimento de um grande piloto na F1, passando por cima de todas as desconfianças em cima do mexicano, que realmente só entrou na categoria por causa dos seus fortes patrocinadores, mas que deverá ficar na F1 por causa do seu talento e velocidade. Pérez não é daqueles espalhafatosos, como seu hoje apagado companheiro de equipe Kamui Kobayashi, mas demonstra uma inteligência tática fora do comum para um piloto jovem como ele, entrando nos boxes mais cedo para colocar pneus de chuva forte antes de todos e permanecendo como um dos mais rápidos a corrida inteira, mesmo enfrentando com seu modesto Sauber carros como McLaren e Red Bull. Seus erros no dia de hoje (a saída de pista quando chovia muito forte, a arrancada lenta no segundo pit-stop e a errada quando estava colado em Alonso) não embotam a sua incrível performance no dia de hoje e Pérez quase acaba com dois tabus antigos. Primeira vitória da Sauber (sem contar o período como BMW) em 19 anos e a primeira vitória de um mexicano em 42 anos. Essa performance de Pérez, mais a vitória de Alonso põe mais gasolina no fogaréu que está a batata de Felipe Massa na Ferrari. Kobayashi também foi muito mal em comparação a Pérez, inclusive com o japonês abandonando, mas a prova de Massa hoje foi constrangedora. Depois de ser chamado de inútil pela flamejante imprensa italiana nessa semana, Massa terá que conviver com a pressão de ter seu possível substituto, Pérez, andar no ritmo do seu companheiro de equipe, que tirou leite de pedra com um ruim e conseguiu uma vitória, enquanto Massa foi um triste 15º colocado, aparecendo no mesmo take da bandeirada de Alonso, só que a ponto de tomar uma volta. Foi alarmante a forma como Massa destruía seus pneus andando em posições intermeidiárias, enquanto Alonso liderava a corrida. Não é segredo que Sérgio Pérez faz parte da Academia Ferrari de jovens pilotos. O sonho de contrato renovado na Ferrari pode ter naufragado hoje em Sepang para Massa e por suas atuações pífias, até mesmo sua permanência na F1 está posta em cheque. Já passou de hora de fazer alguma coisa, restando a Massa tentar reconstruir sua imagem perante ao público da F1.
Com duas história que beiraram ao conto de fadas, o resto dos pilotos ficaram como claros coadjuvantes. Lewis Hamilton mais uma vez largou na pole e teve que se contentar com um amargurado terceiro lugar, ficando com o mico de ter o melhor carro da pista, mas não poder alcançar dois pilotos iluminados no dia de hoje, contudo com carros bem inferiores ao seu. Jenson Button teve um dia de Hamilton em seus piores dias ao se afobar quando ia ultrapassar uma Hispania e quebrar sua asa dianteira e uma vez no pelotão intermediário, não foi capaz de fazer uma corrida de recuperação, do tipo que fez no Canadá, tendo problemas de aderência com seus pneus. Definitivamente, um Button bem diferente do normal. Mark Webber foi outro que conseguiu a mesma posição na Austrália, ficanco com um discreto quarto lugar, após uma boa largada, mas longe de se aproximar de Hamilton e ser atacado por alguém. Porém, o australiano pode se gabar por estar superando Vettel no campeonato, já que o alemão teve um furo de pneu também em um incidente com a Hispania de Karthikeyan, deixando o bicampeão furioso. Contudo, foi feio a Red Bull pedindo para Vettel abandonar a corrida na volta final para se beneficiar para a próxima corrida e poder trocar câmbio e motor. Para uma equipe que se diz uma bem-feitora dos bons modos esportivos, a Red Bull pisou na bola hoje. Kimi Raikkonen fez uma corrida sólida e ainda marcou a volta mais rápida da corrida para marcar um bom quinto lugar, mostrando que seus anos fora da F1 não lhe fizeram tão mal como fez a Schumacher quanto este voltou. Ao contrário da Austrália, Romain Grosjean executou a melhor largada do dia, chegando a ocupar o terceiro lugar, mas na pista molhada, o francês se empolgou e tocou em Schumacher, arruinando a corrida de ambos e para piorar, Grosjean rodou sozinho ainda na terceira volta, deixando o piloto da Renault com apenas cinco voltas em toda a temporada. Ao contrário do Galvão, é bom ter calma na hora de julgar Grosjean, mas foi muito engraçado o narrador global criticar o francês, dizendo que ele roubou o lugar que era de Bruno Senna na Lotus bem no momento em que a TV mostrava Bruno... fazer besteira e bater na traseira do companheiro de equipe Maldonado.
Só que ao contrário do compatriota, Bruno se recuperou durante a corrida e conseguiu seu melhor resultado na F1 com um ótimo sexto lugar, depois de várias ultrapassagens e ter mantido Paul di Resta sobre controle nas voltas finais. Bruno é um piloto centrado e foi um dos destaques da corrida e a Williams mostrou que está de volta, mesmo tendo que lhe dar com o azar de Maldonado nas voltas finais. Desta vez, o venezuelano, que vinha pontuando, quebrou o motor nas voltas finais. A Force India marcou pontos com seus dois pilotos, com Di Resta e Hulkenberg andando próximos e marcando bons tempos. Daniel Ricciardo lutou, ultrapassou, foi ultrapassado, apareceu mais na TV, mas ficou fora dos pontos, enquanto Jean-Eric Vergne parou apenas duas vezes, soube se utilizar de uma pilotagem sólida para marcar seus primeiros pontos na F1. Em duas corridas, a Toro Rosso já mostra que sua jovem dupla de pilotos promete com dois estilos diferentes de pilotagem. Um mais agressivo (Ricciardo) e outro mais cerebral (Vergne). A grande decepção ficou por conta da Mercedes e seu voraz apetite por pneus. Novamente Schumacher não mostrou todo seu potencial ao ser acertado por Grosjean na primeira volta e teve que fazer uma corrida de recuperação, mas estava na cara que o alemão, assim como seu compatriota Nico Rosberg, sofriam com o desgaste dos pneus, sendo algumas vezes os mais lentos na pista. Para quem tem um dos carros mais rápidos em treino, a Mercedes tem que aprender que uma corrida não tem 30 km, mas 300! Caterham e Marussia pouco apareceram, enquanto a Hispania se arrastou durante a prova e ainda rasgou os pneus de Button e Vettel, por cortesia de Karthikeyan. Uma lástima termos um carro tão ruim no grid.
Este foi um dos pódios mais felizes dos últimos tempos. Alonso sabe que uma corrida como a de hoje não ocorre mais do que uma vez por ano e que dificilmente, a não ser que a Ferrari arranje 1.5s na manga, vencerá uma corrida em condições normais. Sérgio Pérez olhava emocionado a bandeira mexicana subir pela haste por causa do seu segundo lugar. O mexicano estava nas nuvens e seu segundo lugar valeu como uma vitória, mesmo que Pérez estivesse próximo disso literalmente. Porém, havia um inspirado Fernando Alonso no caminho.
Melhor que o Alonso só o Perez hoje, porém... O Asturiano é que venceu.
ResponderExcluircorridaça.