O Grande Prêmio de Cingapura não foi um primor de emoção. A primeira metade de corrida foi um dos piores dos últimos tempos em termos de chatice, por sinal. Porém, se prestarmos atenção em atuações individuais, a prova de rua no oriente foi rica em exibições de gala. O que Sebastian Vettel fez hoje foi superior aos seus 'sunday drives' de outras de suas 32 vitórias, número que o faz como o piloto em atividade com mais vitórias e o quarto em todos os tempos. Vettel humilhou a concorrência com um ritmo incrivelmente avassalador neste domingo, chegando a colocar 3s em qualquer piloto em condições normais de pista. O único fator anormal foi mesmo Vettel, que se superou e, passo a passo, não apenas se aproxima do seu quarto título, como também coloca seu nome entre os grandes da F1. Porém, ao seu lado no pódio, haviam dois caras que também fizeram corridas acima da média, com Fernando Alonso superando a ruindade do seu carro e Kimi Raikkonen superando problemas físicos para chegar em terceiro, ambos ganhando várias posições e mostrando a todos quem são as estrelas da F1 atual.
O safety-car provocado por Daniel Ricciardo exatamente no meio da prova foi o antídoto para o purgante que era o Grande Prêmio de Cingapura. A largada fora o único momento de emoção, quando Vettel chegou a perder a liderança para Rosberg, mas quando o alemão da Mercedes espalhou na primeira curva, o representante da Red Bull começou seu show, com um ritmo de corrida que via sua vantagem sobre os demais aumentar até se estabelecer os confortáveis 6s. Quando Ricciardo cometeu um erro, admitido pelo próprio, e bateu de frente na curva debaixo do estádio, as estratégias mudaram e a Red Bull resolveu ficar na pista, assim como a Mercedes. Com receio que os pilotos que pararam durante a intervenção do Safety-Car não parassem mais, Vettel barbarizou. Eram voltas com incríveis 2s ou mais, à frente de quem quer que fosse. Em menos de 15 voltas, Vettel abriu os mais do que suficientes 32s sobre Alonso e de forma impressionante, abriu a mesma vantagem nas voltas seguintes ao seu pit-stop, recebendo a bandeirada com a certeza de que o quarto título já é seu, só nos restando a esperar quando. Hoje Vettel mostrou que mesmo tendo o melhor carro do pelotão, Seb está guiando de forma magistral, precisando ser rapidíssimo quando necessário. Muitos diminuem o alemão pelo carro que tem em mãos, mas são corridas como a de hoje que mostram o talento extraordinário deste alemão que vai entrando na história da F1. Webber nunca teve caminho livre à sua frente e encaixotado, esteve longe de andar, sequer, próximo do ritmo do seu companheiro de equipe e para piorar, um problema de câmbio o fez abandonar na última volta, com o seu Red Bull em chamas.
Largando em sétimo, Alonso fez a melhor largada do dia e, quiçá, da temporada, quando pulou de sua posição no grid para terceiro usando apenas a astúcia de saber se colocar na melhor posição possível. Contudo, com um carro ruim para a travada pista de Cingapura, era claro que Alonso corria no limite e quando se viu atrás de Paul di Resta após sua primeira parada, Fernando simplesmente não conseguia deixar o escocês da Force India para trás, reforçando as dificuldades que o espanhol estava tendo com sua Ferrari. Quando Ricciardo bateu, Alonso foi aos boxes e era o primeiro que havia feito duas paradas. Porém, ainda faltava a outra metade da longa corrida em Cingapura, sem contar que Fernando correria com tráfego à frente, algo que sempre estraga os pneus. Mas Alonso fez outra corrida misturando inteligência e agressividade, se segurando até o final da prova com um ritmo aceitável para garantir outro pódio com o segundo lugar, mesmo que longe de Vettel. Se Alonso confirmar o vice-campeonato no final da temporada, isso se deverá unicamente a seu talento e genialidade, mesmo que alguns comecem a demoniza-lo aqui no Brasil por causa da dispensa de Massa da Ferrari. Reginaldo Leme, que fazia tempo não participava de uma transmissão de F1, disse que Alonso teve sorte em ficar em segundo. Quando cara pálida? Quando Alonso parou nos boxes durante o Safety-Car? Ok, mas vários pilotos também pararam e Alonso teve a COMPETÊNCIA para resguardar seus pneus e aproveitar a estratégia traçada pela Ferrari, algo que Felipe Massa, com a mesma estratégia e com pit-stops mais rápidos do que o companheiro de equipe, não conseguiu, precisando de uma terceira parada que o fez chegar num bom sexto lugar, mas longe do algo mais que Alonso faz praticamente toda corrida. Precisa dizer o porquê Massa está sendo trocado?
Ainda mais com o piloto que irá substituir o brasileiro. No sábado haviam dúvidas se Kimi Raikkonen participaria da corrida graças a um nervo comprimido que lhe rendia muitas dores nas costas. Kimi participou da classificação no sacrifício e para a corrida fez uma infiltração para poder correr sem tantas dores. E o resultado foi outra corrida magistral de Raikkonen, onde o finlandês foi um dos poucos a conquistar posições na pista no começo da prova e juntamente com Alonso, conseguiu capitalizar o Safety-Car e ganhar dez posições da onde largou, garantindo outro pódio. Foi uma prova que a Ferrari fez um ótimo negócio olhando apenas a questão humana para 2014. Resta saber se esses dois seres humanos de talento enorme se darão bem trabalhando juntos no próximo ano. Romain Grosjean aproveitou as dores de Kimi para ser o principal piloto da Lotus e mesmo não largando tão bem, o francês vinha num ritmo forte e tinha boas chances de conseguiu um pódio, vide a pouca ferocidade da Lotus aos pneus Pirelli, mas problemas no motor Renault acabou com a corrida de Grosjean, que saiu da corrida arrasado. Nico Rosberg quase conseguiu tirar a primeira posição de Vettel na largada, mas do jeito que Sebastian vinha, era questão de tempo o piloto da Red Bull retomar a posição logo depois em uma hipotética ultrapassagem, mas Nico vinha fazendo uma corrida sólida em segundo lugar, quando a Mercedes resolveu deixar tanto ele como Hamilton na pista. Os estrategistas da Mercedes, tão elogiados por Galvão Bueno durante a transmissão global, devem ter se esquecido do quanto os carros prateados destroem os pneus Pirelli e jogaram um pódio certo por um pálido quarto e quinto lugares. Sendo que Hamilton atacou fortemente Rosberg no final da corrida, podendo ter transformado num verdadeiro desastre a corrida da Mercedes. Para piorar, o time tedesco não conseguiu ultrapassar a Ferrari no Mundial de Construtores quando o desempenho do carro alemão era bem melhor do que o italiano.
A McLaren quase conseguia um lugar no pódio quando arriscou a mesma estratégia de Alonso e Raikkonen quando Button ficou várias voltas em terceiro lugar, mas isso quase custou muito caro à Jenson, pois o inglês desgastou seus pneus mais do que o devido brigando com Kimi e quando foi ultrapassado belamente pelo finlandês, a mais bonita da corrida, Button foi ultrapassado por vários pilotos com pneus em melhores condições e viu seu companheiro de equipe Pérez, com a mesma estratégia, encostar e quase efetuar a ultrapassagem, mas o inglês segurou a sétima posição, com Pérez logo atrás. O mexicano ainda não renovou seu contrato e precisa de corridas melhores que a de hoje, mesmo que as limitações da McLaren não permitam mais do que as posições conseguidas pelos seus pilotos. Nico Hülkenberg ainda consegue um algo mais levando seu fraco Sauber aos pontos, mas seu melhor momento na corrida foi seu 'what?', quando recebeu a notícia de sua equipe que teria que devolver sua posição para Pérez numa manobra discutível. Gutierrez deu sinal de vida quando se classificou melhor do que Hulk pela primeira vez no ano, mas seu ritmo de corrida foi bem inferior ao do companheiro de equipe e novamente acabou fora dos pontos, mesmo imitando a estratégia do alemão. Paul di Resta estava prestes a dar o pulo do gato quando retardou ao máximo sua parada e chegando a atrapalhar a vida de Alonso, mesmo usando os pneus supermacios. No começo do ano, a Force India era uma das equipes que melhor tratava os pneus, particularmente os moles. Com a corrida interrompida pelo Safety-Car, Di Resta se viu entre as duas Ferraris e poderia ter conquistado um ótimo sexto lugar, lembrando que ele largou em 17º, quando bateu sozinho nas voltas finais, jogando fora pontos importantes da Force India em sua briga com a McLaren pelo quinto lugar. Como consolo nessa atual má fase da Force India, Sutil ainda marcou o ponto final, mas como terminou atrás de duas McLarens, a chance da equipe hindu chegar à frente da McLaren diminuiu bastante. A Toro Rosso só apareceu mesmo quando Ricciardo bateu e deu uma mexida na dinâmica da corrida, que teve várias mudanças de posição com a diferença de estado de pneus entre os pilotos nas voltas finais. A Williams foi novamente discreta, com Maldonado ainda chegando na posição de fona, em 11º. As nanicas fizeram o papel delas de dar passagem aos demais para levar voltas.
Se hoje foi uma corrida modorrenta em determinados momentos, mostrou-se que no momento temos uma geração espetacular de pilotos e o pódio foi a prova disso. O quarto título de Vettel já está engatilhado e provavelmente Abu Dhabi, local onde Seb conquistou seu primeiro título, deverá ser o local de sua consagração. Porém, se a Ferrari acertar no ano que vem, Alonso e Kimi serão adversários fortíssimos para Vettel. Portanto, que venha logo 2014!