A notícia estourou hoje, mas dá para dizer que veio com um ou dois anos de atraso. Felipe Massa anunciou em seu Instagram que 2013 será o seu último ano na Ferrari. O anúncio de Kimi Raikkonen como companheiro de equipe de Fernando Alonso no próximo ano amanhã é mera formalidade. Desde o final de semana em Monza essas notícias eram conhecidas de todos, só restando mesmo a confirmação para tal. Novamente crédito para Eddie Jordan, que meses atrás cravou a saída de Massa e a entrada de Raikkonen na Ferrari. Jordan cravou a saída de Hamilton da McLaren no ano passado e acertou em cheio, ou seja, é sempre bom prestar muita atenção no que o velho Eddie diz, pois normalmente ele acerta.
A saída de Felipe Massa é carregada de simbolismos para um automobilismo brasileiro em frangalhos. Pela primeira vez em quase quinze anos não haverá um piloto tupiniquim na Ferrari e em nenhuma equipe top na F1. Voltaremos aos tempos pré-2000, onde cada ponto conquistado era motivo de festa e esperança de que em algum momento um brasileiro fosse para uma equipe de ponta e voltar a vencer. A chance de não termos um piloto brasileiro na F1 em 2014 é real e preocupante, apesar de que as chances de Massa na Sauber são bem grandes, vide o bom relacionamento de Felipe e da Ferrari com a equipe suíça, que no ano que vem terá um adolescente em seu cockpit e necessitará de um piloto experiente para não repetir o fiasco desse ano. Porém, o que há além de Massa na F1? O único seria Felipe Nasr, um piloto com muito sucesso até a F3, mas que ainda não venceu na GP2 em quase dois anos na categoria e que mesmo mostrando algum talento (e patrocinadores fortes, é bom dizer), não parece ser um extra-classe que chegaria na F1 chegando. De resto... nietti, nádegas, bulhufas!
Se tem algo do qual Felipe não poderá reclamar é de falta de oportunidades em seus oito anos de Ferrari, sem contar o período emprestado na Sauber e um ano como piloto de testes com a equipe italiana. Afora 2008, onde quase foi campeão, e 2009, quando sofreu o acidente mais sério de sua vida, Massa sistematicamente derrotado por todos os seus companheiros de equipe. E o acidente foi outro marco importante. Desde a molada de Barrichello, é nítido que Felipe Massa deixou de ser o piloto sólido e guerreiro que quase lhe deu o título em 2008. Foi como Nelson Piquet pós-Tamburello/87. Ninguém sai incólume de uma pancada daquela na cabeça e assim foi com Massa. Apesar da velocidade, sempre achei que Felipe não tinha o talento e a naturalidade de Alonso, Raikkonen, Hamilton e Vettel, mesmo tendo enfrentado todos eles e misturou derrotas com vitórias ao longo de todos esses anos. Isso no auge, pois depois de 2009 foram raras as vezes em que Massa pôde brigar pelas primeiras posições com as principais estrelas da F1. As renovações de contrato de Massa sempre foram cercadas de tensão e especulação de quem poderia substitui-lo. Juntamente com o trauma do acidente em Hungaroring, Massa ainda teve que enfrentar um Fernando Alonso louco para voltar a vencer e fazendo de tudo, dentro e fora das pistas, para brigar pelo título com a Red Bull de Sebastian Vettel. À Felipe foi mostrado quem manda na Ferrari ainda em 2010, quando foi mandado dar passagem à Alonso em Hockenheim na famosa 'Fernando is faster than you'.
Os anos ao lado de Alonso foram os piores de Massa na Ferrari. Em média, Massa conseguiu fazer 48,9% dos pontos de Alonso no triênio 2010-12. Esse ano a proporção é ainda pior: 46,3%. A título de comparação, Rubens Barrichello marcou 59,9% dos pontos de Michael Schumacher nos seis anos juntos na Ferrari e Berger conseguiu 65,2% frente à Ayrton Senna nos três anos juntos na McLaren. Os números frios mostram a desvantagem de Massa, mas era na pista que a atitude era mais perceptível, com Felipe se encolhendo cada vez mais frente a genialidade de Alonso, que algumas vezes esteve próximo de colocar uma volta no brasileiro enquanto brigava por vitórias. Se no ano passado a dispensa escapou por uma segunda metade de temporada forte, em 2013 foi difícil segurar Massa mais uma temporada. Desde 2011 a imprensa italiana pedia a cabeça de Felipe com alguma razão, enquanto todos especulavam quem iria para o lugar do brasileiro.
E o escolhido foi o menos indicado de todos. Kimi Raikkonen saiu da Ferrari brigado com Luca di Montezemolo e não querendo mais saber de F1. Pois o finlandês volta ao time de Maranello forte e com a expectativa de reviver os ótimos momentos em que levou a Lotus nas costas em sua volta à F1, onde seu talento pareceu ter permanecido intacto aos acidentes no rally. Já Fernando Alonso parecia acomodado em ter um segundo piloto subserviente, mas já cansado das seguidas surras impostas pela Red Bull via Vettel. O espanhol reclamou e recebeu um Kimi Raikkonen como resposta. Será uma dupla interessante, pois haverá talento em profusão e ninguém muito interessado em se tornar segundo piloto de quem chega ou de quem já está.
A Era brasileira na Ferrari acabou depois de 14 anos. Felipe Massa procurará uma nova equipe ou uma nova categoria. Porém, é o futuro do Brasil na F1 que está em jogo.
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