Após uma temporada épica em 2012, todos esperavam ver novamente uma luta titânica entre o atual tricampeão Sebastian Vettel e Fernando Alonso, reconhecido por todos como o piloto mais completo da atualidade. Se a Ferrari acertasse na mão, poderíamos ver outra vez esses dois grandes pilotos lutando no mais alto nível pelo título, mas eles teriam a companhia da sempre forte McLaren, agora liderada por Jenson Button, a força de Kimi Raikkonen na sua Lotus, além da incógnita que seria a Mercedes, que teria o sempre enigmático Lewis Hamilton, capaz de ser o Médico e o Monstro num mesmo final de semana onde pode conseguir uma volta incrível na classificação e logo depois abandonar a corrida por múltiplas opções. Claro que havia os coadjuvantes e alguns deles estavam nas equipes principais. Os segundos pilotos de Red Bull e Ferrari (Mark Webber e Felipe Massa), a ascensão de Sérgio Pérez na McLaren, o desenvolvimento de Nico Rosberg, tendo agora como companheiro de equipe um piloto forte como Hamilton, além do sempre perigoso Nico Hulkenberg, agora na Sauber. As expectativas eram ótimas, mas tudo foi por água abaixo por causa de um caçador. De um caçador de recordes implacável, que não diminui seu ritmo mesmo quando submete a todos os seus concorrentes humilhações públicas, como visto em Cingapura. Sebastian Vettel conquistou seu quarto título consecutivo com ares de dinastia tendo como ajuda providencial a gestão eficiente de Christian Horner e a genialidade de Adryan Newey na Red Bull.
Tudo começou em Melbourne e nada levava a crer o que Vettel e Red Bull fariam durante o ano. O papel principal cabia aos pneus naquele momento. Desde a pré-temporada, os pneus eram os atores principais e a preocupação de uma borracha que se esfarelava com uma facilidade monstra era o grande cerne da questão. Quanto tempo duraria os novos pneus Pirelli? Houve quem dissesse que em apenas seis voltas, os pneus já estava destruídos. Isso em Jerez, um circuito de apenas 4,5 km. As primeiras corridas do ano eram sempre sucedidas por críticas ácidas à Pirelli. Amarrada por uma paranoia entre as próprias equipes, a Pirelli dizia que fez o que lhe pediram e clamava por testes. Conseguiu um com a Mercedes, mas apenas para criar uma das polêmicas do ano, pois o time comandado por Ross Brawn venceu a prova seguinte em Monte Carlo e acabou julgada por ter feito um teste considerado irregular. Quando tudo parecia mais calmo, veio o tragicômico Grande Prêmio da Inglaterra, quando os pneus da Pirelli estouravam sem aviso nenhum, causando um risco pouco vistos na história da F1. Os testes vieram e a Pirelli mudou seus pneus e também o campeonato. A Red Bull era a equipe que mais reclamava dos pneus, pois tentando economizar a borracha da Pirelli, Vettel e Webber andavam bem abaixo do limite do carro. Quando voltou-se aos pneus de 2012, a equipe deslanchou de forma impressionante, mas havia sinais do quão o carro era bom quando Vettel venceu na Malásia e no Bahrein. Em Sepang, por sinal, a Red Bull viveu seu momento mais tenso do ano.
No calor malaio, Webber liderava a prova com Vettel logo atrás. No rádio, veio a ordem 'Multi 21' para os dois pilotos. Ninguém sabia o que era, mas Vettel atacou Webber e o australiano subiu ao pódio com a simpatia de rotweiller após três dias sem comer. Vettel parecia um pouco constrangido e as entrevistas pós-corrida explicaram o que acontecera. O 'Multi 21' significava, piloto número 2 à frente do piloto número 1, ou seja, Webber na frente de Vettel. Até o fim da corrida. Mas Vettel usou seu instinto de caçador e jogou essa ordem de equipe para as cucuias e passou por cima de Webber e da equipe. Criou-se um cima ruim dentro da Red Bull, pois Vettel sabia que não contava mais com Webber como, aliás, nunca contou. Sem mais delongas, Vettel disse que queria mesmo era vencer. E para Webber aquilo foi a gota d'água. Foram anos à sombra de Sebastian e após doze anos na F1, Mark Webber anunciou que 2013 foi seu último ano na F1, indo liderar a Porsche no WEC. Webber esperava que a Red Bull ficasse ao seu lado no episódio 'Multi 21', mas preferiu Vettel, o 'bandido' na história. Com apoio apenas de Horner, seu amigo pessoal, Webber ficou sem clima e se aposentou sem nenhuma vitória em 2013 e a atmosfera da Red Bull era tão tensa, que Mark avisou sua equipe de sua aposentadoria minutos antes de anunciar ao público. E por um SMS.
O vencedor em Melbourne foi Kimi Raikkonen, desta vez sem muitos coices via rádio. Kimi mantinha-se como o piloto forte de sempre ao longo de todo o ano, mas o finlandês cobrava seu preço por isso e assim não admitia os atrasos de salário e bônus que sofria. A Lotus tinha um grande carro, mas seus dirigentes parecem ter dado um passo maior do que a perna e passaram o ano alarmando um novo parceiro salvador vindo das arábias que nunca apareceu de verdade. As negociações com Raikkonen eram tensas, com o finlandês chegando a ameaçar não correr. E Kimi acabou preterindo o bom ambiente que tinha e se mudou para a tensa Ferrari. Agora sem Kimi, sem o dinheiro árabe e sem o apoio da Renault o futuro da Lotus é bastante nebuloso, mas ao menos revelou um Romain Grosjean muito mais maduro, conseguindo quatro pódios em cinco corridas nesse segundo semestre, inclusive um segundo lugar inspirador em Austin, quando a Red Bull era claramente muito mais rápida do que qualquer outra equipe e o francês colocou seu Lotus entre os dois carros azuis e roxos.
Quando Alonso venceu na China e duas provas depois ganhou em casa, em Barcelona, ficou a sensação de que o espanhol era o favorito de 2013. Sua Ferrari parecia se dar bem com os pneus da Pirelli e novamente Fernando não teria que se preocupar com Massa, segundo piloto claro. Porém, aquele bom momento em Barcelona seria o último de Alonso em 2013. Mesmo antes da mudança de pneus após Silverstone, a Ferrari dava sinais de problemas de desenvolvimento, para profundo desgosto de Alonso que criticou publicamente a Ferrari na Hungria e para piorar, seu empresário foi flagrado conversando com a Red Bull. A resposta da Ferrari e de Luca de Montezemolo foi rápida com a contratação de Kimi Raikkonen em 2014. Agora Alonso não reinará mais sozinho na Ferrari e terá que lhe dar com um piloto de pouco papo e só sucesso (como diria o refrão famoso de uma rádio em Fortaleza), como é Raikkonen. Mesmo ficando com o vice-campeonato e tendo conquistado vários resultados muito além da capacidade do seu carro, Alonso terminou em 2013 mal, pois a perspectiva para 2014 será de briga renhida dentro da equipe e essa será uma das atrações para o próximo ano. A chegada de Raikkonen na Ferrari significou a saída de Felipe Massa após um longo período com os italianos. A forma como se despediu da Ferrari em Interlagos, com todos os integrantes fazendo questão de se despedir de Massa de forma emocionante demonstra claramente o quanto Felipe era querido pela Ferrari, mas foi apenas isso que fez o brasileiro permanecer por tanto tempo na escudeira com resultados tão abaixo do companheiro de equipe. A realidade é que Massa ficou mais tempo do que o necessário na Ferrari, pois ele não conseguiu os resultados esperados para um piloto da Ferrari e isso acabou refletindo com o time italiano perdendo o vice campeonato no Mundial de Construtores. Olhando apenas a frieza dos números, Massa ficou em último entre os pilotos das equipes top. Mesmo superando algumas vezes Alonso nas classificações, a história era completamente diferente nas corridas, com o espanhol superando Massa com 20, 30 segundos de vantagem. Ou mais. O fato é que o Brasil saiu da Ferrari após quinze temporadas conturbadas com manias de perseguições contra os brasileiros, quando o fato foi que Schumacher, em relação a Barrichello e Alonso, com relação a Massa, era bem melhores do que nossos pilotos tupiniquins. Simples assim.
E Massa irá para a Williams, equipe de glórias no passado e decadência no presente. Mesmo quando começou nanica, a Williams não teve um ano tão ruim como em 2013. Se Valtteri Bottas estreou muito bem e chamando atenção com sua velocidade e consistência, Pastor Maldonado continuou errático e, pior, sem a mesma velocidade que o viu ganhar em Barcelona no ano passado. Com o aporte dos seus dólares ditatoriais-bolivarianos, Maldonado se tornou um piloto mimado, onde seus maus resultado é sempre por causa do carro e seus erros são minimizados. Por isso, é incrivelmente injusto vê-lo ir para a Lotus, quarta colocada no Mundial de Construtores, por causa do dinheiro e após Maldonado ficar em último entre os pilotos que marcaram pontos e ser derrotado por um novato. O grande injustiçado foi Nico Hülkenberg, que entra fácil em qualquer lista dos melhores pilotos do ano. O alemão começou mal o ano com a Sauber e sua falta de investimento. Quando os pneus mudaram, a Sauber se acertou e Hulkenberg, mesmo com os salários atrasados, começou a mostrar todo o seu talento, ficando muito próximo do seu primeiro pódio e também da Ferrari, mas acabou preterido por Raikkonen. Sem muitas alternativas com a escolha da Lotus pelo dinheiro de Maldonado, Hulk irá voltar à Force India em 2014. A equipe de Vijay Mallya começou o ano como um dos times que sabia domar bem os problemáticos pneus da Pirelli, com Paul di Resta e Adrian Sutil marcando pontos com alguma frequência. A Force India chegou a ficar em quinto lugar no Mundial de Construtores, mas a mudança dos pneus no meio da temporada foi cruel demais com a equipe hindu e no final Mallya comemorou em ficar ainda em sexto, mas isso significou a saída do seus dois pilotos, com Sutil indo para a Sauber e Di Resta, dono de uma bela namorada, provavelmente voltando ao DTM.
Era esperado que Esteban Gutierrez conseguisse ao menos repetir o bom desempenho de Sérgio Pérez na Sauber, mas o novato mexicano ficou muito aquém do esperado e mesmo com todo o dinheiro mexicano, ele ainda corre risco na F1 em 2014. Porém, até mesmo Pérez se estrepou esse ano. A McLaren terminou muito forte em 2012, mas errou clamorosamente a mão em 2013 e a equipe chefiada por Martin Whitmarsh teve sua pior temporada na F1 em mais de trinta anos, onde não conseguiu nenhum pódio e marcar pontos foi algo a se comemorar, mesmo que esperteza de Button o fizesse marcar resultados surpreendentes, como o quarto lugar em Interlagos. Porém, o maior prejudicado do mau ano da McLaren foi mesmo Pérez, que não soube dosar arrojo e inteligência e acabou demitido no final da temporada, chegando a ficar muito próximo de ficar de fora da F1, mas o dinheiro mexicano garantiu um lugar na Force India. Agora Pérez terá que se reinventar, pois o que se fala que sua demissão da McLaren não foi por falta de velocidade, mas por falta de força mental, algo muito importante na F1 atual. O novo contratado da McLaren é Kevin Magnussen, prodígio das categorias de base e como Lewis Hamilton sete anos atrás, protegido da equipe desde muito jovem. Resta saber se o jovem Magnussen não irá repetir seu pai, um virtuose nas categorias de base, mas um blefe na F1. De comemorar, a McLaren celebrou a volta da Honda em 2015, o que significa o fim de sua parceria com a Mercedes após vinte anos.
O time da estrela de três pontas fez sua melhor temporada como equipe própria e a chegada de Lewis Hamilton foi providencial para isso, mas as duas vitórias de Nico Rosberg deixou Hamilton nervoso e só sua vitória na Hungria acalmou o inglês, mas o que ninguém esperava era que esse triunfo de Lewis seria o último de um piloto que não fosse Vettel em 2013. Piloto talentosíssimo, Hamilton ainda peca pela força mental e seus mimos que tinha na McLaren quando era blindado como o melhor piloto da F1, mesmo que os resultados não mostrasse isso. Nico Rosberg está no time desde 2010, mas sempre é preterido pela Mercedes, como ficou claro na Malásia, quando foi orientado a não passar Hamilton e o inglês ficar no pódio, seu primeiro na Mercedes. Porém, Nico foi bastante irregular, pois se conseguiu uma vitória a mais do que Lewis, acabou quase trinta pontos a menos, chegando muitas vezes a desaparecer durante o campeonato. Fora das pistas, a Mercedes viveu um ano animado, culminando com a saída de Ross Brawn do time. A Mercedes só tem que cuidar para essa politicagem não fazê-la se tornar uma Ferrari... dos piores tempos! A Toro Rosso exerceu muito bem seu papel como filial da Red Bull ao ceder Daniel Ricciardo para a matriz no lugar de Webber. Isso afetou Jean-Eric Vergne e o francês terá que se reerguer logo. Todos esperavam que Antonio Felix da Costa fosse o escolhido para o lugar de Ricciardo, mas surpreendentemente o russo Daniil Kvyat foi o escolhido. Todos acusaram a Red Bull de querer patrocinadores russos, mas quando Kvyat entrou na pista, isso foi desmentido. Dos quatro pilotos que andaram nas equipes nanicas, o melhor com certeza foi Jules Bianchi, que levou a Marussia ao décimo lugar no Mundial de Construtores. Protegido da Ferrari, o francês ficará mais um ano na Marussia.
Se antes Sebastian Vettel batia recordes de precocidade, hoje o alemão conquista recordes por quantidade. Seu tetracampeonato o coloca ao lado de Alain Prost no ranking histórico da F1. Ele tem o melhor carro? Conta-se nos dedos os pilotos que venceram com um carro nitidamente inferior (na minha opinião, Piquet/81 e Schumacher/95) e Vettel deu demonstrações incríveis do seu talento, principalmente em Cingupura, onde sobrepujou todos os seus adversários com uma exibição de tirar o fôlego. O domínio de Vettel já provocou mudanças no regulamento, como a polêmica da pontuação dobrada na última corrida (minha opinião para quem não sabe: não é tão ruim assim, há muitos exageros para quem é contra e só na prática iremos ver quem tem razão). O novo regulamento técnico pode mudar muita coisa em 2014, mas a história diz que as equipes mais estruturadas sempre saem na frente e a Red Bull, tetracampeã do mundo, é a equipe que mais tem chances de continuar armando Sebastian Vettel a continuar caçando recordes para o próximo anos e outros por vir.
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