Ele participou da chamada Era Dourada do Mundial de Motovelocidade nos anos 80 e foi um dos protagonistas de uma das melhores gerações de todos os tempos das 500cc, a principal classe do motociclismo. Wayne Gardner foi um dos principais rivais dos grandes pilotos americanos dos meados dos anos 80, em particular de Eddie Lawson, com quem disputou arduamente vários campeonatos. Sempre ligado à Honda, Gardner se tornou o primeiro australiano campeão mundial nas 500cc e com isso garantiu um aumento do interesse do australiano pelas corridas de moto e na esteira de Gardner, surgiram Michael Doohan e, mais tarde, Casey Stoner. Completando 55 anos recentemente, vamos conhecer um pouco mais da carreira desse australiano que marcou época.
Wayne Michael Gardner nasceu no dia 11 de outubro de 1959 em Wollongong, na Austrália, e quando o jovem piloto mostrou sua grande velocidade, a sua cidade natal incorporou seu apelido. Como era comum na Austrália, as corridas entraram na vida de Gardner através das corridas em pista de terra, os dirt track, onde Wayne correu inicialmente com motos Yamaha de segunda mão nas categoria 250 e 350cc. Em 1977, com 18 anos incompletos, Gardner fez sua estreia no Campeonato Australiano de Motovelocidade com uma Yamaha, garantindo um segundo lugar logo na sua primeira corrida na categoria 250cc, acabando por Wayne vencendo algumas provas, lhe garantindo uma rápida subida para a categoria principal, a Superbike. Mesmo conseguindo algum sucesso na categoria, Wayne Gardner não conquistou nenhum título nacional, mas com o apoio da Honda local e o sonho de se tornar Campeão Mundial de Motociclismo, Gardner foi para a Inglaterra em 1981 para ganhar experiência e tentar realizar o seu sonho. Não demorou muito para o australiano se destacar nas provas inglesas e Gardner consegue o importante apoio da Honda britânica, que lhe promove a estreia no Mundial de Motovelocidade em 1983, logo de cara nas 500cc, na Catedral da Motovelocidade, em Assen. Gardner abandona em sua primeira corrida, mas em Silverstone, pista em que conhecia muito bem, Gardner consegue um bom nono lugar no grid, mas sem a experiência necessária com a arisca moto das 500cc, Wayne acaba finalizando fora dos pontos.
Wayne Gardner continuava se destacando nas provas inglesas e com os bons resultados nas duas corridas que fez no Mundial, o australiano correria cinco vezes no Mundial das 500cc em 1984, desta vez conseguindo bons resultados, culminando com o seu primeiro pódio no Grande Prêmio da Suécia, com um terceiro lugar. Mesmo inscrito na equipe Honda Britain, Gardner corria numa equipe satélite da fortíssima equipe oficial da montadora japonesa, a Rothmans Honda, e os bons resultados do australiano fez com que Gardner garantisse um lugar na equipe principal em 1985, ao lado de Ron Haslan, Randy Mamola e a estrela do time, Freddie Spencer. A equipe Honda havia perdido o título de 1984 para a Yamaha de Eddie Lawson e numa tentativa de reaver o título, a Honda construiu a famosa NSR500 que deu à Spencer não apenas o bicampeonato nas 500cc, como o americano também garantiu o título das 250cc. Contudo, após essa temporada de sonhos para Freddie Spencer, o americano começa a ter problemas de sensibilidade em seu braço direito e sua prodigiosa carreira praticamente terminou ali. Gardner tinha sido segundo melhor piloto da Honda em 1985, com um quarto lugar no campeonato e cinco pódios. Mas nenhuma vitória. Com Spencer sofrendo com os seus problemas com o braço, Gardner tomou as rédeas da equipe Rothmans Honda. O jovem engenheiro Jeremy Burgess, que preparava a moto de Freddie Spencer, agora ficaria ao lado do seu compatriota Gardner. Para mostrar que era agora indubitavelmente o principal piloto da Honda, o australiano conseguiu sua primeira vitória no Mundial das 500cc logo na etapa inaugural de 1986, em Jarama.
Porém, Gardner teria um adversário dificílimo, se quisesse conquistar o título das 500cc. Eddie Lawson era experiente, com o título mundial de 1984, e era o principal piloto da Marlboro Yamaha, maior rival da Rothmans Honda no Mundial desde 1983. Sem Spencer, a Honda apostava todas as suas fichas em Gardner, que tinha uma grande ambição: se tornar o primeiro australiano a vencer o Mundial das 500cc. Porém, mesmo mostrando muita velocidade em 1986, Gardner não foi capaz de impedir o domínio de Lawson, que venceu o campeonato com sete vitórias, enquanto Gardner ficou com o vice, com vitórias também em Assen e Silverstone. Correndo praticamente sozinho na Honda, Gardner viu a Yamaha se dividindo em duas grandes equipes para 1987. De um lado, a equipe oficial gerenciada por Giacomo Agostini e patrocinada pela Marlboro, tendo como principal piloto Eddie Lawson. Do outro, a segunda equipe da Yamaha era comandada por outra lenda da marca, o americano Kenny Roberts, tendo como piloto o agressivo e bastante popular Randy Mamola. Mais experiente, contando com apoio total da Honda e com o sonho ainda pendente de se tornar Campeão Mundial, Wayne Gardner começou a temporada de 1987 com um segundo lugar no Japão, ficando atrás de Mamola e vendo seu teórico principal rival, Lawson, ficar pelo caminho. Porém, nas cinco corridas seguintes, Gardner consegue quatro vitórias, enquanto Lawson e Mamola dividem pontos entre si, garantindo uma confortável vantagem para Gardner no campeonato. Ao contrário de sua maior característica, Eddie Lawson fazia uma temporada irregular, alternando vitórias (cinco no total em 1987) com quedas, fazendo com que o americano ficasse apenas em terceiro lugar no campeonato. Com uma vitória na penúltima etapa da temporada, em Goiânia, o sétimo triunfo no ano, Gardner conquistava o seu sonhado Campeonato Mundial nas 500cc.
Como atual campeão mundial, Wayne Gardner era um dos grandes favoritos ao título de 1988, mas o Mundial das 500cc veria a entrada de dois americanos que marcariam para sempre o campeonato: Wayne Rainey e Kevin Schwantz. Os dois novatos mostrariam logo de cara seu talento, com Schwantz vencendo em sua estreia no Japão, mas não demorou muito para que os velhos rivais tomassem conta do campeonato, com Gardner e sua Honda de uma lado e Lawson e sua Yamaha do outro. Foi um campeonato inesquecível e os dois protagonizaram várias lutas por vitórias, tendo como coadjuvantes Rainey, Schwantz, Christian Sarron, Kevin Magee e Neill Mackenzie, companheiro de equipe de Gardner na Rothmans Honda. Porém, a Honda NSR500 mostrava uma velocidade impressionante nas retas, mas a ciclística da moto deixava muito a desejar e mesmo tendo Burgess e a lenda Erv Kanemoto na Honda, Gardner sofreu bastante em 1988, conquistando poucos bons resultados no começo de 1988, enquanto Lawson voltava à velha forma de conquistar o maior número de pontos possível, somado a algumas vitórias. Contudo, o australiano mostrava seu talento e com três vitórias consecutivas no meio da temporada, Gardner indicava que podia fazer frente à Lawson, mas Wayne acabaria sofrendo um grande baque quando liderava o Grande Prêmio da França e estava prestes a conquistar a quarta vitória consecutiva, quando sua Honda tem problemas mecânicos na última volta e o australiano cai para o quarto lugar. E a vitória caía no colo de Lawson. Mesmo Gardner tendo como pior resultado o segundo lugar nas quatro provas finais, o australiano teria que se conformar com o vice-campeonato, com quatro vitórias, e viu seu rival Lawson conquistar o tricampeonato.
Porém, mesmo com o tricampeonato, Eddie Lawson teve dificuldades em renovar seu contrato com a Marlboro Yamaha e no final de 1988 ele surpreendeu o mundo da motovelocidade ao anunciar que estava se transferindo para a Honda em 1989, correndo por uma equipe satélite da Honda oficial, chefiada por Kanemoto. Wayne Gardner não era das pessoas mais simpáticas do mundo e todo o paddock do Mundial de Motovelocidade sabia que ele e Lawson não se gostavam. Havia uma enorme curiosidade no ar para saber como seria o relacionamento entre as duas maiores estrelas das 500cc da época na mesma equipe, mesmo Lawson ficando num time à parte. Porém, ainda no começo de 1989, Gardner viveria um dos grandes momentos de sua carreira. O seu título em 1987 fez com que o Mundial de Motovelocidade ganhasse um enorme interesse na Austrália e Gardner fez de tudo para promover uma corrida na Oceania e o primeiro Grande Prêmio da Austrália seria a segunda etapa de 1989. No belíssimo circuito de Phillip Island, Gardner teve uma disputa sensacional com Rainey e Sarron, derrotando a ambos e vencendo sua corrida caseira, para o seu júbilo e de toda a torcida, que lotou o circuito. Porém, a temporada de 1989 de Gardner estaria acabada dias depois. A corrida seguinte seria realizada no espetacular e perigoso circuito de Laguna Seca, na Califórnia. Durante os treinos, Gardner perdeu o controle de sua Honda e acabou fraturando seriamente sua perna numa das pequenas áreas de escape do circuito californiano. Wayne passaria a maior parte do ano de molho, vendo Lawson conquistar o seu quarto titulo mundial com a sua moto. Para surpresa de todos, Lawson voltou para a Yamaha em 1990 e teria ao seu lado o seu pupilo, Wayne Rainey, que tinha sido vice-campeão em 1989. A Marlboro Yamaha, comandada por Roberts, tinha o chamado 'Dream Team', mas um acidente de Lawson em Laguna Seca fez com que Rainey conquistasse o seu primeiro título com facilidade. Sem Lawson por perto, Gardner poderia ter a Honda orbitando em torno dele novamente, mas a chegada de Michael Doohan em 1989 fazendo um bom trabalho fez com que a equipe não apostasse tudo em Gardner como havia feito antes e para piorar, após vencer a terceira etapa em Jerez, Wayne sofreria outro grave acidente em 1990, ficando de fora de cinco corridas, vendo Doohan liderar a Honda e ficar em terceiro no campeonato. Gardner retornaria nas corridas finais a tempo de conquistar o Grande Prêmio da Austrália, derrotando seu compatriota Doohan, mesmo Gardner tendo um pulso quebrado devido a um acidente.
Wayne Gardner vinha de duas temporadas ruins, onde teve problemas de contusão e agora tinha em Michael Doohan um piloto do mesmo nível dentro de sua amada Rothmans Honda. A chegada de Doohan também divide a torcida australiana e Gardner fica enciumado, gerando atritos entre os dois pilotos da Honda. Mesmo tendo apenas 32 anos, Wayne Gardner vê as contusões começarem a pesar, além do fato que o Mundial das 500cc chegava ao auge da chamada Era de Ouro. Rainey e Schwantz dominavam o campeonato e a rivalidade entre os dois era um grande chamariz para o campeonato, mas Michael Doohan começava a se intrometer na briga dos dois, vencendo provas e chegando em terceiro no campeonato, vencido por Rainey. Gardner faz uma temporada opaca, onde consegue apenas três pódios e fica em quinto no campeonato. A temporada de 1992 começa de forma péssima para Gardner, que sofre um acidente na primeira etapa em Suzuka e fica várias corridas de fora. O australiano só retornaria na metade da temporada e de forma surpreendente, andando como nos seus melhores anos. Após um segundo lugar em Magny-Cours, Gardner derrota Rainey para vencer o Grande Prêmio da Inglaterra em Donington Park e aproveita para anunciar que estaria se aposentando do Mundial no final de 1992. Ainda competitivo. Com um segundo lugar no Grande Prêmio da África do Sul, Wayne Gardner deixava o Mundial de Motovelocidade com 100 largadas, 18 vitórias, 51 pódios, 19 poles, 19 voltas mais rápidas, 1074 pontos e o Campeonato Mundial de 1987.
Logo após abandonar a sua carreira em duas rodas, Wayne Gardner voltou à Austrália e passou a se dedicar às quatro rodas, participando ativamente do Campeonato Australiano de turismo, agora chamado de V8 Supercars. Primeiramente como piloto oficial da Holden, depois como dono da própria equipe, Gardner se manteve ativo por dez temporadas, mas sem repetir o seu sucesso nas duas rodas, inclusive sendo chamado de 'Captain Chaos' devido aos seus vários acidentes. Gardner também participou de algumas provas no Japão e em 1998 competiu nas 24 Horas de Le Mans. Hoje, Wayne Gardner organiza corridas de moto clássicas, se tornou uma lenda da MotoGP e tem uma equipe de motovelocidade na Espanha para os seus dois filhos, Remy e Luca. Piloto bem do estilo do seu compatriota Alan Jones, competitivo e truculento, Wayne Gardner se destacou numa das melhores gerações da história do motociclismo, se mantendo fiel a Honda nos bons e maus anos, mas sempre se mantendo um piloto forte e pronto para brigar pela vitória em todos os seus anos nas 500cc, tendo como grande rival a também lenda Eddie Lawson, além de ajudar a popularizar a motovelocidade na Austrália.
Parabéns!
Wayne Gardner