Em meio a um período tenso da F1, o Brasil celebra uma marca histórica: os 40 anos do bicampeonato de Emerson Fittipaldi.
Após dois anos de sucesso com a Lotus, Emerson Fittipaldi se viu em dificuldades em renovar seu contrato com a equipe no final de 1973. Colin Chapman acreditava piamente que Emerson não teria coragem em sair da Lotus, melhor equipe da época e que lhe dera a primeira oportunidade na F1. Além do mais, Chapman tinha contratado Ronnie Peterson no início de 1973 e o sueco, com seu estilo espetacular, tinha cativado a Lotus e toda a F1 com suas primeiras vitórias na categoria. Antes do Grande Prêmio da Itália, Chapman diz a Emerson que Peterson lhe cederia a posição para que ele tivesse chances matemáticas para impedir o tricampeonato de Jackie Stewart durante a prova. Stewart tem problemas no começo da prova em Monza e a Lotus dominava a corrida, mas com Peterson à frente. Lembrando do que Chapman disse antes da corrida, Fittipaldi apenas comboiou Peterson esperando pelo sinal de troca de posições. Que nunca veio. Peterson venceu e para colocar mais sal na ferida, Stewart estava em quinto lugar no final de uma grande corrida de recuperação e com Emerson em segundo, o escocês precisava apenas de mais uma posição para ser campeão em Monza. Seu companheiro de equipe na Tyrrell François Cevert estava em quarto e cedeu a posição para Stewart conseguir os pontos necessários para sair de Monza como o mais novo tricampeão da F1. Na Quatro Rodas de outubro de 1973, há uma foto de Emerson Fittipaldi contornando a Parabolica com a legenda: Emerson não pilotará mais esse carro. A não troca de posição entre os pilotos da Lotus gerou muita revolta no Brasil. Irônico, não?
Com algumas propostas na mesa, Emerson Fittipaldi escolheu a McLaren. Com a aposentadoria de Stewart e a vinda do patrocínio da Marlboro para a McLaren, o brasileiro passaria a ser o piloto mais bem pago da F1, mas a escolha pela McLaren foi polêmica, pois o time comandado por Teddy Mayer nunca tinha sido campeão na F1, mesmo já sendo considerado uma equipe de ponta na época. No Brasil, era esperado que Emerson escolhesse a Ferrari e ninguém entendeu muito bem a escolha pela McLaren. Na Europa, esperava-se que Emerson Fittipaldi provasse que o título em 1972 tinha sido muito na conta da força da equipe Lotus e que o brasileiro, mesmo com todas as suas qualidades, teria que se conformar com o seu único título e o bom dinheiro que ganharia da Marlboro, que iniciava uma parceria de 22 anos com a McLaren.
Emerson mostrou a que veio em Interlagos, segunda corrida do ano, e ele deu uma resposta à torcida brasileira (a escolha da McLaren não era nenhum devaneio) e à crítica européia (ele era uma das grandes estrelas da F1 na época) e venceu em Interlagos após derrotar a Lotus de Ronnie Peterson num luta encarniçada em São Paulo. Porém, o M23 não era tão bom quanto o Lotus 72. E a concorrência seria fortíssima, principalmente vindo da Ferrari. O time italiano tentou Emerson Fittipaldi para 1974, pois iniciava uma grande reestruturação naquele ano, orquestrada pelo jovem diretor Luca di Montezemolo. Sem Fittipaldi, Montezemolo trouxe de volta para a Ferrari Regazzoni, que indiciou o jovem austríaco Niki Lauda como segundo piloto, mas que surpreenderia ao volante da Ferrari. Mesmo com a aposentadoria de Stewart e a trágica morte de Cevert, a Tyrrell se mantinha forte com um agora mais domesticado Jody Scheckter. Ainda havia a força da Lotus, com Ronnie Peterson dando o seu usual show, e da Brabham, principalmente com Carlos Reutemann, mas com o Lotus 72 se mostrando antiquado em sua quinta temporada seguida e Reutemann sofrendo com a confiabilidade do Brabham e de sua própria irregularidade, a briga pelo título ficou restrita entre Emerson Fittipaldi, Clay Regazzoni, Niki Lauda e Jody Scheckter numa temporada espetacular e extremamente equilibrada.
Emerson Fittipaldi foi o dono do começo da temporada, liderando após a quinta etapa na Bélgica, com uma vitória apertada em cima de Niki Lauda. Então, a Ferrari começou a mostrar sua força e Lauda iniciou uma incrível série de oito poles, que foi recorde por muito tempo. O austríaco mostrava uma velocidade surpreendente, mas Lauda sofria com a falta de experiência e de sorte, só conseguindo duas vitórias nesse período. Regazzoni, ao contrário do seu estilo agressivo nas pistas, mostrava muita cabeça e fazia uma campeonato na base da regularidade, ganhando muitos pontos, o mesmo fazendo o antigo 'troglodita' Scheckter. Na penúltima etapa do ano, no Canadá, os quatro lideravam a corrida e chegariam praticamente empatados para a corrida derradeira em Watkins Glen, quando Lauda, que liderava, rodou sozinho e abandonou a corrida e a luta pelo título. Com Scheckter perdendo rendimento, a vitória ficou com Emerson Fittipaldi, que se aproveitou de uma invenção mambembe da McLaren, com os pneus sendo aquecidos por cobertores do hotel antes da largada no gélido Mosport Park.
Antes da corrida em Glen, Regazzoni sofreu um acidente num teste e machucou a perna. Emerson tinha muito receio para essa última corrida, principalmente pelo fato do mítico circuito americano não combinar muito com o seu carro. Rega e Emmo estavam empatados em pontos. Scheckter tinha chances matemática, mas eram apenas matemáticas mesmo, principalmente com a boa forma da Brabham em Glen, com Reutemann ficando com a pole e dominando inteiramente a prova. Nervoso e sem dormir, Emerson Fittipaldi resolveu dar uma olhada para o seu companheiro de fila no grid, Regazzoni. O brasileiro encarou o piloto da Ferrari e percebeu que Clay estava tão o mais nervoso que ele. Ainda nas primeiras voltas, Emerson emparelhou com a Ferrari de Regazzoni e sabendo que o suíço era osso duro de roer, partiu com tudo e apesar das fechadas de Clay, conseguiu ganhar a posição e partir para o bicampeonato. Regazzoni tem problemas com sua Ferrari e chega várias voltas atrasado. Scheckter abandonaria no meio da prova e Emerson, com um quarto lugar, se tornou bicampeão mundial de F1.
Logo após os festejos, Emerson sentiu o lado negro da F1 da época quando soube da morte de Helmut Koinigg no começo da corrida, num acidente horrendo. Fittipaldi calava a boca de muitos críticos nos dois lados do Oceano Atlântico e se tornava a principal estrela da F1 na época. Se em 1972 o título veio com relativa facilidade, em 1974 o campeonato foi disputado ponto a ponto contra adversários que se mostrariam ainda mais fortes nos anos seguintes. Aos 27 anos, Emerson Fittipaldi parecia que bateria todos os recordes da F1, mas o destino não quis assim e a história, como bem sabemos, foi bem diferente.
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