A saída de Fernando Alonso da Ferrari já vendo sendo noticiada faz tempo, era apenas uma questão de 'quando', não de 'se'. Para o seu lugar na scuderia, Jules Bianchi já estava dando entrevista e o francês se dizia pronto. A lógica era essa. Porém, o mundo da F1 foi chacoalhado pelo anúncio da Red Bull de que Sebastian Vettel não irá correr mais para eles em 2015, sendo substituído pelo russo Daniil Kvyat. Ainda falta um anúncio oficial, mas tudo leva a crer que Vettel irá para o lugar de Alonso no próximo ano, com o espanhol se transferindo para a McLaren-Honda.
Quando foi perguntado nesses últimos sete anos sobre seu relacionamento com Lewis Hamilton após o ano turbulento em que passaram juntos na McLaren, Alonso cansou de dizer que não tinha nada contra o inglês e que o problema era com a alta direção da McLaren em 2007. Para bom entendedor, com Ron Dennis. O veterano chefe de equipe saiu e voltou da McLaren prometendo levar à sua equipe de volta aos bons tempos, junto com a Honda, icônica parceira dos melhores tempos da McLaren na F1. Com muito dinheiro para investir, a Honda pediu uma estrela. Mesmo campeão mundial, Jenson Button não tem o carisma das grandes estrelas e sua carreira já dá sinais de que o casamento com Jessica Mishibata se aproxima, já que Button disse que só se casaria quando se aposentasse da F1. Mas quem Dennis traria para debaixo de sua asa? Olhando para o mercado de pilotos, a única estrela disponível seria o antigo desafeto Fernando Alonso, cansado das promessas não-cumpridas da Ferrari. Voltando para os idos de 2008 e 2009, Alonso não escondia que seu sonho era correr pela Ferrari, indicando claramente uma forçada de barra para correr com os italianos e emular o desempenho de Michael Schumacher nos anos 90, se tornando um campeão em série.
Rapidamente Alonso tomou a Ferrari de conta, deixando um convalescente Felipe Massa como coadjuvante de luxo, mas o espanhol deu o azar de chegar na Ferrari bem no momento do domínio arrasador da Red Bull e de Sebastian Vettel. Alonso ainda brigou pelo título em 2010 e 2012, mas foi derrotado pelo alemão. A Ferrari teimava em prometer o título no começo de cada ano, mas não produzia um carro para tal. Alonso tirava a diferença no braço, mas sua paciência, vendo o tempo passando e seu bicampeonato ficando cada vez mais para trás, ia se esgotando. O ápice desse descontentamento foi o carro da Ferrari desse ano, juntamente com o motor, que faz Alonso usar todo o seu talento para lutar, se muito, por um lugar mais baixo no pódio. Mesmo orgulhoso, Alonso se viu sem muita saída a não ser aceitar o caminhão de dinheiro da Honda oferecido por Ron Dennis e rezar para que os japoneses acertem a mão rapidamente. Mesmo tendo Dennis como chefe novamente, resta à Alonso saber que, desta vez, dificilmente não será o piloto número 1 da equipe, pois se Kevin Magnussen é um ótimo piloto, não é um fenômeno como foi e é Lewis Hamilton. Além do mais, Alonso, que de besta não tem nada, deve ter colocado algumas cláusulas em seu contrato para ser considerado uma prima-donna dentro da McLaren. Contudo, já contanto com 33 anos, Alonso não poderá esperar muito para conseguir seu tricampeonato. Somente um milagre poderá fazer com que a Honda produza um motor tão forte como a Mercedes logo em seu primeiro ano, além do que, a Mercedes não estará parada no seu desenvolvimento apenas para deixar o campeonato mais animado no próximo ano.
Sem o talento de Alonso, que surpreendentemente colocou Kimi Raikkonen no bolso com extrema facilidade, a Ferrari corria o sério risco de começar sua reestruturação sem uma liderança técnica, já que Kimi demonstrou mais de uma vez que não é essa pessoa e nem tem essa motivação. Trazer Jules Bianchi seria pensar no futuro, mas a Ferrari sofreria sem ter um nome pesado no seu cockpit nos próximos anos. Com Alonso provavelmente indo para a McLaren, Button poderia ser um candidato natural, mas provavelmente a Ferrari teve o mesmo olhar da Honda para o inglês. Então olhou para o boxe da Red Bull e viu um Sebastian Vettel sendo destroçado por Daniel Ricciardo de forma surpreendente. O tetracampeão mundial estava acabrunhado. Quem sabe uma nova motivação não faria bem à Vettel? Que tal tocar num ponto fraco do alemão: Ei Vettel, quem saber você não seria um novo Michael Schumacher com a gente? E a Ferrari foi encantando o alemão a ponto de convencê-lo a sair de sua zona de conforto na Red Bull, onde está desde os 14 anos, para encarar o desafio de levantar a Ferrari como o ídolo de Vettel, Schumacher, fez há quase vinte anos atrás. Vettel é muitas vezes acusado de ter enfileirado seus títulos devido ao grande carro que Adryan Newey construiu para o seu estilo agressivo. Sem Newey, sem seu mentor Helmut Marko e sem a marca que o levou à F1, Vettel terá um baita desafio pela frente em levantar a Ferrari. O relacionamento entre Vettel e Kimi é ótimo, a ponto do finlandês ter afirmado certa vez que o alemão é seu único amigo na F1.
Já a Red Bull, que iniciou todo esse terremoto quando anunciou que Vettel estava fora, apostará mais uma vez em seu celeiro de talentos, trazendo Kvyat para ser companheiro de equipe de Ricciardo. O australiano mostrou um incrível talento nessa sua primeira temporada numa equipe de ponta, mas a partir do próximo ano, ele será a referência, o primeiro piloto, a esperança da Red Bull em voltar aos bons tempos, o que indicará um novo desafio à Ricciardo. Quando Daniel foi escolhido pela Red Bull em seu lugar, Jean-Eric Vergne não escondeu seu descontentamento por achar que tem talento igual ou superior ao seu antigo companheiro de equipe na Toro Rosso. Para maior desconsolo do francês, Vergne vê seu segundo companheiro de equipe ser efetivado para a Red Bull, enquanto ele procura uma equipe para o próximo ano. Kvyat mostrou rapidez na pista, mas essa rapidez em galgar posições na carreira impressiona e pode atrapalha-lo. Andar na Toro Rosso, onde está aprendendo e erros são mais tolerados, é bem diferente de correr numa Red Bull querendo voltar aos tempos vitoriosos de outrora, sendo que a equipe já não terá Newey de forma tão ativa. Christian Horner terá que rebolar para manter a Red Bull, dez anos atrás uma equipe simpática e excêntrica, numa equipe forte de ponta e respeitada.
Isso é o que temos para Suzuka, mas quem disse que não pode mudar? A briga dentro da Mercedes ainda é imprevisível e outro incidente entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton, que ainda não renovou seu contrato, poderá acontecer e um deles poderá ficar disponível no mercado. A possibilidade de um terceiro carro por equipe no próximo ano vem sendo cada vez mais falada, ainda mais com a cada vez mais provável saída da Caterham. Muita coisa pode acontecer, mas mantendo-se a lógica, a Mercedes virá ainda mais forte em 2015, trazendo consigo a Williams. Com Ferrari, Red Bull e McLaren passando por uma importante fase de transição, as sólidas Mercedes e Williams tendem a se manter como dominadores na próxima temporada, mas tudo ainda dependerá de estabilidade nas próximas semanas. E nenhum toque ou confusão até lá.
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