sábado, 25 de outubro de 2014

Crônica de duas mortes anunciadas

Quando a Brawn fez história em 2009 e conseguiu o título mais improvável da história da F1, Max Mosley teve mais um dos seus delírios, em que um equipe surgindo do nada poderia ser campeã na F1. Foi então que Mosley, então presidente da FIA, criou um concurso para fazer com que três equipes novas estreassem na F1 já em 2010. Uma das escolhidas, a USF1, morreu antes de nascer numa história para lá de mal contada, incluindo até dinheiro público argentino. Restaram Lotus, Virgin e Campos. Antes de estrear, a Campos, do antigo piloto espanhol Adrian Campos, foi vendida a outro dono espanhol e mudou seu nome para Hispania. 

E quando começou a temporada 2010, essas três equipes passaram a ser imediatamente chamadas de nanicas, pois nenhuma delas tinha condições de, sequer, se aproximar do pelotão intermediário. O sonho de Mosley morreu junto do fim da lei do teto orçamentário e de outro detalhe que o inglês esqueceu ou não quis ver. A Brawn não surgiu do nada. Mesmo vindo de duas temporadas terríveis, a Brawn era a antiga equipe Honda, com toda uma estrutura por trás e um carro já projetado para tirar vantagens dos novos regulamentos de 2009. Lotus, Virgin e Campos, que mudariam de nome ao longo do tempo, nunca tiveram chances contra as equipes ditas consolidadas e as histórias de falência não demoraram a surgir.

A mais fraca delas, a Campos (depois Hispania e depois HRT) fechou às portas em 2012. A Lotus mudou seu nome para Caterham e a Virgin foi vendida para a Marussia. Mesmo com todas as promessas ao início de cada temporada, essas duas equipes nunca saíram das últimas filas do grid, sendo que a Marussia ainda teve duas tristes histórias para contar na sua breve carreira, com os gravíssimos acidentes de Maria de Villota e Jules Bianchi. 

No meio desse ano, Tony Fernandez vendeu a Caterham para um grupo obscuro, na tentativa de manter a equipe da F1, além do malaio se livrar da batata quente de suas mãos. Foi uma sucessão de trapalhadas dos novos donos, que trocavam de pilotos como uma adolescente troca de roupa, além de abandonos mal explicados nas corridas. No tour asiático da F1, soube-se que a justiça britânica tinha confiscado equipamentos da Caterham na fábrica. Os novos donos, que agora tem nome (Envagest) desistiram do negócio e devolveram a 'criança' para Fernandez, que não quer ser o 'pai' de jeito nenhum. Hoje era o dia para que os equipamentos saíssem da Europa em direção à Austin, mas foi confirmado que a Caterham não vai, mas a equipe verde não será a única. Ainda se recuperando de todo o drama de Bianchi no Japão, a Marussia também disse que não vai aos Estados Unidos. Enquanto toda a atenção estava voltada para o problema da Caterham, ninguém lembrou que a Marussia, uma montadora russa, tinha falido e consequentemente, a equipe de F1 passava por sérios problemas financeiros.

Com a confirmação da não-participação de Caterham e Marussia em Austin e São Paulo, somente um milagre poderia fazer com que essas equipes voltem em Abu Dhabi ou para a temporada 2015. Com apenas nove equipes no grid (ou menos, já que Sauber e Lotus não estão com a saúde financeira muito boa), a ideia de um terceiro carro para as grandes equipes volta a surgir no horizonte. Muitas pessoas são contra essa ideia, principalmente as mais tradicionalistas, fora que isso traria um gasto à mais para os times grandes. Porém, na minha humilde opinião, isso traria mais benefícios do que malefícios para a F1, mas tudo dependendo do bom-senso de equipes e Bernie Ecclestone. Bastando olhar para outro campeonato da FIA para tirar algumas boas sacadas. No Mundial de Rally, há poucas montadoras inscritas (VW, Citröen, Hyundai e Ford, esta de maneira não-oficial) e são essas equipes que lutam pelas vitórias. Para não ter um campeonato esvaziado, a FIA libera (ou liberada, não sei ao certo) um terceiro carro eventual para essas equipes, onde este piloto pode marcar pontos no Mundial de Pilotos, mas não no Mundial de Construtores. Por exemplo, se o terceiro piloto da VW vencer uma etapa do WRC, ele marca pontos normalmente no Mundial de Pilotos, mas os 25 pontos da vitória no Mundial de Construtores iria para o segundo colocado, se esse for de um piloto que participa normalmente no campeonato. Bem simples e sem mexer muito no Mundial de Construtores, grande temor das equipes médias.

Por fim, a quase certa saída de Caterham e Marussia põe fim a um delírio de Max Mosley que desde o começo parecia fadado ao fracasso. Claro que novas equipes são bem-vindas na F1, mas após muito planejamento e garantias financeiras sólidas, porém esse não foi o caso das equipes que surgiram em 2010. Um terceiro carro para as equipes grandes também aumentaria o nível dos pilotos da F1, pois é muito melhor ter um Jolyon Palmer (atual campeão da GP2) num terceiro carro da Mercedes do que ter um Max Chilton se arrastando nas últimas posições.     

2 comentários:

  1. Era só não ter cortado o patrocínio de cigarros nem ter imposto regras malucas que tornam o esporte monótono, e as montadoras que saíram teriam ficado. F1 é um negócio caro e exige planejamento meticuloso.

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  2. Mas tem um detalhe importante, essas mudanças nos motores, de V8 aspirado para V6 turbinado e filhotes eletrônicos, foi um pedido das próprias montadoras que restaram, pois se não mudasse, Mercedes e Renault sairiam. Com essa mudança, não apenas essas montadoras ficaram, como a Honda voltou a ter interesse na F1.

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