Aspirando a F1 desde muito novo, Helio Castroneves logo percebeu que isso não seria possível e se mudou para os Estados Unidos, com a esperança de se tornar um piloto profissional e até mesmo repetir Jacques Villeneuve, que após fazer sucesso na Indy, foi campeão na F1. Porém, isso nunca aconteceu, mas vai longe dizer que Helinho teve uma carreira derrotada, apesar de alguns entrevistas dele próprio indicarem problemas por nunca ter tido uma real chance na F1. Piloto de destaque na Indy ao longo de quase vinte anos, Castroneves venceu três vezes as 500 Milhas de Indianápolis, fato que o coloca com um dos grandes da histórica pista americana, além de encobrir o fato dele nunca ter sido campeão da Indy, mesmo correndo sempre pela poderosa Penske. Completando 45 anos hoje, vamos ver um pouco da carreira do também dançarino Helio Castroneves.
Hélio Alves de Castro Neves nasceu no dia 10 de maio de 1975 em Ribeirão Preto, São Paulo. Vindo de uma família rica, Helio logo se apaixonou pelo automobilismo, já que seu pai, que também se chama Hélio, patrocinava uma equipe da Stock Car. Não demorou muito para Helinho começar sua carreira no kart, conseguindo vários títulos paulistas e brasileiros. Foi nessa época que Helio conheceu o que seria seu maior rival, mas também parceiro de uma carreira: Tony Kanaan. Helio e Tony se tornaram amigos de frequentarem as respectivas casas, enquanto dentro das pistas sempre correriam em paralelo. Aos 17 anos Helio estreou nos monopostos na F-Chevrolet, conseguindo um promissor vice-campeonato, fazendo-o garantir um lugar na então concorrida F3 Sulamericana. Inicialmente correndo por uma equipe própria, Helio logo chamou atenção com suas boas exibições e ainda na metade do campeonato se mudou para a equipe de Amir Nasr, uma das mais estruturadas da época. Helio Castroneves lutou pelo título com o experiente argentino Fernando Croceri, com tudo sendo decidido na última etapa, em Buenos Aires. Croceri precisava apenas de um segundo lugar para ser campeão. Foi então que ocorreu um dos episódios mais tristes da história do automobilismo sulamericano. Castroneves abriu a última volta em primeiro e com Croceri em quinto, sua equipe chegou a comemorar o título. Foi então que os portenhos Fabián Malta, Gabriel Furlán e Guillermo Kissling praticamente pararam seus carros para que Croceri assumisse a segunda posição e fosse campeão por apenas um ponto.
Foi uma atitude vergonhosa e que iniciaria uma espécie de trauma para Helio: nunca ter vencido campeonatos de monopostos! Já considerado uma promessa do automobilismo brasileiro, Castroneves se mandou para a Inglaterra, onde fez duas temporadas no então forte campeonato de F3 local. Mesmo andando pela estruturada equipe Paul Stewart, Helio não chegou a brigar pelo título, tendo que se conformar com a terceira colocação em 1995. Sem grandes resultados para mostrar numa tentativa de graduar-se para a F3000, Castroneves aceitou meio a contra-gosto um teste pela Indy Lights, categoria similar a F3000, mas que era a ante-sala da Indy. O sonho de Helio era mesmo a F1, mas sem maiores alternativas e com o apoio da Marlboro, Castroneves consegue mostrar velocidade e estrearia pela equipe campeã Tasman, onde teria como companheiro de equipe o velho amigo Tony Kanaan. Após um ano de aprendizado em 1996, Helio e Tony lutariam palmo a palmo pelo título em 1997. Uma empolgante corrida em Fontana daria o título para Kanaan, com Helio ficando mais uma vez com o vice, após ter perdido o título de Rookie of the year da Indy Lights para Tony no ano anterior. O chefe de equipe Steve Horne havia sido bem claro para Helio e Tony que o campeão da Indy Lights se graduaria para a Indy com a Tasman no ano seguinte. Kanaan ficou com a vaga, enquanto Helio teria que procurar uma equipe. Contando com bons patrocinadores e apoio de Emerson Fittipaldi, Helio faria sua estreia na Indy pela tradicional, mas decadente, Bettenhausen em 1998. A equipe tinha uma estrutura pequena, porém Helio conseguia alguns bons resultados, como um segundo lugar em Milwakee.
Foi nessa época que Helio mudou a grafia do seu nome. Quando chegou nos Estados Unidos ele era conhecido como Helio Castro Neves. Para os padrões americanos era um nome grande demais e o sobrenome Castro era muito ligado a Fidel, principalmente em Miami, onde Helio morava. Por isso ele junto os dois sobrenomes e ficaria conhecido como Helio Castroneves. Novamente derrotado por Tony Kanaan no briga pelo novato do ano, Helio se mudou para a mais estruturada Hogan em 1999. Foi um ano cheio de altos e baixos, onde Helio conseguiu sua primeira pole e outro segundo lugar num oval, dessa vez em Gateway. Porém Castroneves havia brigado com Emerson e o brasileiro estava sem expectativas para o ano 2000. Foi então que o destino e a tragédia apareceram para ajudar Helio. A Penske vinha de péssimos campeonatos e no final de 1999 havia decidido que não produziria mais seus próprios chassis e trocaria seus dois pilotos. A Penske foi no mercado e contratou o já estabelecido Gil de Ferran e a promessa Greg Moore. Na última corrida do ano Moore sofreu um terrível acidente em Fontana e morre poucas horas depois. Sem muitos pilotos disponíveis em novembro, Roger Penske contrata Helio Castroneves. Inicialmente o brasileiro ficou com remorso por ter entrado no lugar de Moore, mas quando conseguiu a benção da família do canadense, ele se sentiu melhor e iniciaria uma parceria de vinte anos com a Penske.
Com 24 anos Helio estaria numa equipe de ponta e faminta por resultados. Gil de Ferran, mais experiente e numa ótima fase, dá a centésima vitória da Penske na Indy e conquistaria o campeonato de 2000, enquanto Helio fazia um campeonato mais discreto, mas com direito a um sofrido segundo lugar em Long Beach. Em Detroit, lugar onde Roger Penske tem a base dos seus negócios, Helio consegue sua primeira vitória na Indy e ao sair do carro, ele literalmente vai para a galera e sobe no alambrado em frente a torcida. Pronto. Estava criada, de forma espontânea, a grande marca registrada de Helio Castroneves. Ele se tornaria o Spider Man, ou Homem Aranha. A CART vivia um ótimo momento, mas nem tudo eram flores, com as equipe grandes querendo correr em Indianápolis, pressionadas por seus patrocinadores. A Ganassi havia vencido em 2000 com Juan Pablo Montoya e a Penske pensou em fazer o mesmo em 2001, inscrevendo seus dois pilotos nas 500 Milhas. O nível da IRL, que promovia as 500 Milhas, era tão baixo que mesmo as equipes da CART não conhecendo muito bem o carro, Penske e Ganassi dominaram a edição de 2001. Numa corrida tumultuada, Helio fez uma ultrapassagem sobre Gil de Ferran nas últimas voltas que lhe deu a primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis. Para melhorar, Helio brigava pelo título da CART, mas o brasileiro não seria páreo para o talento e a experiência de Gil de Ferran, que atropelou no final e garantiu o bicampeonato. Infelizmente 2001 seria o último bom ano da CART. A Phillip Morris pressionava a Penske para correr em Indianápolis e mesmo sendo um dos fundadores da CART, Roger Penske levou sua equipe para a IRL em 2002, dando um golpe que se provaria fatal para a CART. Para Helio ir para a IRL não parecia ser uma boa jogada para o que sonhava em seu íntimo. A F1 ainda era um objetivo para o paulista e partir para uma categoria em que só corria em ovais não parecia promissor. Graças aos contatos de Roger Penske com a Toyota, Helio Castroneves realiza seu sonho de andar num F1 em Paul Ricard, mas a montadora japonesa já havia decidido que contrataria Cristiano da Matta, que se tornaria campeão da CART naquele ano. Helio sempre se mostrou amargo por nunca ter tido chance de correr na F1, mesmo se tornando um piloto de realce na Indy.
Nesse mesmo ano de 2002, Helio venceria em Indianápolis pela segunda vez de forma bastante polêmica. Numa arriscada tática de combustível, onde não parou na penúltima bandeira amarela, Castroneves liderava nas voltas finais, mas via surgir muito rápido atrás de si Paul Tracy, que corria pela equipe Green, que naquela oportunidade ainda militava pela CART. Com duas vitórias consecutivas de equipes da CART, a IRL não estava muito disposta a ver uma trinca em Indianápolis. Quando Tracy armou a ultrapassagem vencedora, uma última bandeira amarela foi mostrada e ficou a dúvida: Tracy ultrapassou antes ou depois da bandeira amarela? Para quem via a corrida, era bem claro que o canadense estava na frente, porém a IRL deu a vitória para Castroneves, que entrava para a história ao vencer pelo segundo ano seguido em Indianápolis, igualando o feito de trinta anos antes de Al Unser Sr. Com a aposentadoria de Gil de Ferran, Helio Castroneves se tornaria o principal piloto da Penske, equipe que se consolidaria como a principal da Indy ao longo dos anos 2000. Contudo, Castroneves nunca se tornaria campeão da Indy, conquistando o vice em quatro oportunidades (2002, 2008, 2013 e 2014). Nesse meio tempo Helio viu alguns companheiros de equipe chegarem e serem campeões, como foi o caso de Sam Hornish Jr, Will Power e Simon Pagenaud. Na luta pelo título de 2008, Helio se sentiu prejudicado por Tony Kanaan na última e decisiva corrida do campeonato, o que estremeceu bastante a amizade dos dois. No final de 2008 Helio Castroneves foi indiciado por fraude fiscal e evasão de divisas, juntamente com seu empresário e sua irmã, Katiucia. Helio chegou a ser preso, mas no dia 10 de abril de 2009 ele seria inocentado das seis acusações de sonegação de impostos. À essa altura a Penske já havia contratado Will Power para o seu lugar, mas numa recuperação impressionante, Helio conseguiu um carro para Indianápolis e venceu a corrida com autoridade, talvez sua vitória mais enfática nas 500 Milhas.
Helio se casaria em 2009 e venceria o famoso programa americano Dancing with the Stars no mesmo ano. Castroneves lutou muito pelo seu único título da Indy, perdeu o campeonato de 2013 de forma inacreditável, quando liderou boa parte do ano, mas sucumbiu frente a Scott Dixon. Se não mostrava a mesma regularidade em todas as pistas, Helio se mostrava extremamente forte em Indianápolis, onde bateu na trave várias vezes de conseguir a consagradora quarta vitória. No final de 2017 a Penske precisava diminuir seu esquema de quatro para três carros dentro do campeonato da Indy. Era nítido que o piloto mais fraco da turma de Roger Penske era mesmo Helio Castroneves, que foi sacado do programa completo da Indy após dezoito temporadas. Porém, a parceria com a Penske não terminaria. Helio correria pela Penske em Indianápolis na Indy e faria parte da IMSA, campeonato de Endurance nos Estados Unidos. Helio Castroneves ainda dá entrevistas reclamando a falta de oportunidades na F1 e até mesmo a falta de títulos na Indy, sem dúvida, uma marca negativa por ter feito a carreira inteira pela poderosa Penske. Porém, Helio tem muito do que se orgulhar de sua carreira nos Estados Unidos.
Parabéns!
Helio Castroneves