domingo, 25 de setembro de 2022

Estrela de campeão

 


A forte queda de Fabio Quartararo na primeira volta em Aragão parecia ter definido o campeonato da MotoGP. Com uma moto quase dez quilômetros mais lenta em reta, o francês da Yamaha via impotente a Ducati crescer de rendimento nas últimas corridas e com sua vantagem caindo para reles dez pontos, tudo levava a crer que Quartararo poderia perder sua liderança no Japão, mesmo sendo a terra de empregadora. Porém, Quartararo pôde contar com muito mais do que seu talento: Fabio contou com a sua estrela. Somente assim Quartararo não apenas se manteve na ponta do campeonato, como viu sua vantagem aumentar com problemas dos seus dois rivais.

A volta da MotoGP ao Japão após três anos não foi das mais tranquilas, mesmo que felizmente não por causa do Covid. Um alerta de tufão, além dos problemas logísticos causados pela guerra russo-ucraniana mexeu bastante no final de semana em Motegi e por isso o grid teve várias surpresas, com Márquez conseguindo sua primeira pole em mais de mil dias e os concorrentes ao título largando no meio do pelotão. Isso já seria uma péssima notícia para Quartararo, que sofre com sua lenta moto da Yamaha, sempre um alvo fácil para ultrapassagens, além de ser um tormento ao francês fazer uma mínima ultrapassagem. Porém, tudo começou a melhorar para Fabio ainda antes da largada. Aleix Espargaró teve um problema em sua moto na saída da volta de apresentação, fazendo o espanhol ter que retornar aos pits para trocar de moto e sair bastante atrasado. Mesmo com um ritmo decente, Espargaró ficou com o seu primeiro zero em muito tempo. Ponto para Quartararo.

Lá na frente Marc Márquez não teve o que fazer com sua deficiente Honda, mas pelo menos o espanhol não foi tão afoito como semana passada em Aragão, preferindo se manter na pista. Márquez perdeu a ponta na largada e depois foi ultrapassado por Miller, Martin e a dupla da KTM, que andou muito bem na pista molhada no sábado. Márquez se manteve no pelotão da frente, enquanto Miller imprimia um ritmo fortíssimo, rapidamente assumindo a ponta da corrida para disparar na frente e não ser mais visto. Uma vitória tranquila de Miller, mas toda a atenção da Ducati estava no pelotão intermediário. Ao contrário do seu companheiro de equipe, Bagnaia fazia uma prova medíocre, não conseguindo evoluir e para quem pensava que a Ducati estava sendo esportiva ao 'permitir' a vitória de Bastianini semana passada, a atitude do chefe de equipe Davide Tardozzi quando Bastianini novamente ultrapassou Bagnaia foi uma prova de que Enea desobedeceu uma ordem da Ducati. Contudo, dessa vez Bagnaia não fazia por onde ser favorecido. O italiano em nenhum momento fez uma boa corrida, só ultrapassando Pol Espargaró quando este errou. Nas voltas finais, Bagnaia usou sua melhor escolha de pneus para dar o troco em Bastianini e encostar justamente em Quartararo, que atacou a Aprilia de Maverick Viñaeles, mas sofreu com a falta de velocidade de sua Yamaha, sendo um alvo fácil para Bagnaia nas votas finais. Ou não? Na última volta, Bagnaia saiu de suas características mais frias e tentou uma ultrapassagem forçada em cima de Quartararo. O francês fechou a linha e para Bagnaia restou desviar, mas como estava vendido na freada, acabou indo ao chão, coroando um final de semana horroroso, onde viu Quartararo aumentar sua vantagem no campeonato.

Um golpe duro para a Ducati na sua luta para sair de um jejum que já dura quinze anos. Miller provou que a moto italiana é a melhor do pelotão, mesmo Jorge Martin tendo perdido a dobradinha ao ser ultrapassado por Binder na volta final. É incrível como o jovem espanhol não sabe administrar pneus. Márquez igualou seu melhor resultado em 2022 ao ultrapassar Oliveira para ser quarto, mostrando que a Honda depende única e exclusivamente de Marc. Se Honda e Yamaha sofrem com suas motos, ao menos sabem em quem confiar, enquanto a Ducati apanha com a falta de um piloto realmente confiável para ser campeão. Quartararo hoje contou com sua estrela para se manter ainda forte no campeonato, mas ainda resta saber se isso será suficiente até o final do ano.

sábado, 24 de setembro de 2022

Amor

 


Muitas vezes enxergamos rivalidade como algo que reflita ódio, rancor e desunião. Como normalmente falamos de esporte a motor, a lembrança de Senna e Prost é óbvia, mesmo com a aproximação entre eles no fim. Mas também podemos falar de Piquet e Mansell, Rossi e Lorenzo e por aí vai.

A noite passada em Londres já seria histórica pelo fato de vermos a última partida oficial de um ícone do esporte como Roger Federer. Num jogo de duplas, Federer escolheu Rafael Nadal, seu grande rival na carreira, como parceiro em sua despedida. Mesmo sendo um dos maiores talentos que já apareceram na história do tênis, Federer usou a rivalidade com Nadal para crescer, melhorar e se especializar para poder enfrentar seu antagonista.

Assistir ao jogo de ontem já era ver a história acontecendo, mas o que veio depois do jogo foi ainda mais marcante e célebre. Mesmo suíço, Federer sempre foi um atleta muito emotivo e não faltaram lágrimas em sua despedida do público, dos seus companheiros, dos técnicos e principalmente de sua família. Mesmo latino, Nadal sempre foi conhecido como uma rocha em termos de emoção, não demonstrando qualquer fresta em sua armadura para derrotar seus oponentes. Porém, ao ver seu grande rival se despedir, que também o fez crescer, jogar melhor e ficar o mais próximo da perfeição, Nadal desabou em lágrimas.

As fotos que surgiram com Federer e Nadal chorando lado a lado já entraram para a história do esporte como um dos momentos mais emocionantes dos últimos tempos, mostrando que rivalidade também pode significar crescimento, respeito e amor.

Parabéns, lendas!

domingo, 18 de setembro de 2022

Desobedece quem não tem juízo

 


Com a saída de Jack Miller da equipe oficial da Ducati, logo se estabeleceu uma briga silenciosa entre Enea Bastianini e Jorge Martin para ascender ao posto do australiano. Martin era o favorito, mas Enea conseguiu três vitórias com sua moto de 2021, que somado ao fato de ser italiano, ajudou bastante a escolha da Ducati por ele para ser companheiro de equipe de Bagnaia em 2023. Pecco vinha de quatro vitórias consecutivas e largava na pole em Aragão. Com a queda prematura de Quartararo, o italiano da Ducati poderia encostar de vez no campeonato e com o seu viés de alta, poderia embalar rumo ao título. Porém, Bastianini estava colado em Bagnaia. Em Misano, foi claro que Enea segurou o seu ritmo para fazer um jogo de equipe. Ele faria novamente? Já com contrato assinado para 2023, Bastianini segurou o quanto pôde, mas claramente mais rápido, executou a ultrapassagem decisiva na última volta para garantir sua quarta vitória no ano e sorrisos amarelos dentro do boxe da Ducati.

Após mais de cem dias fora das pistas para tentar uma decisiva cirurgia no braço direito, Marc Márquez retornava às corridas em Aragão, numa pista que conhece bastante e que poderia lhe ajudar nessa sua enésima volta. Se vendo em sérias dificuldades no campeonato, Quartararo torcia para a volta de Márquez para, até mesmo, ser decisivo no certame. E realmente Marc foi decisivo, mas não da forma como Quartararo esperava. Mesmo largando em 13º, Márquez saiu muito bem no apagar das luzes vermelhas e ainda na segunda curva estava em sexto, colado em Brad Binder, que também largara muito bem. Os dois haviam ultrapassado Quartararo, que estava colado em Márquez, que acabou vendo a sua traseira querer passar a dianteira. O espanhol da Honda tirou a mão, mas não deu chances a Quartararo a fazer o mesmo, enchendo a traseira da Honda. Quartararo caiu de forma dramática, no meio do pelotão e ainda viu sua moto passar por cima dele. Felizmente ninguém atingiu Fabio, que chegou nos pits com o peito todo ralado. Porém, Márquez não tinha acabado ainda. Com um pedaço da Yamaha de Fabio em sua traseira, Márquez viu sua moto entrar no modo largada, desequilibrando sua Honda. Marc acabou batendo em Nakagami, que se desequilibrou também no meio do pelotão, mas assim como Quartararo, todo mundo se livrou do japonês.

Com dois pilotos fora por sua causa, Márquez recolheu aos boxes para abandonar e procurar se desculpar pelos erros que mudaram com o campeonato. Enquanto tudo isso ocorria, Bagnaia mantinha sua primeira posição e tirava 25 pontos inteiros para Quartararo, encostando de vez na luta pelo título. Já se fala abertamente em jogo de equipe dentro da Ducati e em Misano, Bastianini claramente se segurou para não ultrapassar Bagnaia. Porém, com a queda de Quartararo, abriu-se uma fresta para Enea, que mesmo ainda um pouco inconsistente, ainda pode brigar pelo título. A prova da mudança de mentalidade foi a ultrapassagem de Bastianini ainda nas primeiras voltas pela ponta, mas um erro logo depois devolveu a primeira posição para Pecco. Seria já um jogo de equipe? Com Miller perdendo rendimento, o australiano permitiu a aproximação de Binder e Aleix Espargaró, que se recupera de um dedo mindinho quebrado. O espanhol da Aprilia lutou bastante e nas últimas voltas deixou Binder para trás para ficar no lugar mais baixo do pódio e mais importante, se manter próximo da luta pelo título.

Com a vitória, Bagnaia conseguiria a incrível marca de cinco vitórias consecutivas e o mesmo número de pontos atrás de Quartararo, que não vence desde o começo do campeonato. A lógica dizia para Bastianini repetir a tática de Misano e ficar logo atrás. Na Moto2 o jovem Pedro Acosta não ligou muito para a briga do título de Augusto Fernández e ficou na frente do companheiro de equipe para vencer. Bastianini tinha um ritmo melhor e lutava para não ultrapassar Bagnaia, principalmente no final da reta oposta. Quando todos esperavam para o mesmo resultado de Misano, Bastianini atacou na última volta. O ritmo de Enea era tão melhor, que não permitiu qualquer réplica de Bagnaia, que se viu em segundo e com a desvantagem para Quartararo dobrar para dez pontos. Dentro dos boxes da Ducati, não havia muita alegria, mesmo com a confirmação do título de Construtores. Os chefes se entreolhavam com cara de quem chupou limão bem azedo. E servido pelo piloto que acabaram de contratar. Se Bagnaia perder o campeonato por cinco pontos, o clima dentro dos boxes da Ducati em 2023 será nada agradável...

terça-feira, 13 de setembro de 2022

História: 30 anos do Grande Prêmio da Itália de 1992

 


Com os dois títulos definidos, a maior atração da F1 até o final da temporada de 1992 era a briga pelo vice-campeonato, onde Patrese, Schumacher e Senna estavam bastante próximos. Contudo, fora das pistas houveram inúmeros anúncios que balançaram as estruturas da F1 naquele final de semana em Monza. Um pouco antes do primeiro treino livre o presidente da Honda Nobuhiko Kawamoto anunciou a saída da montadora japonesa da F1 no final daquela temporada, para extremo desgosto de Ayrton Senna, que procurava um lugar mais competitivo para 1993. Sem motores para o ano seguinte, Ron Dennis anuncia a contratação de Michael Andretti, numa clara investida para amolecer o coração da Ford, mas os americanos deixavam claro que a Benetton seria a equipe número um deles, para desespero de Dennis, que tentou até mesmo a compra da Ligier para colocar as mãos nos motores Renault, mas restrições mercadológicas impediram que o negócio fosse adiante e Dennis pensava em como manter Senna na equipe, que se oferecia de graça para a Williams, com um motor cliente da Ford, naquela altura, o único motor disponível. 

Com as ausências de Brabham e Andrea Moda as equipes pequenas não tinham mais que se preocupar com a temida pré-classificação. Mansell experimentava um novo motor Renault e mesmo tendo problemas na sexta-feira, confirmou a pole no sábado, sua décima primeira no ano. Senna dispensou o uso da suspensão ativa na McLaren e ficou com um interessante segundo lugar, com Berger preferindo o usar o aparato e tendo que se conformar com o quinto lugar. Como sempre a Ferrari fez uma bela festa em casa e mesmo com Alesi chateado pela péssima temporada até aquele momento, o francês usou o motor 'especial' da Ferrari em Monza e ficou em terceiro no grid, dividindo a segunda fila com Patrese. Boutsen conseguia um bom oitavo lugar com a Ligier com a suspensão ativa, enquanto a Jordan largava nas últimas posições com seu péssimo motor Yamaha V12.

Grid:

1) Mansell (Williams) - 1:22.221

2) Senna (McLaren) - 1:22.822

3) Alesi (Ferrari) - 1:22.976

4) Patrese (Williams) - 1:23.022

5) Berger (McLaren) - 1:23.112

6) Schumacher (Benetton) - 1:23.629

7) Capelli (Ferrari) - 1:24.321

8) Boutsen (Ligier) - 1:24.413

9) Brundle (Benetton) - 1:24.551

10) Gachot (Larrousse) - 1:24.543


O dia 13 de setembro de 1992 amanheceu claro e ensolarado em Monza, num típico domingo de Grande Prêmio da Itália, mas o que chamou a atenção naquela manhã aconteceu fora das pistas. Continuando a série de anúncios, Nigel Mansell reuniu a imprensa logo depois do warm-up para anunciar sua aposentadoria da F1 no final de 1992 e que estava disponível para ir a outras categorias, principalmente a Indy. Com a chegada de Prost à Williams com o apoio da Renault, Mansell, mesmo campeão do mundo, teria que reduzir seu salário se quisesse ficar na Williams em 1993, sem contar que sua experiência como companheiro de equipe de Prost não tinha sido as melhores. Mansell ainda conversou com a McLaren, que vendo Senna em vias de sair da equipe, fez com que Dennis engolisse o orgulho e tivesse que negociar com Mansell, inimigo fidagal da McLaren nos últimos tempos. Magoado com a Williams, Mansell se antecipou e anunciou que estava fora da F1 em 1993. Mansell confirmou sua pole na largada e mesmo com Alesi saindo melhor do que Senna, o brasileiro recuperou a sua posição na freada da primeira chicane, seguido por Patrese, Capelli e Boutsen. 


Mansell liderava a primeira volta o que poderia ser outro passeio dominical e a Williams mostrava a sua força com Patrese ultrapassando Alesi bem na reta dos boxes, para tristeza dos tifosi. Berger e Schumacher tem problemas na freada da primeira curva e despencam pelotão abaixo. Antes da corrida Mansell e Patrese combinam uma troca de posições para ajudar o italiano no campeonato, além de oferecer uma vitória em casa para Patrese, mesmo com as arquibancadas praticamente vazias em Monza pela má fase da Ferrari. Mansell abriu 5s de forma natural sobre Senna, que já era pressionado por Patrese, enquanto Alesi já vinha 6s atrás da segunda Williams. Na volta 13 a corrida da Ferrari acabava de forma melancólica e em poucos segundos, com Alesi entrando nos boxes com a bomba de combustível quebrada e Capelli rodando na Parabolica, terminando sua corrida na brita, para desgosto da torcida. Com isso Brundle assumia a quarta posição, enquanto Schumacher e Berger escalavam o pelotão. Na passagem seguinte finalmente Patrese ultrapassa Senna na freada da primeira chicane, completando a dobradinha da Williams, com Mansell já 10s na frente. Porém, como fora combinado anteriormente, Mansell tira o pé para a aproximação de Patrese e o italiano assume a ponta da prova na volta 20, porém, o que esse plano não contemplava, era que Senna também chegasse em Mansell.


Os três primeiros colocados corriam próximos, com 3s separando-os enquanto passavam pelos retardatários. Brundle vinha 30s atrás, com Boutsen em quinto e Schumacher já na zona de pontos, enquanto Berger, gastando demais os pneus, teve que fazer uma parada. E quanto o austríaco foi alcançado pelos líderes, Berger deu trabalho para a dupla da Williams, o que permitiu novamente uma aproximação de Senna. Mansell tinha claramente o carro mais rápido da pista, mas o inglês permaneceu fiel à sua palavra e não atacava Patrese, mas na volta 42 a Williams do inglês tem uma pane hidráulica, causando o abandono de Mansell. Após deixar seu carro na Variante Ascari, Mansell retornou aos boxes acenando para a torcida, fazendo a festa dos poucos tifosi que ainda estavam em Monza. Senna tem um problema de escapamento e diminui o ritmo. Parecia que a fatura estava liquidada para Patrese, mas faltando cinco voltas o italiano tem a mesma pane hidráulica que tirara Mansell da corrida. Riccardo fica com o câmbio travado na quarta marcha, mas sem nenhum ritmo, é seguidamente ultrapassado. Ayrton Senna conquistava sua terceira vitória em 1992, com Brundle e Schumacher completando o pódio, no que era a primeira vez naquela temporada que a Benetton colocava seus dois carros no pódio. Senna tirou o pé na penúltima volta para Berger tirar uma volta e assim ficar com o quarto lugar à frente do infeliz Patrese.  Apesar de manter sua famosa comemoração empunhando a bandeira brasileira, Senna estava sem alegria, pois sabia que ele apenas se aproveitou do infortúnio da Williams para vencer. Seria a última vitória da consagrada parceria Senna-Honda.

Chegada:

1) Senna

2) Brundle

3) Schumacher

4) Berger

5) Patrese

6) De Cesaris

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Figura(ITA): Carlos Sainz

 Com o novo regulamento trazendo de volta o efeito-solo, pegar o vácuo do piloto da frente não se tornou uma tarefa fácil e nas longas retas de Monza isso ficou claro, dificultando as ultrapassagens, ao invés de facilita-las, como sempre foi o principal objetivo do novo regulamento. Era esperado trens de 'DRS' durante a corrida, com pilotos impossibilitados de fazer ultrapassagens, pois sempre haveria alguém usando o dispositivo. Porém, Carlos Sainz reescreveu um pouco essa história. O espanhol da Ferrari foi um dos vários pilotos punidos por trocas de motor ou algumas partes do mesmo, fazendo com que Sainz saísse da penúltima fila do grid. Era esperado uma corrida de paciência para Sainz, mas Carlos não teve nenhuma e ignorando qualquer dificuldade pelos problemas aerodinâmicos dos novos carros, ultrapassou quem viu pela frente, usando DRS ou não. Sainz deu um verdadeiro show de ultrapassagens, demonstrando que tinha um acerto no mínimo parecido com o de Leclerc e que ele poderia fazer o mesmo que o seu companheiro de equipe na frente. Sainz chegou a flertar com o pódio, o que coroaria a sua bela corrida de recuperação, mas o quarto lugar mostrou todo o potencial de Carlos Sainz para esse domingo.

Figurão(ITA): Aston Martin

 Fernando Alonso pode ter sido vítima de um carma e não saiba ou o espanhol esconde. Todas as escolhas de Alonso parecem erráticas e algumas, antes mesmo dele chegar, já parecem fadadas ao fracasso. Estamos falando da Aston Martin. Se sentindo desprestigiado dentro da confusão que é a Alpine, Alonso encontrou abrigo na Aston Martin a partir de 2023, uma equipe com dinheiro e com status de fábrica, mesmo a tradicional montadora britânica não construindo seus motores. Porém, nem todo o dinheiro do mundo foi capaz de fazer o belo carro verde andar bem nesse ano e particularmente em Monza, local onde o carro, quando se chamava Force India ou Racing Point, normalmente andava bem. De saída da F1, Vettel esperava uma despedida digna do palco onde conquistou sua primeira vitória na F1, mas o alemão acabou sucumbindo a mediocridade que hoje reina na Aston Martin e sequer passou ao Q2, se juntando à Lance Stroll. Na corrida as coisas não mudaram muito. Subindo várias posições no grid de largada pela montoeira de punições ocorridas antes mesma da classificação, a dupla da Aston Martin foi alçada ao meio do grid, mas isso não foi de muita valia. Vettel abandonou cedo com o motor quebrado, enquanto Stroll demorou um pouco mais para encontrar o mesmo destino, porém, o canadense já ocupava as últimas posições quando encostou seu carro nos boxes. E não podemos dizer que Monza foi uma exceção! A má fase da Aston Martin já vem de longa data e é para essa equipe que irá Fernando Alonso e o atual campeão da F2 Felipe Drugovich. Já contando com 41 anos, Alonso pode percorrer o mesmo caminho de Vettel a partir de 2023: partir para uma melancólica despedida da F1. 

domingo, 11 de setembro de 2022

Bora Will!

 


Quando assumiu o lugar de Hélio Castroneves na Penske, enquanto o brasileiro tentava se explicar com o implacável fisco americano, Will Power mostrou tanto talento, que Roger Penske conseguiu um terceiro carro para o australiano quando Hélio retornou à Indy em meados de 2010. Power já não era mais nenhum garoto, mas em várias ocasiões se portou como um. Piloto rapidíssimo nos mistos, vacilava nos ovais e em momentos de pressão. Por isso que seu primeiro e esperado título demorou tanto e ficou por ali. Power se mostrava ainda um piloto rápido, mas conseguiu domar os ovais a ponto de vencer as 500 Milhas de Indianápolis em 2018 e sempre estar na briga por vitórias. Porém, ainda faltava controlar seus nervos. Power já tinha números impressionantes, foi se mantendo na Penske vendo alguns pilotos chegarem e serem campeões, mas Will muitas vezes vacilava na chamada hora H.

Para 2022 Power não estava entre os favoritos, principalmente com o título de Alex Palou e outros pilotos jovens cada vez mais presentes na luta por vitórias. Contando com 41 anos, Power tinha como companheiros de equipe na Penske pilotos que ainda não estavam na casa dos trinta anos. Porém, Will veio diferente para essa temporada. Se em outros momentos Power era uma espécie de 'win or wall', nesse ano o australiano da Penske era cerebral e foi enfileirando bons resultados, simplesmente terminando todas as corridas da temporada. Várias vezes em 2022 Power pecou na sua maior especialidade, que é a velocidade em ritmo de classificação e teve que largar lá de trás, mas isso não impediu que Will fosse ganhando posições a ponto de estar no pódio oito vezes nesse ano. A única vitória de Power nesse ano foi numa corrida de recuperação em Detroit, após largar em 16º.

Power foi para a decisão do campeonato com uma vantagem razoável sobre dois pilotos com mais de um título e experientes (Newgarden e Dixon). Para mostrar que esse final de semana era mesmo de Power, ele conseguiu uma marca histórica ao conseguir a sua 68º pole da carreira na Indy, ultrapassando a lenda Mario Andretti como o maior pole-man da categoria. Após conseguir o feito, Power parecia nem estar feliz. Will estava focado no título e mais do que entrar definitivamente na história da Indy, Power conseguia mais um ponto de frente para Newgarden e Dixon, que tiveram um sábado difícil. Dixon repetiu suas atuações nos treinos e ficou no meio do pelotão, enquanto Newgarden rodou no Q1 e teve que largar da última fila. Largando na pole, Power estava com a faca e o queijo na mão, mas ele teria que segurar os nervos em Laguna Seca, tradicional palco da final da Indy.

Com um asfalto velho e áspero, os pneus foram a chave para a corrida em Monterey, principalmente em se manter com os pneus duros. Power disparou no primeiro stint, mas não foi capaz de segurar o atual campeão Alex Palou, que fez a melhor corrida de sua carreira na Indy. O piloto da Ganassi queria mostrar serviço, talvez por que precise de alguém para lhe bancar em 2023. Palou destruiu a concorrência hoje e venceu com mais de 30s de vantagem, numa margem rara de ser numa corrida da Indy. Seu movimento de tentar uma vaga na McLaren pensando na F1 se mostrou um tiro n'água e a cara dos seus mecânicos atrás dele após a corrida mostrava bem o constrangimento de alguém sem clima dentro da Ganassi. Foi uma corrida com apenas uma bandeira amarela e muita ação pelas diferentes táticas das equipes por causa dos pneus. Ainda com chances remotas de título, Scott McLaughlin ficou com a missão de marcar de perto Scott Dixon. Se fosse um jogo de futebol, o neozelandês era capaz de ir ao banheiro com o seu compatriota se lá ele fosse. Mas talvez nem fosse preciso. Dixon esteve irreconhecível hoje e nem de longe mostrou a sua genialidade para conquistar títulos ou viradas espetaculares, como foi em 2015.

E quem fez uma corrida espetacular foi Josef Newgarden. O americano da Penske saiu da última fila para a segunda posição basicamente na pista, pois as bandeiras amarelas não foi um fator. Josef ultrapassou quem viu pela frente, não tomando conhecimento dos pilotos que encontrava. Newgarden tinha uma missão e lutou por ela, mas ele não foi páreo para Palou e seu motor novinho em folha e teve que se contentar com a segunda posição na corrida e no campeonato. Se alguém da Alpha Tauri estivesse vendo a corrida, talvez iria trazer Newgarden no lugar de Herta... Com a cabeça claramente fora da Indy, Herta fez outra corrida bem abaixo de suas possibilidades, ficando atrás dos seus companheiros de equipe Grosjean e Rossi, que se despediu da Andretti após longa passagem. A Andretti pode ser chamada de 'Ferrari da Indy', por sempre matar a estratégia dos seus pilotos com pit-stops horrorosos e chamadas piores ainda. Para completar, sua equipe complementar, a Meyer Shenck fez uma temporada bem abaixo e Hélio Castroneves, que teima em não se aposentar, fez uma temporada medíocre. A Ganassi ainda se sustenta pela genialidade de Dixon e bem quando esperava ter encontrado um sucessor, Palou fez toda essa presepada que o deixa numa situação delicada para 2023, pois está clima na Ganassi e pode acabar fora da McLaren, que fez outro bom ano, mas sem a consistência necessária.

Power fez uma prova pensando no campeonato, refletindo como foi sua temporada em 2022. Quando foi ultrapassado por Newgarden e tinha o sempre perigoso Romain Grosjean em seu encalço, muitos pensaram que Will amarelaria novamente, mas o australiano manteve a calma e no último stint colocou pneus duros novos, encostando em Newgarden. Daí em diante foi controlar o companheiro de equipe até a bandeirada, chegando num mais do que suficiente terceiro lugar, seu nono pódio no ano. Foi o segundo título de Power na Indy, que vai consolidando o australiano como um dos grandes dessa era moderna da Indy pós-reunificação. Power teve que mudar seu estilo, mas doze anos após chegar à Indy com muito talento e bastante o que melhorar, Will Power foi se ajeitando e reinventando para vencer novamente quando menos se esperava.

Mais do mesmo

 


Está virando rotina em 2022. Max Verstappen passa a sensação de que, não importando da onde largue, ele a Red Bull darão um jeito de vencer a corrida. Mais uma vez Max teve uma punição a cumprir e ainda teve uma vitória tranquila para comemorar, mesmo que não contando com um erro crasso da Ferrari. Correndo em casa e com o pole Charles Leclerc tendo a melhor volta do final de semana, a Ferrari tentou uma tática diferente, mas a aposta não saiu como o esperado não por um vacilo estratégico, mas por não ter combinado com 'os russos' ou com o conjunto matador de 2022, Verstappen-Red Bull.


O dia amanheceu quente em Monza e com um grid misturado pela enorme quantidade de punições, era esperado um show de ultrapassagens. Ou não. Com o retorno do efeito-solo e a diminuição drástica do vácuo, ultrapassar nas longas retas de Monza não era uma tarefa tão simples assim e trens de 'DRS' eram esperados, contudo, Carlos Sainz destoou dessa situação com uma belíssima corrida de recuperação vindo da penúltima fila. Por sinal, a definição do grid foi uma verdadeira zona. Fora o melhor tempo de Leclerc, que não estava no balaio de punidos e por isso era o pole de qualquer maneira, foi difícil montar o grid com nove dos vinte pilotos de alguma punidos por trocas de motor ou alguns componentes, sem contar Tsunoda, penalizado por fazer tantas besteiras. Um dos punidos seria Max Verstappen, mas com Monza tendo características que lembram Spa, era nítido que o piloto da Red Bull rapidamente estaria na briga pela vitória. O que de fato aconteceu. Numa largada tranquila, Verstappen saiu bem, deixou para trás logo de cara a McLaren de Lando Norris, que se atrasou no apagar das cinco luzes vermelhas, ultrapassou Alonso, Ricciardo e Russell com facilidade, aparecendo em segundo de forma voraz, tendo apenas Leclerc à sua frente. Contudo, o monegasco não iria se entregar fácil. Os dois tinham ritmos parecidos no primeiro stint, mesmo que Max se aproximava aos poucos. Um Safety-Car Virtual deu as caras quando Vettel se despediu de Monza, lugar de sua primeira vitória na F1, de forma melancólica com um motor quebrado. A corrida ainda estava no seu primeiro quarto e uma parada ali, dificilmente significaria que um piloto terminaria a prova sem uma segunda visita aos pits. A Ferrari resolveu arriscar e trouxe Leclerc para os pits e ao colocar pneus médios, claramente pararia uma segunda vez. Verstappen assumiu a ponta pela primeira vez, com Leclerc se tornando o piloto mais rápido da pista, enquanto a Ferrari oferecia praticamente todo o alfabeto para tentar dar o pulo do gato.

O que a Ferrari talvez não contasse seja a fase estupenda de Max Verstappen. Quando faria o que seria em teoria sua única parada, o neerlandês colocou pneus médios e saiu à caça de Leclerc num ritmo 1s mais rápido. A ultrapassagem seria inevitável, mas a Ferrari contava com uma segunda parada para inverter as ações e passar de caça a caçador. A execução da estratégia ferrarista foi perfeita e Leclerc saiu dos pits com pneus macios estalando de novos. Faltando vinte voltas e a diferença estava em torno dos 19s. Era tirar 1s por volta para termos briga pela vitória, certo? Não, se o outro piloto se chama Max Verstappen. Leclerc melhorou seu ritmo, marcou voltas rápidas, mas Max destruiu a tática da Ferrari com um ritmo incrível com pneus médios usados, permitindo à Charles tirar no máximo meio segundo por volta, tornando a briga pela vitória basicamente impossível. Erro da Ferrari? Podemos chamar de aposta errada, mas os italianos sabem muito bem que não devem subestimar o conjunto Verstappen-Red Bull. Mais do que um aposta errada, Verstappen destruiu as pretensões da Ferrari ganhar em casa, mesmo que um Safety-Car tardio pudesse ter mexido no Status Quo. A corrida caminhava de forma modorrenta para o seu final, com Verstappen sustentando seu ritmo e sabendo que bastava isso para vencer pela décima primeira vez em 2022, quando a McLaren de Ricciardo parou entre as duas curvas de Lesmo. Um local ingrato para resgatar um carro e o Safety-Car deu as caras quando faltavam cinco voltas. Para ou não para? Ninguém pagou para ver e afora Checo Pérez, que acabara de colocar pneus macios, praticamente o grid inteiro foi aos pits colocar pneus macios para o que seria uma mini-corrida sprint nas últimas voltas. Ou não? A final de campeonato de 2021 ainda reverbera dentro da F1 e para evitar que polêmicas ocorram no futuro, todo um procedimento foi feito para situações parecidas que deram o título para Verstappen ano passado. A pista seria limpa, os retardatários ultrapassariam os líderes e o SC, os mais lentos seriam reposicionados e a relargada seria dada. Tudo bonitinho, mas como me dizia uma antigo gerente, papel e planilha aceita tudo, o problema é por em prática. O SC Aston Martin demorou demais a entrar na pista e estava no meio de alguns carros lentos que acabaram de sair dos pits e que por isso tinham tomado uma volta. Maylander demorou demais para encontrar Verstappen e quando os retardatários foram ultrapassar os líderes, estava claro que não daria mais tempo para uma relargada e as posições se mantiveram na brochante situação de chegada atrás do Safety-Car. Na Austrália, vendo a corrida, Michael Masi tinha um sorriso no canto da boca...


Apesar do procedimento ter sido feito do que jeito que o script fora montado, mais uma vez a F1 se atrapalhou numa novidade e acabou fazendo do fim do Grande Prêmio da Itália num verdadeiro anti-clímax, onde não faltaram vaias dos tifosis. Claro que Verstappen não tinha do que reclamar e não teve culpa do ocorrido. E pela fase em que vive, dificilmente seria ultrapassado numa relargada. O equilíbrio que existia no meio do campeonato entre Red Bull e Ferrari simplesmente não existe mais em ritmo de corrida, principalmente com Verstappen. As contas para o bicampeonato são de quando ocorrerá a comemoração e quais recordes serão quebrados. Schumacher e Vettel venceram treze vezes em 2004 e 2013 respectivamente, algo que Max poderá quebrar em poucas corridas. O Mundial de Construtores também já é favas contadas, mesmo com a má fase de Pérez, que terminou apenas em sexto em outra corrida burocrática, mesmo com o susto na saída de sua primeira parada. E tudo indica que Verstappen terminará 2022 como o sexto maior vencedor da história da F1, logo atrás de Senna. Leclerc lamentou a não relargada, pois ele poderia ter uma chance de vitória na frente da torcida que lotou Monza, mesmo que isso seja uma ideia que dificilmente ocorreria. Russell conseguiu mais um pódio, numa corrida sólida e solitária, enquanto já se aproxima do terceiro colocado no Mundial de Pilotos. Sainz fez uma grande recuperação, ignorando o trem de DRS no meio do pelotão, ultrapassando quem via pela frente, mas sem surpresas, quando chegou nos carros das equipes top-3 de 2022, a evolução do espanhol parou, mas o quarto lugar de Carlos foi algo a ser comemorado. A evolução de Hamilton foi mais lenta, por causa do déficit de velocidade final do motor Mercedes. O inglês não seguiu Sainz e Pérez no começo da corrida, só conseguindo uma boa evolução na tática, pois Lewis foi um dos últimos a parar. Com pneus macios novos, atropelou os carros do pelotão intermediário com pneus duros ou médios. Hamilton conseguiu um bom quinto lugar, mas já vê Russell numa boa distância.


Com a má largada de Norris, o vencedor do ano passado Ricciardo liderou por bastante tempo o pelotão intermediário, onde o trem do DRS ficou claro. Gasly tinha mais ritmo que o australiano, mas simplesmente não conseguiu ultrapassar Daniel, ficando a corrida inteira empacado atrás da McLaren, mesmo tentando um undercut. Para piorar, Norris postergou sua parada e com pneus macios novos, conseguiu ultrapassar todo o pelotão e ficar logo atrás das equipes top-3. O dia só não foi melhor para a McLaren pela quebra tardia de Ricciardo, o que seria bons pontos no Mundial de Construtores num dia não muito bom para a Alpine, que viu Alonso abandonar com problemas de motor e Ocon fazer uma corrida discreta e fora dos pontos. Falando em Alonso, o espanhol já passa a sensação de ter cometido outro erro de trajetória ao ir para a Aston Martin, com o carro britânico se mostrando lento e inconfiável, com os dois carros abandonando, sendo que Stroll, que chegou a andar em décimo no início da prova, estava em penúltimo quando entrou nos pits para abandonar. O grande destaque do pelotão intermediário, porém, foi mesmo Nick de Vries. O neerlandês estava em Monza somente para experimentar o carro da Aston Martin no primeiro treino livre e depois acompanhar o resto do final de semana nos boxes da Mercedes ao lado de Toto Wolff. Porém, Alexander Albon foi acometido por uma apendicite e De Vries foi chamado às pressas para treinar no carro no sábado e já na classificação impressionou ao ficar à frente de Latifi. Na corrida De Vries se comportou muito bem ao andar sempre na zona de pontuação, na briga com pilotos experientes como Alonso. No final, o piloto da Williams aguentou bem a pressão de Zhou e terminou sua estreia na F1 nos pontos com o nono lugar. E provavelmente visando seu lugar na Williams em 2023.


Foi uma corrida onde vimos toda a força do conjunto Verstappen-Red Bull, que parece não ter imperfeições em sua armadura. Após nove tentativas, Max subiu ao belo pódio de Monza pela primeira vez logo vencendo, algo que vai se tornando rotina para o piloto da Red Bull. Com o primeiro match-point na próxima corrida, não seria surpresa que o bicampeonato aconteça já nas luzes de Cingapura. Se havia esperança de que o novo regulamento embaralhasse o grid e tivéssemos um campeonato mais equilibrado, estamos vendo uma passagem de bastão, onde saímos de uma hegemonia para outra.     

sábado, 10 de setembro de 2022

Dia de Drugo


 Após um longo jejum no automobilismo internacional, o Brasil tem novamente um campeão nas mais importantes categorias de base. O título estava praticamente ganho para Felipe Drugovich quando a F2 chegou à Monza bem no dia em que se comemorava os 50 anos do título de Emerson Fittipaldi na F1. Bastava um sexto lugar para Felipe na Sprint Race e ele se sagraria campeão, independentemente do resultado de Theo Pourchaire, único piloto capaz de tirar o título de Felipe. E mesmo com uma punição por ter feito sua melhor volta sob bandeira amarela na sexta, Drugovich tinha tudo para ser campeão ainda no sábado, pois Pourchaire largava apenas em 14º.

Porém, o sábado não começou de forma agradável para o brasileiro. Largando no meio do bolo, Drugovich foi atingido por um atabalhoado Amaury Cordeel e abandonou ainda na primeira volta. Fora o primeiro grande infortúnio para Felipe em 2022. Drugovich vem de uma família envolvida no automobilismo, com seu tio Oswaldo sendo bicampeão da F-Truck no final dos anos 1990. Após uma passagem vitoriosa no kart brasileiro e sem nenhuma categoria de base forte por essas glebas, Felipe foi para a Europa e os primeiros resultados foram promissores, mesmo que uma passagem não bem sucedida na F3 em 2019 tenha diminuído as expectativas em cima do paranaense. Até mesmo por isso foi surpreendente Drugovich subir para a F2 logo no ano seguinte, na pequena equipe neerlandesa MP. Num carro mais potente, Felipe fez um ano inesperado de estreia e conseguiu duas vitórias em corridas Sprint, chamando a atenção de equipes maiores.

Em 2021 Drugovich foi para a Virtuosi, equipe grande na F2, mas havia um detalhe que acabaria fazendo toda a diferença. O time tinha como um dos principais acionista a família de Guanyu Zhou, que investia forte para que o piloto fosse o primeiro chinês na F1. Deixado de lado dentro da equipe, Drugovich fez um ano abaixo das expectativas, minando um pouco seu caminho rumo à F1. Sem melhores prospectos, Drugovich retornou em 2022 à MP, uma equipe já mais estruturada, mas longe das grandes equipes da F2, como Prema, ART e Carlin. Já experiente, Drugovich fez uma temporada pautada pela regularidade e usando bastante a inteligência para marcar pontos em todas as rodadas duplas, além de cinco vitórias que o deixou confortável para a penúltima rodada dupla da F2 em Monza. Mesmo vendo o resto da corrida dos boxes, Drugovich parecia calmo e confiante, pois Pourchaire não conseguia uma grande evolução e numa disputa com Liam Lawson, acabou caindo para último, o deixando praticamente sem qualquer chance de adiar o título de Felipe Drugovich.

Foi o primeiro título na categoria anterior à F1 desde 2000, com Bruno Junqueira na então F3000, igualando os feitos de Roberto Moreno (1988), Christian Fittipaldi (1991) e Ricardo Zonta (1997). Olhando para essa lista dá para perceber que o título da F2 (ou F3000, ou GP2...) não é garantia de estar num bom lugar na F1 e esse é o grande desafio de Drugovich nesse momento. Tendo como manager o experiente Amir Nasr, Felipe tenta um lugar na F1 em 2023. Com as indefinições na Alpine e na Alpha Tauri, o nome do brasileiro já foi mencionado, mas seu destino deverá ser o de piloto reserva na Aston Martin, que olhando para os contratos dos pilotos do time verde, Felipe Drugovich só teria uma chance real em 2025. 

Essa conjecturas ficarão para depois, pois no momento o Brasil festeja seu mais novo campeão com a esperança dele um dia chegar (bem) à F1.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Figura(HOL): Red Bull

 Ao contrário da parte de baixo da coluna, a Red Bull está tão afinada que mesmo com várias mudanças de cenários durante a prova não impedem uma vitória, graças ao entrosamento que há entre Red Bull e seu piloto principal, o anfitrião Max Verstappen. Após uma sexta-feira negativa, a Red Bull viu Max conseguir a pole numa pista que nem era pró-Red Bull, mas Verstappen usou de sua parte para conseguir se sobressair: seu imenso talento, somado à motivação da enorme torcida laranja nas apertadas arquibancadas de Zandvoort. Contudo, a corrida foi longe de ser tranquila, com aparições de Safety-Car (virtual e real), além de uma mudança climática, trazendo outros fatores à corrida. Foi então que a Red Bull fez sua parte, sempre reagindo às investidas da rivais da forma mais eficiente possível. Mesmo a Mercedes ameaçando numa tática diferente, a Red Bull cobriu todos ataques e Verstappen pôde fazer a festa em casa em outra atuação magnífica da Red Bull e seus estrategistas.

Figurão(HOL): Ferrari

 Um. Dois. Três. Quatro pneus tem um carro de F1. Certo? Nem tanto se você veste vermelho e vive no caos operacional que hoje é a Ferrari. Em outro erro inacreditável para um time de elite num esporte de ponta, a Ferrari simplesmente se preparou para o pit-stop de Carlos Sainz com apenas três pneus. E não foi uma parada abrupta ou devido a uma mudança repentina de clima. Sainz entrou nos boxes junto à Sérgio Pérez simplesmente porque estava na hora da primeira parada e o espanhol não avisou de última hora, sendo chamado. Mais um absurdo que entrará para o folclore da F1, sendo que é a segunda vez que isso acontece com a Ferrari, sendo que em 1999, a roda traseira foi outra. Mas naquele dia estava chovendo em Nürburgring, o que não era o caso de ontem em Zandvoort.

domingo, 4 de setembro de 2022

Restam três


 Matematicamente, ainda tem cinco na contenda, mas na prática, três pilotos ainda sonham com o título de 2022 após a corrida em Portland, com vitória de Scott McLaughlin, em prova dominante do neozelandês da Penske, com Will Power, fazendo um ano bastante regular, com uma boa vantagem sobre Josef Newgarden e Scott Dixon, enquanto McLaughlin e Ericsson sonham com um cometa caindo em Laguna Seca para serem campeões.

O belo e tradicional circuito de Portland foi palco de uma corrida com apenas uma bandeira amarela e com pouca briga pela vitória. Largando na pole, McLaughlin se livrou da traiçoeira curva um e controlou a vantagem para Will Power, que pensando no campeonato, também não fez muita questão de atacar. A dupla da Penske dominou a corrida e McLaughlin liderou simplesmente 104 das 110 voltas da corrida, ainda se mantendo na luta pelo título, mesmo que sendo de forma retórica. Marcus Ericsson, aproveitando-se dos pontos dobrados de sua surpreendente vitória em Indianápolis, também se mantém com chances, mas com corridas opacas, o sueco está no mesmo balaio de McLaughlin e já pensa mais em 2023.

Power só teve um susto na relargada, quando foi atacado por Pato O'Ward, que foi para um 'all in' para se manter na briga pelo título e se deu mal, perdendo o terceiro lugar para Dixon. O veterano piloto da Ganassi está empatado com Newgarden na vice-liderança do campeonato após outra corrida cerebral vindo da 16º posição do grid. Na última relargada, Dixon ganhou simplesmente três posições sem fazer força. Bastou O'Ward se tocar em Power e desalinhar sua traseira, enquanto Newgarden e Alexander Rossi se engalfinhavam na primeira curva e perdiam tempo, permitindo à Dixon passar por ambos. A Penske sabe que ter Dixon com chances de título é algo perigoso, mesmo que os vinte pontos de Power na frente o colocam numa situação sólida. Newgarden tem os mesmo pontos de Dixon, mas ao contrário de Power, Josef faz um campeonato irregular. Largando em oitavo após perder cinco posições no grid por troca de motor, Newgarden fazia uma boa corrida de recuperação, mas na última relargada sucumbiu ao estar equipado com os pneus duros, a borracha errada no calor de Portland. Newgarden despencou e ficou mais longe de Power e do título, mesmo tendo cinco vitórias esse ano, contra uma de Power.

Costumeiro entregador de rapadura ao longo dos anos na Indy, Will Power tem boas chances de conquistar o bicampeonato, mas terá bastante trabalho para segurar dois multi-campeões na rodada derradeira em Laguna Seca, tradicional palco de campeonatos da Indy. 

Variáveis rumo ao título

 


Que Max Verstappen é um piloto diferenciado e junto com a Red Bull forma um conjunto que está um patamar acima, isso já sabemos, sem contar que o bicampeonato já virou uma contagem regressiva. Contudo, além da força do neerlandês dentro da pista, as suas rivais vão colecionando erros que ajudam (sendo que não é necessário!) Max a se garantir como líder inconteste da temporada. 


Ao contrário de Spa, Verstappen não tinha um carro dominante, mas usando o fator casa, o piloto da Red Bull usou as variantes que marcaram a corrida em Zandvoort para vencer novamente e como já está se tornando uma marca para ele, Max passa a sensação que a vitória foi natural, mesmo com algumas dificuldades que surgiram nas 72 voltas da corrida. A dificuldade de se ultrapassar na apertada pista holandesa foi o tom das táticas de todas as equipes, mas um fator fez a diferença, que foi o clima mais ameno em comparação aos demais dias, fazendo com que os pneus duros entrassem na equação do dia, enquanto o Safety-Car, virtual e real, foi outro fator determinante. Com tantas estratégias diferentes ocorrendo ao mesmo tempo, o pit-wall fez a diferença e mais uma vez a Red Bull e sua bela estrategista fez a diferença à favor de Verstappen, enquanto Mercedes e Ferrari se estabanaram. Se a corrida fosse límpida, Max Verstappen venceria com um pé nas costas. O piloto da casa largou bem, fugiu de Charles Leclerc no primeiro stint e parecia que nada iria para-lo. A corrida estava modorrenta como esperado, mas dois fatores mudaram a dinâmica da corrida. A primeira foi a Mercedes, que largou com pneus médios, ao contrário dos macios da maioria, esticando suas paradas ao máximo, fazendo com que Hamilton e Russell ponteassem a prova antes da parada deles. Contudo, o segundo fator aconteceu antes da Mercedes gritar 'box, box, box' nos ouvidos de Lewis e George. Fernando Alonso fez sua primeira parada e colocou pneus duros, algo que não era esperado pelo desempenho nos treinos livres, mas sexta e sábado as atividades ocorreram com sol forte, enquanto no domingo, até se falava em chuva e o clima estava carrancudo.


Para aumentar o suspense dos táticos, os pneus duros se comportaram tão bem, que fez a Mercedes colocar a borracha com faixa branca nos seus dois carros, transformando Hamilton e Russell nos pilotos mais rápidos da pista e mandando um recado para os demais: eles não parariam mais, ao contrário de Ferrari e Red Bull. Quando a Ferrari já fazia contas com seu ábaco para ver a hora de quando iriam trazer o monegasco para os pits, um Safety-Car virtual apareceu num problema estranho de Tsunoda, que parou o carro com a roda solta, mas a roda não estava solta e depois era um problema na traseira, fazendo o nipônico estacionar seu Alpha Tauri ao lado da pista. Com as duplas de Red Bull e Ferrari tendo que parar uma segunda vez, havia o receio de que a dupla da Mercedes poderia ser engolida por carros com pneus mais macios e novos nas voltas finais, porém, essa sensação terminou quando Hamilton e Russell fizeram uma segunda parada e colocaram pneus médios novos, permanecendo em segundo e terceiro, com Verstappen em primeiro com pneus duros. Seria uma bela chance de ataque dos pupilos de Toto Wolff, mas quem acabou estragando a possível festa mercediana nos Países Baixos foi justamente o antigo piloto da equipe. Valtteri Bottas estacionou seu Alfa Romeo no final da reta dos boxes com o motor desligado e sem terem como tirar o carro dali, o Safety-Car real apareceu. Isso fez com que Verstappen fosse aos pits colocar pneus macios, enquanto a Mercedes se arriscou com seus dois pilotos com médios.

Provavelmente a Mercedes se esqueceu do que ocorrera em Abu Dhabi na polêmica final do ano passado, quando numa situação idêntica, deixaram Hamilton na pista com pneus mais duros e usados, contra um Verstappen com pneus macios e novos fungando no seu cangote. Russell pareceu lembrar disso e sorrateiramente fez sua terceira parada e colocou macios, caindo para terceiro, enquanto Hamilton ficou na pista, passou ao lado dos boxes e a Mercedes nada fez. Erro crasso e como se diz que errar uma vez é humano, mas é errar duas vezes é burrice... Como esperado, Hamilton foi engolido por Verstappen ainda na reta dos boxes e nada pôde fazer contra Russell e Leclerc, que completaram um pódio jovem, com apenas 24 anos de média, enquanto Hamilton segurou o quarto lugar e xingava a equipe via rádio. Já Verstappen sorria. O neerlandês provavelmente não esperava tanta dificuldade para vencer na frente de sua torcida, mas apesar da pista não se 'vestir' tão bem ao seu carro, Verstappen, que usou as cores do capacete do seu pai, foi soberbo na pista e a Red Bull foi ainda melhor ao reagir a todas as variáveis para colocar Max na melhor posição possível.


Se a Mercedes fez tamanha burrada, será que alguém poderia ser pior que os tedescos? Você nunca pode menosprezar a capacidade da Ferrari espalhar a farofa e da mesma forma que a Mercedes repetiu um erro, a Ferrari emulou um dos seus momentos mais embaraçosos de sua longa história na F1. Ante-penúltima etapa de 1999. Irvine lutava com Hakkinen pelo título e Nürburgring vivia um dia típico onde as quatro estações do ano aparecem num só dia. Irvine vai aos pits colocar pneus slicks. Tudo trocado... menos o pneu traseiro direito, que sequer estava lá. Conta a lenda que foi um repórter italiana quem mostrou aos desesperados mecânicos ferraristas aonde estava o pneu faltante. Passados praticamente 23 anos, a Ferrari repetiu a presepada. Sainz segurava Hamilton por muito pouco e pensava em fazer uma parada rápida, para tentar se manter à frente do piloto da Mercedes, que só pararia mais tarde, já que tinha pneus diferentes. Todo mundo pronto, então algum bendito mecânico se esqueceu de um pequeno detalhe: o pneu traseiro esquerdo. Numa cena dantesca, Sainz lamentava um pit-stop horroroso de 12s e perdia definitivamente contato com os demais. Como se desgraça pouca fosse bobagem, Sainz ultrapassou Ocon com uma bandeira amarela na sua cara e tirando um fino do carro parado de Bottas. Era necessário ceder sua posição claramente, mas a Ferrari deixou o espanhol seguir e com isso, perdeu três posições pela punição de 5s que viria a seguir. Mesmo com Leclerc ainda salvando um pódio e se igualando à Pérez (que fez uma corrida discretíssima hoje) na vice-liderança do campeonato, o oitavo lugar de Sainz significou mais pontos perdidos no Mundial de Construtores para a Ferrari. Parabéns aos envolvidos!


Na luta pelo melhor do resto, Lando Norris ainda ultrapassou Russell na primeira volta, mas o inglês da McLaren sabia que seu compatriota não seu alvo e por isso, praticamente o deixou passar. Lando sabia que seus rivais eram outros e se vestiam de azul. Demonstrando que a Alpine está à frente da McLaren, Alonso e Ocon fizeram corridas sólidas após uma classificação decepcionante e o espanhol foi sexto, superando Norris. Ocon apertou o ritmo para se aproveitar da punição de Sainz, mas permaneceu em nono por meros dois décimos, com Lance Stroll completando a zona de pontuação, numa boa atuação do canadense. Na Aston Martin, quem se transvestiu de Stroll foi Vettel, quando saiu dos boxes e atrapalhou Hamilton de forma totalmente amadora e não condizente com um piloto campeão e experiente como ele. Repetindo o que ocorre com sua equipe fornecedora, as clientes da Ferrari vão descendo ladeira abaixo em outra corrida ruim de Alfa Romeo e Haas, fora dos pontos e de longe. Albon levou a Williams a ficar próxima dos pontos, o mesmo ocorrendo com Gasly, talvez já pensando em ter que dividir os boxes com Ocon, algo que pode não ser muito agradável. Se Norris terminou nos pontos, Ricciardo terminou em penúltimo e se quiser ficar na F1 em 2023, o australiano terá fazer muito mais para que alguém queira-o.


Numa corrida cheia de variáveis, o resultado foi praticamente o mesmo. Max Verstappen teve sua liderança em risco pelas táticas e não pela performance dos demais pilotos. Correndo em casa e com uma torcida torcendo apaixonadamente para ele, Max fez a festa e provavelmente a próxima será pelo bicampeonato. Do jeito que o campeonato caminha, essa festa será mais em breve do que muitos imaginavam. 

Fatiando a diferença

 


Por mais que Fabio Quartararo esteja fazendo uma temporada brilhante e carregue nas costas sua Yamaha, a força da Ducati vai levando Pecco Bagnaia para cada vez mais próximo do atual campeão mundial e com sua quarta vitória consecutiva, Bagnaia se tornou de fato e de direito o rival direto de Fabio pelo título de 2022.

A corrida em Misano foi um mau sinal para Quartararo. Contando com a maioria do grid e com motos muito bem acertadas, a Ducati dominou o final de semana e mesmo com algumas quedas aqui e ali, a montadora italiana soube segurar bem a liderança de Bagnaia e colocar vários pilotos entre Pecco e Quartararo, apenas quinto colocado. A cena de Fabio chegando chateado nos seus boxes é um reflexo da impotência do jovem representante da Yamaha. Não bastasse a inferioridade de sua moto, Quartararo é um cavaleiro solitário enfrentando uma horda de Ducatis. Quando o rival era Aleix Espargaró, a briga era mais igual, pois o espanhol não tinha tantas motos lhe apoiando, mas contra Bagnaia, além de Quartararo vê o italiano enfileirar vitórias, ainda tem várias motos entre eles, enquanto a diferença no campeonato vai se esvaindo rapidamente.

O pole Jack Miller caiu nas primeiras voltas, facilitando um pouco a vida de Bagnaia, mas um intruso apertou o italiano da Ducati. Cada vez mais adaptado com a Aprilia, Maverick Viñales usou sua boa adaptação ao circuito de Misano para atacar Bagnaia nos primeiros dois terços de corrida, deixando Pecco sob pressão numa pista onde o italiano caiu ano passado quando foi atacado por Marc Márquez. Enquanto isso, Quartararo fazia das tripas, coração para manter contato com o pelotão da frente. Menos mal que Fabio ultrapassou Aleix Esparagaró num erro do espanhol, mas ali valeu apenas a quinta posição. Por mais que tenha se aproximado de Luca Marini no final, a força da Ducati nunca permitiu um ataque mais incisivo de Fabio, que viu catorze pontos de vantagem indo embora. Enquanto isso, Bagnaia viu a aproximação de Bastianini, que após ultrapassar Viñales, se aproximou de Bagnaia nas voltas finais. Claramente mais rápido, Bastianini deve ter se lembrado que fora promovido pela Ducati e em 2023 será companheiro de equipe de Pecco. Era nítido que Bastianini se segurou para não ultrapassar Bagnaia e sua tentativa final na reta de chegada apenas indicou que tinha moto para completar a ultrapassagem, mas preferiu jogar pela equipe.


Parêntese para a despedida de Andrea Doviziozo. Um dos pilotos mais subvalorizados do século 21, Dovi foi capaz de enfrentar Marc Márquez no auge e o derrotou em várias disputas mano a mano. Andrea praticamente salvou o projeto Ducati quando assumiu a moto depois da saída de Valentino Rossi, que não se adaptou à máquina italiana. Doviziozo lutou como nos tempos das 250cc, quando enfrentou o pelotão espanhol com Pedrosa e Lorenzo com uma Honda muito inferior à Aprilia. Doviziozo era conhecido como 'calculadora' pela forma fria de pensar a corrida, ganhando várias vezes usando a cabeça. Em litígio com a Ducati desde a atabalhoada passagem de Jorge Lorenzo, Doviziozo chegou a dar um tempo na MotoGP, mas acabou voltando na equipe satélite da Yamaha. Numa moto tão diferente e já passando dos 35 anos, Doviziozo nem de longe foi o piloto combativo e inteligente dos seus áureos tempos da Ducati. Correndo em sua Misano local, Doviziozo terminou sua bela carreira no Mundial de Motovelocidade. 

Com a inédita quarta vitória consecutiva, Bagnaia amealhou cem pontos e somente enxerga um impotente Fabio Quartararo à sua frente no campeonato. Se a Aprilia se manteve forte, o mesmo não acontece com Espargaró e provavelmente Maverick Viñales tomará as rédeas da equipe no próximo ano. Pior para Quartararo, que simplesmente não tem uma única Yamaha a ajuda-lo na briga na frente, enquanto as Ducatis se colocam entre ele e Bagnaia, que vai fatiando a diferença.

sábado, 3 de setembro de 2022

Alegria em Zandvoort

 


Um fato interessante da Liberty Media foi prestar mais atenção na torcida e enxergar que uma corrida na Holanda era praticamente obrigatória com a marcante presença de Max Verstappen na F1. Mesmo Zandvoort não tendo a estrutura das novas pistas da F1, com sua estreiteza, boxes minúsculos e partes travadas na pista, a festa que a torcida neerlandesa faz para Max emociona qualquer um. E Verstappen voltou a responder na pista todo o apoio das arquibancadas, com uma classificação impressionante, num final de semana em que a Red Bull não se mostrou tão dominadora como em Spa, derrotando Leclerc muito pouco.

O final de semana neerlandês foi bastante quente e com a torcida colorindo a pista de laranja para uma bela festa para Verstappen, mesmo que isso também traga alguns inconvenientes. Se no futebol os sinalizadores já atrapalham, isso fica ainda pior numa corrida e os torcedores holandeses ainda teimam em usar esse artifício para a sua festa, causando uma bandeira vermelha no começo do Q2 e quase provocando outra no Q3. Daniel Ricciardo precisa melhorar urgentemente seu desempenho para conquistar uma equipe para 2023. Mais uma vez o australiano decepcionou e ficou no Q1, dando razão à sua conturbada dispensa pela McLaren. Num circuito tão apertado, problemas com o trânsito aconteceriam aos montes e foi difícil achar caminho livre para os pilotos, porém, apenas Alonso reclamou e mesmo assim, o espanhol nem foi tão atrapalhado assim, mesmo que ficando de fora do Q2, assim como Ocon e Gasly, possível line-up da Alpine em 2023. Já o outro postulante a um lugar na Alpine fez um bom trabalho e Mick Schumacher colocou a Haas no Q3.

Após uma sexta-feira complicada, Verstappen mostrou a que veio no TL3 e liderou praticamente a classificação inteira, porém, Leclerc apareceu no Q3 e ficou com o melhor tempo da primeira tentativa dos pilotos. Suspense em Zandvoort. Max tirou tudo do seu carro e melhorou o tempo do velho rival do kart, que vacilou no segundo trecho e perdeu a pole por dois centésimos, para alegria da torcida em Zandvoort. Numa pista pró-Ferrari, Max Verstappen extraiu seu talento para se sobressair e numa pista de ultrapassagens beirando o impossível, o piloto da Red Bull caminha para aumentar a festa no domingo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

E o Oscar vai para...

 


a McLaren!

Eu sei que a piada é sem graça e previsível, mas ao mesmo tempo, inevitável. Porém a forma como Piastri provocou uma revolução nos bastidores da F1 e até mesmo da Indy animou as últimas semanas, além de possivelmente causar o corte de algumas cabeças na Alpine.

Tudo começou quando Fernando Alonso anunciou de supetão sua ida para a Aston Martin em 2023, deixando sua vaga livre na ascendente Alpine e tudo levava a crer que o jovem Piastri entraria no lugar do espanhol, porém, o australiano negou tudo e apareceu uma das grandes rasteiras da história recente da F1. A forma como a Alpine administrou essa situação entrará para o folclore da F1, de como uma equipe que tinha dois pilotos fortes na mão e conseguiu perder os dois.  

O chefe da equipe Otmar Szafnauer tinha uma escolha difícil nas mãos, entre escolher a experiência de Fernando Alonso e tudo o que ele traz consigo fora das pistas ou optar por um piloto jovem e extremamente promissor, que é Oscar Piastri. Szafnauer preferia Piastri, mas para uma equipe que conquistou seus últimos títulos com Alonso, não seria fácil dispensa-lo. Enquanto empurrava isso com a barriga, tecnicidades de contrato de Piastri começaram a pressionar a Alpine, que com receio de dar um chute nos fundilhos de alguém tão grande como Alonso, prometeu uma vaga para Piastri... em 2025! O australiano ficaria dois anos na Williams como empréstimo, nos mesmos moldes do acordo entre George Russell e a Mercedes. No entanto, Piastri e sua trupe não gostou nadinha dessa decisão da Alpine. Considerado um fenômeno, Piastri conquistou de forma seguida a F3 e a F2 em seus anos de estreia, garantindo o apoio da Renault desde muito cedo, colocando Oscar em sua academia de pilotos. Só que após dois títulos consecutivos, Piastri ficou um ano sem correr em 2022, apenas acompanhando a Alpine e passar mais algum tempo fora da equipe que o apoiou não estava nos planos dele e de seu empresário, Mark Webber.

Com a dúvida se Alonso estaria na Alpine em 2023, Webber procurou outras glebas para o seu pupilo e encontrou lugar na McLaren, time que estava tão descontente com Daniel Ricciardo, que simplesmente contratou meio grid da Indy oferecendo um lugar na F1 num futuro próximo. A Alpine tinha uma data limite para ratificar o contrato de Piastri e de forma inacreditável, num mundo tão profissional como a F1, a montadora francesa protelou esse acerto e acabou perdendo a data. Webber perdeu a paciência e se acertou com a McLaren. Alonso acertou com a Aston Martin muito pela indecisão que a Alpine estava e da forma como fora escanteado por Szafnauer. Não acho coincidência que Webber e Alonso sejam muito amigos...

Quando Piastri surpreendeu o mundo dizendo que não correria pela Alpine em 2023, rapidamente surgiu a McLaren na história. O que também fora bastante surpreendente. Zak Brown tem sob seu guarda-chuva Pato O'Ward e Colton Herta, pilotos de grande potencial e não satisfeito, entrou numa briga com a Ganassi para trazer Alex Palou, cuja ida à McLaren na Indy tinha como principal atrativo... a F1! Além de O'Ward e Herta estarem lincados à McLaren na esperança de estar na F1 em breve. Com a ida de Piastri para se juntar à Lando Norris, dois pilotos jovens, praticamente se fecha as portas para a turma da Indy. E como fica Palou, que se desentendeu com sua equipe com o prospecto de ir para a F1? Brown que responda. Herta já se ajeita com a turma da Red Bull.

O certo é que a McLaren terá uma dupla de pilotos jovens e promissora, além de fazer com que Piastri finalmente estreie na F1, algo que muitos aguardavam com bastante ansiedade. Já a Alpine viu dois pilotos saírem de sua equipe em poucas semanas e com a disputa com a McLaren indo para julgamento aberto, ficou claro a incompetência do time francês, que não soube manter dois talentos e ainda viu um piloto que investiu por bastante tempo nas categorias de base ir para um time rival. Pressionado, Szafnauer já procura um companheiro de equipe para Ocon em 2023 e para isso, investe pesado em Pierre Gasly, sem espaço dentro do reino da Red Bull. Contudo, há um detalhe que dificulta a situação é o mau relacionamento entre Ocon e Gasly desde as categorias de base. Por isso Mick Schumacher entrou nessa equação, com o alemão já anunciando que sairá da Academia da Ferrari no final de 2022, praticamente acabando com as obrigações da Haas com Mick. 

O grid de 2023 vai se formando com algumas surpresas e uma lição para todos os times: cuidado na hora de alocar seu jovem piloto, pois você pode tomar uma rasteira histórica.