Que Max Verstappen é um piloto diferenciado e junto com a Red Bull forma um conjunto que está um patamar acima, isso já sabemos, sem contar que o bicampeonato já virou uma contagem regressiva. Contudo, além da força do neerlandês dentro da pista, as suas rivais vão colecionando erros que ajudam (sendo que não é necessário!) Max a se garantir como líder inconteste da temporada.
Ao contrário de Spa, Verstappen não tinha um carro dominante, mas usando o fator casa, o piloto da Red Bull usou as variantes que marcaram a corrida em Zandvoort para vencer novamente e como já está se tornando uma marca para ele, Max passa a sensação que a vitória foi natural, mesmo com algumas dificuldades que surgiram nas 72 voltas da corrida. A dificuldade de se ultrapassar na apertada pista holandesa foi o tom das táticas de todas as equipes, mas um fator fez a diferença, que foi o clima mais ameno em comparação aos demais dias, fazendo com que os pneus duros entrassem na equação do dia, enquanto o Safety-Car, virtual e real, foi outro fator determinante. Com tantas estratégias diferentes ocorrendo ao mesmo tempo, o pit-wall fez a diferença e mais uma vez a Red Bull e sua bela estrategista fez a diferença à favor de Verstappen, enquanto Mercedes e Ferrari se estabanaram. Se a corrida fosse límpida, Max Verstappen venceria com um pé nas costas. O piloto da casa largou bem, fugiu de Charles Leclerc no primeiro stint e parecia que nada iria para-lo. A corrida estava modorrenta como esperado, mas dois fatores mudaram a dinâmica da corrida. A primeira foi a Mercedes, que largou com pneus médios, ao contrário dos macios da maioria, esticando suas paradas ao máximo, fazendo com que Hamilton e Russell ponteassem a prova antes da parada deles. Contudo, o segundo fator aconteceu antes da Mercedes gritar 'box, box, box' nos ouvidos de Lewis e George. Fernando Alonso fez sua primeira parada e colocou pneus duros, algo que não era esperado pelo desempenho nos treinos livres, mas sexta e sábado as atividades ocorreram com sol forte, enquanto no domingo, até se falava em chuva e o clima estava carrancudo.
Para aumentar o suspense dos táticos, os pneus duros se comportaram tão bem, que fez a Mercedes colocar a borracha com faixa branca nos seus dois carros, transformando Hamilton e Russell nos pilotos mais rápidos da pista e mandando um recado para os demais: eles não parariam mais, ao contrário de Ferrari e Red Bull. Quando a Ferrari já fazia contas com seu ábaco para ver a hora de quando iriam trazer o monegasco para os pits, um Safety-Car virtual apareceu num problema estranho de Tsunoda, que parou o carro com a roda solta, mas a roda não estava solta e depois era um problema na traseira, fazendo o nipônico estacionar seu Alpha Tauri ao lado da pista. Com as duplas de Red Bull e Ferrari tendo que parar uma segunda vez, havia o receio de que a dupla da Mercedes poderia ser engolida por carros com pneus mais macios e novos nas voltas finais, porém, essa sensação terminou quando Hamilton e Russell fizeram uma segunda parada e colocaram pneus médios novos, permanecendo em segundo e terceiro, com Verstappen em primeiro com pneus duros. Seria uma bela chance de ataque dos pupilos de Toto Wolff, mas quem acabou estragando a possível festa mercediana nos Países Baixos foi justamente o antigo piloto da equipe. Valtteri Bottas estacionou seu Alfa Romeo no final da reta dos boxes com o motor desligado e sem terem como tirar o carro dali, o Safety-Car real apareceu. Isso fez com que Verstappen fosse aos pits colocar pneus macios, enquanto a Mercedes se arriscou com seus dois pilotos com médios.
Provavelmente a Mercedes se esqueceu do que ocorrera em Abu Dhabi na polêmica final do ano passado, quando numa situação idêntica, deixaram Hamilton na pista com pneus mais duros e usados, contra um Verstappen com pneus macios e novos fungando no seu cangote. Russell pareceu lembrar disso e sorrateiramente fez sua terceira parada e colocou macios, caindo para terceiro, enquanto Hamilton ficou na pista, passou ao lado dos boxes e a Mercedes nada fez. Erro crasso e como se diz que errar uma vez é humano, mas é errar duas vezes é burrice... Como esperado, Hamilton foi engolido por Verstappen ainda na reta dos boxes e nada pôde fazer contra Russell e Leclerc, que completaram um pódio jovem, com apenas 24 anos de média, enquanto Hamilton segurou o quarto lugar e xingava a equipe via rádio. Já Verstappen sorria. O neerlandês provavelmente não esperava tanta dificuldade para vencer na frente de sua torcida, mas apesar da pista não se 'vestir' tão bem ao seu carro, Verstappen, que usou as cores do capacete do seu pai, foi soberbo na pista e a Red Bull foi ainda melhor ao reagir a todas as variáveis para colocar Max na melhor posição possível.
Se a Mercedes fez tamanha burrada, será que alguém poderia ser pior que os tedescos? Você nunca pode menosprezar a capacidade da Ferrari espalhar a farofa e da mesma forma que a Mercedes repetiu um erro, a Ferrari emulou um dos seus momentos mais embaraçosos de sua longa história na F1. Ante-penúltima etapa de 1999. Irvine lutava com Hakkinen pelo título e Nürburgring vivia um dia típico onde as quatro estações do ano aparecem num só dia. Irvine vai aos pits colocar pneus slicks. Tudo trocado... menos o pneu traseiro direito, que sequer estava lá. Conta a lenda que foi um repórter italiana quem mostrou aos desesperados mecânicos ferraristas aonde estava o pneu faltante. Passados praticamente 23 anos, a Ferrari repetiu a presepada. Sainz segurava Hamilton por muito pouco e pensava em fazer uma parada rápida, para tentar se manter à frente do piloto da Mercedes, que só pararia mais tarde, já que tinha pneus diferentes. Todo mundo pronto, então algum bendito mecânico se esqueceu de um pequeno detalhe: o pneu traseiro esquerdo. Numa cena dantesca, Sainz lamentava um pit-stop horroroso de 12s e perdia definitivamente contato com os demais. Como se desgraça pouca fosse bobagem, Sainz ultrapassou Ocon com uma bandeira amarela na sua cara e tirando um fino do carro parado de Bottas. Era necessário ceder sua posição claramente, mas a Ferrari deixou o espanhol seguir e com isso, perdeu três posições pela punição de 5s que viria a seguir. Mesmo com Leclerc ainda salvando um pódio e se igualando à Pérez (que fez uma corrida discretíssima hoje) na vice-liderança do campeonato, o oitavo lugar de Sainz significou mais pontos perdidos no Mundial de Construtores para a Ferrari. Parabéns aos envolvidos!
Na luta pelo melhor do resto, Lando Norris ainda ultrapassou Russell na primeira volta, mas o inglês da McLaren sabia que seu compatriota não seu alvo e por isso, praticamente o deixou passar. Lando sabia que seus rivais eram outros e se vestiam de azul. Demonstrando que a Alpine está à frente da McLaren, Alonso e Ocon fizeram corridas sólidas após uma classificação decepcionante e o espanhol foi sexto, superando Norris. Ocon apertou o ritmo para se aproveitar da punição de Sainz, mas permaneceu em nono por meros dois décimos, com Lance Stroll completando a zona de pontuação, numa boa atuação do canadense. Na Aston Martin, quem se transvestiu de Stroll foi Vettel, quando saiu dos boxes e atrapalhou Hamilton de forma totalmente amadora e não condizente com um piloto campeão e experiente como ele. Repetindo o que ocorre com sua equipe fornecedora, as clientes da Ferrari vão descendo ladeira abaixo em outra corrida ruim de Alfa Romeo e Haas, fora dos pontos e de longe. Albon levou a Williams a ficar próxima dos pontos, o mesmo ocorrendo com Gasly, talvez já pensando em ter que dividir os boxes com Ocon, algo que pode não ser muito agradável. Se Norris terminou nos pontos, Ricciardo terminou em penúltimo e se quiser ficar na F1 em 2023, o australiano terá fazer muito mais para que alguém queira-o.
Numa corrida cheia de variáveis, o resultado foi praticamente o mesmo. Max Verstappen teve sua liderança em risco pelas táticas e não pela performance dos demais pilotos. Correndo em casa e com uma torcida torcendo apaixonadamente para ele, Max fez a festa e provavelmente a próxima será pelo bicampeonato. Do jeito que o campeonato caminha, essa festa será mais em breve do que muitos imaginavam.
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