sábado, 7 de janeiro de 2023

Miki

 


Ele passou por um dos momentos mais críticos do Mundial de Rali como um piloto dominante, mesmo que por apenas dois anos. Após toda a emoção e tragédia do Grupo B, o Mundial de Rali partia para o Grupo A, com carros muito menos potentes e emocionantes que a geração anterior. Houve uma queda natural de público e interesse. Foi nesse cenário que um pequeno italiano se destacou com seu Lancia. Miki Biasion foi bicampeão mundial de rali conquistando várias vitórias, derrotando pilotos do naipe de Juha Kankkunen e Didier Auriol. Completando 65 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco desse piloto que se tornou, até o momento, o último campeão italiano do mundial de rali.


Massimo Biasion nasceu no dia 7 de janeiro de 1958 na pequena cidade de Bassano del Grappa, no norte da Itália. Desde cedo Miki, como ficou conhecido, sempre foi apaixonado por corridas, ainda mais porque sua cidade recebia uma das etapas do tradicional Rali de Monte Carlo e ainda criança, Biasion via na porta de sua casa nomes como Sandro Munari, Walter Röhrl ou Markku Alén. Contudo, por viver numa cidade sem pistas de kart por perto e sem dinheiro para começar nos ralis, Miki escolheu o motocross para ingressar no esporte a motor, obtendo sucesso em duas rodas e chegando a correr pela equipe oficial da Aprilia. Contudo, no final da década de 1970, foi organizado um pequeno campeonato de rali no norte da Itália e Biasion inscreveu o pequeno Renault 5 de sua mãe para participar do torneio e vencer. Esse torneio era organizado por Tiziano Siviero, que motivou Biasion a sair do motocross e da faculdade de arquitetura para se dedicar ao rali, com o próprio Siviero se tornando navegador de Biasion por toda a carreira. Em 1979 Miki participou do campeonato italiano de rali com resultados encorajadores e no ano seguinte se tornou campeão italiano com um Opel Ascona, derrotando na ocasião os pilotos oficiais da montadora alemã. No ano seguinte Biasion disputava o título italiano com um piloto que usava Lancia e mesmo perdendo a disputa, chamou bastante a atenção do chefe da Lancia Cesare Fiori, que o contrata para 1983. Seria o início de uma relação duradoura.


Inicialmente Miki Biasion focaria no campeonato europeu de rali, onde conquistaria o título com facilidade. Miki participava das etapas italianas do Mundial de Rali desde 1980 e com o apoio da Lancia, faria meia temporada em 1984, no auge do Grupo B. O Grupo B é até hoje considerado a era de ouro do Mundial de Rali, quando os carros se tornaram protagonistas com uma tecnologia poucas vezes vista, já que a FIA praticamente não colocava limites na construção dos carros, fazendo com que Audi, Peugeot, Lancia e outras explorassem cada detalhe técnico para obter a menor vantagem que fosse. Biasion começava a se destacar em meio à inúmeras estrelas que haviam na época e em Portugal, ele liderava o rali quando houve a tragédia da Lagoa Azul em 1986, quando um carro se descontrolou e atingiu vários expectadores. Biasion venceria sua primeira corrida no Mundial naquela temporada na Argentina, poucos meses depois de uma nova tragédia atingir o Mundial de Rali e ocorrer a morte de Henri Toivonen, companheiro de equipe de Biasion na Lancia. Isso determinou o fim do Grupo B. Biasion já havia perdido um ano antes seu amigo Attilio Bettega, também num acidente no Tour de Corse. Porém, Biasion não poderia simplesmente baixar a cabeça. Conhecido pelo seu estilo trabalhador, Miki começou o desenvolvimento do Lancia Delta HF ainda em 1986, já que o mítico Lancia Delta S4 se tornaria uma peça de museu. Miki se entregou nos testes do novo carro e com as saídas oficiais de Peugeot e Audi, a Lancia passou a dominar sozinha o Mundial de Rali. Conhecendo muito bem o carro, Biasion era o piloto mais rápido da Lancia em 1987, mas o italiano acabou sofrendo com várias quebras mecânicas e o título ficou com Kankkunen.


Para 1988, Biasion não deu chances aos adversários e conquista o seu primeiro campeonato com cinco vitórias, batendo Markku Allen com folgas. Em 1989 a situação foi idêntica. Com Kankkunen ainda desenvolvendo o carro da Toyota, Biasion não teve adversários e com cinco vitórias, se tornou bicampeão mundial de rali, repetindo o que Kankkunen havia feito em 1986-87. Com o segundo título, Biasion se igualava à Kankkunen e Walter Röhrl como os maiores campeões do Mundial de Rali até então. Para 1990, Biasion receberia de volta na Lancia Kankkunen, com quem teve uma polêmica durante o Rali de Monte Carlo em 1987, mas com quem nutria uma grande amizade. Após dois anos desenvolvendo o Toyota Celica, Kankkunen saiu da montadora japonesa e quem se aproveitou disso foi Carlos Sainz, que conquistou seu primeiro título no rali. A Lancia tinha uma super-equipe, mas foi derrotada por Sainz e a Toyota, com Biasion apenas em quarto lugar, mas terminando no pódios em todos os ralis que completou, sendo duas vitórias. Miki havia renovado seu contrato com a Lancia em 1991, mas foi surpreendido pelo anúncio da saída dos italianos no final daquele ano. Ainda foi oferecido à Biasion uma vaga numa equipe satélite da Lancia, a Jolly, mas o italiano preferiu aceitar uma proposta da Ford a partir de 1992. Foi o início da decadência para Miki Biasion.


A Ford sabia de todo o conhecimento técnico de Biasion e o contratou para desenvolver o Escort, mas o carro só estaria pronto em 1993, portanto, Miki teria que se conformar com o pesado Sierra RS Cosworth 4x4. O primeiro contato com o carro não foi bom e Biasion chegou a chamar o carro de 'um monte de merda' após o Rali de Monte Carlo. Para piorar, a Ford se enamoraria com o jovem François Delecour, francês muito rápido e impetuoso, principalmente no asfalto. Mesmo tendo Biasion, a Ford resolveu apostar em Delecour no desenvolvimento do novo Escort, para extremo desgosto de Miki, que não se sentia tão confortável como nos tempos da Lancia. Miki ainda salvou um quarto lugar no campeonato de 1992 e conquistaria a sua última vitória no Rali Acrópole de 1993, já com o novo Escort. Porém, o carro havia sido feito ao gosto de Delecour, que sofreria um acidente no início de 1994 que o tirou das estradas por quase toda a temporada. Com um carro fora do seu estilo e com vários atritos com a alta cúpula da Ford, Miki Biasion não renovou seu contrato e encerrou sua carreira no Mundial de Rali no final de 1994, com 36 anos de idade. Foram 78 ralis, 17 vitórias, 40 pódios e 373 estágios vencidos. Porém, Biasion nunca se desprenderia dos ralis. Ele participaria com sucesso do Paris-Dakar, onde quase venceu com a Mitsubishi em 2003, logo depois se mudando para caminhões, correndo pela Iveco. Colecionador de carros antigos de rali, Miki Biasion se mostrou um piloto veloz e conquistou dois títulos de forma dominante, mas como isso ocorreu num período de entressafra do Mundial de Rali (entre a Era Grupo B e a Era WRC), poucos se lembram do italiano como um dos grandes do esporte.

Parabéns!

Miki Biasion

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