domingo, 13 de setembro de 2009

A ascenção de Rubinho


Se uma coisa que ninguém pode falar de Rubens é a falta de vontade. Mesmo sendo o piloto mais velho do grid, Barrichello nunca esmoreceu frente as adversidades e em 2009, mais do que em outra temporada, o brasileiro vem mostrando isso. Sem falar o início do ano, quando estava devidamente desempregado e aposentado, Rubinho vem mostrando uma recuperação muito forte em sua cabeça e com a vitória em Monza, a 3º na mítica pista italiana, Rubens deixa a briga pelo título num afazeres interno na equipe Brawn, que finalmente volta a mostrar a força demonstrada no início da temporada.

A corrida de hoje foi de altíssimo nível, mesmo não sendo tão recheado de ultrapassagens quanto o esperado, tirando as primeiras voltas. Na largada, o Kers não se fez tão presente assim, com Hamilton chegando a largar mal e atrapalhar Raikkonen, que teve que ir pela grama para não bater na McLaren. Os dois ainda se recuperaram e o ferrarista ainda teve tempo de ultrapassar Sutil, autor da volta mais rápida da corrida de hoje. Enquanto Kovalainen perdia posições e Alonso fazia belas ultrapassagens, os três primeiros se destacavam, demonstrando claramente que estavam mais leves que os demais. Hamilton, Raikkonen e Sutil eram os mais rápidos, com destaque para o inglês, enquanto a dupla da Brawn os perseguia a distância. Quando as paradas começaram, ficou claro que quem arriscou na estratégia, ao contrário do alardeado aos quatro ventos por todos, não era da Brawn, mas sim de Lewis, Kimi e Adrian, que não conseguiam abrir uma diferença suficientemente boa para o resto do grid, que pararia apenas uma vez. Foi aí que a Brawn começou a tornar sua dobradinha realidade.

O engenheiro de Button entregou como a estratégia funcionaria quando ele disse ao inglês que precisavam andar, no máximo, 0.9s mais lento que Hamilton e se andassem abaixo disso, a estratégia daria certo. E os tempos de voltas dos líderes não mentiam sobre isso. Barrichello e Button andavam forte e no mesmo ritmo, entre 0.5 e 0.6s mais lento que Hamilton. Quando os três primeiros completaram suas primeiras paradas e o Brawn ficou mais leve, Barrichello e Button começaram a andar mais rápido do que todos os seus adversários, enquanto Hamilton ainda teve a sorte de não ter ninguém a sua frente, ao contrário de Raikkonen e Sutil. Andando com um estratagema diferente com relação aos pneus (Barrichello começou com pneus duros, enquanto Button iniciou com moles), a Brawn fez uma corrida calculada e Barrichello se aproveitou de forma incrível da situação para vencer pela 3º vez em Monza. Rubens parece ter uma relação especial com a rapidíssima pista italiana e triunfou pela segunda vez na temporada, mas ao contrário da transmissão oficial, a situação não ficou tão mais confortável assim para o brasileiro. A diferença no campeonato para Button caiu dois pontos, mas o inglês fez a estratégia correta ao marcar Rubens de perto e se o fizer nas próximas corridas, ganhará o campeonato com folga, mesmo que na última prova do ano. Para quem não chegava ao pódio há três meses, o segundo lugar não deixa de ser bom para Button, mas está faltando uma vitória para o inglês finalmente voltar a respirar com menos dificuldade, pois não há como negar. Barrichello está numa fase muito melhor!

Raikkonen teve sorte em conseguir o terceiro lugar. O finlandês, como o próprio havia dito antes do final de semana de competição, nunca teve condições de brigar pela liderança e ainda teve que ver, novamente, seu retrovisor recheado de Force Índia. Kimi também não teve condições de superar o ritmo da Brawn e ainda teve problemas na sua segunda parada de boxe, mas, sorte nº 1, Sutil teve um problema ainda maior. Conformado com a 4º posição, com uma repentina perda de rendimento com os pneus duros, e com Sutil o pressionando nas voltas finais, Kimi se viu em 3º quando Hamilton estampou com força o muro na volta final. No final, Raikkonen comemora seu quarto pódio consecutivo e põe uma pulga atrás da orelha de Montezemolo. Realmente vale a pena trocar o finlandês, que está numa fase tão boa? Fisichella fez uma prova discreta e esteve próximo de pontuar com a nona posição. Não foi trágico como Badoer, mas ainda faltou um algo mais para Giancarlo, principalmente após sua exibição em Spa.
Se conseguiu um desempenho formidável em Spa, a Force Índia fez algo parecido em Monza. Se não tinha mais Fisichella, que realizava seu sonho na Ferrari teve em Sutil um representante tão forte. O alemão conseguiu se manter no pelotão da frente o tempo todo e só não conseguiu ultrapassar Raikkonen na segunda parada pelo erro que cometeu. Por sinal, o segundo envolvendo Kimi e uma parada nos pits, como em Nürburgring, quando teve a chance de marcar seus primeiros pontos na carreira. O quarto lugar e a volta mais rápida da corrida mostram que o piloto da Force Índia está mais forte do que nunca, mas com a volta dos circuitos mais convencionais, com mais pressão aerodinâmica, a tendência é ver carruagem hindu se transformar novamente em abobora. Correndo em casa, Liuzzi fazia uma belíssima prova em sua volta à F1 e segurava um forte Alonso até com facilidade, mas um aparente problema no câmbio estragou o final de semana do italiano, mas Liuzzi deu um claro recado aos chefes de equipe da F1: ainda pode correr na F1!

A McLaren foi forte em todo o final de semana, mas a ânsia em marcar a pole com Hamilton pôs toda a corrida do inglês a perder com uma estratégia que dificilmente daria certo, pois o atual campeão mundial teria que andar muito mais forte do que os concorrentes. Essa impressão ficou forte no início da prova, mas no decorrer da corrida essa impressão se desfez e Hamilton correu muito forte, como que mostrando que não desistiria fácil. Talvez por isso o seu acidente, onde aparentemente errou sozinho, na última volta, jogando pontos importantes pela janela. Muitos falarão que Hamilton ainda erra demais, mas o inglês mostra que anda muito forte quando é necessário e, numa tradição inglesa, não desiste fácil! Kovalainen vem cavando sua caveira dentro da McLaren e mais uma vez mostra que não tem lugar numa equipe grande. Foi uma corrida opaca, em que o finlandês se perdeu totalmente quando não completou a ultrapassagem sobre Button na primeira volta e no processo, foi ultrapassado por outros carros. Dificilmente se manterá na equipe em 2010.

Pensando um pouco mais na pista, a Renault fez uma corrida discreta com Alonso ganhando posições nas primeiras voltas, mas ficando empacado atrás de Liuzzi e mesmo com o italiano abandonando ainda no terço inicial de prova, o espanhol não saiu da sexta posição, que se transformou em quinto com o abandono de Hamilton. Fernando procura desesperadamente sair da cadeira elétrica em que se meteu, pois seu bicampeonato já está ficando longe das mentes dos torcedores, mesmo que ninguém duvide do talento do espanhol. Falando em talento, Grosjean foi exatamente isso. Tá lento! O francês, com problemas de câmbio desde o início de corrida, fez uma corrida digno dos piores dias de Nelsinho Piquet e acabou nas últimas posições, mesmo largando em uma posição promissora do grid. A BMW se recuperou dos dois motores quebrados no sábado e Heidfeld ainda salvou dois pontinhos, mas poderia ser melhor se não fosse a ida forçada aos boxes de Kubica ainda no início da corrida, pois o polaco se envolveu num toque com Webber na primeira volta e teve sua asa dianteira avariada, fazendo que a direção de prova lhe mostrasse a bandeira preta com a bola laranja. Kubica acabaria abandonando, talvez pensando em poupar o motor.

A Red Bull pode ter definido sua situação no campeonato hoje. Podem até falar no complicado problema dos motores, onde a equipe está definitivamente limitada pelos propulsores da Renault, mas a verdade é que a equipe austríaca não andou nada hoje! Pouco se pode falar da corrida de Webber, que abandonou na primeira volta e completa a terceira corrida consecutiva sem pontos. Vettel, um ano após sua magnífica vitória em Monza, foi totalmente discreto, ainda com espaço para um erro e só marcou um ponto hoje pelo abandono de Hamilton. Sem grandes problemas durante a corrida, a única explicação possível para isso foi uma falta de rendimento assustadora da Red Bull, onde praticamente se despediu da briga pelo título, tanto de Pilotos como de Construtores. Exatamente na pista onde conquistou sua única vitória, a Toro Rosso esteve longe de fazer algo parecido, com Buemi completando a prova incógnito e Alguesuari sendo um dos poucos pilotos a abandonar, após largar dos boxes. Outra equipe a decepcionar de forma acachapante foi a Toyota, que só andou nas últimas posições e apareceu na TV com as trapalhadas de Trulli. O italiano, claramente descartado pela Toyota (se continuarem...) fez uma prova alucinada, chegando próximo a colocar até mesmo Glock, seu companheiro de equipe, para fora da prova numa disputa de posição sem sentido nas curvas de Lesmo. Porém, esse tipo de atitude, com apenas o coração, mostra bem do que é feito Jarno Trulli. O péssimo rendimento da Toyota acabou refletindo na Williams, que fez sua pior apresentação no ano e nem Rosberg, que ainda se safava dos problemas da equipe, escapou e com uma parada não programada ainda no início da corrida, fez apenas figuração. Algo que Kazuki Nakajima já está acostumado a fazer. E hoje fez novamente!

Na despedida da F1 do seu berço, na Europa, a Brawn entra na fase final do campeonato praticamente com os dois títulos nas mãos. Com a Red Bull numa má fase e McLaren e Ferrari longe da briga, o Mundial de Construtores já está praticamente no papo. Só falta definir quem será o vencedor no Mundial de Pilotos. A praticamente saída da batalha dos pilotos da Red Bull ajudou bastante a Rubens Barrichello, pois afasta a possibilidade de ordens de equipe até o final do ano. Rubinho está numa fase esplendorosa e mais vitórias até o final do ano é algo esperado, mas a sua tradicional falta de consistência ainda pode atrapalhá-lo. Se quiser brigar pelo título, Rubens terá que superar isso. Para Button, uma corrida como a de hoje basta para ele garantir o segundo título consecutivo para a Inglaterra, pois está difícil brecar a ascensão de Barrichello.

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