sexta-feira, 13 de novembro de 2009

História: 15 anos do Grande Prêmio da Austrália de 1994


A F1 esperava ansiosamente o fim da temporada de 1994 pelos mais variados motivos. Primeiro, pelo ano trágico, com duas mortes em um único final de semana, deixando a F1 numa situação de insegurança que há muito não se via. Segundo, porque várias mudanças técnicas fizeram com que os carros mudassem da água para o vinho com a temporada em andamento, causando uma verdadeira confusão na cabeça de engenheiros e projetistas. Terceiro, as várias intervenções extra-pista que acabaram por modificar o campeonato, fazendo com que Schumacher e Hill ainda estivessem em condições de serem campeões, separados por apenas um ponto com apenas uma corrida para o fim. O alemão da Benetton tinha feito uma temporada impecável até o GP da Inglaterra, quando foi desclassificado e passou a ser punido de forma discutível durante o resto da temporada, fazendo com que Hill diminuísse a diferença absurda que Schumacher tinha até a metade do ano. Se há quem diga que o inglês da Williams só chegou em Adelaide com chances de título por causa das punições a Schumacher, também não dá para negar que Damon aproveitou todas as oportunidades que lhes foram criadas e ainda arrumou o carro da Williams, que não funcionava nas mãos de Senna.

Novamente Hill teria a companhia de Mansell na equipe Williams, com o veterano inglês sendo uma espécie de conselheiro ao companheiro de equipe, indicando os caminhos do título, algo que Mansell não conseguiu seis anos antes em Adelaide. Porém, Nigel mostra a velha garra ao conseguir o melhor tempo da sexta-feira e como um dilúvio se abateu na Austrália no sábado, lembrando as chuvas que atrapalharam as edições de 1989 e 1991 da corrida na Oceania, Mansell consegue sua 32º e última pole na carreira. Schumacher era o favorito da maioria dos pilotos e torcedores, mas o frio alemão parecia nervoso e sofreu um forte acidente na sexta, porém Michael ainda consegue ficar na primeira fila, vencendo o primeiro round contra Hill. Com Herbert apenas em sétimo, Hill teria a vantagem de ter Mansell lhe ajudando na briga direta contra Schumacher, que tinha apenas o talento a seu valor. Além da malandragem...

Grid:
1) Mansell (Williams) - 1:16.179
2) Schumacher (Benetton) - 1:16.197
3) Hill (Williams) - 1:16.830
4) Hakkinen (McLaren) - 1:16.992
5) Barrichello (Jordan) - 1:17.537
6) Irvine (Jordan) - 1:17.667
7) Herbert (Benetton) - 1:17.727
8) Alesi (Ferrari) - 1:17.801
9) Brundle (McLaren) - 1:17.950
10) Frentzen (Sauber) - 1:17.962

O dia 13 de novembro de 1994 tinha céu claro e ensolarado em Adelaide, praticamente descartando a chuva que tinha desabado forte no sábado. Eram condições ótimas para uma decisão de campeonato e todas as atenções estavam voltadas em Schumacher e Hill antes da corrida. Mansell era reconhecido pelas suas ótimas e agressivas largadas e a expectativa era de que o inglês segurasse Schumacher nas primeiras voltas, mas Nigel não contava com as largadas fantásticas de Schumacher. Não faltavam os que falavam de um dispositivo proibido no Benetton do alemão, mas a verdade foi que Mansell patinou na largada e o alemão partiu voando rumo a primeira curva, assumindo a liderança da corrida, trazendo Hill consigo, que tinha também conseguido ultrapassar Mansell. O inglês da Williams ainda estava próximo do pelotão dianteiro, mas um erro ainda na primeira volta faz com que Hakkinen e Barrichello ultrapassem Mansell, deixando o Campeão Mundial de 1992 em quinto.

O erro de Mansell fez com que Schumacher e Hill conseguissem uma boa diferença para o resto do pelotão e isso deixava os dois protagonistas do campeonato sozinhos na frente, brigando por cada centímetro de pista na luta pelo primeiro título de ambos. A diferença entre os dois primeiros nunca superou 1s. Schumacher forçava, mas Hill ainda enchia os retrovisores do Benetton do alemão. Na volta 14, Mansell ultrapassa Barrichello e parte para cima de Hakkinen, acompanhados de perto por Alesi. Os quatro já estavam muito distantes dos dois líderes, que se aproximavam de suas primeiras paradas. Se não pudesse ultrapassar na pista, Hill poderia conseguir a manobra nos boxes. O pit-stop, tradicional calcanhar-de-aquiles da Williams, seria fundamental nessa batalha. Na 18º volta, Schumacher e Hill entram juntos nos boxes. Depois de terem forçado tudo na pista, os dois postulantes deixavam tudo nas mãos dos seus habilidosos mecânicos. A Benetton era a equipe mais rápida do ano, apesar do acidente em Hockenheim e trapaça na mangueira de combustível, e por isso não foi surpresa ver a equipe chefiada por Flavio Briatore conseguir liberar Schumacher 1s mais rápido do que Hill, fazendo com que a diferença entre ambos fosse ainda maior do que antes.

Isso parece dar a Hill uma força ainda maior devido a adversidade e faz com que o inglês aumente o ritmo e encoste rapidamente em Schumacher. O inglês começa a pressionar Schumacher. Naquele momento, a Williams parecia melhor do que a Benetton. Schumacher se defendia das investidas de Hill e passava a ficar mais perto do erro. Na volta 26, Schumacher passa reto e bate de leve no muro, porém, suficiente para quebrar sua suspensão. O alemão sabia que estava perdido e Hill via a sua frente a chance de sua vida. Schumacher volta rapidamente à pista e joga seu carro desavergonhadamente para cima de Hill, que desvia e tenta colocar por dentro. Foi um erro fatal. Se Schumacher foi capaz de jogar seu carro em cima do inglês quando estava voltando à pista, por que não jogá-lo na manobra seguinte? Numa das mais controversas manobras da história, Michael jogou seu carro danificado em cima de Damon e voa para fora da pista. Hill permanece na pista, mas logo se percebe que seu Williams não estava ileso. Um pneu furado era o menor dos males, pois com um 5º lugar, ele garantiria o título. Damon vai aos boxes trocar seu pneu dianteiro esquerdo, mas logo os mecânicos percebem que não era apenas um pneu furado. A suspensão estava torta e a corrida acabada.

Dentro do carro e explicando o incidente aos engenheiros, Damon Hill não disfarçava a decepção pelo triste fim de campeonato. Próximo ao local do acidente, Schumacher recebe a notícia de que era o Campeão Mundial de 1994 de uma comissária de pista. Num primeiro instante, Michael parece sem ação e permanece com as mesmas feições, mas aos poucos, o frio alemão vai se soltando, enquanto a Benetton vibrava com seu primeiro título. Aquilo era o antí-climax da decisão pelo título daquele ano, mas ainda havia uma corrida a ser disputada. Mansell assume a primeira posição após as paradas e com as punições a Hakkinen e Barrichello por ter desobedecido a velocidade máxima nos boxes, o inglês parte para uma vitória tranquila, conquistando sua 31º e última vitória na carreira. A Williams tinha o consolo do Mundial de Construtores, mas a controvérsia estava no ar.

Após quatro anos da polêmica decisão de 1990, mais uma vez o Mundial de F1 era decidido através de um acidente. Depois de um ano tão complicado, mais uma polêmica era tudo que a F1 não queria. Schumacher passou os quinze anos seguintes e passará o resto da sua vida sendo cobrado pela sua manobra em cima de Damon Hill, mas o alemão nunca demonstrou muito arrependimento do que fez naquela tarde de novembro, ao contrário do que já mostrou algumas vezes pelo incidente parecido em 1997. Na verdade, Michael se sentia roubado pela FIA após tantas punições e o alemão tinha Senna como maior exemplo, tanto que o alemão dedicou o título a Senna. Quando se sentiu roubado e teve a oportunidade de vingança, Senna fez a mesma manobra em cima de Prost. Schumacher se espelhava em Senna em vários aspectos, mas não precisava se inspirar em algo tão ruim ou negativo. Hill, fadado a ser um discreto segundo piloto de Senna no início do ano, conseguiu a proeza de levar a Williams de volta às vitórias após um início tremendamente ruim, mas parecia inocente demais para estar numa briga pelo título. Mesmo já contando com 34 anos, antes aos 25 de Schumacher, Damon parecia ser bem mais inexperiente do que Schumacher, tanto nas corridas como na vida. Hill poderia ter esperado Schumacher encostar e assumir a liderança e o título, mas o inglês caiu na ardilosa armadilha de Schummy e acabou ficando como vítima de Schumacher. A primeira de muitas. Se não fizesse mais nada na carreira, Michael Schumacher já tinha entrado na história pela forma como conquistou o seu primeiro título, mas o alemão conquistaria muitos mais vitórias e títulos. Além de polêmicas!

Chegada:
1) Mansell
2) Berger
3) Brundle
4) Barrichello
5) Panis
6) Alesi

Um comentário:

  1. Sem dúvida.

    Logo após aquela curva tinha uma pequena reta.Depois de uma pancada daquela(tipica de video game),Michael não consegueria manter a posição.E Hill deveria pensar nisso.
    Mas foi recompensado 2 anos depois.

    Dois baitas pilotassos,que fazem muita falta a F1...

    Valeu JC!

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