A história de pilotos talentosos, mas sem títulos mundiais, terem sido mais populares do que muitos campeões é bastante conhecida na F1 e não faltam exemplos, como Ickx e Peterson. No Mundial de Motociclismo, o exemplo maior desta espécie de piloto está no americano Randy Mamola. Dono de um estilo agressivo e extremamente maluco, Mamola conquistou fãs em todo o mundo graças ao que fazia em cima de uma moto de competição, mas nem por isso deixou de ser competitivo, sendo quatro vezes vice-campeão e lutando de igual para igual com lendas como Kenny Roberts e Eddie Lawson. Simpático e carismático, Mamola levava multidões a gritar seu nome com suas atitudes fora das pistas e, principalmente, pelo que fazia dentro delas. Completando cinqüenta anos nessa semana, vamos conhecer um pouco mais da história deste californiano.
Randy Mamola nasceu no dia 10 de novembro de 1959 na cidade de San Jose, nos Estados Unidos e seu primeiro objetivo de vida estava longe das pistas. Quando criança, o pequeno Randy sonhava ser músico e escolheu a bateria como forma de mostrar sua paixão pela música. Ele entrou para uma banda com apenas 10 anos de idade, mas sua vida deu uma guinada quando ele experimentou andar de moto pela primeira vez aos 12 anos. De repente, a bateria deu lugar as motos e Mamola passou a se dedicar a motovelocidade, primeiro em pequenas corridas locais, próximo ao aeroporto de San Jose, depois partindo em corridas mais sérias, competindo com pilotos de sua idade no norte da Califórnia. No início dos anos 70, o motociclismo americano vinha sendo dominado por outro californiano, que seria tão carismático quanto Mamola no futuro, chamado de Kenny Roberts e Randy passou a ter Kenny como fonte de inspiração no início de sua carreira. Quando, ainda como amador, foi patrocinado por uma concessionária da Yamaha, marca na qual Roberts corria profissionalmente, todos passaram a chamar Mamola de "Baby Kenny". Mamola já era um nome conhecido dentro do motociclismo americano quando se profissionalizou em 1976, quando completou a idade mínima de 16 anos.
Após um ano de aprendizado em corridas regionais, Randy estreou em 1977 no Campeonato Americano das 250cc de forma arrebatadora, conquistando três pódios e um ótimo segundo lugar no campeonato. Naturalmente considerado favorito para a temporada seguinte, Mamola não decepcionou e conquistou o campeonato, com duas vitórias em Pocono e Laguna Seca. Na prestegiada corrida das 200 Milhas de Daytona, Randy chegou em 3º lugar após ter problemas de freios, quando podia ter derrotado o já estabelecido Freddie Spencer, vencedor daquele ano. E isso com uma moto de 750cc que não estava acostumado! Perto do final do ano, Mamola foi convidado a participar do torneio Anglo-Americano de motociclismo, onde duas equipes eram formadas entre os melhores pilotos dos Estados Unidos e da Inglaterra para uma disputa nas pistas britânicas. Era essencialmente um trabalho em equipe, mas Mamola mostrou um trabalho fenomenal em pistas desconhecidas para ele, terminando no individual em segundo, atrás do americano Mike Baldwin e à frente do Bicampeão Mundial das 500cc de 1977, o inglês Barry Sheene. Com Kenny Roberts se tornando o primeiro americano a conquistar o Mundial de Motovelocidade em 1978, todos os chefes de equipes do Mundial passam a se interessar cada vez mais nos campeonatos americanos e Mamola era o maior destaque do momento. No início de 1979, Randy é convidado pela equipe Zago a participar do Mundial das 250cc com uma Yamaha e o americano aceita no ato, na tentativa de emular o desempenho do seu ídolo Kenny Roberts numa moto de mesma marca.
Seria um desafio e tanto para Mamola, pois ele não conhecia nenhuma das pistas e estaria numa equipe satélite, sem apoio oficial de nenhuma fábrica, mas não demora para que o californiano mostrasse seu grande talento. Logo em sua segunda prova, na Alemanha, Mamola consegue um 2º lugar, algo que repetiria nas duas provas seguintes. Foram desempenhos tão sensacionais, que a equipe Zago, que tinha uma Suzuki nas 500cc, colocou Mamola para correr também nas 500cc na metade da temporada. E os resultados não tardaram a aparecer. Randy subiu ao pódio logo na sua terceira corrida na Finlândia e com outro pódio no final do ano, ele consegue um surpreendente oitavo lugar no Mundial das 500cc, enquanto levava sua Yamaha ao quarto lugar no Mundial das 250cc. O desempenho de Mamola tinha sido tão impressionante que a equipe oficial da Suzuki o contratou para disputar o Mundial das 500cc em 1980. A Suzuki, que havia perdido a supremacia do Mundial das 500cc para a Yamaha de Kenny Roberts, forma uma super-equipe para derrotar o americano e tinha, entre outros, feras como Marco Lucchinelli, Franco Uncini e Graziano Rossi (pai de Valentino). Mamola teria um verdeiro esquadrão para derrotar dentro do próprio box, isso sem contar seu grande ídolo, Roberts, que se recuperava de um grande acidente na pré-temporada. Mesmo sem contar com nenhuma vitória até o momento, Mamola surpreende ao se tornar o maior rival de Roberts durante o ano e quando triunfou pela primeira vez no Mundial, em Zolder na Bélgica, Mamola ganhou confiança para partir para cima de Roberts. Contudo, Kenny, bem mais experiente do que seu compatriota, conquista o tricampeonato, mas Mamola, de apenas 21 anos de idade, supera todos os seus mais experientes companheiros de equipe e em sua primeira temporada completa no Mundial das 500cc, fica com o vice-campeonato. Era a primeira vez na história que os Estados Unidos faziam dobradinha no Mundial de Motociclismo.
Isso tornava Mamola um dos favoritos para 1981, principalmente pelo fato de que Roberts estava tendo problemas extra-pista, com o final do seu casamento. Isso significava que a temporada seria dominada pelos pilotos da Suzuki. Mamola teria Marco Lucchinelli como companheiro de equipe e os dois polarizaram as disputas. Randy vence a primeira corrida em Zeltweg, mas Lucchinelli usa sua experiência para vencer três provas seguidas na metade final do campeonto e conquistar seu único título na carreira, deixando Mamola com seu segundo vice consecutivo. Ainda em 1981, o maior adversário das duas montadoras estabelecidas no Mundial, Suzuki e Yamaha, reestreava no Mundial. Através do americano Freddie Spencer, outra cria do Campeonato Americano de motociclismo, a Honda voltava ao circuito mundial depois de quase quinze anos de afastamento. Ainda com uma moto de quatro tempos, Spencer consegue resultados discretos, mas os anos seguintes mostraram que a Honda voltaria rapidamente ao cume do esporte. Enquanto isso, Mamola sofria um forte acidente depois da quarta etapa da temporada 1982 e fica duas provas de fora, voltando apenas na metade final do campeonato, ainda com tempo de conquistar uma vitória e terminando o campeonato em sexto. Como Franco Uncini, seu companheiro de equipe na Suzuka, tinha vencido o Mundial daquele ano, todos acreditavam que Mamola podia ter conquistado o título naquele ano, mas o destino não quis assim. Para piorar, a Honda crescia a olhos vistos e já contava com a melhor equipe do Mundial, tanto estruturalmente como em pilotos. Spencer provava ser um piloto da linhagem dos grandes pilotos americanos do final dos anos 70 e superava dentro da equipe pilotos do naipe de Marco Lucchinelli e Ron Haslan. Para contrapor a Honda, a Yamaha monta uma estrutura invejável com a ajuda da Marlboro e trazia nomes respeitáveis para a equipe como o lendário chefe de equipe Kel Carruthers, Giacomo Agostini como chefe esportivo, além de trazer outra fera dos Estados Unidos para ser companheiro de Roberts: Eddie Lawson. A Suzuki fica parada no tempo, apenas assistindo a emocionante briga entre Spencer e Roberts, que dividiram todas as doze vitórias daquele ano com vantagem para o piloto da Honda na última corrida da temporada, com Mamola ainda conseguindo o terceiro lugar no Mundial mais na base da regularidade.
Após quatro temporadas na Suzuki, Mamola é atraído pela estrutura da Honda e se transfere para a equipe oficial da montadora. Num primeiro momento, o caminho parecia livre para Randy conquistar seu primeiro Mundial. Roberts havia anunciado sua aposentadoria no final de 1983 e Spencer havia sofrido um sério acidente na pré-temporada. Contudo, a Yamaha ainda tinha ás na manga. Eddie Lawson vence sua primeira corrida no Mundial logo na abertura da temporada de 1984 e o americano domina a temporada com quatro vitórias, enquanto Mamola, após um período de adaptação, vence três provas no final do campeonato e consegue o terceiro vice-campeonato na carreira. Porém, Spencer ainda mostrava todo o seu talento e já recuperado de suas lesões, vence cinco provas no ano e consegue a façanha de conquistar os Mundiais das 250 e 500cc em 1985. Mamola tem uma temporada apagada em 85, vencendo apenas uma corrida e ficando em último na disputa particular entre os pilotos da Rothmans Honda. Sem muito espaço dentro da Honda, Mamola recebe uma super-proposta. Uma proposta de sonho. Trabalhar com seu ídolo Kenny Roberts numa equipe que seria montada pelo americano com o apoio da Lucky Strike. Randy aceita no ato! Mamola seria o líder da equipe e inicia uma era das lindas motos patrocinadas pela tabaqueira. A Yamaha seria dividida entre as equipe de Agostini e Roberts, mas nem assim perde a competitividade, com Lawson derrotando a Honda de Wayne Gardner, enquanto Mamola conquista uma vitória e termina o ano de estréia da equipe Lucky Strike num promissor terceiro lugar.
Através de seus contatos com a Yamaha, Roberts passa a ter um maior apoio da montadora japonesa, mas isso acaba dividindo as atenções da Yamaha, que vê uma briga interna entre as suas duas equipes principais. Mamola vence a primeira corrida da temporada em Suzuka, na primeira vez que o circuito recebia uma etapa do Mundial, e liderava pela primeira vez na carreira o Mundial de Motociclismo. Porém, a unidade da Honda dá a Wayne Gardner a possibilidade de conquistar seu único título, enquanto Mamola e Lawson brigaram até o final do ano pelo vice-campeonato, ficando com Randy mais na base da regularidade. Era o quarto vice-campeonato do californiano. Após dois anos ótimos ao lado de Roberts e a Yamaha, Mamola aceitava o desafio de levar a Cagiva, que ainda tateava no Mundial de Motociclismo, as vitórias. A moto italiano corria de vermelho e tencionava se tornar uma espécie de Ferrari do motociclismo, mas Randy nunca foi considerado um grande acertador de motos e apesar de todos os seus esforços, ele nunca levaria a marca italiana a vitória, conseguindo resultados apenas regulares e apenas um pódio na Bélgica, em 1988. Quando seu contrato com a Cagiva acabou em 1990, Mamola dá um tempo no motociclismo, mas ele retorna em 1992 com uma Yamaha particular, onde consegue resultados melhores, mas longe das vitórias. Já contando com 33 anos, Mamola resolve abandonar a carreira. Ele disputou 151 Grandes Prêmios, onde conquistou 13 vitórias, 5 poles, 11 melhores voltas, 57 pódios, 1050 pontos conquistados e quatro vice-campeonatos (1980,81,84 e 87).
Após abandonar as pistas, Mamola se casou em 1994 e em 1996 cria o Riders of Health, onde ao lado de estrelas do motociclismo, vai ao interior da África, de moto, entregar alimentos aos necessitados. Esse era um lado de Randy Mamola fora das pistas. Outro era o que ele fazia dentro das pistas. Mesmo sem ter conquistado um único título na carreira, Mamola foi o piloto mais popular no Mundial de Motociclismo na década de 80 por causa de seu estilo extremamente temerário e pelo seu relacionamento com a torcida. Mamola foi o primeiro piloto a agradecer o público após as corridas e na volta de desaceleração, ele jogava luvas, botas e até seu capacete para o público. Sua forma de tomar as curvas, entrando de lado e com fumaça da borracha queimada saindo pela lateral da sua moto, faziam com que todos fossem a loucura. Isso poderia ser prejudicial a ele nas provas, mas ninguém parecia ligar muito para isso. Nem ele! Para Randy Mamola, além de vencer, o que importava era dar espetáculo. Durante o Grande Prêmio das Nações de 1985, em Misano, Mamola quase caiu de sua moto na curva rápida que antecedia a reta principal. Para um piloto normal, o instinto seria deixar a moto ir embora e rolar pelo chão. Não para Randy! Ele conseguiu o milagre de permanecer em cima da moto, no que é até hoje considerada a melhor manobra da história do motociclismo. Se não bastasse tudo isso, ainda havia uma loucura ainda maior. Durante o Grande Prêmio da França de 1986, em Le Mans, Mamola estava em segundo, muito distante do líder Lawson e igualmente longe do terceiro colocado Christian Sarron. Ao final da prova, Lawson venceu mais uma, com Mamola ainda mais longe, era o piloto mais saudado pela torcida. O motivo seria dado uma semana depois através do fotógrafo Dan Morley. Sozinho na pista e com a corrida sem muita emoção, Mamola parou sua moto na frente do público e dos comissários de pista, que correram em direção ao americano pensando que tinha tido problemas, e empinou sua roda traseira apenas para dar espétaculo a torcida, que foi a loucura. Quando Morley publicou a foto, cuja a imagem e TV não mostrou, Mamola ficou emocionado, mas o chefe de equipe Kenny Roberts ficou irritado, inclusive tendo demitido Randy. Alguns dias depois, talvez refeito da raiva e percebendo a beleza que seu piloto tinha proporcionado para quem gostava de corridas, Roberts voltou atrás. Afinal, ele sabia que esse era o estilo de Randy Mamola. Hoje em dia, o californiano acompanha o circuito do Mundial de Motociclismo como um dos mais respeitados comentaristas do mundo e ainda oferece exibições com uma Ducati de dois lugares, onde Mamola leva convidados a uma volta rápida antes da prova de MotoGP. Michael Schumacher foi um dos convidados e deve ter sido por isso que ele hoje corre de moto. Sempre no final de suas exibições, Mamola lembra a todos os fãs do motociclismo sua loucura em Le Mans, com uma empinada na roda traseira. Randy pode nunca ter conquistado um título, mas ele será sempre lembrado como um dos maiores pilotos de todos os tempos, além de um dos mais carismáticos e malucos da história!
Parabéns!
Randy Mamola
Apesar de detestar Raul Seixas, devo admitir que o titulo veio a calhar com Randy Mamola.
ResponderExcluirMuito bom trabalho João.
legal Joao...nao conhecia tão bem a historia deste piloto...parabens !
ResponderExcluirabraço, Fernando
Também não o conhecia não.
ResponderExcluirNa verdade não conheço muita coisa sobre MotoGp hehehehe.
Mas um cara parar a moto no meio da corrida para fazer gracinhas para a torcida é brincadeira.
É o tipo de coisa que NUNCA(!!!) aconteceria na F1 atual.