As corridas são capazes de criar ídolos e mitos que muitas vezes não se explicam apenas por títulos e vitórias. Exemplos existem aos montes. Na F1, há Gilles Villeneuve e suas seis vitórias. No Mundial de Motovelocidade, há Jarno Saarinen e seu solitário título nas 350cc. Hoje, iremos conhecer um pouco mais sobre este personagem no Mundial de Rally: o finlandês Henri Toivonen. Vindo do país dos rallys, Toivonen tinha um estilo de pilotagem tão selvagem e audacioso que muitas vezes isso não resultava em eficiência e seus parcos números não mostram com clareza todo o talento deste piloto finlandês. Se estivesse vivo, Toivonen estaria completando 55 anos no dia de hoje e por isso vamos ver a rápida e impressionante carreira deste piloto que se tornou um ícone do rally nos anos 80.
Henri Pauli Toivonen nasceu no dia 25 de agosto de 1956 em Jyväskyla, na Finlândia e seu amor pelas corridas não demorou a aflorecer por inúmeros motivos. Primeiro, por que Jyväskyla é uma das sedes do tradicional Rally dos 1000 Lagos, a hoje etapa finlandesa do Mundial de Rally. E depois por que seu pai, Pauli Toivonen, foi um dos grandes pilotos de rally dos anos 60 e 70, se tornando Campeão Europeu em 1968 e vencendo vários rally famosos, como o Rally do RAC, o Rally de Acrópole e um controverso Rally de Monte Carlo. Juntamente com seu irmão Harri, que se tornaria piloto também, mas no asfalto, Henri Toivonen começou muito cedo a correr, com apenas cinco anos, mas no kart. Rapidamente Henri se torna um dos grandes pilotos de kart na Finlândia e chegou a conquistar o Campeonato Finlandês de Turismo, se mudando para a F-Vee em 1977, para ser campeão finlandês e vencer corridas no certame europeu. Porém, a família Toivonen se caracterizou por correr nos rallys e rapidamente Henri começava a se aventurar pelas corridas fora do asfalto, participando do seu primeiro Rally dos 1000 Lagos em 1975. Mesmo o rally não sendo muito seguro, os anos 70 foi um dos mais mortíferos dos esportes a motor, particularmente na F1 e por isso Henri Toivonen se mudou definitivamente para os rallys no final de 1976. Para financiar sua empreitada, Henri vendeu um dos seus karts a um casal que queria presentear seu filho pelo seu aniversário de nove anos. O nome garoto era Mika Hakkinen...
Com apenas 21 anos Henri participa pela terceira vez do seu rally local e com um Chrysler Avemger, chega num surpreendente quinto lugar, chamando a atenção dos vários chefes de equipe de então, que o convida a correr em rallys isolados durante os próximos meses. Em sua primeira etapa do recém-criado Mundial de Rally fora da Finlândia, Toivonen consegue um impressionante segundo lugar no Rally do Ártico, ficando entre os dois mitos finlandeses Markku Allen e Ari Vatanen. Rapidamente, Toivonen estaria entre eles... Em 1979 Henri participa em etapas do Campeonato inglês, finlandês e europeu de rally, conseguindo várias vitórias e mostrando uma impetuosidade impressionante, fazendo com que a Talbot o contratasse como piloto oficial do Mundial de Rally em 1980. Porém, o seu carro, o Sunbean Lotus, não era páreo ao espetacular e inesquecível Audi Quattro A1, mas isso não impede de Toivonen de conseguir algumas exibições espetaculares, sempre fazendo misérias com sua pilotagem cheia de improvisos. Porém, isso lhe trouxe alguns acidentes e mudanças de navegadores durante o ano. Foram três em 1980: Antero Lindqvist, Paul White e Neil Wilson. Apesar dos vários problemas, Henri Toivonen consegue uma incrível e surpreendente primeira vitória na última etapa do ano, o Rally do RAC, com quatro minutos de vantagem sobre o seu compatriota Hannu Mikkola. Aos 24 anos e 86 dias, Henri Toivonen se tornava o piloto mais jovem a vencer uma etapa do Mundial de Rally, recorde que só seria quebrado quase 28 anos depois pelo também finlandês Jarí-Matti Latvala. Nessa época, a F1 se surpreendia com a velocidade e loucura de Gilles Villeneuve e com seu estilo similar, Toivonen era considerado o mesmo personagem no Mundial de Rally. Porém, assim como acontecia com o canadense com sua Ferrari, o piloto finlandês sofria com a falta de competitividade do seu Talbot Sunbean, ainda mais com os novos carros do Grupo B da FIA, que exibiam uma potência absurda e crescente já no seu início. Sem vencer uma única etapa sequer em 1981, Toivonen ainda era visto como uma estrela em ascensão e é contratado pela Opel em 1982, onde dividiria a equipe com outras três feras do Mundial de Rally na época: Ari Vatanen, o alemão Walter Röhrl e o escocês Jimmy McRae. O Opel Ascona 400 era um dos grandes carros da época a ponto de Röhrl ter se tornado campeão mundial daquele ano, mas Toivonen não se adapta tão bem ao carro e ainda se envolvia em acidentes demais. No final deste ano, Toivonen testa um carro da March de F1 em Silverstone e de forma incrível, o finlandês enfia 1.4s em cima de Raul Boesel, o piloto titular da equipe. Eddie Jordan, que acompanhou este teste, afirmou que tinha certeza que Toivonen se tornaria um grande piloto nos monopostos se ele quisesse.
Toivonen permanece mais um ano na Opel, que trocava o Ascona pelo Manta, já correndo com o regulamente do Grupo B, mas nem por isso capaz de enfrentar a Audi e a Lancia, que dominaram o campeonato de 1983. Toivonen passa mais um ano em branco e desiludido com falta de um carro competitivo, se transfere para o Campeonato Europeu de Rally por uma nova equipe que entraria para a história dos ralis: a Prodrive. Chefiada por David Richards, que tinha sido chefe de Toivonen na equipe Opel no Mundial de Rally, a Prodrive correria apenas no Campeonato Europeu com um Porsche 911 SC RS, onde Toivonen teria como companheiro de equipe o italiano Carlo Capone. Henri mostra todo o seu talento e praticamente polariza o campeonato com Capone, vencendo cinco etapas, mas perdendo o título para o italiano porque teve que abandonar o campeonato no seu final por problemas físicos. Enquanto corria no certame europeu, Toivonen já ensaiava uma volta ao Mundial de Rally e começa entendimentos com a Lancia, no qual participa de três etapas ainda em 1984, assinando com a equipe italiana no final do ano. A Lancia utilizava o modelo Delta 037 que tinha muita potência, mas os italianos teimavam em utilizar um carro com tração traseira, enquanto a dominante Audi tinha um carro com tração 4x4. Porém, o ano de 1985 seria terrível para Toivonen. Logo na primeira etapa do Mundial, Henri sofre um sério acidente no Rally Costa Esmeralda e quebra três vértebras, quase o deixando paraplégico. Algumas semanas mais tarde, Toivonen vê seu companheiro de equipe e amigo Attilio Bettega falecer durante o Rally da Córsega. Recuperado dos seus ferimentos, Toivonen retorna no seu rally em casa e consegue um quarto lugar, mas o Lancia Delta 037 estava com os dias contados. No final da temporada, o Lancia Delta S4 estava pronto para estrear no Rally do RAC, a última etapa do ano. O carro italiano era um legítimo representante do Grupo B, com um motor turbo que lhe garantia uma potência absurda e, segundo a lenda, fazia de 0 a 100 km/h em 2.3s. No cascalho! Na estréia do carro na Grã-Bretanha, Toivonen vence o tradicional Rally do RAC com facilidade, mas a potência estúpida do bólido italiano (e dos outros também) já chamava a atenção de todas as pessoas que acompanhavam o Mundial de Rally. Não era raro os carros ultrapassarem os 500cv e feitos com material muito leve, a relação peso-potência era altíssimo, fazendo daqueles carros tão velozes como perigosos.
Após ter dado o recado na última etapa do ano, a Lancia era a favorita ao título de 1986 e Toivonen finalmente começava um campeonato como favorito, ainda demonstrando o mesmo ímpeto e talento que lhe caracterizou nos anos 80. Mais rápido do que seus companheiros de equipe Markku Allen e Miki Biasion, Toivonen estrearia um novo navegador, o ítalo-americano Sergio Cresto, e com ele venceria o Rally de Monte Carlo, repetindo algo que seu pai fez vinte anos, mas desta vez sem contestações. Em 1966, Pauli Toivonen só venceu aquele rally no principado por que três carros que chegaram à sua frente foram desclassificados por supostas irregularidades nos faróis, revoltando até mesmo o Príncipe Rainier, que se recusou a entregar o troféu de vencedor a Pauli. Quando Henri venceu, o patriarca da família Toivonen comemorou duplamente a vitória do filho. “O nome Toivonen agora está limpo”. Após um abandono na Suécia, a etapa seguinte do Mundial seria em Portugal, uma das mais populares do ano, mas com grande risco para os torcedores, que se arriscavam demais na beira da pista. Juntando tudo isso com a potência cada vez maior dos carros, a tragédia estava a espreita. E ela ocorreu no estágio da Lagoa Azul, quando o português Joaquim Santos perdeu o controle do seu Ford RS2000 e atropelou várias pessoas, matando três e ferindo outras quarenta. Os principais pilotos do Mundial se reuniram e resolveram abandonar o Rally de Portugal, com o comunicado sendo lido por Toivonen, que era o líder do campeonato até aquele momento. Ainda em Portugal, uma das maiores lendas do finlandês aconteceu. Henri Toivonen levou seu Lancia Delta S4 ao circuito do Estoril e após um teste, consegue um tempo que o colocaria em sexto lugar no grid do Grande Prêmio de Portugal de 1985! Isso não apenas mostrava o talento de Toivonen, como também mensurava a loucura que havia se tornado o Mundial de Rally com os carros do Grupo B. Se no Estoril havia áreas de escape e cercas de proteção para segurar os carros de F1 em caso de acidentes, o que poderia acontecer se um carro de rally, com uma velocidade similar, saísse da pista sem proteção nenhuma? Isso era o que se indagavam os amantes das corridas quando o Mundial de Rally foi para a Córsega, local da quarta etapa do campeonato.
Henri Toivonen chegou na Itália gripado e com febre, tendo que tomar remédios para poder participar do rali que um ano antes tinha matado seu amigo Bettega. Mesmo debilitado, o finlandês disputava estágio a estágio com o francês Bruno Saby da Peugeot, mas o próprio Toivonen reclamava da falta de segurança do rali e dos carros. O finlandês liderava o rali no dia 2 de maio de 1986 e durante o 18º estágio, Corte-Taverna, no km 8, uma densa fumaça negra era vista no horizonte. No rádio da equipe Lancia, Markko Allen gritava desesperado, pedindo socorro ao carro de Toivonen, que havia acabado de sair da pista e batido numa árvore. O tanque de combustível tinha se rompido e carroceria de plástico e kevlar rapidamente se tornou uma enorme fogueira. Uma pira crematória. Henri Toivonen e Sergio Cresto não tiveram nenhuma chance e morreram carbonizados. Toivonen, que completaria 30 anos em alguns meses, deixou a esposa e um casal de filhos. Até hoje o acidente que vitimou Henri Toivonen é um completo mistério. Não havia espectadores ou comissários que testemunhassem o acidente e somente um vídeo amador, totalmente inconclusivo, mostra o final do acidente. O carro ficou de tal forma carbonizado que foi impossível para os investigadores e técnicos da Lancia determinar se houve algum problema técnico. Muitos chegaram a dizer que os remédios que Toivonen estava tomando naqueles dias para melhorar da sua gripe poderia ter influenciado seus reflexos, mas nada pode ser comprovado. O certo era que aquele acidente fora um marco no Mundial de Rally. Audi e Ford abandonaram o campeonato imediatamente e a Peugeot, que venceu este triste Rali da Córsega com Bruno Saby, o faria no final do ano, só retornando ao WRC em 1999. Estranhamente, a Lancia foi a única a permanecer no Mundial, dominando o campeonato por algum tempo. Outra coincidência foi que Toivonen utilizava o número 4, mesmo numeral que Bettega utilizava um ano antes quando o italiano morreu no mesmo rali e por isso o quatro foi expurgado do Mundial de Rally por vários anos. Outra conseqüência foi o fim do Grupo B por ordem direta de Jean-Marie Balestre e o Mundial de Rally demoraria alguns anos para retomar a força que tinha até aquele momento. Com a morte do seu maior ídolo, o WRC só retornaria aos bons tempos em meados da década de 90, mas com apenas 29 anos de idade, Henri Toivonen deixou uma marca indelével na história do automobilismo mundial. Quando finalmente tinha tudo para se tornar campeão mundial, quando tinha o melhor carro e era o melhor piloto da equipe, o destino pregou uma peça e nos tirou a espetacular pilotagem de Henri Toivonen.
Henri Pauli Toivonen nasceu no dia 25 de agosto de 1956 em Jyväskyla, na Finlândia e seu amor pelas corridas não demorou a aflorecer por inúmeros motivos. Primeiro, por que Jyväskyla é uma das sedes do tradicional Rally dos 1000 Lagos, a hoje etapa finlandesa do Mundial de Rally. E depois por que seu pai, Pauli Toivonen, foi um dos grandes pilotos de rally dos anos 60 e 70, se tornando Campeão Europeu em 1968 e vencendo vários rally famosos, como o Rally do RAC, o Rally de Acrópole e um controverso Rally de Monte Carlo. Juntamente com seu irmão Harri, que se tornaria piloto também, mas no asfalto, Henri Toivonen começou muito cedo a correr, com apenas cinco anos, mas no kart. Rapidamente Henri se torna um dos grandes pilotos de kart na Finlândia e chegou a conquistar o Campeonato Finlandês de Turismo, se mudando para a F-Vee em 1977, para ser campeão finlandês e vencer corridas no certame europeu. Porém, a família Toivonen se caracterizou por correr nos rallys e rapidamente Henri começava a se aventurar pelas corridas fora do asfalto, participando do seu primeiro Rally dos 1000 Lagos em 1975. Mesmo o rally não sendo muito seguro, os anos 70 foi um dos mais mortíferos dos esportes a motor, particularmente na F1 e por isso Henri Toivonen se mudou definitivamente para os rallys no final de 1976. Para financiar sua empreitada, Henri vendeu um dos seus karts a um casal que queria presentear seu filho pelo seu aniversário de nove anos. O nome garoto era Mika Hakkinen...
Com apenas 21 anos Henri participa pela terceira vez do seu rally local e com um Chrysler Avemger, chega num surpreendente quinto lugar, chamando a atenção dos vários chefes de equipe de então, que o convida a correr em rallys isolados durante os próximos meses. Em sua primeira etapa do recém-criado Mundial de Rally fora da Finlândia, Toivonen consegue um impressionante segundo lugar no Rally do Ártico, ficando entre os dois mitos finlandeses Markku Allen e Ari Vatanen. Rapidamente, Toivonen estaria entre eles... Em 1979 Henri participa em etapas do Campeonato inglês, finlandês e europeu de rally, conseguindo várias vitórias e mostrando uma impetuosidade impressionante, fazendo com que a Talbot o contratasse como piloto oficial do Mundial de Rally em 1980. Porém, o seu carro, o Sunbean Lotus, não era páreo ao espetacular e inesquecível Audi Quattro A1, mas isso não impede de Toivonen de conseguir algumas exibições espetaculares, sempre fazendo misérias com sua pilotagem cheia de improvisos. Porém, isso lhe trouxe alguns acidentes e mudanças de navegadores durante o ano. Foram três em 1980: Antero Lindqvist, Paul White e Neil Wilson. Apesar dos vários problemas, Henri Toivonen consegue uma incrível e surpreendente primeira vitória na última etapa do ano, o Rally do RAC, com quatro minutos de vantagem sobre o seu compatriota Hannu Mikkola. Aos 24 anos e 86 dias, Henri Toivonen se tornava o piloto mais jovem a vencer uma etapa do Mundial de Rally, recorde que só seria quebrado quase 28 anos depois pelo também finlandês Jarí-Matti Latvala. Nessa época, a F1 se surpreendia com a velocidade e loucura de Gilles Villeneuve e com seu estilo similar, Toivonen era considerado o mesmo personagem no Mundial de Rally. Porém, assim como acontecia com o canadense com sua Ferrari, o piloto finlandês sofria com a falta de competitividade do seu Talbot Sunbean, ainda mais com os novos carros do Grupo B da FIA, que exibiam uma potência absurda e crescente já no seu início. Sem vencer uma única etapa sequer em 1981, Toivonen ainda era visto como uma estrela em ascensão e é contratado pela Opel em 1982, onde dividiria a equipe com outras três feras do Mundial de Rally na época: Ari Vatanen, o alemão Walter Röhrl e o escocês Jimmy McRae. O Opel Ascona 400 era um dos grandes carros da época a ponto de Röhrl ter se tornado campeão mundial daquele ano, mas Toivonen não se adapta tão bem ao carro e ainda se envolvia em acidentes demais. No final deste ano, Toivonen testa um carro da March de F1 em Silverstone e de forma incrível, o finlandês enfia 1.4s em cima de Raul Boesel, o piloto titular da equipe. Eddie Jordan, que acompanhou este teste, afirmou que tinha certeza que Toivonen se tornaria um grande piloto nos monopostos se ele quisesse.
Toivonen permanece mais um ano na Opel, que trocava o Ascona pelo Manta, já correndo com o regulamente do Grupo B, mas nem por isso capaz de enfrentar a Audi e a Lancia, que dominaram o campeonato de 1983. Toivonen passa mais um ano em branco e desiludido com falta de um carro competitivo, se transfere para o Campeonato Europeu de Rally por uma nova equipe que entraria para a história dos ralis: a Prodrive. Chefiada por David Richards, que tinha sido chefe de Toivonen na equipe Opel no Mundial de Rally, a Prodrive correria apenas no Campeonato Europeu com um Porsche 911 SC RS, onde Toivonen teria como companheiro de equipe o italiano Carlo Capone. Henri mostra todo o seu talento e praticamente polariza o campeonato com Capone, vencendo cinco etapas, mas perdendo o título para o italiano porque teve que abandonar o campeonato no seu final por problemas físicos. Enquanto corria no certame europeu, Toivonen já ensaiava uma volta ao Mundial de Rally e começa entendimentos com a Lancia, no qual participa de três etapas ainda em 1984, assinando com a equipe italiana no final do ano. A Lancia utilizava o modelo Delta 037 que tinha muita potência, mas os italianos teimavam em utilizar um carro com tração traseira, enquanto a dominante Audi tinha um carro com tração 4x4. Porém, o ano de 1985 seria terrível para Toivonen. Logo na primeira etapa do Mundial, Henri sofre um sério acidente no Rally Costa Esmeralda e quebra três vértebras, quase o deixando paraplégico. Algumas semanas mais tarde, Toivonen vê seu companheiro de equipe e amigo Attilio Bettega falecer durante o Rally da Córsega. Recuperado dos seus ferimentos, Toivonen retorna no seu rally em casa e consegue um quarto lugar, mas o Lancia Delta 037 estava com os dias contados. No final da temporada, o Lancia Delta S4 estava pronto para estrear no Rally do RAC, a última etapa do ano. O carro italiano era um legítimo representante do Grupo B, com um motor turbo que lhe garantia uma potência absurda e, segundo a lenda, fazia de 0 a 100 km/h em 2.3s. No cascalho! Na estréia do carro na Grã-Bretanha, Toivonen vence o tradicional Rally do RAC com facilidade, mas a potência estúpida do bólido italiano (e dos outros também) já chamava a atenção de todas as pessoas que acompanhavam o Mundial de Rally. Não era raro os carros ultrapassarem os 500cv e feitos com material muito leve, a relação peso-potência era altíssimo, fazendo daqueles carros tão velozes como perigosos.
Após ter dado o recado na última etapa do ano, a Lancia era a favorita ao título de 1986 e Toivonen finalmente começava um campeonato como favorito, ainda demonstrando o mesmo ímpeto e talento que lhe caracterizou nos anos 80. Mais rápido do que seus companheiros de equipe Markku Allen e Miki Biasion, Toivonen estrearia um novo navegador, o ítalo-americano Sergio Cresto, e com ele venceria o Rally de Monte Carlo, repetindo algo que seu pai fez vinte anos, mas desta vez sem contestações. Em 1966, Pauli Toivonen só venceu aquele rally no principado por que três carros que chegaram à sua frente foram desclassificados por supostas irregularidades nos faróis, revoltando até mesmo o Príncipe Rainier, que se recusou a entregar o troféu de vencedor a Pauli. Quando Henri venceu, o patriarca da família Toivonen comemorou duplamente a vitória do filho. “O nome Toivonen agora está limpo”. Após um abandono na Suécia, a etapa seguinte do Mundial seria em Portugal, uma das mais populares do ano, mas com grande risco para os torcedores, que se arriscavam demais na beira da pista. Juntando tudo isso com a potência cada vez maior dos carros, a tragédia estava a espreita. E ela ocorreu no estágio da Lagoa Azul, quando o português Joaquim Santos perdeu o controle do seu Ford RS2000 e atropelou várias pessoas, matando três e ferindo outras quarenta. Os principais pilotos do Mundial se reuniram e resolveram abandonar o Rally de Portugal, com o comunicado sendo lido por Toivonen, que era o líder do campeonato até aquele momento. Ainda em Portugal, uma das maiores lendas do finlandês aconteceu. Henri Toivonen levou seu Lancia Delta S4 ao circuito do Estoril e após um teste, consegue um tempo que o colocaria em sexto lugar no grid do Grande Prêmio de Portugal de 1985! Isso não apenas mostrava o talento de Toivonen, como também mensurava a loucura que havia se tornado o Mundial de Rally com os carros do Grupo B. Se no Estoril havia áreas de escape e cercas de proteção para segurar os carros de F1 em caso de acidentes, o que poderia acontecer se um carro de rally, com uma velocidade similar, saísse da pista sem proteção nenhuma? Isso era o que se indagavam os amantes das corridas quando o Mundial de Rally foi para a Córsega, local da quarta etapa do campeonato.
Henri Toivonen chegou na Itália gripado e com febre, tendo que tomar remédios para poder participar do rali que um ano antes tinha matado seu amigo Bettega. Mesmo debilitado, o finlandês disputava estágio a estágio com o francês Bruno Saby da Peugeot, mas o próprio Toivonen reclamava da falta de segurança do rali e dos carros. O finlandês liderava o rali no dia 2 de maio de 1986 e durante o 18º estágio, Corte-Taverna, no km 8, uma densa fumaça negra era vista no horizonte. No rádio da equipe Lancia, Markko Allen gritava desesperado, pedindo socorro ao carro de Toivonen, que havia acabado de sair da pista e batido numa árvore. O tanque de combustível tinha se rompido e carroceria de plástico e kevlar rapidamente se tornou uma enorme fogueira. Uma pira crematória. Henri Toivonen e Sergio Cresto não tiveram nenhuma chance e morreram carbonizados. Toivonen, que completaria 30 anos em alguns meses, deixou a esposa e um casal de filhos. Até hoje o acidente que vitimou Henri Toivonen é um completo mistério. Não havia espectadores ou comissários que testemunhassem o acidente e somente um vídeo amador, totalmente inconclusivo, mostra o final do acidente. O carro ficou de tal forma carbonizado que foi impossível para os investigadores e técnicos da Lancia determinar se houve algum problema técnico. Muitos chegaram a dizer que os remédios que Toivonen estava tomando naqueles dias para melhorar da sua gripe poderia ter influenciado seus reflexos, mas nada pode ser comprovado. O certo era que aquele acidente fora um marco no Mundial de Rally. Audi e Ford abandonaram o campeonato imediatamente e a Peugeot, que venceu este triste Rali da Córsega com Bruno Saby, o faria no final do ano, só retornando ao WRC em 1999. Estranhamente, a Lancia foi a única a permanecer no Mundial, dominando o campeonato por algum tempo. Outra coincidência foi que Toivonen utilizava o número 4, mesmo numeral que Bettega utilizava um ano antes quando o italiano morreu no mesmo rali e por isso o quatro foi expurgado do Mundial de Rally por vários anos. Outra conseqüência foi o fim do Grupo B por ordem direta de Jean-Marie Balestre e o Mundial de Rally demoraria alguns anos para retomar a força que tinha até aquele momento. Com a morte do seu maior ídolo, o WRC só retornaria aos bons tempos em meados da década de 90, mas com apenas 29 anos de idade, Henri Toivonen deixou uma marca indelével na história do automobilismo mundial. Quando finalmente tinha tudo para se tornar campeão mundial, quando tinha o melhor carro e era o melhor piloto da equipe, o destino pregou uma peça e nos tirou a espetacular pilotagem de Henri Toivonen.
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