Muitos pilotos ficaram marcados na história pelos seus feitos dentro das pistas, incluindo vitórias sensacionais e campeonatos conquistados na base do talento e da garra. Porém, outros entraram para a história do automobilismo por algo que transcende o esporte e se tornaram exemplos de vida. Alessandro Zanardi conseguiu reunir essas duas qualidades com uma pilotagem excepcional e uma força de vontade frente às dificuldades, que lhe valeram entrar não apenas na história do automobilismo, como também para ser um exemplo de vida para várias pessoas não esmorecerem e ainda não perder o bom humor. Completando 45 anos hoje, vamos conhecer um pouco mais da sofrida e ao mesmo tempo bela carreira de Zanardi.
Alessandro Leone Zanardi nasceu no dia 23 de outubro de 1966 em Bologna, na Itália, exatamente no dia do Grande Prêmio do México. Filho de um encanador, o pequeno Alessandro viu de perto uma tragédia que fez com que demorasse um pouco a conhecer de perto as corridas. Sua irmã mais velha, Cristina, uma promessa da natação italiana, faleceu em 1979 vítima de um acidente de trânsito e seus pais tentaram manter Zanardi longe de qualquer coisa de quatro rodas e motor. Porém, Alessandro começou a trabalhar com um amigo em um kart e rapidamente o jovem de 13 anos estava apaixonado pelas corridas. Como gostavam muito de esportes, os pais Dino e Anna Zanardi deixaram com que Alessandro corresse, mas sem poder apoiá-lo financeiramente. Zanardi construiu seu primeiro kart usando rodas de um caixote de lixo e tubos que encontrou no trabalho do seu pai e com esse arremedo de carro de corrida Alessandro participou de suas primeiras corridas de kart em 1980 e 1981, em competições locais. Em 1982 ele começou a competir no Campeonato Italiano de Kart e terminou o certame em terceiro lugar, tendo seu pai como único mecânico e usando apenas um jogo de pneus. Zanardi foi escolhido como um dos melhores pilotos italianos de kart na época, mas em 1985 ele ainda não havia conquistado um resultado de relevo, capaz de levá-lo aos monopostos, que era seu objetivo. Finalmente ele seria campeão italiano em 1985, além de vencer o campeonato europeu em 1988 com um aproveitamento de 100% nas cinco corridas do certame, um recorde que não seria igualado. Depois de oito anos no kart, Zanardi finalmente pulou para os monopostos e estreou na F3 Italiana em 1988, já com 22 anos, uma idade um pouco avançada para um jovem piloto. Ainda assim, Zanardi pareceu ter dado um passo maior do que a perna ao pular direto para a F3 e seu primeiro ano na categoria lhe reservou apenas um 5º lugar.
Em 1989 Alessandro se transferiu para a equipe Ter Erre Racing e lá conheceu Daniela, com quem acabaria se casando oito anos mais tarde. O affair fez bem a Zanardi e ele conseguiu duas poles e três pódios, mesmo com um problema em seu motor Toyota. Mesmo tendo evoluído, Zanardi faz algo incomum para um piloto numa categoria de base e tenta um terceiro ano na F3, onde consegue suas primeiras vitórias e brigou pelo título, mas acabaria perdendo o campeonato para Roberto Colciago por apenas três pontos. Além do certame italiano, Alessandro Zanardi participou com sucesso de algumas corridas internacionais e com isso o piloto italiano pulou para a F3000 Internacional em 1991, na equipe novata Il Barone Rampante. Aos 25 anos de idade, Zanardi já não era um imberbe garoto querendo chegar na F1, apesar de esse ser claramente seu objetivo, mas o italiano não tinha tempo a perder e decidiu que aquela temporada seria decisiva. E realmente foi. A F3000 sempre foi muito cruel com alguns dos seus novatos, mas Zanardi foi um ponto fora da reta e logo na primeira corrida na categoria, o italiano conseguiu a pole e venceu de ponta a ponta a prova em Vallelunga. Na verdade, Zanardi não largaria nenhuma vez abaixo do quarto lugar e conquistaria a pole outras duas vezes. Alessandro venceria novamente em Mugello, outra pista que ele conhecia, mas os quatro abandonos durante o ano (sendo que em três oportunidades Alex estava na liderança) acabariam sendo fatais para as chances de título do italiano. O principal rival de Zanardi naquele campeonato foi o brasileiro Christian Fittipaldi, que abandonou apenas duas corridas e tinha a regularidade como seu ponto forte. O sobrinho de Emerson Fittipaldi acabaria derrotando Zanardi por cinco pontos. Como prêmio de consolação, Zanardi venceria o Casco d’Oro como melhor piloto italiano do ano.
Essa temporada arrebatadora acabaria rendendo dividendos a Zanardi e ainda no verão de 1991 o italiano realizaria seu primeiro teste em um carro de F1, com a equipe Arrows, em Paul Ricard. Seu segundo contato com a F1 se daria com a Jordan e o primeiro encontro com o irlandês teria um toque de galhardia. Conta a lenda que Eddie Jordan foi a Le Mans, durante uma etapa da F3000, atrás de Zanardi e simplesmente não o encontrava. Não restando outra alternativa, Jordan anunciou pelos alto-falantes do circuito francês que estava a procura de Alessandro Zanardi para que ele corresse na equipe Jordan de F1 nas últimas etapas do campeonato de 1991! Claro que Zanardi aceitou a proposta e o italiano faria sua estréia na F1 em Barcelona, onde mesmo sofrendo um acidente na última volta, Alessandro mostrou um bom potencial. Nas duas corridas no oriente, Zanardi não comprometeu, inclusive na chuvosa última etapa do ano, em Adelaide, o italiano marcou a quinta volta mais rápida do dia, atrás ‘apenas’ de Berger, Senna, Piquet e Mansell. E à frente de Michael Schumacher, um antigo rival dos tempos de kart e muito amigo do italiano. Eddie Jordan queria manter Zanardi na equipe em 1992, mas se Alessandro tinha o talento, lhe faltava algo essencial no automobilismo: dinheiro. Eddie Jordan tinha gasto muito dinheiro em sua primeira (e boa) temporada na F1 e precisava de patrocínio. Mesmo Zanardi tendo participado de todos os testes pré-temporada de 1992 pela Jordan ao lado de Stefano Modena, Maurício Gugelmin chegou de última hora com um bom patrocínio e Zanardi acabou tendo que abandonar o time nas vésperas do início do campeonato. Contudo, o talento de Zanardi não tinha passado despercebido e outros chefes de equipe já estavam de olho nele. Quando a Jordan o abandonou, Ken Tyrrell, desde os anos 70 um caçador de talentos, contratou Zanardi para sua equipe, mas o velho Tio Ken passava pelos mesmos problemas de Jordan e quando a equipe já estava se preparando para viajar para a África do Sul para a primeira etapa do campeonato, Andrea de Cesaris apareceu com um bom patrocinador e novamente Zanardi estava a pé, agora com todos os postos da F1 devidamente ocupados. Porém, não foi apenas Eddie Jordan e Ken Tyrrell que gostaram de Zanardi. Assim como fez com Schumacher quando o alemão estreou na F1, Flavio Briatore se impressionara com Zanardi e sem poder lhe oferecer um lugar como titular, contrata o compatriota como piloto de testes oficial da Benetton, além da promessa de ser titular em breve.
A missão de Zanardi era desenvolver a suspensão ativa da Benetton, algo que o italiano conseguiu, mas bem antes do esperado, Alessandro estaria de volta às corridas de F1. Durante os treinos para o Grande Prêmio da França, Christian Fittipaldi, antigo rival de Zanardi na F3000, bateu muito forte e quebrou a quinta vértebra, tendo que ficar fora das corridas por dois meses. Zanardi assumiu o seu lugar na Minardi, mas o chassi ruim e o complicado motor Lamborghini V12 não permitiu a Alex conquistar bons resultados. Após três corridas pela Minardi, Zanardi voltou ao cargo de piloto de testes da Benetton e o italiano ainda teve que enfrenta uma pneumonia, que o atrapalhou em sua busca de um lugar na F1 em 1993. Durante um teste na pré-temporada, a Zanardi foi pedido uma simulação de uma corrida em Paul Ricard e o italiano foi mais rápido no tempo geral do que Schumacher. O chefe de equipe da Lotus Peter Collins estava presente naquele dia e como o inglês estava procurando um bom piloto para substituir Mika Hakkinen para 1993 e com experiência em suspensão ativa, Zanardi era o nome ideal. Porém, a Lotus nem de longe era a equipe grande de anos atrás e sofria de sérios problemas financeiros, mesmo querendo desenvolver sua suspensão ativa. A prova disso era que apenas um chassi novo estava disponível e Johnny Herbert ficou com ele, enquanto Zanardi utilizaria o carro do ano anterior revisado. Um acidente com Damon Hill não seria a melhor forma de recomeçar na F1, mas Zanardi se recuperaria rapidamente e no famoso Grande Prêmio do Brasil, o italiano marcaria aquele que seria seu único ponto na F1 com um sexto lugar. Mesmo andando bem algumas corridas, Zanardi teria alguns azares incríveis e não marcaria mais pontos, mesmo fazendo ótimas corridas. Seu ritmo de corrida era excelente, mas seu desempenho nos treinos deixava muito a desejar, inclusive sendo 1s mais lento do que Herbert em Monte Carlo. Embora a combatividade de Zanardi estava clara durante o domingo, isso acontecia por causa das más atuações do italiano no sábado. Além disso, o projeto da nova suspensão ativa da Lotus era um fracasso e na única vez em que Zanardi superou Herbert na classificação na França, o italiano teve vários problemas com a suspensão durante a corrida. Para piorar, entre as corridas na Inglaterra e na Alemanha, Zanardi foi atropelado enquanto andava de bicicleta e perderia a corrida alemã. Porém, o pior momento de Zanardi na temporada acabaria sendo em Spa, quando o italiano se aproximava da Eau Rouge e a suspensão da Lotus quebrou bem na curva de alta velocidade, fazendo com que Zanardi se espatifasse no muro a mais de 240 km/h. Zanardi ficou inconsciente dentro do seu carro, mas surpreendentemente o italiano não sofreu nenhum ferimento grave e rapidamente estava de volta à ativa. Ou pensava que estava. Com os problemas financeiros se acentuando, a Lotus procurou um piloto com patrocínio para substituir Zanardi e os dólares de Pedro Lamy foram o suficiente para deixar o português no lugar do italiano para o resto da temporada. Frustrado, Zanardi teve que se contentar com o triste cargo de piloto de testes da Lotus, que sem dinheiro, praticamente não testava.
Assim foi ao longo de 1994, mas Zanardi voltaria à F1 pelos piores meios. Pedro Lamy sofreria um sério acidente num teste em Silverstone e permaneceria o resto da temporada de molho. Por essas coisas do destino, Zanardi percorreu o circuito de Silverstone por 397 vezes, enquanto Lamy teve a asa traseira quebrada, do nada, apenas em sua segunda volta... Porém, a Lotus estava em sua triste temporada de despedida e com um motor Mugen Honda pesado e um chassi ultrapassado, Zanardi sofreria bastante ao longo do ano, raramente largando acima dos vinte primeiros. Com a Lotus agonizando, Zanardi ainda cederia seu lugar na Lotus pelo piloto pagante Philippe Adams em duas corridas. Na Austrália, Zanardi seria o último piloto a correr pela Lotus, que fecharia suas portas no início de 1995. E naquele momento, as portas da F1 também estavam fechadas para Zanardi. Mas como se provaria mais tarde, não definitivamente. Sem patrocínio, Zanardi participaria apenas de algumas corridas de turismo eventuais, mas no final de 1995, Zanardi é convidado pelo diretor comercial da Reynard, Rick Gorne, para ir assistir aos treinos de pré-temporada da CART em Homestead, que vivia seu auge no momento. Chip Ganassi, usuário do chassi Reynard, procurava um companheiro de equipe para Jimmy Vasser em 1996 e deu uma chance para Zanardi. Morris Nunn, antigo chefe de equipe de F1 e engenheiro chefe da Ganassi, se impressiona com Zanardi e o indica para Ganassi, que o contrata por três temporadas. O que aconteceria a seguir entrou para a história da CART.
Logo em sua segunda corrida na CART, Zanardi consegue sua primeira pole no oval do Rio e após uma primeira metade de temporada ofuscada por Vasser, que acabaria como campeão, Zanardi começa uma sequencia sensacional com uma vitória dominante em Portland vindo da pole. A partir desta corrida, Alessandro larga na primeira fila nas oito corridas seguintes, além de conseguir seis poles e duas vitórias. A de Mid-Ohio ninguém lembra, mas a de Laguna Seca ficará para sempre marcada na história do automobilismo mundial. Zanardi vinha em segundo lugar atrás de Bryan Herta na última volta. Mesmo pressionando muito, Zanardi parecia conformado com a posição, além do mais, Herta era um especialista em Laguna Seca e corria atrás de sua primeira vitória na CART. Quando ambos se aproximaram da famosa curva Saca Rolha, Zanardi fez uma das manobras mais impressionantes das corridas, ganhando a posição de Herta faltando poucas curvas para a bandeirada. Costumo comparar esta manobra com a ultrapassagem de Piquet sobre Senna na Hungria em 1986. Só que mais plástica. Zanardi acabaria o ano como vice-campeão, vencedor do conceituado título de Novato do Ano e era favorito destacado para 1997. E Zanardi não decepcionou. Após duas poles nas duas primeiras corridas, o italiano conseguiu durante a temporada seis poles seguidas e onze aparições na primeira fila. Recorde na CART. Além disso, ele conseguiu vencer em Long Beach e Cleveland, além de fazer uma sequencia de três vitórias consecutivas (Michigan, Mid-Ohio e Elkhart Lake), além de outros dois pódios, derrotando Gil de Ferran por 33 pontos e conquistando seu primeiro título internacional desde 1987. A ótima fase continuou em 1998, onde em dezenove corridas, Zanardi conseguiu quinze pódios, sete vitórias, incluindo a série de quatro vitórias consecutivas, recorde absoluto da CART na época. No final do ano, Alessandro Zanardi tinha conquistado o bicampeonato com gigantescos 116 pontos de vantagem sobre seu companheiro de equipe Jimmy Vasser e no espaço de três anos, havia conquistado a América. Foram 28 pódios em 51 corridas. Além das suas sensacionais corridas dentro da pista, Zanardi se tornou um ídolo nos Estados Unidos, ganhando vários apelidos, como Papa-Léguas e Abacaxi. Após sua vitória em Cleveland em 1997, Zanardi começar a dar cavalos de pau com seu carro e essa celebração se tornou sua marca registrada, sendo também conhecido como Mr. Donuts. Zanardi não apenas se tornou um grande piloto, mas também uma pessoa cativante e todos o adoravam. Porém, Zanardi ainda não estava satisfeito. Ainda com 32 anos de idade, Alex, como passou a ser chamado nos Estados Unidos, tinha o sonho de se estabelecer na F1. No final de 1997 a Williams fez os primeiros contatos com Zanardi e até mesmo a Ferrari cogitou a contratação do italiano como companheiro de equipe de Schumacher, tamanho era seu sucesso na Itália. Porém, em julho de 1998, no auge da popularidade do italiano, a Williams contratou Zanardi como piloto principal em 1999, um ano de transição antes da chegada da BMW no ano 2000, onde Zanardi seria o piloto principal.
Zanardi começou a testar com a Williams ainda em 1998 ao lado de Juan Pablo Montoya, que substituiria o italiano na Ganassi na CART. A Williams tinha um projeto de fazer com Zanardi o mesmo que fez com Villeneuve e no final o canadense acabou campeão do mundo. Porém, já nesses primeiros testes Zanardi não vinha se adaptando ao carro e quando Ralf Schumacher, teoricamente segundo piloto da equipe em 1999, chegou, a diferença entre os dois pilotos foi ficando clara. Mesmo tendo corrido apenas cinco anos antes, a F1 estava bem diferente do que Zanardi havia visto em 1994. Os carros eram mais estreitos e os pneus eram sulcados. Foi um choque para o italiano e os resultados se provariam desastrosos. Logo nas primeiras corridas a diferença entre Zanardi e Ralf Schumacher era clara, com o alemão ficando na pódio logo na corrida inaugural, enquanto Zanardi mal conseguiu um oitavo lugar antes de rodar e bater. Em Ímola, pista que conhecia bem, pela primeira vez Zanardi ficou próximo de Ralf Schumacher e durante a corrida o italiano estava brigando para pontuar, quando um motor quebrado de Hebert fez Alex rodar e abandonar. Zanardi superaria Ralf na Classificação pela primeira vez em Mônaco, mas o banco do italiano quebraria durante a corrida e sem nenhum conforto, Alex termina a prova apenas num opaco oitavo lugar, na época, fora dos pontos. Na França, Zanardi supera Ralf mais uma vez, mas enquanto o italiano aquaplanava durante a forte chuva que se abateu em Magny-Cours, Ralf conseguia um ótimo quarto lugar. Em Hockenheim, Zanardi teve um problema no diferencial durante a corrida e foi flagrado pelas câmeras de TV brigando com Arrows e Minardi pelas últimas posições da corrida. Aquilo tinha sido demais para a Williams e rumores diziam que Zanardi seria substituído ainda em 1999, mas o italiano daria sua respostas em Spa e Monza, onde fez suas melhores corridas no ano, porém, sem pontos. Na última corrida da temporada em Suzuka, todos sabiam que Zanardi estava fora dos planos da Williams para 2000 e 2001 e sem marcar nenhum ponto, Zanardi e a Williams se separaram amigavelmente. Apesar do vexame, o italiano deixou muitos amigos na Williams e tinha o respeito de Patrick Head e Frank Williams, algo difícil de acontecer para uma equipe famosa por despedir seus pilotos campeões. Várias versões surgiram para que o piloto arrasador do biênio 1997-98 na CART tivesse atuações tão fracas na F1 em 1999. Freios diferentes, ambiente ruim da F1 e até mesmo a fraqueza da CART em comparação a F1 foram algumas das explicações, mas a verdade é que Zanardi saiu da F1 após 44 corridas e apenas um único ponto.
Após sua passagem ruim na Europa, Zanardi deixou as corridas por um tempo e passou a se dedicar mais a família, mas quando Tony Kanaan sofreu um acidente em Toronto no ano 2000, o italiano foi convidado por Morris Nunn, agora chefe de equipe, para testar o carro da CART no lugar do brasileiro machucado. Nunn tinha um grande entendimento com Zanardi desde os áureos tempos da CART e lhe ofereceu um cockpit para 2001. Zanardi tinha vários convites de outras equipes, como a Green, Newman-Hass e a própria Ganassi, mas o italiano permaneceu fiel a Nunn e assinou com a equipe. Porém, ao contrário do que imaginava, Zanardi não teria mais Nunn como engenheiro e o entendimento com o amigo não era o mesmo dos tempos da Ganassi. Como resultado, Zanardi raramente largava acima dos vinte primeiros colocados e seu melhor resultado acabou sendo em Toronto, quando saiu da humilde 24º posição no grid para quarto na bandeirada, pouco mais de 5s atrás do vencedor Michael Andretti. Quando a CART se preparava para correr na Europa após vinte anos, o terrorismo lançou seu ataque mais mortífero na história e para sempre a terça-feira de 11 de setembro de 2001 ficará marcado na história. Naquele sábado, haveria uma corrida no novo circuito de Lausitzring, Alemanha. A corrida quase não aconteceu por causa do cancelamento de todos os vôos nos Estados Unidos naquela semana, mas as equipes ainda conseguiram viajar para Alemanha e encontrar um clima inconstante, onde a chuva cancelou praticamente todos os treinos. O grid foi decidido com base na classificação do campeonato e Zanardi largaria apenas em 22º. Porém, no único treino realizado, a equipe Mo Nunn ficou com as duas primeiras posições e mostrando o bom acerto dos carros, Tony Kanaan e Alex Zanardi lideravam a corrida quando a tragédia aconteceu. Para tristeza da equipe Mo Nunn, um splash-and-go era necessário para os dois pilotos no final da prova. Kanaan fez sua parada normalmente e duas voltas depois foi a vez de Zanardi. O trabalho com o italiano foi rápido, mas na ânsia de voltar logo a pista, Zanardi acaba acelerando demais com os pneus frios e roda, indo para o meio da pista. A mais de 300 km/h, os dois carros da Forsythe se aproximaram do carro parado de Zanardi e no susto, Patrick Carpentier desviou do italiano. Alexandre Tagliani não teve a mesma sorte.
A pancada foi muito violenta e acertou o carro de Zanardi bem no meio. O forte impacto arrancou toda a dianteira do carro do italiano e decepou suas pernas na hora. A equipe do dr. Terry Trammel chegou em poucos segundos e segundo consta, para estancar a hemorragia, Trammel utilizou o cinto de segurança de Zanardi como torniquete. Zanardi perdeu 75% do sangue no seu corpo e o capelão da CART chegou a dar a extrema-unção ao italiano. Steve Olvey mandou Zanardi para Berlin de helicóptero, onde seu coração parou três vezes e seu corpo tinha apenas um litro de sangue. Uma cirurgia de emergência amputou as coxas de Zanardi, limpou suas feridas e após transfusões de sangue em enormes quantidades, o italiano teve sua vida salva. Ele passou três dias em coma induzido e quando acordou, Daniela deu a triste notícia de que suas pernas estavam amputadas. Zanardi sorriu e apenas disse: Estou vivo e tenho você e Niccolo. Então está bem. Amigos como Vasser e Kanaan foram visitá-lo e foi dada a ordem para ninguém chorar, mas quando entraram, viram um Zanardi incrivelmente sorridente. Kanaan disse que o italiano cobrou um tênis que ele havia emprestado. Após o choque que seu acidente provocou no mundo, Zanardi deu outras demonstrações de amor a vida e determinação em superar grandes obstáculos, emocionando a todos que temeram o pior naquele 15 de setembro de 2001. Seis semanas depois do acidente, Zanardi estava de volta a casa e começou sua adaptação as novas próteses que substituíram suas pernas. Logo em estava dirigindo um carro adaptado e em 2002 ele voltou ao paddock da Indy, onde encontrou a equipe que salvou sua vida e Tagliani, que se martirizou bastante pelo acidente até aquele dia. Em 2003, como forma de homenagem a Zanardi, um carro da CART foi adaptado para que o italiano completasse as treze voltas que faltavam em Lausitizring. Aplaudido de pé, Zanardi andou tão bem que surpreendeu a todos que o viram naquele dia. Ele teria condições de correr um dia? Em 2004 ele foi contratado pela BMW para fazer parte do campeonato europeu de turismo, além de participar das 500 Milhas da Granja Viana de kart ao lado de Jimmy Vasser, Michel Jourdain Jr e Oriol Servia. Com um kart adaptado, a equipe de Zanardi terminou em quarto lugar. Em 2005, Zanardi conseguiria outro feito quando venceu uma etapa do WTCC em Oschersleben, se tornando o primeiro amputado a vencer uma corrida de uma categoria internacional. Em 2006, foi a vez da F1 prestar reverência a Zanardi e a BMW preparou um carro adaptado ao italiano para dar umas voltas com o carro da equipe de F1 na pista Valencia. Zanardi abandonaria às pistas no final de 2007 e hoje se prepara para participar das Olimpíadas Paraolímpicas, além de participar de maratonas para amputados. Alessandro Zanardi superou todas as adversidades para se tornar um dos grandes do automobilismo, mesmo não tendo obtido o sucesso merecido na F1, mas foi sua alegria e sua determinação que fizeram deste italiano um dos melhores homens a participar de uma corrida de competição.
Parabéns!
Alessandro Zanardi
Alessandro Leone Zanardi nasceu no dia 23 de outubro de 1966 em Bologna, na Itália, exatamente no dia do Grande Prêmio do México. Filho de um encanador, o pequeno Alessandro viu de perto uma tragédia que fez com que demorasse um pouco a conhecer de perto as corridas. Sua irmã mais velha, Cristina, uma promessa da natação italiana, faleceu em 1979 vítima de um acidente de trânsito e seus pais tentaram manter Zanardi longe de qualquer coisa de quatro rodas e motor. Porém, Alessandro começou a trabalhar com um amigo em um kart e rapidamente o jovem de 13 anos estava apaixonado pelas corridas. Como gostavam muito de esportes, os pais Dino e Anna Zanardi deixaram com que Alessandro corresse, mas sem poder apoiá-lo financeiramente. Zanardi construiu seu primeiro kart usando rodas de um caixote de lixo e tubos que encontrou no trabalho do seu pai e com esse arremedo de carro de corrida Alessandro participou de suas primeiras corridas de kart em 1980 e 1981, em competições locais. Em 1982 ele começou a competir no Campeonato Italiano de Kart e terminou o certame em terceiro lugar, tendo seu pai como único mecânico e usando apenas um jogo de pneus. Zanardi foi escolhido como um dos melhores pilotos italianos de kart na época, mas em 1985 ele ainda não havia conquistado um resultado de relevo, capaz de levá-lo aos monopostos, que era seu objetivo. Finalmente ele seria campeão italiano em 1985, além de vencer o campeonato europeu em 1988 com um aproveitamento de 100% nas cinco corridas do certame, um recorde que não seria igualado. Depois de oito anos no kart, Zanardi finalmente pulou para os monopostos e estreou na F3 Italiana em 1988, já com 22 anos, uma idade um pouco avançada para um jovem piloto. Ainda assim, Zanardi pareceu ter dado um passo maior do que a perna ao pular direto para a F3 e seu primeiro ano na categoria lhe reservou apenas um 5º lugar.
Em 1989 Alessandro se transferiu para a equipe Ter Erre Racing e lá conheceu Daniela, com quem acabaria se casando oito anos mais tarde. O affair fez bem a Zanardi e ele conseguiu duas poles e três pódios, mesmo com um problema em seu motor Toyota. Mesmo tendo evoluído, Zanardi faz algo incomum para um piloto numa categoria de base e tenta um terceiro ano na F3, onde consegue suas primeiras vitórias e brigou pelo título, mas acabaria perdendo o campeonato para Roberto Colciago por apenas três pontos. Além do certame italiano, Alessandro Zanardi participou com sucesso de algumas corridas internacionais e com isso o piloto italiano pulou para a F3000 Internacional em 1991, na equipe novata Il Barone Rampante. Aos 25 anos de idade, Zanardi já não era um imberbe garoto querendo chegar na F1, apesar de esse ser claramente seu objetivo, mas o italiano não tinha tempo a perder e decidiu que aquela temporada seria decisiva. E realmente foi. A F3000 sempre foi muito cruel com alguns dos seus novatos, mas Zanardi foi um ponto fora da reta e logo na primeira corrida na categoria, o italiano conseguiu a pole e venceu de ponta a ponta a prova em Vallelunga. Na verdade, Zanardi não largaria nenhuma vez abaixo do quarto lugar e conquistaria a pole outras duas vezes. Alessandro venceria novamente em Mugello, outra pista que ele conhecia, mas os quatro abandonos durante o ano (sendo que em três oportunidades Alex estava na liderança) acabariam sendo fatais para as chances de título do italiano. O principal rival de Zanardi naquele campeonato foi o brasileiro Christian Fittipaldi, que abandonou apenas duas corridas e tinha a regularidade como seu ponto forte. O sobrinho de Emerson Fittipaldi acabaria derrotando Zanardi por cinco pontos. Como prêmio de consolação, Zanardi venceria o Casco d’Oro como melhor piloto italiano do ano.
Essa temporada arrebatadora acabaria rendendo dividendos a Zanardi e ainda no verão de 1991 o italiano realizaria seu primeiro teste em um carro de F1, com a equipe Arrows, em Paul Ricard. Seu segundo contato com a F1 se daria com a Jordan e o primeiro encontro com o irlandês teria um toque de galhardia. Conta a lenda que Eddie Jordan foi a Le Mans, durante uma etapa da F3000, atrás de Zanardi e simplesmente não o encontrava. Não restando outra alternativa, Jordan anunciou pelos alto-falantes do circuito francês que estava a procura de Alessandro Zanardi para que ele corresse na equipe Jordan de F1 nas últimas etapas do campeonato de 1991! Claro que Zanardi aceitou a proposta e o italiano faria sua estréia na F1 em Barcelona, onde mesmo sofrendo um acidente na última volta, Alessandro mostrou um bom potencial. Nas duas corridas no oriente, Zanardi não comprometeu, inclusive na chuvosa última etapa do ano, em Adelaide, o italiano marcou a quinta volta mais rápida do dia, atrás ‘apenas’ de Berger, Senna, Piquet e Mansell. E à frente de Michael Schumacher, um antigo rival dos tempos de kart e muito amigo do italiano. Eddie Jordan queria manter Zanardi na equipe em 1992, mas se Alessandro tinha o talento, lhe faltava algo essencial no automobilismo: dinheiro. Eddie Jordan tinha gasto muito dinheiro em sua primeira (e boa) temporada na F1 e precisava de patrocínio. Mesmo Zanardi tendo participado de todos os testes pré-temporada de 1992 pela Jordan ao lado de Stefano Modena, Maurício Gugelmin chegou de última hora com um bom patrocínio e Zanardi acabou tendo que abandonar o time nas vésperas do início do campeonato. Contudo, o talento de Zanardi não tinha passado despercebido e outros chefes de equipe já estavam de olho nele. Quando a Jordan o abandonou, Ken Tyrrell, desde os anos 70 um caçador de talentos, contratou Zanardi para sua equipe, mas o velho Tio Ken passava pelos mesmos problemas de Jordan e quando a equipe já estava se preparando para viajar para a África do Sul para a primeira etapa do campeonato, Andrea de Cesaris apareceu com um bom patrocinador e novamente Zanardi estava a pé, agora com todos os postos da F1 devidamente ocupados. Porém, não foi apenas Eddie Jordan e Ken Tyrrell que gostaram de Zanardi. Assim como fez com Schumacher quando o alemão estreou na F1, Flavio Briatore se impressionara com Zanardi e sem poder lhe oferecer um lugar como titular, contrata o compatriota como piloto de testes oficial da Benetton, além da promessa de ser titular em breve.
A missão de Zanardi era desenvolver a suspensão ativa da Benetton, algo que o italiano conseguiu, mas bem antes do esperado, Alessandro estaria de volta às corridas de F1. Durante os treinos para o Grande Prêmio da França, Christian Fittipaldi, antigo rival de Zanardi na F3000, bateu muito forte e quebrou a quinta vértebra, tendo que ficar fora das corridas por dois meses. Zanardi assumiu o seu lugar na Minardi, mas o chassi ruim e o complicado motor Lamborghini V12 não permitiu a Alex conquistar bons resultados. Após três corridas pela Minardi, Zanardi voltou ao cargo de piloto de testes da Benetton e o italiano ainda teve que enfrenta uma pneumonia, que o atrapalhou em sua busca de um lugar na F1 em 1993. Durante um teste na pré-temporada, a Zanardi foi pedido uma simulação de uma corrida em Paul Ricard e o italiano foi mais rápido no tempo geral do que Schumacher. O chefe de equipe da Lotus Peter Collins estava presente naquele dia e como o inglês estava procurando um bom piloto para substituir Mika Hakkinen para 1993 e com experiência em suspensão ativa, Zanardi era o nome ideal. Porém, a Lotus nem de longe era a equipe grande de anos atrás e sofria de sérios problemas financeiros, mesmo querendo desenvolver sua suspensão ativa. A prova disso era que apenas um chassi novo estava disponível e Johnny Herbert ficou com ele, enquanto Zanardi utilizaria o carro do ano anterior revisado. Um acidente com Damon Hill não seria a melhor forma de recomeçar na F1, mas Zanardi se recuperaria rapidamente e no famoso Grande Prêmio do Brasil, o italiano marcaria aquele que seria seu único ponto na F1 com um sexto lugar. Mesmo andando bem algumas corridas, Zanardi teria alguns azares incríveis e não marcaria mais pontos, mesmo fazendo ótimas corridas. Seu ritmo de corrida era excelente, mas seu desempenho nos treinos deixava muito a desejar, inclusive sendo 1s mais lento do que Herbert em Monte Carlo. Embora a combatividade de Zanardi estava clara durante o domingo, isso acontecia por causa das más atuações do italiano no sábado. Além disso, o projeto da nova suspensão ativa da Lotus era um fracasso e na única vez em que Zanardi superou Herbert na classificação na França, o italiano teve vários problemas com a suspensão durante a corrida. Para piorar, entre as corridas na Inglaterra e na Alemanha, Zanardi foi atropelado enquanto andava de bicicleta e perderia a corrida alemã. Porém, o pior momento de Zanardi na temporada acabaria sendo em Spa, quando o italiano se aproximava da Eau Rouge e a suspensão da Lotus quebrou bem na curva de alta velocidade, fazendo com que Zanardi se espatifasse no muro a mais de 240 km/h. Zanardi ficou inconsciente dentro do seu carro, mas surpreendentemente o italiano não sofreu nenhum ferimento grave e rapidamente estava de volta à ativa. Ou pensava que estava. Com os problemas financeiros se acentuando, a Lotus procurou um piloto com patrocínio para substituir Zanardi e os dólares de Pedro Lamy foram o suficiente para deixar o português no lugar do italiano para o resto da temporada. Frustrado, Zanardi teve que se contentar com o triste cargo de piloto de testes da Lotus, que sem dinheiro, praticamente não testava.
Assim foi ao longo de 1994, mas Zanardi voltaria à F1 pelos piores meios. Pedro Lamy sofreria um sério acidente num teste em Silverstone e permaneceria o resto da temporada de molho. Por essas coisas do destino, Zanardi percorreu o circuito de Silverstone por 397 vezes, enquanto Lamy teve a asa traseira quebrada, do nada, apenas em sua segunda volta... Porém, a Lotus estava em sua triste temporada de despedida e com um motor Mugen Honda pesado e um chassi ultrapassado, Zanardi sofreria bastante ao longo do ano, raramente largando acima dos vinte primeiros. Com a Lotus agonizando, Zanardi ainda cederia seu lugar na Lotus pelo piloto pagante Philippe Adams em duas corridas. Na Austrália, Zanardi seria o último piloto a correr pela Lotus, que fecharia suas portas no início de 1995. E naquele momento, as portas da F1 também estavam fechadas para Zanardi. Mas como se provaria mais tarde, não definitivamente. Sem patrocínio, Zanardi participaria apenas de algumas corridas de turismo eventuais, mas no final de 1995, Zanardi é convidado pelo diretor comercial da Reynard, Rick Gorne, para ir assistir aos treinos de pré-temporada da CART em Homestead, que vivia seu auge no momento. Chip Ganassi, usuário do chassi Reynard, procurava um companheiro de equipe para Jimmy Vasser em 1996 e deu uma chance para Zanardi. Morris Nunn, antigo chefe de equipe de F1 e engenheiro chefe da Ganassi, se impressiona com Zanardi e o indica para Ganassi, que o contrata por três temporadas. O que aconteceria a seguir entrou para a história da CART.
Logo em sua segunda corrida na CART, Zanardi consegue sua primeira pole no oval do Rio e após uma primeira metade de temporada ofuscada por Vasser, que acabaria como campeão, Zanardi começa uma sequencia sensacional com uma vitória dominante em Portland vindo da pole. A partir desta corrida, Alessandro larga na primeira fila nas oito corridas seguintes, além de conseguir seis poles e duas vitórias. A de Mid-Ohio ninguém lembra, mas a de Laguna Seca ficará para sempre marcada na história do automobilismo mundial. Zanardi vinha em segundo lugar atrás de Bryan Herta na última volta. Mesmo pressionando muito, Zanardi parecia conformado com a posição, além do mais, Herta era um especialista em Laguna Seca e corria atrás de sua primeira vitória na CART. Quando ambos se aproximaram da famosa curva Saca Rolha, Zanardi fez uma das manobras mais impressionantes das corridas, ganhando a posição de Herta faltando poucas curvas para a bandeirada. Costumo comparar esta manobra com a ultrapassagem de Piquet sobre Senna na Hungria em 1986. Só que mais plástica. Zanardi acabaria o ano como vice-campeão, vencedor do conceituado título de Novato do Ano e era favorito destacado para 1997. E Zanardi não decepcionou. Após duas poles nas duas primeiras corridas, o italiano conseguiu durante a temporada seis poles seguidas e onze aparições na primeira fila. Recorde na CART. Além disso, ele conseguiu vencer em Long Beach e Cleveland, além de fazer uma sequencia de três vitórias consecutivas (Michigan, Mid-Ohio e Elkhart Lake), além de outros dois pódios, derrotando Gil de Ferran por 33 pontos e conquistando seu primeiro título internacional desde 1987. A ótima fase continuou em 1998, onde em dezenove corridas, Zanardi conseguiu quinze pódios, sete vitórias, incluindo a série de quatro vitórias consecutivas, recorde absoluto da CART na época. No final do ano, Alessandro Zanardi tinha conquistado o bicampeonato com gigantescos 116 pontos de vantagem sobre seu companheiro de equipe Jimmy Vasser e no espaço de três anos, havia conquistado a América. Foram 28 pódios em 51 corridas. Além das suas sensacionais corridas dentro da pista, Zanardi se tornou um ídolo nos Estados Unidos, ganhando vários apelidos, como Papa-Léguas e Abacaxi. Após sua vitória em Cleveland em 1997, Zanardi começar a dar cavalos de pau com seu carro e essa celebração se tornou sua marca registrada, sendo também conhecido como Mr. Donuts. Zanardi não apenas se tornou um grande piloto, mas também uma pessoa cativante e todos o adoravam. Porém, Zanardi ainda não estava satisfeito. Ainda com 32 anos de idade, Alex, como passou a ser chamado nos Estados Unidos, tinha o sonho de se estabelecer na F1. No final de 1997 a Williams fez os primeiros contatos com Zanardi e até mesmo a Ferrari cogitou a contratação do italiano como companheiro de equipe de Schumacher, tamanho era seu sucesso na Itália. Porém, em julho de 1998, no auge da popularidade do italiano, a Williams contratou Zanardi como piloto principal em 1999, um ano de transição antes da chegada da BMW no ano 2000, onde Zanardi seria o piloto principal.
Zanardi começou a testar com a Williams ainda em 1998 ao lado de Juan Pablo Montoya, que substituiria o italiano na Ganassi na CART. A Williams tinha um projeto de fazer com Zanardi o mesmo que fez com Villeneuve e no final o canadense acabou campeão do mundo. Porém, já nesses primeiros testes Zanardi não vinha se adaptando ao carro e quando Ralf Schumacher, teoricamente segundo piloto da equipe em 1999, chegou, a diferença entre os dois pilotos foi ficando clara. Mesmo tendo corrido apenas cinco anos antes, a F1 estava bem diferente do que Zanardi havia visto em 1994. Os carros eram mais estreitos e os pneus eram sulcados. Foi um choque para o italiano e os resultados se provariam desastrosos. Logo nas primeiras corridas a diferença entre Zanardi e Ralf Schumacher era clara, com o alemão ficando na pódio logo na corrida inaugural, enquanto Zanardi mal conseguiu um oitavo lugar antes de rodar e bater. Em Ímola, pista que conhecia bem, pela primeira vez Zanardi ficou próximo de Ralf Schumacher e durante a corrida o italiano estava brigando para pontuar, quando um motor quebrado de Hebert fez Alex rodar e abandonar. Zanardi superaria Ralf na Classificação pela primeira vez em Mônaco, mas o banco do italiano quebraria durante a corrida e sem nenhum conforto, Alex termina a prova apenas num opaco oitavo lugar, na época, fora dos pontos. Na França, Zanardi supera Ralf mais uma vez, mas enquanto o italiano aquaplanava durante a forte chuva que se abateu em Magny-Cours, Ralf conseguia um ótimo quarto lugar. Em Hockenheim, Zanardi teve um problema no diferencial durante a corrida e foi flagrado pelas câmeras de TV brigando com Arrows e Minardi pelas últimas posições da corrida. Aquilo tinha sido demais para a Williams e rumores diziam que Zanardi seria substituído ainda em 1999, mas o italiano daria sua respostas em Spa e Monza, onde fez suas melhores corridas no ano, porém, sem pontos. Na última corrida da temporada em Suzuka, todos sabiam que Zanardi estava fora dos planos da Williams para 2000 e 2001 e sem marcar nenhum ponto, Zanardi e a Williams se separaram amigavelmente. Apesar do vexame, o italiano deixou muitos amigos na Williams e tinha o respeito de Patrick Head e Frank Williams, algo difícil de acontecer para uma equipe famosa por despedir seus pilotos campeões. Várias versões surgiram para que o piloto arrasador do biênio 1997-98 na CART tivesse atuações tão fracas na F1 em 1999. Freios diferentes, ambiente ruim da F1 e até mesmo a fraqueza da CART em comparação a F1 foram algumas das explicações, mas a verdade é que Zanardi saiu da F1 após 44 corridas e apenas um único ponto.
Após sua passagem ruim na Europa, Zanardi deixou as corridas por um tempo e passou a se dedicar mais a família, mas quando Tony Kanaan sofreu um acidente em Toronto no ano 2000, o italiano foi convidado por Morris Nunn, agora chefe de equipe, para testar o carro da CART no lugar do brasileiro machucado. Nunn tinha um grande entendimento com Zanardi desde os áureos tempos da CART e lhe ofereceu um cockpit para 2001. Zanardi tinha vários convites de outras equipes, como a Green, Newman-Hass e a própria Ganassi, mas o italiano permaneceu fiel a Nunn e assinou com a equipe. Porém, ao contrário do que imaginava, Zanardi não teria mais Nunn como engenheiro e o entendimento com o amigo não era o mesmo dos tempos da Ganassi. Como resultado, Zanardi raramente largava acima dos vinte primeiros colocados e seu melhor resultado acabou sendo em Toronto, quando saiu da humilde 24º posição no grid para quarto na bandeirada, pouco mais de 5s atrás do vencedor Michael Andretti. Quando a CART se preparava para correr na Europa após vinte anos, o terrorismo lançou seu ataque mais mortífero na história e para sempre a terça-feira de 11 de setembro de 2001 ficará marcado na história. Naquele sábado, haveria uma corrida no novo circuito de Lausitzring, Alemanha. A corrida quase não aconteceu por causa do cancelamento de todos os vôos nos Estados Unidos naquela semana, mas as equipes ainda conseguiram viajar para Alemanha e encontrar um clima inconstante, onde a chuva cancelou praticamente todos os treinos. O grid foi decidido com base na classificação do campeonato e Zanardi largaria apenas em 22º. Porém, no único treino realizado, a equipe Mo Nunn ficou com as duas primeiras posições e mostrando o bom acerto dos carros, Tony Kanaan e Alex Zanardi lideravam a corrida quando a tragédia aconteceu. Para tristeza da equipe Mo Nunn, um splash-and-go era necessário para os dois pilotos no final da prova. Kanaan fez sua parada normalmente e duas voltas depois foi a vez de Zanardi. O trabalho com o italiano foi rápido, mas na ânsia de voltar logo a pista, Zanardi acaba acelerando demais com os pneus frios e roda, indo para o meio da pista. A mais de 300 km/h, os dois carros da Forsythe se aproximaram do carro parado de Zanardi e no susto, Patrick Carpentier desviou do italiano. Alexandre Tagliani não teve a mesma sorte.
A pancada foi muito violenta e acertou o carro de Zanardi bem no meio. O forte impacto arrancou toda a dianteira do carro do italiano e decepou suas pernas na hora. A equipe do dr. Terry Trammel chegou em poucos segundos e segundo consta, para estancar a hemorragia, Trammel utilizou o cinto de segurança de Zanardi como torniquete. Zanardi perdeu 75% do sangue no seu corpo e o capelão da CART chegou a dar a extrema-unção ao italiano. Steve Olvey mandou Zanardi para Berlin de helicóptero, onde seu coração parou três vezes e seu corpo tinha apenas um litro de sangue. Uma cirurgia de emergência amputou as coxas de Zanardi, limpou suas feridas e após transfusões de sangue em enormes quantidades, o italiano teve sua vida salva. Ele passou três dias em coma induzido e quando acordou, Daniela deu a triste notícia de que suas pernas estavam amputadas. Zanardi sorriu e apenas disse: Estou vivo e tenho você e Niccolo. Então está bem. Amigos como Vasser e Kanaan foram visitá-lo e foi dada a ordem para ninguém chorar, mas quando entraram, viram um Zanardi incrivelmente sorridente. Kanaan disse que o italiano cobrou um tênis que ele havia emprestado. Após o choque que seu acidente provocou no mundo, Zanardi deu outras demonstrações de amor a vida e determinação em superar grandes obstáculos, emocionando a todos que temeram o pior naquele 15 de setembro de 2001. Seis semanas depois do acidente, Zanardi estava de volta a casa e começou sua adaptação as novas próteses que substituíram suas pernas. Logo em estava dirigindo um carro adaptado e em 2002 ele voltou ao paddock da Indy, onde encontrou a equipe que salvou sua vida e Tagliani, que se martirizou bastante pelo acidente até aquele dia. Em 2003, como forma de homenagem a Zanardi, um carro da CART foi adaptado para que o italiano completasse as treze voltas que faltavam em Lausitizring. Aplaudido de pé, Zanardi andou tão bem que surpreendeu a todos que o viram naquele dia. Ele teria condições de correr um dia? Em 2004 ele foi contratado pela BMW para fazer parte do campeonato europeu de turismo, além de participar das 500 Milhas da Granja Viana de kart ao lado de Jimmy Vasser, Michel Jourdain Jr e Oriol Servia. Com um kart adaptado, a equipe de Zanardi terminou em quarto lugar. Em 2005, Zanardi conseguiria outro feito quando venceu uma etapa do WTCC em Oschersleben, se tornando o primeiro amputado a vencer uma corrida de uma categoria internacional. Em 2006, foi a vez da F1 prestar reverência a Zanardi e a BMW preparou um carro adaptado ao italiano para dar umas voltas com o carro da equipe de F1 na pista Valencia. Zanardi abandonaria às pistas no final de 2007 e hoje se prepara para participar das Olimpíadas Paraolímpicas, além de participar de maratonas para amputados. Alessandro Zanardi superou todas as adversidades para se tornar um dos grandes do automobilismo, mesmo não tendo obtido o sucesso merecido na F1, mas foi sua alegria e sua determinação que fizeram deste italiano um dos melhores homens a participar de uma corrida de competição.
Parabéns!
Alessandro Zanardi
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