O fato do circuito de Montmeló ser o mais utilizado para testes desde sua inauguração no começo da década de 1990 tem mais haver com o lay-out do circuito espanhol do que propriamente o clima ibérico em si, principalmente durante o inverno. Suas curvas rápidas, médias e lentas, juntamente com o retão faz do que o autódromo em Barcelona o local ideal para se definir quem tem um carro bom ou não. Tanto que muitos vencedores do Grande Prêmio da Espanha acabam se tornando campeões no final da temporada. Olhando para esse parâmetro, a Ferrari deu um passo enorme para dar a Fernando Alonso seu sonhado tricampeonato. O piloto asturiano deu um show à parte com uma pilotagem brilhante desde a excelente largada, se beneficiou com a estratégia muito boa da Ferrari que o colocou à frente de Vettel após a primeira rodada de paradas e engoliu Nico Rosberg em sua decadente Mercedes. Daí para frente, Alonso dominou a corrida e chegou a ter 40s de vantagem sobre o principal carro dos últimos anos, a Red Bull de Sebastian Vettel. Provando o quão bom está a Ferrari, Massa conseguiu o seu primeiro pódio em outra pilotagem muito boa, mas não tão boa como a de Raikkonen que, quietinho, quietinho, é o vice-líder do campeonato com apenas quatro pontos de desvantagem sobre o líder Vettel.
O Grande Prêmio da Espanha foi acima da sua média histórica, mas menos emocionante do que as quatro corridas anteriores. A prova na Espanha sempre foi caracterizada pela chatice de enormes trenzinhos onde ninguém passa ninguém. Com os pneus de papel da Pirelli e o DRS, houve várias ultrapassagens, mesmo que algumas consentidas, pela estratégia de cada um durante a prova, onde a maioria parou quatro (!) vezes. Alonso foi um deles e logo na largada ele mostrou suas credenciais. O espanhol foi atrapalhado pela lenta largada de Vettel, mas o ferrarista ficou por fora na longa curva 3 e simplesmente passou Raikkonen e Hamilton numa manobra sensacional, subindo para o terceiro lugar. Rosberg se mantinha em primeiro, mas seu ritmo era nitidamente inferior aos que vinham atrás dele, mas Alonso havia declarado no sábado que seus rivais verdadeiros eram Vettel e Raikkonen, sendo que o alemão ainda estava à sua frente. Pois Alonso antecipou sua parada e quando Nico e Vettel pararam na volta seguinte, o espanhol se meteu entre os dois e ganhou a prova ali, pois Rosberg, com pneus duros, perdeu ainda mais rendimento e não foi capaz de segurar os dois grandes pilotos da atualidade, mas quem esperava por uma briga acirrada entre eles, Alonso simplesmente desapareceu, somente se preocupando em poupar seus pneus, mas nem por isso deixando os adversários na poeira. Alonso venceu pela segunda vez na frente dos seus compatriotas e agora está empatado com Vettel no quesito vitórias (duas cada), mas ainda tem que recuperar dos dois problemas nas corridas anteriores que fizeram com que Fernando estivesse apenas terceiro no Mundial de pilotos. E a Ferrari tem dois pilotos para marcar bons pontos, pois Felipe Massa fez uma corrida digna de nota, tão boa como as ótimas corridas que fez na segunda metade de 2012. O brasileiro fez uma largada agressiva, tentando se recuperar da sua merecida punição no sábado (ele atrapalhou Webber claramente, apesar do chororô de Galvão) e no final da primeira volta estava, coincidentemente, na posição que largaria originalmente. Massa fez o que dele a Ferrari espera: tirou pontos dos rivais. Felipe ultrapassou as Mercedes com a mesma facilidade com que Alonso e Raikkonen o fizeram, ficando atrás de Vettel. Tendo o alemão como grande rival de Alonso, Massa fez de tudo para chegar à frente de Vettel e o fez com relativa tranquilidade, não sendo capaz de superar Raikkonen e completar a dobradinha, mas o que importa é que Massa está em quinto lugar no campeonato, sua melhor posição em anos. Ótimo resultado para Felipe.
Kimi Raikkonen vem mostrando que o tempo vem fazendo-o pilotar ainda melhor e hoje não foi nenhuma exceção. Sua pilotagem foi de tal maneira boa que acabou fazendo as demais equipes tentarem emular a Lotus e colocar pneus médios em determinados momentos da corrida, onde a lógica indicava os pneus duros. Raikkonen levou seu carro rumo a uma estratégia de uma parada menos e em nenhum momento andou muito mais lento que os demais, não importando como estava 'calçado'. Foi uma verdadeira aula de pilotagem de Kimi e mesmo sem ter o melhor carro do ano, está num ótimo segundo lugar do campeonato, diretamente na luta pelo título. Isso, se a Lotus conseguir manter esse ritmo, pois a quebra da suspensão de Grosjean, ainda no começo da prova, não é um bom indicador. Montmeló, circuito onde Adryan Newey tem mais vitórias em sua gloriosa carreira, viu uma Red Bull até mesmo perdida e Vettel ficou longe não apenas da vitória, como do pódio. O alemão não foi páreo para as Ferraris e no desespero, até mudou a estratégia de três para quatro paradas, tentando imitar o desempenho de Raikkonen, mas acabou ainda mais atrás, longe de Massa. Foi uma corrida opaca de Vettel, continuando seu jejum de vitórias na Europa. Já Mark Webber necessita urgentemente passar o dia inteiro treinando largadas, pois hoje foi a enésima vez que o australiano largou mal e sétimo caiu para décimo terceiro, mas com um bom ritmo, conseguiu subir ao quinto lugar, demonstrando que, com um bom posicionamento de pista, teria chances de brigar mais à frente, ou até mesmo se vingar de Vettel, talvez a maior motivação de Webber hoje em dia.
Alguém precisa avisar ao pessoal da Mercedes que os pontos do campeonato são ganhos no domingo, não no sábado. O ritmo do time germânico beirou o ridículo e ainda no início da prova Hamilton, que largara em segundo, brigava para se manter na zona de pontuação. E não conseguiu! O inglês foi apenas 12º, enquanto Rosberg conseguiu conservar um pouco mais seus pneus, suportando a pressão de Vettel e Alonso no primeiro stint de corrida, mas sucumbindo quando colocou pneus duros. Ao menos Rosberg salvou pontos com o sexto lugar, mas a Mercedes precisa acordar para seu desastroso ritmo de corrida, principalmente em comparação ao ritmo de classificação. A Force India provou que fez um bom carro e que Paul di Resta evoluiu e está tentando fazer por onde ganhar um lugar numa equipe grande no futuro ao ficar num bom sétimo lugar, mesmo que o escocês não sendo tão brilhante como no Bahrein. Adrian Sutil foi vítima de outro pit-stop ruim da Force India e ficou longe dos pontos. A McLaren continua com seu calvário. Jenson Button usou sua delicadeza no trato com o carro para fazer três paradas e subir para o oitavo lugar, ficando à frente de Pérez, que largou bem à frente do companheiro de equipe, mas também foi vítima do desgaste dos pneus e fez uma estratégia convencional. A Toro Rosso ficou com o ponto final para o acendente Daniel Ricciardo, que ainda viu seu companheiro de equipe e rival Jean-Eric Vergne ficar pelo caminho, sendo um dos poucos a abandonar.
Duas equipes que se destacaram no ano passado estão passando por várias dificuldades nesse ano. A Sauber fez uma corrida discreta, mas ao menos Esteban Gutierrez deu o ar da graça ao terminar a corrida colado em Ricciardo e ficar bem perto de marcar seu primeiro ponto na F1, além de ter marcado a melhor volta da corrida e ter superado, pela primeira vez, o ótimo, mas hoje apagado, Nico Hülkenberg. Porém, a situação da Williams foi calamitosa hoje. Um ano atrás Pastor Maldonado comemorava sua primeira vitória na F1 e tirava a Williams de um jejum de quase dez anos, mas hoje o time ficou só à frente das equipes nanicas. E por pouco. No final da prova, foi possível ver Charles Pic, da Caterham, pressionando Valtteri Bottas... Uma pena para uma equipe tão tradicional e gloriosa como a Williams estar nessa situação.
Mas olhando para o pelotão da frente, Alonso mostra que tem mais força do que no ano passado, quando quase foi tricampeão com um carro inferior. Agora com um carro que dominou em Barcelona, sempre um ótimo indicador de um carro muito bem nascido, demonstrou que irá brigar pela vitória em todas as corridas, tendo agora Felipe Massa como um bom escudeiro. Mas para lutar pelo título, Alonso terá que derrotar dois pilotos do seu nível, que é altíssimo: Vettel e Raikkonen. Tudo se encaminha para uma temporada e tanto.
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