quarta-feira, 26 de março de 2014

Velhas estrelas

Se há algo que ligue a F-Indy atual com a F1 dos anos 80 é a idade das principais estrelas do campeonato. Ao contrário de agora, a F1 daqueles áureos tempos era um campeonato onde a experiência contava muito para que um piloto, mesmo sendo muito rápido e prestigiado, conseguisse o sucesso. Mesmo sendo considerado um ótimo piloto, Alain Prost só foi conseguir seu primeiro título aos 30 anos e na sexta temporada na F1, enquanto Nigel Mansell esperou anos para conquistar seu único título aos 38 anos de idade. Nelson Piquet começou sua carreira na F1 de forma fulminante, conseguindo em suas três primeiras temporadas um vice e um campeonato, às vésperas de completar 30 anos. Quando Ayrton Senna conquistou sua primeira vitória pela Lotus aos 25 anos, todos diziam que só faltava ao brasileiro conquistar mais maturidade e experiência e seu primeiro triunfo aconteceu aos 28 anos de idade. Fazendo uma comparação com a F1 atual, Sebastian Vettel pode chegar aos 28 anos de idade com até cinco campeonatos conquistados, enquanto Kevin Magnussen (21 anos) e Daniil Kvyat (19 anos) já chegaram na categoria mostrando ótimos resultados com tão pouca experiência.

A Indy está se tornando uma categoria onde os 'tios' estão dando as caras e o maior exemplo disso é o atual campeão Scott Dixon, que está cada vez melhor e completará 34 anos em julho. Para melhorar a motivação de Dixon, seu antigo companheiro de equipe Dario Franchitti conquistou seu primeiro título na Indy aos 34 anos de idade e a partir de então conquistou os resultados que o levaram a ser um dos mitos do automobilismo americano, com o escocês só se aposentando por causa de um sério acidente no ano passado, mas Dario ainda estava correndo em alto nível aos 40 anos de idade. Para o lugar de Franchitti na Ganassi, nada de uma jovem promessa brotando na Indy, mas o velho amigo de Dario Franchitti, o bom baiano Tony Kanaan, que no réveillon deste ano completará 40 anos vindo de uma vitória épica nas 500 Milhas de Indianápolis com uma equipe pequena. Ou seja, ainda no auge da forma. Os outros pilotos da Ganassi, considerados os menos experientes da trupe, são Charlie Kimball (29 anos) e Ryan Briscoe (32 anos). Será que o Luciano do Valle nos trará de volta o 'Bryan Riscoe'?

A grande rival da Ganassi, a Penske, virá com um trio de pilotos fortes e nada inexperientes. Will Power, de 33 anos, teve uma temporada irregular em 2013, mas sua ascensão nos ovais mostra que o australiano tem tudo para se tornar o maior rival de Dixon na luta pelo título e ainda espantar a urucubaca de eterno vice. Ao lado de Power, Helio Castroneves (39 anos em maio) tentará apagar a má impressão de um piloto acomodado que deixou no final do ano passado, quando tinha o título nas mãos por causa da regularidade, mas quando precisou mostrar mais agressividade, sucumbiu ao talento maior de Dixon. E agressividade não irá faltar em Juan Pablo Montoya, de volta à Indy após vários anos penando na Nascar depois de uma passagem que ficou abaixo das expectativas na F1. Prestes a completar 39 anos, Montoya foi a contratação mais badalada do ano e quem se lembra da inesquecível temporada da CART em 1999 olhará com bastante atenção ao colombiano. 

Por último, completando o trio de grandes da Indy, a Andretti será a única entre as três a usar o motor Honda e será comandada pelo correto Ryan Hunter-Reay, de 33 anos. Mesmo já tendo conquistado um título na Indy, Hunter-Reay é muitas vezes subestimado no paddock da categoria, mas sua pilotagem segura o faz dos grandes pilotos da Indy. Circundando o americano, estará Marco Andretti e James Hinchcliffe, ambos de 27 anos, ou seja, longe de ser garotos e ainda querendo mostrar serviço. A única exceção das grandes equipes é o colombiano Carlos Múñoz, de 21 anos e que fez uma estreia de gala em Indianápolis ano passado. Até mesmo entre as equipes emergentes não falta experiência, como é o caso de Sebastien Bourdais (35 anos), Justin Wilson (35) e Simon Pagenaud (29).

A primeira corrida será nesse domingo novamente em Saint-Petersburg e, como sempre, a transmissão da corrida para o Brasil é um mistério até o momento, mas a expectativa é de que a prova passe na Bandsports com a narração 'pacheca' de Celso Miranda e as abobrinhas de Eduardo Homem de Mello, que faz todos os comentaristas de automobilismo brasileiro parecerem ótimos frente a tanta besteira falada por ele. Uma briga entre a organização da Indy e a Bandeirantes acabou com a boa prova de rua em São Paulo, mas uma solução foi encontrada e a TV paulista irá transmitir (ou ao menos tentar, dependendo de sua programação...) a temporada, além de uma corrida em Brasília em 2015. A conferir. A Indy segue um caminho parecido com a CART em seus bons anos, correndo cada vez mais em circuitos mistos e restringindo as corridas em ovais a poucas provas que dificilmente sairão de cartaz, como Milwakee e Fontana, mas a perigosa pista do Texas ainda está lá. Esse ano, as 500 Milhas de Indianápolis (e as 500 Milhas em Fontana e Pocono) terá pontuação dobrada, além de uma corrida no circuito misto de Indianápolis, dando a indicação cada vez maior dessa linha de correr mais e mais nesse tipo de circuito e de rua, só restando resgatar de volta Elkhart Lake e Laguna Seca. 

Nesse busca por uma identidade, a Indy tenta preservar suas estrelas e por isso pilotos com idade um pouco elevada vão ficando na categoria, se eternizando e trazendo de volta uma tradição que o automobilismo de uma forma geral foi acabando. Claro que isso indica também uma falta de renovação, com alguns bons pilotos jovens da América do Norte indo para a Nascar, mas o sucesso dos últimos dois anos da Indy mostra que 2014 tende a ser tão bom quanto nos velhos e bons tempos.

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