terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Pagando pela decadência

Piloto pagante. Espécie nada rara que sempre existiu na F1 desde seus tempos idos. Naquele grid de 13 de maio de 1950 em Silverstone, haviam vários condes, barões e príncipes que pagavam verdadeiras fábulas para se divertirem a mais de 200 km/h. E assim foi ao longo das décadas, sempre com alguém pronto para pagar uma grana para estar no grid da F1. Houveram pilotos pagantes que se sobressaíram e o caso mais famoso foi de Niki Lauda, que comprava seu cockpit com empréstimos bancários antes de se tornar estrela da Ferrari. Com a cada vez maior profissionalização da F1, esses pilotos apareciam mais em equipes pequenas, como uma March da vida, além da simpática e teimosa Minardi.

Por isso que a notícia de Sergey Sirotkin assumindo o segundo carro da Williams mostrou bem o quanto a tradicional equipe pensa para o seu futuro. Vinte anos atrás, a épica temporada 1997 ainda reverberava com a lendária decisão de Jerez, onde Jacques Villeneuve conquistou seu único título. A pergunta era se a Williams permaneceria dominando como fazia desde 1992 com o carro 'de outro planeta'. Porém, a resposta é que Villeneuve conquistou o último título da Williams. E pelo jeito, esse recorde permanecerá ainda por muito tempo.

Desde Bruno Senna a Williams tinha sempre um piloto-pagante no seu plantel, passando pelo folclórico Pastor Maldonado. Lance Stroll entrou na Williams ano passado garças unicamente à fortuna do papai Lawrence. Mas Stroll venceu vários títulos na base? Perguntará alguém menos informado. Lawrence Stroll comprava a melhor equipe e contratava os melhores pilotos para treinarem o seu rebento até ser, adivinhem, campeão no final da temporada. Stroll mostrou até velocidade, mas sua impetuosidade excessiva também mostrou que Lance chegou à F1 cedo demais, mas como ele pode errar e bater à vontade (que papai paga), o canadense entrou logo na F1 para não perder muito tempo em caros simuladores pagos por Lawrence.

Porém, a Williams ainda tinha Felipe Massa. Mesmo não sendo o mesmo piloto pré-molada, Massa ainda era rápido e técnico o suficiente para desenvolver uma equipe de porte médio como a Williams. Só que a experiência do brasileiro não foi suficiente para fechar as contas da Williams.

O mundo se comoveu com a tentativa da volta de Robert Kubica, ainda mais pelo seu estado físico, particularmente o braço direito, ainda sequelas do seu grave acidente de rally em 2011. Kubica foi rápido nos testes, mas por trás de sua volta haviam milhões de euros de patrocínios polacos. Kubica, hoje anunciado piloto de teste da Williams, também seria um pagante. Porém, o dinheiro russo de Sirotkin pesou literalmente mais. O jovem russo tenta ser piloto pagante há muito tempo na F1. Alguns anos atrás ele quase comprou uma vaga na Sauber, mas ainda muito novo e com seus patrocinadores numa ligeira crise, Sirotkin adiou sua ida a F1, ficando vários anos marcando passo na GP2, hoje F2. Quando os seus patrocinadores viram a oportunidade, conversaram baixinho com o camarada Putin e... voi là, Sergey Sirotkin será segundo piloto da Williams. Mesmo estreando, Sergey é um pouco mais velho do que Stroll, fazendo com que a Williams tenha a dupla de piloto mais jovem da F1. Só que ao contrário da Toro Rosso, que sempre conta com jovens pilotos da cantera da Red Bull, a Williams teve seus dois cockpits comprados.

Vinte anos atrás a Williams pintava seus carros de vermelho por causa de um novo patrocinador, algo que não faltava para uma equipe grande e vencedora como era. Hoje, a Williams só consegue atrair jovens pilotos pagante e o vermelho é mais de vergonha, de um futuro nebuloso para uma equipe de tantas glórias.

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