segunda-feira, 28 de junho de 2021

Figura(EST): George Russell

 Muitas vezes os jovens pilotos de F1 precisam fazer seus nomes com atuações fora do normal, não apenas levando o carro para 'casa', que é o esperado de um novato. Fazer um 'algo a mais', conseguir um resultado acima do potencial do carro chama a atenção da F1 e faz nomes por ao longo dos tempos. Desde que estreou na F1 como novo pupilo da Mercedes, George Russell vem mostrando ser um piloto fora da curva, levando muitas vezes a frágil Williams a posições pouco esperadas para a atualidade do tradicional time. Em Zeltweg novamente Russell conseguiu uma volta voadora que quase o colocou no Q3, ficando de fora por meros oito milésimos. Fazer uma ótima classificação não é nenhuma novidade para George e já houve quem o criticasse que o inglês não mostra o mesmo ímpeto em ritmo de corrida. Nesse domingo Russell conseguiu uma ótima largada e tendo ficado no Q2, se encontrou na oitava posição com os corretos pneus médios, num ritmo que o fez andar no mesmo patamar de pilotos das superiores (à Williams) Ferrari, McLaren, Alpine e Aston Martin. Os primeiros pontos de Russell como piloto da Williams era não apenas possível, como também era provável. No entanto um raro problema de motor fez com que Russell perdesse essa chance e tivesse um abandono de arrebentar o coração. As constantes corridas acima do padrão de Russell já o colocam como provável companheiro de equipe de Lewis Hamilton na poderosa Mercedes em 2022.  E pelo o que Russell vem fazendo, mais do que merecido.

Figurão(EST): Daniel Ricciardo

 O simpático australiano saiu de seu primeiro terço de ano na equipe McLaren muito abaixo do que esperava estar nessa altura de campeonato. Chegando à McLaren com um salário milionário e com a perspectiva de ser o líder na ressurreição da equipe, Ricciardo até agora não mostrou a que veio e nessa primeira perna em Zeltweg só mostrou o que vem sendo até agora o ano de estreia de Daniel na McLaren. Novamente derrotado por Lando Norris na classificação, Ricciardo nem foi ao Q3, sessão que Lando vem se tornando um habitué. Na largada Ricciardo foi muito bem, pulou cinco posições, mas o australiano simplesmente não manteve o ritmo no primeiro stint e foi ultrapassado a quem chegava nele, fazendo com que Ricciardo terminasse a prova na mesma opaca 13º posição em que largou. Quando se compara com a atuação do seu companheiro de equipe, a situação de Ricciardo piora. Norris novamente foi o melhor do resto e terminou em quinto, conseguindo pontos importantes para a McLaren se manter em terceiro no Mundial de Construtores. Era esse papel que era esperado de Ricciardo, de liderança da McLaren, mas até o momento o australiano sequer se aproxima do jovem e intrépido Norris. 

domingo, 27 de junho de 2021

Atropelo

 


Após as duas péssimas corridas em Monte Carlo e Baku, a Mercedes deu mostras de recuperação em Paul Ricard e mesmo perdendo a corrida na penúltima volta para a rival Red Bull, o time alemão parecia estar novamente nos calcanhares da grande rival de 2021. Bastou uma semana para que essa esperança fosse para o espaço. Lewis Hamilton ainda luta, claramente tira tudo do seu carro, mas com um terço de campeonato já se pode afirmar que a Red Bull hoje tem o melhor carro da F1 em 2021 e com Max Verstappen com uma pilotagem exuberante, o inglês simplesmente não teve qualquer chance de vitória na casa dos austríacos. A quarta vitória de Max Verstappen em 2021 desempatou a disputa com Hamilton, enquanto aumenta sua vantagem sobre o heptacampeão, que dá entrevistas tão atordoado quanto sua equipe. 


De longe, hoje foi a corrida mais morna da empolgante temporada 2021. A esperada chuva não caiu um único dia do final de semana da Estíria, facilitando o trabalho de Max Verstappen, que conseguiu provavelmente sua vitória mais tranquila, onde não foi atacado ou incomodado em nenhum momento. O neerlandês largou da pole, ligou o rádio na primeira FM que sintonizou, colocou o braço para fora da janela e passeou nas 71 voltas do Red Bull Ring, aumentando sua vantagem no campeonato e se consolidando como favorito ao título. Claro que Verstappen não estaria nessa situação se não fosse seu constante crescimento tanto técnico, como psicológico, fazendo de Max, com apenas 23 anos de idade, um piloto completo e capaz de bater um Lewis Hamilton completamente motivado. A diferença entre os dois fica claro quando olhamos onde estavam os segundos pilotos de Mercedes e Red Bull nesse domingo. Sergio Pérez foi prejudicado com uma parada muito ruim da Red Bull e perdeu a terceira posição para Bottas, que largou em quinto por uma punição após seu bizarro erro na sexta. Pérez mudou a estratégia, foi para cima de Valtteri, encostou no nórdico na última volta, mas teve que se contentar com a quarta posição, enquanto Bottas novamente criticou a estratégia da Mercedes de forma pública via rádio. Tudo isso tendo acontecido 30s atrás de Hamilton, antes do inglês fazer sua segunda parada para tirar o ponto de Verstappen de melhor volta. Se Mercedes e Red Bull estão em outro patamar na F1, Verstappen e Hamilton estão em outro patamar com relação aos demais dezoito pilotos do grid atual.


Isso fica ainda mais explícito com Lando Norris, que largou em terceiro e deu um ligeiro trabalho para os segundos pilotos de Mercedes e Red Bull, terminou em quinto, uma volta atrás de Max. O abismo entre as duas equipes top e as demais permanece límpido e claro em 2021. Se na França a Ferrari teve um ritmo de corrida medonho, os italianos se recuperaram rapidamente na Áustria. Carlos Sainz largou em 12º e terminou em sexto, enquanto Charles Leclerc teve que fazer uma parada extra por ter quebrado a asa dianteira na primeira volta e saiu da última posição rumo ao sétimo lugar, logo arás do companheiro de equipe. Outro destaque do dia vai para George Russell. O inglês da Williams estava no primeiro stint não apenas na zona de pontuação, como brigando com McLaren, Aston Martin e Alpine, podendo facilmente ficar naquela região ao final da prova e finalmente conseguir os primeiros pontos com a Williams, porém, um problema de ar comprimido destruiu a corrida do inglês e ele foi o segundo abandono do dia. A equação de Valtteri Bottas rodando bisonhamente dentro do pit-lane com George Russell quase levando seu fraco carro aos pontos praticamente corrobora com a tese de que em 2022 a Mercedes irá ter dois ingleses em seu plantel.


Aston Martin, Alpine e Alpha Tauri tiveram como coincidência mais do que começaram com a letra A no Red Bull Ring, pois hoje elas conseguiram pontos com apenas um piloto. Stroll foi ao Q3 e não foi mais visto por Vettel, que chegou a flertar com os pontos, mas foi descendo para fora da zona de pontuação. Desde que renovou seu contrato com a Alpine, Esteban Ocon não fez mais uma corrida que preste e Fernando Alonso voltou aos bons tempos de principal piloto da equipe com vantagem. Pierre Gasly foi vítima de um toque com Leclerc na primeira volta e com a suspensão arrebentada, foi o primeiro abandono do dia, enquanto Yuki Tsunoda chegou aos pontos numa corrida em que sempre esteve brigando com alguém. Daniel Ricciardo continuou sua má primeira temporada com a McLaren, enquanto Alfa Romeo não brigou por pontos e a Haas viu seus dois pilotos se pegando na pista novamente, numa cena em que Gunther Steiner respira fundo e reza.


Os números que a Red Bull consegue em 2021 começa a pressionar mais e mais a Mercedes. Se Hamilton garantiu vitórias à fórceps no Bahrein, além de vencer com autoridade na passagem ibérica da F1, de resto a Red Bull domina o campeonato deste ano. São quatro corridas consecutivas sem vitória para a Mercedes, algo que não existia desde 2014, parecendo deixar o time comandado por Toto Wolff completamente sem resposta, ao tira-los da famosa zona de conforto, algo que Hamilton já saiu, mas não tem o apoio de sua equipe. Max Verstappen tem o apoio de sua equipe e ainda vê a Honda motivadíssima em sair da F1 com uma título depois de trinta anos. Juntando tudo isso, Max Verstappen atropelou nesse final de semana, rumo ao primeiro título.

Vitória em meio à crise

 


Há um ditado no futebol em que todo time campeão é um time unido. Claro que sempre houve exceções na história, mas basta um clube ser campeão que nas entrevistas pós-título se fala bastante na palavra 'união'. Na Yamaha deveria estar com um ambiente pleno de alegria e sem maiores problemas, com Fabio Quartararo liderando o campeonato e diferente do ano passado, se mostrando um piloto mais sólido rumo ao seu primeiro título. No entanto, o clima dentro da Yamaha está fervendo com a notória e pública insatisfação de Maverick Viñales, que semana passada na Alemanha largou e chegou em último. Na catedral de Assen, Viñales conseguiu a pole mesmo passando a semana criticando a sua equipe, mas não resistiu a mais uma má largada e acabou derrotado pro Quartararo.

A quarta vitória do ano de Fabio foi bem parecida com as anteriores. Quartararo se manteve no bloco da frente, procurando camuflar os pontos fracos de sua moto, que no caso da Yamaha é a falta de velocidade nas retas. Bagnaia colocou a Ducati em primeiro e sempre que era atacado por Quartararo, usava a potência de sua moto para dar o troco. Após algumas voltas de estudo, Fabio efetuou a ultrapassagem mais cedo durante a volta, não dando chances a qualquer respostas de Pecco, que foi vítima dos terríveis limites de pista e foi punido. Quem se aproveitou disso foi justamente Viñales. O espanhol tem um sério problema nas largadas, nunca saindo bem o suficiente para sequer manter sua posição, porém, Viñales parecia mordido por toda a situação criada dentro da Yamaha e fez uma ótima corrida. Quando chegou à segunda posição, Viñales tentou uma aproximação frente a Quartararo, mas o francês parecia administrar a sua vitória que o coloca numa situação bastante confortável no campeonato. Melhor mesmo, pois como visto depois da bandeirada, se Fabio tentasse o golf ele passaria fome...

O campeão vigente Joan Mir completou o pódio, mas nem de longe o espanhol da Suzuki repete o que mostrou na temporada passada, quando fazia voltas finais avassaladoras. Zarco completa a dobradinha francesa no campeonato, mas falta ao piloto da Ducati uma vitória para se estabelecer como um real rival para o compatriota. Destaque para Marc Márquez. O espanhol sofreu um acidente feio na sexta, largou da última fila depois da emocionante vitória na Alemanha e numa corrida de recuperação, chegou em sétimo, sendo a melhor Honda do dia. Se Márquez dá sinais de recuperação, o mesmo não acontece com Valentino Rossi. Infelizmente a lenda do esporte a motor é uma pálida sombra do que já foi e faz parte do triste rol de ex-piloto em atividade, fazendo papeis nada dignos para alguém como Rossi. Hoje, ele caiu enquanto brigava pela 17º posição. Não precisa dizer mais nada...

Enquanto Viñales tenta se entender com a cúpula da Yamaha e o clima dentro da equipe passa longe da tranquilidade, Fabio Quartararo vai empilhando vitórias em 2021 e somente uma hecatombe poderá tirar o primeiro título do francês na MotoGP.

sábado, 26 de junho de 2021

Mad Max


 Ele foi um dos pilotos mais carismáticos do Mundial de Motociclismo na virada dos anos 1990 e 2000, se tornando uma estrela pelos quinze anos em que esteve no Mundial. Apesar de ter faltado o título da principalmente categoria, ninguém tinha dúvida do talento, velocidade e a força de Massimiliano Biaggi. Dono de um temperamento irascível, arranjando confusão em praticamente todas as equipes por onde passou, Biaggi foi o grande rival de Valentino Rossi e por ter uma personalidade completamente oposta ao do seu compatriota, Biaggi foi tratado muitas vezes como o patinho feio da motovelocidade, o que não deixa de ser uma injustiça. Após quatro títulos nas 250cc, Biaggi brilhou no Mundial de Superbike, onde se aposentou depois dos 40 anos de uma carreira de sucesso. Completando 50 anos hoje, vamos ver um pouco de sua carreira.


Massimiliano Biaggi nasceu na cidade de Roma no dia 26 de junho de 1971 e na sua infância, sua paixão era bem diferente das motos. Influenciado pelo pai Pietro, Massimiliano era apaixonado por futebol e ele participou de vários campeonatos de base por times locais, mas não chegando a entrar na base do seu time de coração, o AS Roma. Quando tinha 17 anos, Biaggi acompanhou seu amigo Daniele num teste de moto na pista de Vallelunga. Daniele tinha uma moto e já testava na pista e numa das paradas, convidou o jovem Massimiliano dar uma volta. Foi assim, num golpe de sorte, que a vida de Biaggi mudou. Mesmo sem licença para correr, Biaggi foi imediatamente mais rápido do que seu amigo na velha pista próxima de Roma e Max decidiu que largaria o futebol e entraria de cabeça no motociclismo. Não tendo vindo de uma família rica, Biaggi trabalhou como entregador, para financiar sua empreitada no motociclismo. Vendo a obstinação do seu filho, Pietro Biaggi também deixou a bola de lado e se tornou mecânico de Max quando este estreou no Campeonato Italiano de Motociclismo, em 1989, na categoria 125cc de motos de produção. Max mostrava muita coragem, o que lhe rendeu algumas quedas, mas havia muito talento ali e Biaggi venceu o título no ano seguinte, pulando para as 250cc em 1991.


Numa ascensão meteórica, Biaggi impressionava a todos na Itália e ele venceu facilmente o Campeonato Europeu das 250cc. No Grande Prêmio da Europa de 1991, Biaggi fez sua estreia no Mundial correndo como convidado nas 250cc, mas sua velocidade tinha lhe feito a fama e em 1992 ele faria sua primeira temporada completa no Mundial correndo pela equipe Valesi e tendo como companheiro de equipe o experiente Pierfrancesco Chili. Na etapa da Itália Biaggi subiria pela primeira vez ao pódio e venceria a corrida derradeira em Kyalami, chamando a atenção da Honda, que o contratou para correr na equipe oficial das 250cc em 1993. Havia uma ótima expectativa para esse segundo ano de Max, mas a Honda foi a única equipe a correr com pneus Michelin e Biaggi só venceria uma corrida, terminando o campeonato em quarto. Mesmo tendo o suporte da Honda oficial e do lendário engenheiro Erv Kanemoto, Biaggi resolveu mudar e se juntou à montadora Aprilia. Seria uma parceria de muito sucesso. Logo na estreia pela nova equipe e moto, Biaggi venceria na Austrália e somando outras quatro vitórias, Max conquistaria seu primeiro título mundial. E não seria o único. Em 1995 e 1996, Biaggi venceu 17 das 29 corridas dessas duas temporadas, completando o tricampeonato de forma esmagadora. Se ainda faltava um desafio, ele viria em 1997. A Aprilia contratara Tetsuya Harada e enciumado, Biaggi retornou para a Honda. Foi uma temporada inesquecível, com Biaggi tendo vários excelentes pilotos para enfrentar. Além de Harada, havia Ralf Waldmann, Loris Capirossi e Olivier Jacque. A categoria 250cc tinha finais de corrida apertadas e houve uma disputa de altíssimo nível em 1997 entre Biaggi e o alemão Waldmann. Com cinco vitórias, Biaggi derrotou Waldmann por apenas dois pontos e o tetracampeonato estava garantido. Com 29 vitórias em quatro temporadas, a categoria intermediária estava definitivamente pequena demais para Max Biaggi. Ele precisava de voos maiores e o Mundial das 500cc era o óbvio destino.


Naquele tempo se vivia nas 500cc o domínio de Michael Doohan e sua Repsol Honda. Bem ao seu estilo, Biaggi desafiou a Honda a lhe entregar a mesma moto do australiano e ele disse poderia batê-lo. Vindo de um título emocionante com a marca da asa dourada, o desejo de Biaggi foi realizado e em 1998 ele estrearia nas 500cc com uma Honda igual a de Doohan, mas numa equipe diferente, capitaneada por Kanemoto. E a estreia de Biaggi fora a melhor possível, com pole, volta mais rápida e vitória dominante. A Era Doohan estaria no fim? O taciturno australiano aceitou o desafio de Biaggi e fez uma temporada baseada na inteligência, além de manter sua grande velocidade, conquistando seu quinto título seguido. Além da vitória em Suzuka, Biaggi só venceria outra corrida, mas garantiria o vice-campeonato logo em sua estreia. Tudo certo? Nem tanto. Biaggi não se considerava bem-vindo no paddock do Mundial de Motovelocidade e na maioria das vezes, permanecia calado e tratava mal jornalistas, trazendo para si muita antipatia. Sua relação com suas próprias equipes não era muito melhor. Após abandonar a Aprilia por ciúme de Harada dois anos antes, Biaggi acusou a Honda de favorecer Doohan por causa do patrocínio (Repsol) e se mudou para a Yamaha em 1999, levando consigo o patrocínio da Phillip Morris. Porém, a Honda ainda tinha a melhor motor e mesmo com o grave acidente que ocasionou o fim da carreira de Mick Doohan ainda na segunda etapa do campeonato, Alex Crivillé se tornou o primeiro espanhol a vencer na categoria rainha da motovelocidade. Desenvolvendo a moto, Biaggi foi apenas quarto colocado com uma vitória em Brno. Ainda fora das pistas, Biaggi via um fenômeno surgindo, que lhe traria problemas.


Mesmo com a presença de Capirossi, Massimiliano Biaggi era considerado o principal piloto da Itália naquele tempo, mas nas categorias menores do Mundial, um jovem excêntrico e extremamente talentoso cativava a todos com seu estilo de pilotagem. Valentino Rossi era exatamente o contrário de Biaggi fora das pistas. Simpático e brincalhão, Valentino logo se tornou o queridinho de todo o Mundial de Motovelocidade, só que dentro das pistas Rossi era ainda mais impressionante e com dois títulos em quatro anos, Valentino via seu caminho pavimentado rumo às 500cc, já na equipe oficial da Honda. Já contando com 29 anos de idade, Biaggi viu em Rossi mais do que um rival nas pistas, mas também um rival fora das pistas e por isso, antes mesmo de alinharem no mesmo grid, Biaggi e Rossi se detestavam e a rivalidade aumentaria ainda mais com o passar dos anos. Biaggi teve um ano complicado e com muitas quedas em 2000, mas se recuperaria na segunda metade e ainda terminaria o campeonato em terceiro, com duas vitórias. Porém, ele terminou o certame atrás do estreante Rossi, aumentando a tensão entre eles. Com a Yamaha mais desenvolvida, Biaggi lutaria pelo título com Rossi nos dois anos seguintes, mas acabaria derrotado em ambas pelo rival e inimigo. Com a imprensa totalmente pró-Rossi, a raiva de Biaggi ia aumentando. Durante o GP do Japão em 2001, Biaggi chegou a empurrar Rossi para fora da pista com o cotovelo e quanto Vale deu o troco, mostrou o dedo do meio para o compatriota. Já em Barcelona, numa cena nunca vista, os dois chegaram a trocar agressões na ante-sala do pódio


Biaggi se mantinha como um piloto de ponta, mas sua carreira parecia definitivamente eclipsada por Rossi. Quando surgiu o regulamento da MotoGP em 2002 e Biaggi sofreu com o desenvolvimento da Yamaha, ele retornou pianinho para a Honda em 2003, correndo pela equipe satélite de Sito Pons, mas tendo para si a mesma moto de Rossi, que venceu o terceiro título seguido mesmo assim. Então, veio o choque. Rossi e a Honda já não falavam a mesma língua e de forma surpreendente, Valentino se mudou para a Yamaha, antiga moto de Biaggi. Poderia ser a chance de Max, mas naqueles primeiros anos do século 21 Rossi parecia inatingível. Na sua primeira corrida para Yamaha em 2004, no obscuro circuito sul-africano de Pakhisa Freeway, Biaggi e Rossi travaram uma disputa épica pela vitória. A Yamaha não vencia desde 2002 com Biaggi, mas Rossi derrotou o compatriota da Honda de forma histórica e iniciou uma parceria longa com a marca dos diapasões. Biaggi ficou em terceiro lugar em 2004 e começou a pressionar a Honda para ter o potencial da equipe HRC ao seu lado. Alexandre Barros tinha sido o principal piloto da Honda em 2004 e havia decepcionado Biaggi dizia aos quatro ventos que se tivesse atrás do guidão que era de Barros, ele poderia derrotar Rossi. A Honda novamente apostou em Biaggi. E se deu mal! No final de 2004 Max sofreria um sério acidente de supermoto e passou por um longo período de fisioterapia, perdendo praticamente toda a pré-temporada de 2005 com a sua nova equipe. Quando voltou às pistas, Biaggi encontrou uma moto indócil e com Rossi ainda no auge dos seus poderes, foi derrotado de forma inapelável pelo rival. Sem nenhuma vitória e criticando a Honda para quem via pela frente, Biaggi terminaria o campeonato de 2005 em quinto, sua pior posição na categoria principal, seja 500cc ou MotoGP. Desgastado com a Honda, não teve seu contrato renovado e se falou que a montadora se negou a entregar suas motos à Biaggi. Max negociou com Kawasaki e Suzuki. Sem sucesso. O sexto lugar em Valencia/2005 fora a última corrida de Massimiliano Biaggi no Mundial de Motovelocidade. Foram 127 corridas, com 13 vitórias, 23 poles, 58 pódios e três vice-campeonatos (1998, 2001 e 2002). Isso, sem contar os quatro títulos nas 250cc.


Definitivamente sem lugar na MotoGP, Biaggi passou a investir no Mundial de Superbike, sem dúvidas um campeonato forte, mas longe do glamour e do nível da MotoGP. Por ter ficado sem vaga muito tarde na MotoGP, Biaggi acabou não conseguindo uma vaga na Superbike em 2006, curtindo um ano sabático, só estreando na categoria em 2007. E em grande estilo. Assim como ocorrera nove anos antes nas 500cc, Biaggi estreou com a Suzuki com pole e vitória dominante. E assim como ocorrera em 1998, Max não manteve o ritmo durante o ano e acabou derrotado por James Toseland e Noriyuki Haga. Biaggi ficou apenas um ano na Suzuki, se mudando para uma equipe satélite da Ducati em 2008, onde ficou parte do campeonato de fora, curando uma fratura no braço, mas em 2009 ele se reencontraria com uma marca muito importante para Biaggi: Aprilia. A montadora italiana desenvolvia sua moto contra a co-irmã Ducati e a experiência de Biaggi seria primordial nisso. Após um primeiro ano de desenvolvimento, Biaggi voltou a sentir o gostinho do título em 2010, derrotando a Suzuki de Leon Haslan. Em 2011 Biaggi acabaria derrotado pelo seu antigo companheiro de equipe Carlos Checa, mas Max voltaria com tudo em 2012, conquistando o bicampeonato, derrotando na ocasião Tom Sykes por meio ponto! Ao final do ano, com 41 anos de idade, Max Biaggi anunciou sua aposentadoria das grandes competições.


Biaggi se manteve ligado à Aprilia, inclusive participando de algumas corridas de Superbike como convidado em 2015 e abrindo uma equipe na Moto3 com apoio da montadora. Em 2017 Biaggi deu um susto em todos quando sofreu um acidente e quebrou vários ossos, mas o italiano acabaria se recuperando mais tarde. Dono de uma velocidade gigante, mas com uma personalidade complicada, Massimiliano Biaggi foi o primeiro grande rival do lendário Valentino Rossi e o que mais vestiu o manto de anti-Rossi entre os rivais de Vale. Porém, não seria justo dizer que Mad Max Biaggi seja lembrado apenas pela rivalidade com Rossi, pois o romano se manteve como piloto de ponta por vários anos no Mundial de Motovelocidade, se tornando uma estrela do motociclismo.

Parabéns!

Max Biaggi

quarta-feira, 23 de junho de 2021

A melhor de todas

 


Nesses últimos tempos de inclusão no esporte, o automobilismo muitas vezes se perdeu e trocou os pés pelas mãos. Ainda um ambiente muito masculino, muitas vezes as mulheres eram relegadas a segurarem plaquinhas ao lado dos pilotos no grid, mas isso foi mudando e nem grid girls existe em muitas categorias. No entanto, na pressa de colocar uma mulher em seus grids, se escolhem pilotos mulheres muito mais pela beleza do que pelos resultados, surgindo Carmen Jordá por exemplo. Danica Patrick e Ana Beatriz Figueiredo tiveram seus bons resultados em tempos recentes, mas havia a sensação que a presença delas no grid servia mais ao staff de marketing das equipes do que a equipe técnica. Porém, houve uma mulher que não queria ser melhor do que os homens, mas simplesmente andar junto com eles. E ela conseguiu! Correndo num período mágico do Mundial de Rali, Michele Mouton foi uma pioneira no automobilismo ao vencer quatro eventos do WRC e ser vice-campeã uma vez, sem ser uma mulher de uma beleza espetacular ou precisando de publicidade. Mouton mostrava seus atributos nas pistas de asfalto e terra pelo mundo. Completando 70 anos hoje, vamos conhecer um pouco da melhor piloto a estar atrás de volante de corrida da história.


Michele Mouton nasceu no dia 23 de junho de 1951 em Grasse, na Riviera Francesa cercada de infinitos jardins de rosas, que abastecia as indústrias de perfume local. Vivendo nesse mundo bucólico, a jovem Michele sempre se interessou por carros, principalmente porque seu pai adorava velocidade. Aos 14 anos Mouton deu uma volta na fazenda onde morava à bordo de um Citroën 2CV do seu pai e ficou ainda mais apaixonada. Ao completar o ensino médio Michele chegou a ingressar na faculdade de Direito, mas não terminou o curso, principalmente quando foi convidada por um amigo a ser seu navegador no famoso Tour de Corse. Rapidamente Michele mudou de banco e se tornou piloto, conseguindo bons resultados em ralis amadores. Seu pai viu uma centelha de talento e comprou para ela um Renault Alpine A110, dizendo à filha que ela tinha um ano para provar seu valor ou voltar para a faculdade. E Michele entendeu bem o recado do pai, pois ela venceu o Campeonato Francês Feminino e o Campeonato Francês da classe GT, culminando com uma vitória de classe 2L nas 24 Horas de Le Mans de 1975. Isso chamou a atenção da gigante Elf, que passou a patrocina-la e em 1977 ela foi contratada pela Fiat, onde ficou dois anos, conquistando bons resultados.


Até então Mouton participava de alguns eventos franceses e europeus, mas em 1980 ela foi contratada pela Audi para disputar o Mundial de Rali. "Foi um choque quando me ligaram", confessou Mouton sobre o primeiro contato da montadora alemã. Como o novo carro com regulamento do Grupo B ainda não estava homologado, Michele participou de alguns eventos fora do campeonato, mas o potencial do carro era evidente e em 1981 ela participou de todo o campeonato, andando de igual para igual com pilotos como Hannu Mikkola, Ari Vatanen e Henri Toivonen, acabando por vencer o Rali de Sanremo na Itália, se tornando a primeira mulher a vencer no Mundial de Rali. Foi também em 1981 que ela encontrou sua navegadora que lhe seria marcante: a italiana Fabrizia Pons. Para 1982 a Audi estava pronta para vencer o título e Mouton teria a companhia de grandes estrelas, como Walter Röhrl na Opel, seu companheiro de equipe na Audi Stig Blomqvist e o super rápido Markku Alén, com o Lancia 037. Em uma temporada empolgante, conseguiu três vitórias enfáticas em Portugal, na Grécia e... no Brasil! Sim, o Brasil já recebeu etapas do Mundial de Rali e uma delas foi vencida por Mouton. Na véspera da penúltima etapa daquela temporada, na Costa do Marfim, Michele foi informada que seu pai falecera de câncer e que seu último desejo era que Michele corresse aquele rali. Mouton liderava o rali com 18 minutos de vantagem sobre Röhrl e se confirmasse a vitória, ela estaria apenas dois pontos atrás do alemão na última etapa, na Inglaterra. Porém, no último dia o Audi de Mouton apresentou vários problemas mecânicos e na tentativa de compensar o tempo perdido, Michele acabou capotando e ela teve que abandonar. Röhrl foi campeão por antecipação, mas mostrando a mentalidade daqueles tempos, o piloto da Opel disse:  Teria aceitado o segundo lugar no campeonato para Mikkola, mas não para Mouton. Não é porque eu duvido de suas capacidades como piloto, mas porque ela é uma mulher.


Em 1983, o Mundial de Rali entrava de cabeça no Grupo B e seus carros de mais de 600 cavalos e muita tecnologia embarcada. Mouton começou o ano no Audi Quattro A1 com bons resultados, mas no meio da temporada ela passou para o A2 e como resultado sofreu com vários abandonos, terminando o campeonato apenas em quinto. Quando a Audi contratou a estrela Röhrl em 1984, o papel de Mouton na equipe diminuiu e ela participou apenas da metade do programa daquele ano, mas ainda conseguiu um ótimo segundo lugar no rali da Suécia, uma etapa que tradicionalmente favorece aos pilotos nórdicos por ser realizado em pista de neve. Para 1985 Mouton passou a desenvolver os carros da Audi, que lutava contra o avanço da Peugeot e da Lancia, porém, Michele não ficou totalmente parada, participando do campeonato inglês de rali e, principalmente, da famosa prova de Pikes Peak. No ano anterior Mouton havia participado da prova e ficado em segundo lugar. Correndo com Audi Sport Quattro, ela se aproveitou da pista escorregadia por causa da chuva para não apenas vencer, mas bater o recorde que pertencia a Al Unser Jr. Bobby Unser teria desdenhado do feito de Michele, que respondeu: se você tiver coragem, pode tentar me bater na descida também.


Após cinco anos de uma parceira marcante, Mouton saiu da Audi e se mudou para a Peugeot, onde participou do campeonato alemão, se sagrando campeã e no final do ano, ela anunciou sua aposentadoria aos 35 anos de idade. Mouton ajudou a criar o famoso Race of Champions em memória ao seu amigo Toivonen, morto em 1986. Em 2010, Mouton se tornou a primeira presidente da Comissão de Mulheres da FIA, ajudando a criar a W Series, campeonato onde somente mulheres correm. Foram apenas cinquenta etapas no Mundial de Rali, mas o suficiente para transformar Michele Mouton na melhor piloto mulher da história do automobilismo.

Parabéns!

Michele Mouton

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Figura(FRA): Red Bull

 Christian Horner exclamou antes do final de semana em Paul Ricard: se vencermos aqui, podemos vencer em qualquer pista! O dirigente inglês se referia ao incrível cartel da Mercedes no circuito nas proximidades de Marselha. Os tedescos lideraram praticamente todas as voltas desde que a F1 retornou ao tradicional circuito de Paul Ricard em 2018 e pareciam imbatíveis por lá. Parecia. A Red Bull mostrou mais uma vez que construiu um carro capaz de vencer a Mercedes e numa das pistas mais favoráveis ao time de Stuttgart, a Red Bull conseguiu uma bela vitória, usando também a tática. Quando Max Verstappen surgiu na frente de Hamilton após sua primeira parada, alguns fantasmas surgiram para a Red Bull. Em Barcelona Max ficou boa parte da corrida em primeiro, mas uma segunda parada da Mercedes fez com que Hamilton trucidasse a vantagem do neerlandês e ganhasse na Catalunha com uma ultrapassagem nas últimas voltas. A Red Bull temia um roteiro parecido e tomou à frente, trazendo Max para uma segunda parada. Agora, os papeis estavam invertidos. Verstappen se tornava o caçador e Hamilton teria que se defender como podia com pneus desgastados. Em certos momentos a tática usada da Red Bull parecia que não daria certo, mas Max usou sua amadurecida pilotagem para ultrapassar Hamilton na penúltima volta e vencer no reino mercediano. Para melhorar, Sergio Pérez bateu Bottas na disputa entre os segundo pilotos e subiu ao pódio pela segunda corrida consecutiva. Desde 2013 que a Red Bull não vencia três corridas consecutivas e a dupla da equipe subiu ao pódio juntos pela primeira vez, mostrando que o esforço em trazer Sergio Pérez está surgindo efeito. Com essa vitória, a frase de Horner pode se tornar verdadeira no futuro e o caminho para o primeiro título de Max Verstappen pode estar aberto.

Figurão(FRA): Ferrari

 Após duas corridas com um ritmo surpreendentemente forte, a Ferrari voltou à mediocridade de 2020 de forma também surpreendente em Paul Ricard. As duas corridas seguidas em circuito de rua fez muito bem à Ferrari, que chegou a sonhar com a vitória em Mônaco, fez com que seu piloto novato Carlos Sainz estreasse pela equipe no pódio no principado e por pouco Leclerc foi ao pódio em Baku. Saindo dos circuitos de rua, a Ferrari tinha esperança de se manter como a terceira força da F1 num circuito convencional, mas um ritmo de corrida incrivelmente baixo fez com que uma pulga ficasse atrás da orelha de Mattia Binotto e sua trupe. Na classificação a equipe italiana parecia seguir a toada das duas corridas anteriores, com Sainz liderando a Ferrari para ser o melhor do resto, com Leclerc um pouco mais atrás. Porém, o ritmo de corrida na França foi terrível para os piloto de Maranello, com Leclerc chegando a fazer um segundo pit-stop que o jogou na 16º posição, muito longe dos pontos. Sainz ainda resistiu um pouco mais, passou boa parte da corrida na zona dos pontos, mas com o final da corrida em Le Castellet se aproximando, o espanhol não foi páreo para o melhor ritmo de McLaren, Alpha Tauri, Alpine e Aston Martin, saindo da zona de pontuação. Quando se pensava que a Ferrari poderia estar renascendo com bons resultados consecutivos, agora parece que a scuderia simplesmente se aproveitou das peculiaridades dos circuito de rua de ficar em posições dos quais não pertencem. Binotto saiu de Paul Ricard ainda tentando entender o que aconteceu com a sua decantada reação. Porém, a corrida em Paul Ricard foi nm verdadeiro balde de água fria!

domingo, 20 de junho de 2021

Sorte de Palou

 


Josef Newgarden liderou boa parte da corrida em Road America e tinha tudo para não apenas acabar com a zica da Penske em 2021, como também entrar de vez na briga pelo título da Indy. O americano controlou o sempre perigoso Alex Palou sem maiores arroubos, mas uma bandeira amarela no final da prova juntou todos os carros, mas nada que Newgarden já tenha passado antes. Foi então que na relargada o Penske de Newgarden foi ultrapassado por Palou no final da reta. Talvez o espanhol tenha usado o 'push-to-pass', mas na reta seguinte Newgarden foi caindo pelotão abaixo, com o carro totalmente sem potência. Uma semana depois de perder uma corrida ganha com Power, a Penske viu Newgarden quebrar na penúltima volta e continuar em seu incômodo jejum de vitórias.

Claro que Alex Palou não teve nada com isso. O jovem espanhol da Ganassi capitalizou o infortúnio de Newgarden para vencer pela segunda vez em 2021 e com a corrida opaca de Pato O'Ward, retornar à liderança do campeonato com alguma folga. Will Power salvou um pouco a honra da Penske com um terceiro lugar, com Scott Dixon recuperando-se de uma classificação difícil para ser quarto e ainda ter os jovens Palou e O'Ward ao alcance no campeonato. Outro destaque vai para a corrida agressiva de Romain Grosjean, onde efetuou várias ultrapassagens no limite, mesmo que a Dale Coyne sempre o fizesse perder posições nos pits.

Passando da metade do campeonato, apenas Alex Palou e Pato O'Ward venceram mais de uma vez na Indy e lideram o campeonato, com Scott Dixon representando os 'dinossauros' em terceiro. Com essa falta de sorte, Newgarden ficou num distante quarto lugar no campeonato e com a Penske sofrendo em 2021, vê a nova geração se mantendo forte na Indy.

Papeis invertidos

 


Uma corrida em Paul Ricard havia trazido ao fã da F1 a mesma sensação de uma corrida em Barcelona. Ou seja, passar uma hora e meia vendo uma corrida chata e aborrecida, com o vencedor definido se não na largada, pelo menos após a única rodada de paradas. A chuva era esperada para animar as coisas, mas a pista estava claramente seca quando todos se preparavam para a prova. As expectativas eram baixas, mas a temporada 2021 vem se transformando naquelas em que os fãs irão se lembrar com muito carinho no futuro. A dupla Max Verstappen e Lewis Hamilton conseguiram transformar a tradicional corrida francesa chata numa prova emocionante por causa das estratégias diferentes de suas equipes, onde cada detalhe contou para que Verstappen derrotasse um impecável Lewis Hamilton na penúltima volta, elevando cada vez mais o nível de disputa entre esses dois grandes pilotos.


Debaixo de um céu carrancudo em Paul Ricard, mas sem chuva, a corrida foi um verdadeiro tabuleiro de xadrez em alta velocidade, mas se uma partida de tabuleiro pode não ser das mais empolgantes para se assistir, a corrida de hoje foi de levantar qualquer um. A primeira jogada foi o erro de Max Verstappen na segunda curva da corrida, após uma ótima largada, onde deixou Hamilton sob controle e o neerlandês apontou seu Red Bull na ponta na primeira curva, mas uma saída de frente fez Max sair ligeiramente da pista e Lewis Hamilton assumiu a ponta da corrida. Lewis, Max e Valtteri Bottas andaram o primeiro stint inteiro próximos, mas sem ataque, enquanto Sérgio Pérez parecia destoar, ficando mais para trás. Mesmo com todos largando com pneus médios, o desgaste ficava evidente com o passar das voltas, mesmo com Hamilton abrindo 2s sobre Max. Bottas foi o primeiro a parar, algo que Max fez na volta seguinte, mantendo a sua posição. Era esperado que Hamilton emulasse os dois que pararam antes e voltasse em primeiro. Mesmo a Mercedes efetuando uma parada perfeita, Lewis voltou exatamente atrás de Verstappen. Undercut efetuado com sucesso para a Red Bull. Porém, Max seguraria a dupla da Mercedes? Lewis tentou, abriu a asa, mas Max teimosamente se mantinha na frente sem fazer muito esforço. 

Detalhe: a criticada chicane no meio da reta Mistral ajudou Verstappen naquelas voltas em que Hamilton vinha on fire para cima dele. Sem a chicane, Lewis passaria direto por Verstappen. Mesmo com pneus duros e com um número de voltas razoável até a bandeirada, Verstappen sentiu que não daria para se manter em primeiro com aquele ritmo. Mesmo estando em primeiro, a Red Bull pensou rápido numa mudança radical de estratégia, trazendo Max para uma segunda e inusual parada, colocando pneus médios, iniciando uma caçada à Hamilton, da mesma forma que o inglês o fez em Barcelona, com vantagem para o inglês. Com o carro mais leve, os pneus médios resistiram bem, enquanto Hamilton teria que administrar como podia com seus pneus duros que teriam que ser levados até a bandeira quadriculada. Max foi triturando a diferença para Hamilton, mas sem forçar demais, dando a sensação que ele não teria tempo para alcançar o rival pelo título. Verstappen logicamente não teve trabalho com Pérez, mas e com Bottas? O finlandês ficou tempo demais andando com ar sujo na sua frente seus pneus não aguentaram o tranco, porém, era esperado de Bottas que ele resistisse mais e não cometesse um ligeiro erro na chicane da Mistral que fez com Max assumisse a segunda posição com facilidade. Max segurou um pouco o ritmo, até mesmo marcou tempos parecidos com o de Hamilton, mas faltando cinco voltas aumentou novamente o ritmo, tirou oito décimos por volta e na antepenúltima volta já estava com Hamilton na alça de mira. Como ocorreu em Barcelona, mas com os papeis invertidos, Max só precisou de um ataque para efetuar o ataque decisivo que o fez líder na penúltima volta da prova e vencer.


Foi uma vitória essencial para a Max Verstappen e a Red Bull. Hamilton havia liderado praticamente todas as voltas desde o retorno de Paul Ricard à F1 em 2018 e a Mercedes tinha sido imperial no palco francês. Mesmo com Hamilton liderando a maior parte da corrida, ele não teve o que fazer quando foi atacado por Verstappen, que abriu bons doze pontos para um resignado Hamilton, sofrendo a mesma decepção que Max teve em Barcelona. E o dia da Red Bull ainda melhoraria com seu segundo piloto. Se Pérez estava destoando no início da corrida, havia um motivo: ele estava economizando pneus. Ele foi o último a parar dos quatro líderes e mesmo colocando o mesmo pneu duro dos demais, Pérez estava melhor calçado no final da prova e ultrapassou Bottas para completar o pódio, fazendo o dia da Red Bull ainda mais feliz, além de abrir uma boa diferença para a Mercedes no Mundial de Construtores, no palco onde era esperado que a Mercedes reagiria. Essa semana se falou que o lugar de Bottas na Mercedes seria de George Russell e que o anúncio era iminente. No tabuleiro em que se transformou a corrida em Paul Ricard, Bottas não fez seu papel ao não conseguir segurar por muito tempo Verstappen, dando tempo ao piloto da Red Bull atacar o piloto principal da equipe. Isso, sem contar que ainda foi ultrapassado por Pérez no fim, cedendo mais pontos no Mundial de Construtores para a Red Bull. A situação de Bottas é tão indefensável, que nem em quarto no Mundial de Pilotos ele está...


Essa posição, passado pouca menos de um terço de campeonato, pertence à Lando Norris. O inglês da McLaren liderou o resto da F1 e mostrando que os resultados aleatórios em Monte Carlo e Baku foram causados mesmo por causa das peculiaridades dos circuitos de rua. Norris tomou um minuto do vencedor Verstappen e estava 50s atrás de Bottas. Ainda há um verdadeiro abismo entre as duas principais equipe e o resto, algo que a F1 espera estreitar com o esperado novo regulamento de 2022. A McLaren teve um ótimo desempenho com Ricciardo fazendo um belo início de prova, mas o australiano não suportou o ritmo de Norris, porém manteve a sexta posição, pressionado no fim por Gasly e Alonso. Bons pontos para a McLaren, que assumiu de vez a terceira posição no Mundial de Construtores, ainda mais com a pífia corrida da Ferrari, que parecia ter o ritmo desmanchando durante a prova e viu seus dois pilotos fora dos pontos. A Aston Martin foi muito bem, com seus dois pilotos pontuando, mas o destaque vai para Lance Stroll, que saiu da penúltima posição para décimo. Russell ficou perto dos pontos em décimo segundo, pressionado pelo pressionado Tsunoda, que largou dos boxes por causa do acidente na classificação. Com contrato renovado, Esteban Ocon foi superado com sobras por Alonso e ao contrário do companheiro de equipe, ficou longe dos pontos. A dupla da Haas novamente se estranhou na pista, mas Mick Schumacher soube se sobressair.


Da mesma forma que Max Verstappen saiu de Barcelona com a sensação de derrota após ser ultrapassado por Hamilton, que utilizou uma estratégia diferente para vencer, e deu a volta por cima, Lewis e a Mercedes podem muito bem dar o troco, porém, as duas próximas corridas serão na casa da Red Bull e onde Max Verstappen sempre consegue bons resultados. Se Max vencer as duas próximas corridas em Zeltweg, num lugar favorável para a Red Bull, o campeonato pode começar a pender para os austríacos, mas Paul Ricard também era um palco ideal para a Mercedes, mas os alemães foram derrotados. Senhores, estamos tendo até o momento um campeonato épico, com dois grandes pilotos dando tudo de si, conseguindo até mesmo algo que parecia impossível: tornar a corrida em Paul Ricard muito boa. Que venha outras corridas incríveis como a de hoje!  

Marc está de volta!


Foram mais quinhentos dias desde que Marc Márquez havia feito algo natural para ele naquele momento: vencer. O piloto da Honda caminhava para se tornar, pelo menos em números, o maior da história do Mundial de Motovelocidade, mas um acidente em Jerez ano passado e uma atabalhoada volta nas semanas seguintes colocou várias dúvidas na cabeça de todos que acompanham a MotoGP, além do próprio Márquez. Ele voltaria a ser o piloto espetacular de antes? O tempo foi passando, o problema no braço direito de Márquez se tornava mais sério do que o imaginado. A volta do espanhol da Honda foi lenta e as corridas de Márquez nem de longe lembravam o que Marc era capaz de fazer antes do acidente. Não havia evolução. A carreira de Márquez poderia estar terminando de forma repentina na nossa frente, com algo abrupto acabando com toda a confiança de hexacampeão da MotoGP. No entanto, nunca é bom duvidas dessas lendas. Além de talento, essas pessoas tem o dom de dar voltas por cima e calar os críticos.

Sachsenring sempre foi uma pista para Marc Márquez. Foram simplesmente dez vitórias consecutivas no pequeno circuito alemão, contando as categorias menores para Márquez, sem contar o fato da pista alemã ser conhecida por ter uma infinidade de curvas para a esquerda, não forçando tanto o baleado braço direito do espanhol. Seria a chance ideal para Márquez. O espanhol sempre andou entre os primeiros na Saxônia e seu quinto lugar no grid se transformou num segundo lugar na primeira curva, numa largada bem ao estilo agressivo de Márquez. À sua frente, apenas a surpreendente Aprilia do seu amigo Aleix Espargaró, rapidamente ultrapassada. Márquez liderava pela primeira vez desde sua dramática volta às pistas, mas ainda havia uma corrida inteira pela frente, sem contar o risco da chuva cair a qualquer momento. A direção de prova chegou a autorizar a troca de motos, mas em nenhum momento a pista chegou a ficar verdadeiramente molhada. E pista molhada era justamente o que Márquez não precisava hoje. Sua confiança fora mostrada na largada, mas o piso seco seria ainda melhor para Marc. A chuva não veio, mas um segundo obstáculo crescia.

Após um início de temporada cambaleante, a KTM cresceu muito nas últimas corridas e o português Miguel Oliveira é o líder natural da montadora austríaca. Depois de se livrar de Espargaró, Johan Zarco e Jack Miller, Oliveira se estabeleceu na segunda posição e iniciou uma perseguição à Márquez. Além da moto em ascensão, o próprio lusitano exalava confiança com ótimos resultados e vindo de uma vitória. Oliveira tentou, chegou baixar de 1s de desvantagem, mas Marc Márquez esteve impecável em sua pista favorita e conseguiu sua décima primeira vitória consecutiva na Saxônia. Mais do que isso, conseguiu um retorno triunfal às vitórias. Claramente emocionado, Marc Márquez nos lembrou que nunca devemos duvidas de lendas. 

sábado, 19 de junho de 2021

Mais uma de Max

 


A Mercedes tinha sinceras esperanças de dar a volta por cima em Paul Ricard após dois finais de semanas muito ruins em circuitos de rua. O tradicional circuito gaulês é mais convencional do que Monte Carlo e Baku, tornando o aquecimento de pneus menos crítico, algo que atrapalhou bastante a trupe de Toto Wolff nas pistas citadinas. Porém, o terceiro treino livre mostrou que, sim, a Mercedes estava de volta à briga, mas Max Verstappen ainda tinha uma vantagem com seu Red Bull, algo que foi confirmado na classificação, com o neerlandês garantindo mais uma pole em 2021.

Pela terceira classificação seguida a bandeira vermelha deu as caras e houve outro ponto em comum: Yuki Tsunoda esteve envolvido em pelo menos uma interrupção nessa rodada tripla colorada. O japonês da Alpha Tauri foi um claro agrado à Honda por parte da Red Bull e mesmo mostrando muita velocidade, Tsunoda começa a ser questionado ao se envolver em tantos problemas, além de sua falta de disciplina, algo raro para um japonês. Outro que causou uma bandeira vermelha foi Mick Schumacher, porém o jovem alemão conseguiu sua melhor posição no grid e mesmo estampado no muro, foi ao Q2, na frente dos dois carros da Williams. Logicamente que ele poderia ser ultrapassado nos momentos derradeiros do Q1 pela dupla da Williams, além de Raikkonen e Stroll, mas Mick mostrou o 'algo a mais' que todo novato precisa mostrar em algum momento. Ele não fez o arroz-com-feijão, como normalmente os novatos fazem. Schumacher estava na frente de dois carros (Stroll teve sua volta cancelada e nem aferiu tempo no Q1) mais rápidos do que o seu. Ponto para Mick!

A classificação transcorreu sem maiores dramas, com Fernando Alonso finalmente sobrepujando Esteban Ocon e Charles Leclerc claramente mais lento do que Carlos Sainz dentro da Ferrari. Contudo, o que interessava era o que acontecia na ponta. Verstappen sempre pareceu mais rápido em toda a classificação e cravou essa sensação ao ser o único a baixar da casa de um minuto e trinta, tendo as duas Mercedes logo atrás dele. Pérez pelo menos ficou por perto, em quarto. Amanhã todos os pilotos largarão com pneus médios, não tendo muita diferença de estratégia, porém, há a previsão de chuva e isso pode ser o diferencial entre uma corrida boa ou não. 

domingo, 13 de junho de 2021

Pato aqui, pato acolá


 Patrício O'Ward vai pavimentando seu nome como uma das futuras estrelas da Indy e como ele está ligado à McLaren, não seria surpresa o mexicano indo para a F1 algum dia. Pato, como é mais conhecido, teve um ótimo final de semana na rodada dupla em Detroit e subiu para a liderança do campeonato com sua vitória na segunda corrida no tradicional circuito de rua em Michigan. 

No sábado Marcus Ericsson surpreendeu com uma vitória onde o triunfo caiu no colo do sueco. Numa medida artificial (não é apenas na F1...) para que a corrida não terminasse em bandeira amarela, a Indy colocou uma bandeira vermelha na antepenúltima volta. Naquele momento, Will Power liderava e estava pronto para acabar com a seca da Penske em 2021. Na relargada, contudo, o carro de Power simplesmente se negou a funcionar e Ericsson, que vinha em segundo por causa da estratégia no que foi uma confusa primeira corrida no sábado, pôde triunfar depois de largar em 16º. Ericsson se tornou um ótimo piloto quando saiu corrido da F1? A 22º posição no grid no domingo demonstrou que o sueco teve mais sorte do que talento para vencer depois de longo e tenebroso inverno.

O'Ward tinha sido o pole no sábado, mas acabou atrapalhado pelas estratégias, principalmente pelo impressionante acidente que mandou seu companheiro de equipe Felix Rosenqvist para o hospital no sábado. No domingo o mexicano errou na classificação e largou no meio do pelotão, mas como Ericsson demonstrara no dia anterior, isso não significa que o piloto simplesmente está com sua corrida morta antes da largada. O pole de hoje foi Josef Newgarden e agora era ele quem estava preparado para acabar com a seca da Penske. O americano dominou a corrida inteira, mas estava claro que ele teria sérios problemas no fim. Os pneus moles sofreram um desgaste acentuado em Detroit e toda a vantagem de Newgarden se sustentou nos compostos duros, mas por força de regulamento, Josef teria que usar os temidos pneus macios em algum momento. Numa corrida com poucas bandeiras amarelas, Newgarden teria que administrar mais de vinte voltas com esse composto no stint final. Ele virara um alvo fácil!

Falando em bandeiras amarelas, já está na hora de falar de Jimmie Johnson. A lenda da Nascar surpreendeu a todos quando resolveu fazer uma temporada na Indy unicamente nos mistos, para experimentar os monopostos. Johnson conseguiu um lugar na poderosa Ganassi, conseguiu ajuda de vários ex-pilotos de qualidade, além da boa-vontade de todos nessa sua empreitada. Passadas seis corridas, Johnson simplesmente é incapaz de sair das últimas posições e em TODAS as corridas até o momento trouxe uma bandeira amarela ao rodar sozinho. Mesmo tendo nada a provar, as exibições do JJ na Indy já resvalam no vexame.

Voltando ao primeiro pelotão, O'Ward se aproximava do no bloco que brigava pela vitória e quando duas bandeiras amarelas seguidas apareceram nas últimas voltas, o mexicano começou uma recuperação de tirar o fôlego, saindo de sexto para primeiro em poucos minutos numa pilotagem agressiva e certeira. Pato ultrapassou Graham Rahal e Scott Dixon nas relargadas, depois ultrapassou Alex Palou e Colton Herta após a última relargada até encostar num vulnerável Newgarden na antepenúltima volta. O piloto da Penske se esforçou, chegou a tocar-se com Pato, mas o piloto da McLaren sobressaiu-se para ser o primeiro piloto a vencer mais de uma vez na Indy na temporada 2021. Uma semana depois da vitória de Sergio Pérez em Baku na F1, O'Ward mostrou a força do automobilismo mexicano em 2021!

O resultado da corrida explosiva de O'Ward lhe entregou a liderança do campeonato, apenas um ponto na frente de Alex Palou, que foi terceiro colocado, colado atrás de um desconsolado Newgarden, que liderou o maior número de voltas da corrida, mas foi derrotado por uma estratégia errada da Penske, que amarga um dos seus piores inícios de temporada da Indy em cinquenta anos. O interessante disso é que Pato O'Ward lidera à frente de outro piloto jovem, no caso, Palou. Seria esse o sinal de uma troca de guarda na Indy? Se for o caso, Pato será uma das pontas de lança.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Figura(AZE): Sergio Pérez

 Ao chegar na sexta corrida de 2021, Sergio Pérez teria que provar que sua frase do começo do ano era mesmo verdadeira. "Eu preciso de cinco corridas para me adaptar ao carro da Red Bull." Até agora Pérez esteve abaixo das expectativas de todos que acompanham a F1 e do que a própria equipe Red Bull tinha quando o contratou. Era esperado que Pérez andasse próximo de Max Verstappen, impedindo que a Mercedes sempre tivesse dois carros contra o neerlandês nas táticas de corrida. Afora a classificação em Ímola, em todo momento Pérez fez o mesmo papel de Gasly e Albon, ou seja, ficou mais de meio segundo atrás de Max e longe de ajuda-lo em sua luta contra a Mercedes, mesmo a Red Bull tendo um bom carro em 2021. Checo começava a ser questionado, mas em Baku o mexicano deu uma bela resposta aos críticos e até mesmo ao sempre enjoado Helmut Marko. Em todo o final de semana Pérez esteve próximo de Max e justamente no Qe Sergio vacilou, prejudicado pela bandeira vermelha que o viu conseguir apenas um sexto lugar, enquanto Verstappen era terceiro. Logo na largada Sergio mostrou a que veio, com duas ultrapassagens ainda na primeira volta e ocupando a quarta posição. Na única rodada de paradas, Pérez pulou para segundo, superando por muito pouco Hamilton. A partir de então, Pérez segurou o multi-campeão Lewis Hamilton numa briga de gato e rato para que o inglês não conseguisse usar o DRS na reta principal. Tudo era decidido por dois ou três décimos. Coisa de gente grande! Quando o papel de Pérez parecia cumprido ao completar uma dobradinha da Red Bull, as coisas em Baku saíram do controle. Verstappen teve seu pneu cortado, causando a bandeira vermelha. Na relargada, mesmo largando melhor, Hamilton acabou apertando o botão errado que o fez sair da pista, abrindo caminho para a segunda vitória de Sérgio Pérez na F1. Uma vitória consagradora, que tira um enorme peso dos ombros do mexicano e que pode dar a confiança necessária para que Pérez possa fazer seu papel dentro da Red Bull.

Figurão(AZE): Valtteri Bottas

 Muitas vezes quando um final de semana começa mal, ele pode melhorar e tudo acabar bem. Para Valtteri Bottas, o final de semana azeri começou ruim, ficou ainda pior no meio do caminho e terminou de forma péssima. Ainda na quinta-feira o nórdico viu seu voo para Baku atrasar e Bottas nem participou da entrevista coletiva de forma presencial. Quando os carros foram para a pista, a Mercedes teve sua sexta-feira mais complicada desde 2014, no início da Era híbrida, e seus pilotos pareciam relegados na parte de trás do pelotão. Porém, a Mercedes tem Lewis Hamilton na sua equipe e o inglês conseguiu colocar seu carro na primeira fila, aproveitando inclusive de problemas alheios, além do seu talento. Enquanto via seu companheiro de equipe fazer algo mais com o mesmo carro, Bottas permaneceu no pelotão intermediário e conseguiu apenas um apagado décimo lugar no grid. 'O ritmo de corrida é melhor', diziam todos. Pois bem, pelo jeito apenas de um lado o ritmo estava bom, pois Hamilton brigou o tempo com os carros da Red Bull até ele sofrer com um erro já no final da prova. Mesmo vendo todo o pelotão passar quando saiu da pista na penúltima volta, Hamilton chegou apenas três posições atrás de Bottas. Em nenhum momento Bottas deu a sensação de que iria avançar grid acima e ficou empacado atrás de carros que normalmente são mais lentos que o dele. Valtteri ainda viu a Mercedes errar sua estratégia, deixando-o na pista com pneus desgastados, tornando Bottas um alvo fácil para os dois carros... da Alfa Romeo! A péssima exibição de Bottas o deixa ainda mais na berlinda, pois sua permanência na Mercedes era muito pelos pontos que ele conseguia no Mundial de Construtores, além de sempre andar próximo da Hamilton, tornando-se um escudo se fosse necessário. Em 2021 Bottas ocupa uma pálida sexta posição no Mundial de Pilotos e viu a Mercedes perder ainda mais terreno para a Red Bull no Mundial de Construtores. Se quiser um lugar na Mercedes, Valtteri precisa de uma exibição redentora e bem diferente do que foi visto em Baku. E para ontem!

domingo, 6 de junho de 2021

Duplo nocaute


 Sabe aquela história de, numa luta de boxe, os dois pugilistas trocam jabs e diretos numa luta estudada e num golpe de sorte (ou azar), ambos acertam os seus melhores golpes ao mesmo tempo e ambos caem na lona, sem terem mais condições de se levantar. Pois essa cena bizarra pode muito bem sintetizar o que foi a corrida no Azerbaijão nesse domingo. Verstappen e Hamilton sofreram dois golpes duros da sorte, acabando na lona, nocauteados, pensando no que poderia ter sido. Quem não teve nada com isso foi mesmo Sérgio Pérez, que aproveitando os azares alheios se recuperou de uma temporada até esse domingo bem decepcionante e venceu em Baku, liderando um pódio inusitado, com Sebastian Vettel ressurgindo das cinzas para dar o primeiro pódio à Aston Martin e Pierre Gasly superando Charles Leclerc na penúltima volta para ser terceiro.


Uma das coisas boas do esporte é a imprevisibilidade. Os primeiros três quartos de corrida em Baku foram sem graça e a única emoção era ver se Hamilton poderia usar o DRS sobre o segundo colocado Pérez na reta dos boxes, aproveitando o acerto sem muito arrasto da Mercedes. Checo Pérez conseguiu sempre três ou quatro décimos decisivos para não ser atacado na reta, enquanto completava uma dobradinha da Red Bull, com Max Verstappen soberano na ponta. De resto, a corrida transcorria sem maiores problemas ou dramas. Lance Stroll vinha num excelente quarto lugar após sair da última fila, pois bateu na classificação de ontem. O canadense tinha escolhido largar com pneus duros e pretendia esticar ao máximo seu primeiro stint. Bem longe do limite de voltas que a Pirelli tinha aconselhado as equipes, Stroll viu seu pneu se esvaziar no meio da reta dos boxes e o canadense bateu com muita força num acidente potencialmente perigoso, mas sem maiores dramas para Stroll e o desenrolar da corrida, pois ninguém do pelotão da frente parou no momento de Safety-car. No entanto, o recado estava dado: os pneus duros poderiam não durar como o esperado. Após a relargada e de certa forma a corrida permanecer como antes, Verstappen apenas controlava a corrida quando ele perdeu o controle do seu Red Bull em plena reta e bateu forte no muro. Ainda no rádio, Max exclamava: Tires...


A bandeira vermelha apareceu quando faltavam três voltas e até pensou-se que a corrida estava interrompida com vitória de Pérez. Porém, a decisão foi mais por segurança, pois um dos procedimentos de bandeira vermelha indica que os carros poderiam ser mexidos, inclusive troca de pneus. Como esperado, todos colocaram pneus macios para uma sprint race. A largada seria parada. Pérez e Hamilton, os ocupantes da primeira fila, aqueceram bastante os pneus e os freios. Talvez no caso de Hamilton, um pouco demais. Hamilton largou claramente melhor do que Pérez e quando todos pensavam que Lewis venceria uma corrida inesperada, algo ainda mais inesperado aconteceu: Hamilton travou os pneus e passou reto, ficando atrás do pelotão. Zero a zero no marcador do campeonato, mas com ambos os rivais tendo muito do que se lamentar. Max Verstappen estava com a vitória na mão faltando poucas voltas e viu tudo ir, literalmente, pelos ares. Seu chute no pneu vazio poderia ser a foto do ano, em caso de derrota do neerlandês no final do campeonato. Sorte de campeão de Hamilton? Pois Lewis estragou uma corrida sensacional dele num erro incomum para um piloto do seu nível e com tanta experiência. Se o abandono de Max foi algo do qual ele não tinha controle, o zero ponto de Lewis teve total e inteira culpa do inglês, que já assumiu o erro. Coisa de campeão, mas seria essa sorte de campeão de Verstappen?


Quem se aproveitou de todo o drama dos postulantes ao título foi Sérgio Pérez. O mexicano já deu seu recado com uma largada muito agressiva, quando pulou de sexto para quarto se esfregando nos muros azeris durante a primeira volta e mesmo sofrendo com um ligeiro atraso no seu pit-stop, Pérez conseguiu sair na frente de Hamilton, controlando um inspirado multi-campeão atrás de si. O segundo lugar de Pérez seria muito bem-vindo para o mexicano, pois ele era muito cobrado em ajudar Verstappen na luta de estratégias contra a Mercedes e em Baku, estava prestes a completar uma dobradinha que se transformou em vitória. Com o incidente de Hamilton, pelo menos viu a Red Bull comemorar. Por sinal, não faltou comemoração no pódio de hoje. Após longo e tenebroso inverno, Sebastian Vettel teve uma corrida decente e subiu ao pódio com seu Aston Martin, o primeiro da história da lendária marca inglesa na F1. Vettel teve um ritmo forte e fez várias ultrapassagens para ser o melhor do resto até chegar a um inesperado pódio, mas bastante redentor. Logo atrás do alemão veio Pierre Gasly, levando seu carro ao pódio numa luta sempre próxima com Charles Leclerc. Gasly chegou a ficar atrás da Ferrari, mas ultrapassou no final e garantiu um ótimo resultado para si. Comendo pelas beiradas, Lando Norris foi se aproveitando dos vacilos alheios e conseguiu outro ótimo resultado para a McLaren, hoje de luto pela morte de Manjour Ojjeh. 


E seguindo a boa corrida do veterano Vettel, Fernando Alonso conseguiu seu melhor resultado em sua volta com um sexto lugar, ultrapassando Tsunoda no final. Sainz chegou a passar reto no meio da corrida, demorou muito para ultrapassar Giovinazzi e ainda salvou alguns pontos para a Ferrari, enquanto Kimi Raikkonen conseguiu seu primeiro ponto em 2021. Agora, vamos falar de Valtteri Bottas. O nórdico começou o final de semana em Baku tendo problemas no voo para o Azerbaijão, mas isso não seria nada para o que viria a seguir. Com a Mercedes tendo um final de semana irreconhecível, onde apenas o talento  de Hamilton salvou o lavoura (até o próprio inglês estragar tudo...), Bottas ficou muito para trás. O décimo lugar no grid mostrava bem o quão mal estava a Mercedes, mas o ritmo de corrida era melhor, se dizia. Pois bem, em nenhum momento Bottas melhorou no pelotão intermediário e as coisas ficaram ainda piores quando a Mercedes não lhe trocaram os pneus (medo de outro pit-stop trágico?) durante o SC e Valtteri caiu ainda mais, sendo ultrapassado pelas Alfas Romeos. A décima segunda posição na bandeirada, a P6 no campeonato e a Mercedes ficando para trás no Mundial de Construtores indicam que a porta da rua da equipe Mercedes já está aberta para Bottas, que precisa para ontem de uma corrida redentora se não quiser se convidado a sair da Mercedes pelas portas dos fundos.


Foi uma corrida modorrenta na maior parte do tempo, mas a F1 acabou agraciada com um final de corrida insano, mostrando que Baku já entrou no gosto de muita gente na F1 por suas corridas imprevisíveis. Verstappen e Hamilton saíram do Azerbaijão zerados no campeonato e com tarefas de casa para fazer. Ambos já mostraram muita velocidade e talento nessas primeiras etapas de 2021, mas agora terão que mostrar outra faceta de um grande campeão: poder de reação. No caso de Verstappen, aliviado pelo incomum erro de Hamilton, ainda menos, mas o piloto da Red Bull ainda não tem a experiência de Hamilton, que terá que catar os cacos de uma oportunidade clara em que ele próprio jogou fora.

De peito aberto

 


A sequência de Fabio Quartararo na MotoGP indicava mais uma vitória em Barcelona nesse domingo. Mesmo não largando muito bem, a corrida estava à feição de Fabio, porém, parece que certas coisas só acontecem com ele. O Air-Bag do macacão do francês foi acionado inadvertidamente e Quartararo teve que fazer as três últimas voltas com o macacão aberto, numa atitude bastante perigosa do piloto da Yamaha, mas pelo menos ele chegou até o fim, mesmo que fora do pódio. Quem se aproveitou dessa presepada foi mesmo Miguel Oliveira, que venceu com autoridade e ainda contou com a sorte do inusitado problema de Quartararo para vencer pela segunda vez na MotoGP.

A corrida em Barcelona parecia mesmo nas mãos de Quartararo, mesmo Oliveira tendo liderado a maior parte da corrida com sua ascendente KTM. A Yamaha é hoje a moto mais equilibrada e Quartararo não é o piloto inconstante do ano passado. Fabio apenas acompanhava Oliveira quando ocorreu seu problema que o fez perder a concentração e juntando com uma punição, acabou fora do pódio, mas garantindo importante pontos. Afinal, o vencedor não está no momento na briga pelo título. A KTM começou devagar em 2021, mas o pódio de Miguel Oliveira em Mugello indicava que a marca austríaca estava crescendo e hoje o português esteve impecável, tendo ainda que segurar a pressão de Johan Zarco nas duas últimas voltas. O francês da Ducati ainda busca sua primeira vitória na MotoGP e enquanto isso, consegue ótimos resultados que o colocam na briga pelo título. Mesmo com a equipe oficial da Ducati, Jack Miller foi atropelado por Zarco com a mesma moto e só subiu ao pódio pela punição de Quartararo. A ordem normal seria o contrário, mas Zarco vem revertendo a ordem nesses dias.

Depois do título no ano passado, numa temporada totalmente atípica, Joan Mir sofre em defender sua coroa com uma Suzuki que parece boa em muitas coisas, mas sempre atrás das rivais no cômputo geral. Marc Márquez sofreu uma queda quando estava no pelotão da frente, o que já é um bom sinal, mas o piloto da Honda ainda parece não ter fechado todas as cicatrizes do seu acidente, além da própria Honda procurar melhorar uma moto que não consegue nem top-10 hoje em dia. Infelizmente Valentino Rossi está entrando no rol dos ex-pilotos em atividade. Outra queda quando estava fora do top-10. 

Mesmo com o revés, Quartararo ainda lidera o campeonato com alguma margem. Com a moto mais equilibrada do ano e com o psicológico melhor, o francês ainda é o favorito ao título. Basta acontecer menos absurdos com ele...

sábado, 5 de junho de 2021

Treino sem fim

 


Quatro bandeiras vermelhas em quatro acidentes distintos. Uma classificação que parecia não terminar nunca que trouxe um resultado fora do comum e já podemos começar a perguntar: a Ferrari estaria renascendo? Pela segunda corrida consecutiva Charles Leclerc consegue uma pole em meio a uma bandeira vermelha, mas dessa vez o monegasco não esteve envolvido e deverá largar sem maiores problemas na ponta amanhã, tendo logo atrás de si os dois favoritos ao título, estes com humores bem distintos. 

Em meio à polêmica das asas flexíveis, a Mercedes parecia mais perdida que um jamaicano no meio da intifada. A sexta-feira dos alemães foi a pior desde o início da era híbrida e brigar pela pole parecia algo bem distante de acontecer, porém, Lewis Hamilton mostrou que vale cada libra investida nele. O inglês claramente tirou mais do seu carro que o normal e somente assim esteve no bolo da briga pela pole. Porém, a Red Bull estava com jeito que levaria a pole e até mesmo Sergio Pérez finalmente faria uma classificação decente. Não aconteceu nem uma coisa e nem outra. A Ferrari se mostrou novamente forte em Baku e mesmo sendo um circuito de rua como Monte Carlo, a pista azeri é muito diferente do apertado e lento circuito monegasco. Misturando uma sessão rapidíssima com trechos que lembram até Mônaco, a Ferrari novamente esteve no bolo dos que brigaram pela pole. Em certo momento do Q2, os cinco primeiros estavam separados por meros três centésimos de segundo, incluindo aí um carro da Alpha Tauri, que chegou a liderar o terceiro treino livre.

Contudo, a classificação de hoje foi tudo menos livre de problemas. Stroll, Giovinazzi, Ricciardo (temporada miserável do australiano) e Tsunoda bateram nos muros de Baku, interrompendo o treino e dificultando a vida dos pilotos e das equipes. Quando Tsunoda bateu no Q3, fazendo Sainz sair da pista, Christian Horner colocou as mãos na cabeça. Verstappen se preparava para dar sua volta voadora para ficar com a pole e, principalmente, superar um quase heroico Hamilton, que usando um acerto diferente estava em segundo. Com o treino interrompido, Max novamente ficou com o tempo que tinha que largará na segunda fila, com Hamilton respirando aliviado ao ter apenas a Ferrari de Leclerc à sua frente. Pérez também estava em volta rápida e foi prejudicado, tendo apenas um sexto lugar para contar, ficando atrás de um ótimo Gasly e um acidentado Sainz. Bottas? Décimo colocado, talvez a posição real da Mercedes no dia de hoje.

Será que a Ferrari estaria voltando aos bons tempos e estar na briga pela vitória? Leclerc estava obviamente contente depois do treino, mas ele sabe que em ritmo de corrida e num circuito que permite ultrapassagens, ele terá dificuldades em segurar Hamilton e Verstappen, no entanto, é muito bom ver a Ferrari novamente ponteando algo na F1. Já Hamilton estava mais aliviado do que contente e Verstappen estava fumando numa quenga com outra chance de pole perdida. Se serve de consolo, em Mônaco Max esteve na mesma situação e venceu. Veremos amanhã.