Ele foi um dos pilotos mais carismáticos do Mundial de Motociclismo na virada dos anos 1990 e 2000, se tornando uma estrela pelos quinze anos em que esteve no Mundial. Apesar de ter faltado o título da principalmente categoria, ninguém tinha dúvida do talento, velocidade e a força de Massimiliano Biaggi. Dono de um temperamento irascível, arranjando confusão em praticamente todas as equipes por onde passou, Biaggi foi o grande rival de Valentino Rossi e por ter uma personalidade completamente oposta ao do seu compatriota, Biaggi foi tratado muitas vezes como o patinho feio da motovelocidade, o que não deixa de ser uma injustiça. Após quatro títulos nas 250cc, Biaggi brilhou no Mundial de Superbike, onde se aposentou depois dos 40 anos de uma carreira de sucesso. Completando 50 anos hoje, vamos ver um pouco de sua carreira.
Massimiliano Biaggi nasceu na cidade de Roma no dia 26 de junho de 1971 e na sua infância, sua paixão era bem diferente das motos. Influenciado pelo pai Pietro, Massimiliano era apaixonado por futebol e ele participou de vários campeonatos de base por times locais, mas não chegando a entrar na base do seu time de coração, o AS Roma. Quando tinha 17 anos, Biaggi acompanhou seu amigo Daniele num teste de moto na pista de Vallelunga. Daniele tinha uma moto e já testava na pista e numa das paradas, convidou o jovem Massimiliano dar uma volta. Foi assim, num golpe de sorte, que a vida de Biaggi mudou. Mesmo sem licença para correr, Biaggi foi imediatamente mais rápido do que seu amigo na velha pista próxima de Roma e Max decidiu que largaria o futebol e entraria de cabeça no motociclismo. Não tendo vindo de uma família rica, Biaggi trabalhou como entregador, para financiar sua empreitada no motociclismo. Vendo a obstinação do seu filho, Pietro Biaggi também deixou a bola de lado e se tornou mecânico de Max quando este estreou no Campeonato Italiano de Motociclismo, em 1989, na categoria 125cc de motos de produção. Max mostrava muita coragem, o que lhe rendeu algumas quedas, mas havia muito talento ali e Biaggi venceu o título no ano seguinte, pulando para as 250cc em 1991.
Numa ascensão meteórica, Biaggi impressionava a todos na Itália e ele venceu facilmente o Campeonato Europeu das 250cc. No Grande Prêmio da Europa de 1991, Biaggi fez sua estreia no Mundial correndo como convidado nas 250cc, mas sua velocidade tinha lhe feito a fama e em 1992 ele faria sua primeira temporada completa no Mundial correndo pela equipe Valesi e tendo como companheiro de equipe o experiente Pierfrancesco Chili. Na etapa da Itália Biaggi subiria pela primeira vez ao pódio e venceria a corrida derradeira em Kyalami, chamando a atenção da Honda, que o contratou para correr na equipe oficial das 250cc em 1993. Havia uma ótima expectativa para esse segundo ano de Max, mas a Honda foi a única equipe a correr com pneus Michelin e Biaggi só venceria uma corrida, terminando o campeonato em quarto. Mesmo tendo o suporte da Honda oficial e do lendário engenheiro Erv Kanemoto, Biaggi resolveu mudar e se juntou à montadora Aprilia. Seria uma parceria de muito sucesso. Logo na estreia pela nova equipe e moto, Biaggi venceria na Austrália e somando outras quatro vitórias, Max conquistaria seu primeiro título mundial. E não seria o único. Em 1995 e 1996, Biaggi venceu 17 das 29 corridas dessas duas temporadas, completando o tricampeonato de forma esmagadora. Se ainda faltava um desafio, ele viria em 1997. A Aprilia contratara Tetsuya Harada e enciumado, Biaggi retornou para a Honda. Foi uma temporada inesquecível, com Biaggi tendo vários excelentes pilotos para enfrentar. Além de Harada, havia Ralf Waldmann, Loris Capirossi e Olivier Jacque. A categoria 250cc tinha finais de corrida apertadas e houve uma disputa de altíssimo nível em 1997 entre Biaggi e o alemão Waldmann. Com cinco vitórias, Biaggi derrotou Waldmann por apenas dois pontos e o tetracampeonato estava garantido. Com 29 vitórias em quatro temporadas, a categoria intermediária estava definitivamente pequena demais para Max Biaggi. Ele precisava de voos maiores e o Mundial das 500cc era o óbvio destino.
Naquele tempo se vivia nas 500cc o domínio de Michael Doohan e sua Repsol Honda. Bem ao seu estilo, Biaggi desafiou a Honda a lhe entregar a mesma moto do australiano e ele disse poderia batê-lo. Vindo de um título emocionante com a marca da asa dourada, o desejo de Biaggi foi realizado e em 1998 ele estrearia nas 500cc com uma Honda igual a de Doohan, mas numa equipe diferente, capitaneada por Kanemoto. E a estreia de Biaggi fora a melhor possível, com pole, volta mais rápida e vitória dominante. A Era Doohan estaria no fim? O taciturno australiano aceitou o desafio de Biaggi e fez uma temporada baseada na inteligência, além de manter sua grande velocidade, conquistando seu quinto título seguido. Além da vitória em Suzuka, Biaggi só venceria outra corrida, mas garantiria o vice-campeonato logo em sua estreia. Tudo certo? Nem tanto. Biaggi não se considerava bem-vindo no paddock do Mundial de Motovelocidade e na maioria das vezes, permanecia calado e tratava mal jornalistas, trazendo para si muita antipatia. Sua relação com suas próprias equipes não era muito melhor. Após abandonar a Aprilia por ciúme de Harada dois anos antes, Biaggi acusou a Honda de favorecer Doohan por causa do patrocínio (Repsol) e se mudou para a Yamaha em 1999, levando consigo o patrocínio da Phillip Morris. Porém, a Honda ainda tinha a melhor motor e mesmo com o grave acidente que ocasionou o fim da carreira de Mick Doohan ainda na segunda etapa do campeonato, Alex Crivillé se tornou o primeiro espanhol a vencer na categoria rainha da motovelocidade. Desenvolvendo a moto, Biaggi foi apenas quarto colocado com uma vitória em Brno. Ainda fora das pistas, Biaggi via um fenômeno surgindo, que lhe traria problemas.
Mesmo com a presença de Capirossi, Massimiliano Biaggi era considerado o principal piloto da Itália naquele tempo, mas nas categorias menores do Mundial, um jovem excêntrico e extremamente talentoso cativava a todos com seu estilo de pilotagem. Valentino Rossi era exatamente o contrário de Biaggi fora das pistas. Simpático e brincalhão, Valentino logo se tornou o queridinho de todo o Mundial de Motovelocidade, só que dentro das pistas Rossi era ainda mais impressionante e com dois títulos em quatro anos, Valentino via seu caminho pavimentado rumo às 500cc, já na equipe oficial da Honda. Já contando com 29 anos de idade, Biaggi viu em Rossi mais do que um rival nas pistas, mas também um rival fora das pistas e por isso, antes mesmo de alinharem no mesmo grid, Biaggi e Rossi se detestavam e a rivalidade aumentaria ainda mais com o passar dos anos. Biaggi teve um ano complicado e com muitas quedas em 2000, mas se recuperaria na segunda metade e ainda terminaria o campeonato em terceiro, com duas vitórias. Porém, ele terminou o certame atrás do estreante Rossi, aumentando a tensão entre eles. Com a Yamaha mais desenvolvida, Biaggi lutaria pelo título com Rossi nos dois anos seguintes, mas acabaria derrotado em ambas pelo rival e inimigo. Com a imprensa totalmente pró-Rossi, a raiva de Biaggi ia aumentando. Durante o GP do Japão em 2001, Biaggi chegou a empurrar Rossi para fora da pista com o cotovelo e quanto Vale deu o troco, mostrou o dedo do meio para o compatriota. Já em Barcelona, numa cena nunca vista, os dois chegaram a trocar agressões na ante-sala do pódio
Biaggi se mantinha como um piloto de ponta, mas sua carreira parecia definitivamente eclipsada por Rossi. Quando surgiu o regulamento da MotoGP em 2002 e Biaggi sofreu com o desenvolvimento da Yamaha, ele retornou pianinho para a Honda em 2003, correndo pela equipe satélite de Sito Pons, mas tendo para si a mesma moto de Rossi, que venceu o terceiro título seguido mesmo assim. Então, veio o choque. Rossi e a Honda já não falavam a mesma língua e de forma surpreendente, Valentino se mudou para a Yamaha, antiga moto de Biaggi. Poderia ser a chance de Max, mas naqueles primeiros anos do século 21 Rossi parecia inatingível. Na sua primeira corrida para Yamaha em 2004, no obscuro circuito sul-africano de Pakhisa Freeway, Biaggi e Rossi travaram uma disputa épica pela vitória. A Yamaha não vencia desde 2002 com Biaggi, mas Rossi derrotou o compatriota da Honda de forma histórica e iniciou uma parceria longa com a marca dos diapasões. Biaggi ficou em terceiro lugar em 2004 e começou a pressionar a Honda para ter o potencial da equipe HRC ao seu lado. Alexandre Barros tinha sido o principal piloto da Honda em 2004 e havia decepcionado Biaggi dizia aos quatro ventos que se tivesse atrás do guidão que era de Barros, ele poderia derrotar Rossi. A Honda novamente apostou em Biaggi. E se deu mal! No final de 2004 Max sofreria um sério acidente de supermoto e passou por um longo período de fisioterapia, perdendo praticamente toda a pré-temporada de 2005 com a sua nova equipe. Quando voltou às pistas, Biaggi encontrou uma moto indócil e com Rossi ainda no auge dos seus poderes, foi derrotado de forma inapelável pelo rival. Sem nenhuma vitória e criticando a Honda para quem via pela frente, Biaggi terminaria o campeonato de 2005 em quinto, sua pior posição na categoria principal, seja 500cc ou MotoGP. Desgastado com a Honda, não teve seu contrato renovado e se falou que a montadora se negou a entregar suas motos à Biaggi. Max negociou com Kawasaki e Suzuki. Sem sucesso. O sexto lugar em Valencia/2005 fora a última corrida de Massimiliano Biaggi no Mundial de Motovelocidade. Foram 127 corridas, com 13 vitórias, 23 poles, 58 pódios e três vice-campeonatos (1998, 2001 e 2002). Isso, sem contar os quatro títulos nas 250cc.
Definitivamente sem lugar na MotoGP, Biaggi passou a investir no Mundial de Superbike, sem dúvidas um campeonato forte, mas longe do glamour e do nível da MotoGP. Por ter ficado sem vaga muito tarde na MotoGP, Biaggi acabou não conseguindo uma vaga na Superbike em 2006, curtindo um ano sabático, só estreando na categoria em 2007. E em grande estilo. Assim como ocorrera nove anos antes nas 500cc, Biaggi estreou com a Suzuki com pole e vitória dominante. E assim como ocorrera em 1998, Max não manteve o ritmo durante o ano e acabou derrotado por James Toseland e Noriyuki Haga. Biaggi ficou apenas um ano na Suzuki, se mudando para uma equipe satélite da Ducati em 2008, onde ficou parte do campeonato de fora, curando uma fratura no braço, mas em 2009 ele se reencontraria com uma marca muito importante para Biaggi: Aprilia. A montadora italiana desenvolvia sua moto contra a co-irmã Ducati e a experiência de Biaggi seria primordial nisso. Após um primeiro ano de desenvolvimento, Biaggi voltou a sentir o gostinho do título em 2010, derrotando a Suzuki de Leon Haslan. Em 2011 Biaggi acabaria derrotado pelo seu antigo companheiro de equipe Carlos Checa, mas Max voltaria com tudo em 2012, conquistando o bicampeonato, derrotando na ocasião Tom Sykes por meio ponto! Ao final do ano, com 41 anos de idade, Max Biaggi anunciou sua aposentadoria das grandes competições.
Biaggi se manteve ligado à Aprilia, inclusive participando de algumas corridas de Superbike como convidado em 2015 e abrindo uma equipe na Moto3 com apoio da montadora. Em 2017 Biaggi deu um susto em todos quando sofreu um acidente e quebrou vários ossos, mas o italiano acabaria se recuperando mais tarde. Dono de uma velocidade gigante, mas com uma personalidade complicada, Massimiliano Biaggi foi o primeiro grande rival do lendário Valentino Rossi e o que mais vestiu o manto de anti-Rossi entre os rivais de Vale. Porém, não seria justo dizer que Mad Max Biaggi seja lembrado apenas pela rivalidade com Rossi, pois o romano se manteve como piloto de ponta por vários anos no Mundial de Motovelocidade, se tornando uma estrela do motociclismo.
Parabéns!
Max Biaggi
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