Os setenta e um anos de F1 é recheado de brigas, rivalidades e polêmicas em lutas pelo título. Poderia enumerar várias batalhas pelo título históricas e 2021 já entrou para os anais da categoria como uma da temporadas mais empolgantes da história da F1. Porém, em poucos anos se viu uma beligerância tão latente entre dois pilotos e duas equipes como essa disputa entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, além de Mercedes versus Red Bull. O campeonato chegará ao brochante palco de Abu Dhabi com Max e Lewis empatados em pontos, mas com uma ligeira vantagem para o neerlandês, por ter uma vitória a mais, mas com os dois pilotos não medindo esforço para superar o rival. Já entre Mercedes e Red Bull, já pode-se afirmar que há uma guera aberta entre seus dirigentes e essa semana até a corrida em Abu Dhabi será um verdadeiro tiroteio verbal, tirando até mesmo os dois pilotos do foco.
O escritório Tilke teve mais um circuito luxuoso em sua carteira a construir, mas já podemos dizer que o Circuito de Corniche, em Jedá, entrou como mais um erro para os alemães. Mesmo com todo o aparato de segurança dos carros, poucas vezes se viu um final de semana tão tenso como os três dias na Arábia Saudita em sua corrida inaugural. Na F2, um enorme acidente na largada resultou num tornozelo fraturado em Enzo Fittipaldi, enquanto outro acidente trouxe uma segunda bandeira vermelha e causou a interrupção definitiva da prova, quando um carro bateu e outro o atingiu, sem ter muito o que fazer para o segundo piloto. A preocupação era essa. Num circuito tão veloz, estreito e cheio de curvas cegas, um acidente num local inapropriado poderia causar situações catastróficas. Para aumentar a tensão, Max Verstappen estava num dia excepcionalmente agressivo até mesmo para os seus padrões. O piloto da Red Bull, talvez impressionado pela chance de definir a parada hoje, se comportou de forma agressiva em praticamente toda situação em que estava brigando com Lewis Hamilton, fazendo com que a corrida, que faltou não terminar pelas seguidas bandeiras vermelhas e intervenções do Safety-Car virtual, fosse ainda mais tensa e perigosa. Isso mostra bem o quão determinados estão Max Verstappen e Lewis Hamilton em serem campeões esse ano, mas essa afoiteza pode transformar um campeonato tão bonito em algo bastante desagradável.
Em pelo menos cinco situações Lewis e Max estiveram envolvidos em situações limites durante a prova, sendo que não poderia faltar uma polêmica gigantesca entre eles. Após Verstappen sair da pista para permanecer na frente de Hamilton, a Red Bull mandou Max deixar Lewis passar. Tudo certo, uma teórica chance de fair play entre eles. Porém, Verstappen escolheu tirar o pé num setor rapidíssimo e estratégico, pois nesse local, quem estivesse na frente, teria a disposição o DRS na reta dos boxes. O problema foi que Hamilton não foi devidamente informado de que Verstappen o deixaria passar e por alguns segundos aconteceu um impasse, fazendo os dois se tocarem, com ambos tendo sorte em não abandonarem, seja por uma asa quebrada ou pneu furado. No fim, Max não deixou-se ultrapassar nos metros seguintes e acabaria punido em 5s, que horas mais tarde se adicionaria mais 10s pela manobra. Não faltaram xingamentos, reclamações e choradeira pelo rápido de todos os lados, com a FIA, mais perdida que um japonês no meio de um forró, tendo que avaliar tudo e com Michael Masi morrendo de medo de, numa decisão sua, o campeonato ser decidido. No fim, Hamilton venceu a corrida e com o ponto de melhor volta, empatou o campeonato com Verstappen, que mesmo punido em 15s, ainda assegurou o segundo lugar. Contudo, não se pode dizer que Hamilton foi um coitadinho. Em duas oportunidades, ele não deixou espaço para Verstappen, contrariando o que próprio inglês fala. É mais um indício de que até mesmo o experiente Hamilton está saindo de sua zona de conforto e está fazendo de tudo derrotar um obstinado Max.
Com tudo isso acontecendo, pouco se falou do que ocorreu da terceira posição para trás. E aconteceu muita coisa. Inicialmente Bottas fez bem seu papel de escudeiro, mas o nórdico perdeu qualquer contato com a briga envolvendo seu companheiro de equipe após a primeira bandeira vermelha, chegando a cair para quinto, no que parecia ser outro final de semana obscuro do nórdico. Quando Hamilton finalmente deixou Verstappen para trás, a Mercedes passou a se focar em Bottas e pareceu que um botão foi ligado em Valtteri, que primeiro ultrapassou Ricciardo numa disputa apertada e que foi pouco foi mostrada, para conseguir ultrapassar Ocon na linha de chegada e garantir um suado terceiro lugar. E bastante importante para a Mercedes. Com o abandono de Pérez, que causou a segunda bandeira vermelha, a Mercedes marcou praticamente todos os pontos possíveis no domingo e está com a mão na taça do Mundial de Construtores, o oitavo seguido. As bandeiras vermelhas decidiram muita coisa nesse pelotão. Ocon se saiu muito bem das duas relargadas, ganhando várias posições e passou o tempo todo em terceiro, até ser ultrapassado por Bottas no finalzinho. Ricciardo foi outro beneficiado, quando não parou no que seria apenas uma entrada do SC, mas logo se transformou numa bandeira vermelha, garantindo que poderia trocar de pneu e de pelotão, brigando pelas primeiras posições após a briga entre Lewis e Max. Gasly fez uma corrida discreta, mas boa o suficiente para ser sexto, mas como Ocon chegou à sua frente, isso nada influenciou na briga entre Alpine e Alpha Tauri no Mundial de Construtores, com vantagem para os gauleses.
Pérez provocou a segunda bandeira vermelha ao espremer Leclerc no muro e rodar no meio do pelotão num lugar estreito e rápido. Por sorte ninguém acertou o mexicano, mas a mesma sorte não teve Mazepin, que acertou com tudo a traseira de Russell, num acidente potencialmente perigoso. Por sorte, os machucados ficaram apenas na F2. A dupla da Ferrari chegou a brigar entre eles, mas no fim chegaram juntos e Leclerc já está na frente de Norris no Mundial de Pilotos, com o inglês da McLaren nem de longe fazendo as ótimas corridas de antes de Sochi, quando era terceiro no campeonato e fazendo provas consistentes. Da mesma forma como o gás da McLaren acabou, foi-se também o de Lando. Se Ocon e Gasly fizeram boas corridas, o mesmo não se pode dizer dos seus companheiros de equipe. Alonso rodou sozinho e ficou boa parte no final do pelotão, enquanto Tsunoda não largou bem, acertou Vettel num acidente evitável e inacreditável, acabando por fazê-lo abandonar. A Aston Martin saiu zerada de um final de semana miserável, mas que se não fossem os toques, pelo menos Vettel poderia pontuar. Além do que com Tsunoda, Seb se evolveu num incidente com Kimi Raikkonen que espalhou diversos detritos e neutralizou a corrida pela enésima vez. Se as coisas não foram boas para Kimi, Giovinazzi garantiu mais dois pontinhos para a Alfa Romeo. A Williams também não pontuou, mas pelo menos não teve o prejuízo da Haas, com dois carros destruídos para consertar em uma semana.
Desde 1974 não víamos um campeonato ir para o seu encerramento com os dois rivais pelo título empatados, mas nem Emerson Fittipaldi, nem Clay Regazzoni estavam tão obstinados como Lewis Hamilton e Max Verstappen agora. Junto com suas equipes, eles demonstram uma gana de vencer que vai perigosamente passando de um limite aceitável de esportividade, lembrando momentos pouco memoráveis de 1989, 1990, 1994 e 1997. Com três vitórias seguidas e a Mercedes mostrando sua força com um novo motor, Hamilton vem num melhor momento, mas Max Verstappen mostrou hoje que não entregará a taça sem uma boa briga, mesmo que sua expressão corporal no pódio seja de derrota. A torcida que fica é que essa briga seja dentro dos limites esportivos. E que mesmo se detestando, Toto Wolff e Christian Horner não coloquem mais fogo nessa tensa fogueira que se tornou o final desse campeonato mundial de 2021. Que vença o melhor!
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