Num final de semana triste para a Red Bull, pela morte do seu cofundador nesse sábado, o time respondeu da melhor forma possível, com outra vitória de Max Verstappen e a confirmação do título do Mundial de Construtores, acabando com um jejum de quase dez anos da equipe austríaca, que mesmo de luto, comemorou bastante o triunfo, elevando Max ao patamar dos multi-campeões Sebastian Vettel e Michael Schumacher, todos eles com treze vitórias numa temporada, sendo que Verstappen ainda tem três corridas para quebrar esse recorde. Porém, hoje a corrida não foi simplesmente um passeio no parque para o neerlandês.
Austin recebeu um público digno de 500 Milhas de Indianápolis nesse final de semana, assim como um clima quente e com bastante vento, o que dificultou bastante a vida dos pilotos, principalmente no insinuante primeiro setor da pista, com os esses de alta velocidade comendo os pneus. Isso fazia com que as equipes já soubessem de antemão que teriam que visitar os boxes pelo menos duas vezes. A corrida de Verstappen nem parecia que seria tão complicada no início. Mesmo o pole largando no lado limpo da pista, o segundo colocado fica melhor colocado e fica por dentro na primeira curva. Bastou à Verstappen largar melhor do que Sainz para se colocar tranquilamente na ponta na primeira curva, com Sainz fazendo um traçado bem aberto. O que o espanhol não esperava era ter a companhia das duas Mercedes, com Russell freando forte por dentro, atingindo a Ferrari de Sainz, que rodou imediatamente. Parecia apenas mais um contratempo para Carlos, mas no final resultou num furo de radiador no carro do espanhol e foi Game Over para Sainz. Verstappen assumia a ponta da corrida e tinha Hamilton em segundo. Com o mele na primeira curva, alguns pilotos surgiram bem, como foi o caso de Lance Stroll em terceiro e Sebastian Vettel em quinto. O dia parecia glorioso para a Aston Martin. Só parecia...
Enquanto Verstappen reclamava o tempo todo do vento, a corrida se estabelecia com as recuperações de Pérez e Leclerc, punidos por trocas no motor e largando no meio do pelotão. Por sinal, na rodada de Sainz, Leclerc teve que frear para não bater e acabou que perdeu terreno. Pérez já tinha se estranhado com Magnussen na primeira volta, resultando numa asa dianteira avariada, mas a FIA se fez de doida, como se diz aqui no Ceará, e ignorou o problema do mexicano, não repetindo o que em outras corridas com o próprio Magnussen. Russell e Pérez rapidamente atacaram a dupla da Aston Martin, um pouco antes da primeira rodada de paradas. Sabendo que Russell tinha sido punido pelo toque em Sainz, Pérez nem fez muita questão de atacar o inglês, preferindo esperar as paradas para ficar à frente de George. Enquanto isso, Leclerc já se aproximava dos dois carros da Aston Martin, quando começaram os primeiros pits. Tendo ouvido a famosa chamada 'It's Hammer Time', Hamilton inaugurou as paradas dos líderes, porém, Leclerc resolveu ficar mais tempo na pista. Na volta 17, a Ferrari já chegava ao plano E...
Porém, dessa vez Charles teve sorte quando Bottas, que vinha fazendo uma boa corrida, rodou sozinho e seu Alfa Romeo ficou atolado numa das raras caixas de brita de Austin, trazendo o Safety-Car. Leclerc ganhou terreno com o SC, o mesmo acontecendo com Vettel, que emergiu na frente de Stroll, com Alonso se recuperando de punições já entre os dez primeiros. Na relargada aconteceu o susto da corrida. Alonso atacava Stroll e numa manobra atabalhoada do atarantado canadense, os dois colidiram no meio da reta oposta, fazendo o carro de Alonso voar e bater de leve no guard-rail, enquanto Stroll batia mais forte e abandonava em seu melhor final de semana, que acabou terminando como mais um strollada. Por incrível que pareça, a Alpine de Alonso só precisou trocar asa dianteira e pneus para retornar à pista. Um verdadeiro tanque azul! E mais impressionante ainda, mesmo assustado com a presepada de Stroll, como mostrou seu arfante rádio após o acidente, Alonso iniciou uma bela corrida de recuperação, mas o espanhol já teve seu cartão de visitas de Stroll para 2023. Com pneus mais novos, Leclerc partiu para cima de Pérez e numa bela manobra no final da reta dos boxes, confirmava sua boa corrida de recuperação e entrava no pódio. Tudo levava a crer num triunfo tranquilo e fleumático de Max Verstappen, mas talvez a Red Bull tenha resolvido pregar uma peça para o seu piloto e tenha dificultado um pouco as coisas para o neerlandês. Conhecida por raramente errar em seus pit-stops, a Red Bull viu a roda dianteira esquerda de Max ficar presa e o atual campeão mundial ficou longos 11.8s parados nos pits. Enquanto isso, Leclerc fazia sua parada e mesmo estando 4s atrás de Max, com os problemas da Red Bull, Charles saía na frente do seu antigo rival no kart. Porém, as coisas pareciam ainda melhores para Hamilton, que tinha parado uma volta antes e liderava a corrida, no que poderia ser sua primeira vitória em 2022, continuando sua incrível marca de ter pelo menos uma vitória em todos os anos de Lewis na F1.
Só que haviam alguns detalhes que acabaram por atrapalhar as contas de Hamilton e da Mercedes. Mesmo Austin desgastando bastante os pneus, os compostos médios se comportaram melhor do que o esperado, fazendo Ferrari e Red Bull colocarem essa borracha nos carros dos seus pilotos, enquanto a turma de Toto foi mais conservadora e meteu pneus duros no carro de Hamilton. Isso seria decisivo. Após um animada briga com Leclerc, Verstappen rapidamente se aproximou de Hamilton. Seria o replay das disputas do ano passado? Hamilton não entregaria a vitória fácil e estava andando realmente no limite, enquanto Max queria a vitória para homenagear Mateschitz. A velocidade com que Verstappen chegou em Hamilton e com pneus inteiros demonstrou bem o equilíbrio do conjunto da Red Bull. Max tentou uma vez, Hamilton deu o xis. Na segunda tentativa, na reta oposta e o DRS aberto, Verstappen completou a ultrapassagem definitiva faltando cinco voltas para o fim. Andando no limite, Hamilton ficou contando quantas vezes Max saía da pista, mas quando Lewis errou uma freada e ele próprio foi avisado que já estava pendurado no quesito saída de pista, o inglês da Mercedes se aquietou e Verstappen pôde comemorar sua décima terceira vitória no ano, se igualando à Vettel e Schumacher como os maiores vencedores numa mesma temporada.
Hamilton teve que se conformar com o segundo posto, enquanto Leclerc ficou sem pneus e viu a aproximação de Pérez no final, mas o mexicano teve o que comemorar. Com a Ferrari pontuando apenas com um carro em terceiro, mais a vitória e um quarto lugar da Red Bull, o time austríaco comemorou seu quinto Mundial de Construtores. Russell, que colocou pneus macios na penúltima volta para ganhar o ponto da melhor volta, fechou o pelotão das equipes top3. O melhor do resto foi Lando Norris, que mesmo pegando o rescaldo do acidente entre Alonso e Stroll, colocou pneus médios no último terço de prova e com uma ultrapassagem tardia em Alonso, garantiu o sexto lugar. Alonso? Isso mesmo! O espanhol fez uma corrida espantosa após ficar em duas rodas pela imprudência de Stroll, Alonso manteve um ritmo forte e só não foi sexto por não ter os pneus bons o bastante para segurar Norris. Porém, o lugar de melhor do resto poderia ter sido muito bem de Vettel. O alemão fazia uma bela corrida, chegando a acompanhar o ritmo de Russell na última relargada, mas um pit-stop horroroso da Aston Martin jogou Vettel para as últimas posições. Isso, depois de Vettel voltar a liderar uma corrida após um longo e tenebroso inverno. Vettel, porém, colocou a faca entre os dentes e seguiu ultrapassando quem via pela frente, acabando por ultrapassar Magnussen na última volta para garantir um oitavo lugar, além de ser considerado o piloto do dia. A disputa pelos últimos pontos foi bem interessante e acabou ganha por Tsunoda, voltando a pontuar depois de muito tempo, mas por ali estiveram Gasly, Albon e Mick Schumacher, mas todos perderam ritmo no final. Nicholas Latifi fez o que dele sempre se espera. Rodou sozinho, bateu em outros carros enquanto era ultrapassado e terminou em último. Posição essa que era de Ricciardo a poucas voltas do fim. Um final de carreira realmente melancólico para o australiano, que chegou em Austin montado num cavalo e saiu de lá levando um verdadeiro coice.
Foi uma das corridas mais animadas do ano, com muitas brigas em várias partes do pelotão, além de um acidente perigoso causado por Stroll, reforçando a sensação de que o canadense só estar na F1 por causa do bolso fundo do papai. O que não mudou foi o vencedor. Após um primeiro terço de campeonato equilibrado entre Ferrari e Red Bull, Max Verstappen começou a fazer a diferença no resto do campeonato, transformando o que poderia ser um certame emocionante num recital solo do neerlandês, que pode acabar o ano batendo ainda mais recordes. Com a morte de Dietrich Mateschitz deixando o futuro da Red Bull em suspenso à médio prazo, todas essas conquistas desse domingo foram para o austríaco.
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