A esperada chuva veio em forma de tempestade ainda antes da largada em Cingapura, o que atrasou-a em uma hora, mas não se pode reclamar da espera. A corrida nas ruas cingapurianas foi cheia de alternativas numa pista úmida a maior parte do tempo e com pilotos reconhecidamente com poucos erros cometendo-os aos montes, restando à Sérgio Pérez fazer o que ele mesmo já falou ter sido sua melhor corrida na F1 para levar seu Red Bull rumo à vitória, mesmo com o suspense de uma investigação por causa de uma infração durante os inúmeros Safety-Cars, que limitaram a corrida em duas horas e não nas 61 voltas.
No sábado já dava para perceber que secar a pista de rua de Cingapura não era algo muito fácil. Mesmo com a chuva forte tenha parado de cair já fazia quase uma hora, o piso ainda estava úmido quando os carros estavam preparados para a largada, com uma hora de atraso. E logo de cara Pérez mostrou a que veio ao tracionar melhor e tomar a ponta do poleman Charles Leclerc ainda antes da primeira curva. Logo atrás dele Hamilton teve um movimento parecido e acabou superado por Sainz, após um toque entre os dois na primeira chicane. Isso deu o tom das primeiras voltas, com Pérez em primeiro tendo Leclerc no seu retrovisor e Sainz tendo Hamilton fungando em seu cangote. Era esperado uma corrida de recuperação avassaladora de Verstappen, como já ocorrera algumas vezes esse ano, mas o neerlandês saiu incrivelmente mal na largada e chegou a cair para 12º, além de se envolver num toque com Kevin Magnussen. Max se livrou do danês, mas se encontrava numa situação bem distinta das recuperações que lhe acarretaram em impressionantes vitórias. Se a pista não estava molhada, também estava longe de estar seca, fazendo com que os pilotos tivessem uma cautela durante a maior parte da prova. Claro, menos para Nicholas Latifi. O canadense aprontou novamente quando acertou Ghanyu Zhou enquanto brigavam pela penúltima posição. Os dois estavam lado a lado, mas Latifi acabou espremendo o chinês do muro, acarretando o abandono de ambos e a primeira entrada do SC do dia. Pior foi Latifi dizer que não tinha visto Zhou, sendo que segundos antes eles estavam lado a lado. Latifi pensou que Zhou tinha sido abduzido? Cinco posições perdidas em Suzuka para Latifi, mas como ele normalmente larga em último mesmo, isso não acarretará grandes mudanças ao canadense da Williams.
Quando Verstappen já se insinuava contra Fernando Alonso, que hoje completou sua 350º largada na F1, se tornando o piloto com mais largadas na F1, o motor do espanhol explodiu. Para quem esperava uma corrida especial, Alonso teve a pior das surpresas. Porém, foi nesse momento que George Russell, que tinha largado dos pits, resolveu tentar dar o pulo do gato e colocou pneus slicks. Se desse certo, seria bestial. Bastou dar a relargada para que Russell ficasse como uma besta no circuito, andando mais de 5s mais lento que os carros que vinham à sua frente. Porém, Russell passou a ser o piloto a ser observado, pois bastava que o inglês melhorasse de ritmo, que todos iriam iniciar uma procissão nos boxes. Sainz fazia uma corrida safada, ficando muito longe do seu companheiro de equipe, mas não se esforçando muito para segurar Hamilton. O piloto da Mercedes já parecia impaciente atrás do espanhol, mas Sainz não fez nada para que Hamilton passasse direto na barreira de pneus e quebrasse o bico, num erro incaracterístico do inglês. Hamilton voltou à pista bem na frente de Verstappen e mesmo com a asa dianteira quebrada, Lewis ficou apurrinhando a paciência de Max, permanecendo uma volta na frente do piloto da Red Bull, que choramingava via rádio. Hamilton trocou seu bico e colocou pneus slicks. Com Russell marcando a volta mais rápida da corrida, era chegada a hora de fazer a troca e todos foram aos pits. Menos a dupla da McLaren, que tentou postergar ao máximo a parada. E deram uma sorte danada!
Tsunoda se animou com pneus slicks e bateu forte no muro de pneus. Não foi a pancadinha do Hamilton e o nipônico, que teve seu contrato com a Alpha Tauri recentemente renovado, abandonou a corrida e trouxe o SC novamente. Com isso, Norris emergiu em quarto e Ricciardo, que fazia uma corrida burocrática como vem sendo sua temporada, em sexto. Porém, Norris tinha Verstappen o pressionando forte atrás na relargada. Talvez forte demais. Max acabou passando reto na freada numa tentativa de ultrapassagem, num erro nada comum para o atual campeão. Com os pneus mais esculhambados do que último debate presencial antes das eleições, Verstappen retornou aos pits e caiu para as últimas posições, mas com pneus macios, era o carro mais rápido da pista. Lá na frente, Leclerc tentava uma estocada final sobre Pérez, principalmente quando o DRS foi liberado. Então, surgiu a informação de que Pérez teria infringido uma regra atrás do SC e que seria punido. A Red Bull avisou Checo, que imediatamente aumentou seu ritmo. Logicamente a Ferrari fez o mesmo, mas Leclerc simplesmente ficou bobocando atrás. Com a confirmação dos 5s de punição, Pérez ainda teve 2.5s de lambuja para garantir seu segundo triunfo em 2022 e o quarto na carreira. Foi uma exibição sublime de Pérez, onde liderou de ponta a ponta, além de encostar em Leclerc na luta pelo vice-campeonato. Porém, é uma pena que exibições como essa sejam exceções para Checo...
Novamente Leclerc marcou a pole, mas não confirmou a primeira posição no domingo e dessa vez não se pode culpar a Ferrari em nada hoje. Charles parece que desencanou e já está com a cabeça em 2023. Já Sainz fez uma corrida extremamente burocrática, mas sem inventar a roda, conseguiu mais um pódio no ano. Lando Norris fez uma prova discreta, mas eficiente para ser quarto e junto com o quinto lugar de Ricciardo, somado ao duplo abandono da Alpine com dois motores quebrados, a McLaren ultrapassou os franceses na luta pelo quarto lugar no Mundial de Construtores. Outra equipe que saiu com bons pontos de Cingapura foi a Aston Martin, com Stroll pulando para sexto após o último SC, com Vettel literalmente lhe protegendo. O alemão, maior vencedor na pista citadina asiática, tornou a vida de Hamilton dura, não permitindo a ultrapassagem do inglês. Só que Verstappen saiu como um foguete das últimas posições e logo começou a pressionar Hamilton, que tendo o seu rival em sua cola, acordou para a vida e passou a pressionar mais forte Vettel. Na luta entre os três campeões, melhor para Verstappen. E pior para Hamilton. Em outro erro não forçado, Hamilton perdeu a trajetória enquanto tentava ultrapassar Vettel e Max deu o bote, logo em seguida fazendo o mesmo com Vettel, mas nem isso foi o suficiente para garantir o título de Verstappen. Como havia dito antes do final de semana de atividade se iniciar, Max preferia garantir o bicampeonato no Japão e não precisará de muito esforço para isso, bastando chegar na frente de Leclerc e Pérez em Suzuka semana que vem. Pelo carro que tinha, uma missão longe de ser impossível.
Um opaco Hamilton terminou em nono num dia ruim da Mercedes, após terminar o sábado falando até mesmo em vitória. Russell foi o boi de piranha do dia e ainda se envolveu num incidente com Mick Schumacher onde normalmente aconteceria uma punição, mas com George, nem investigação rolou, contudo, o inglês amargou a última posição, duas voltas atrás do líder, enquanto Hamilton cometeu dois erros que nem em sua temporada de estreia cometeu. Gasly completou a zona de pontuação onde apenas catorze carros terminaram, sendo doze na mesma volta. Uma corrida com muitos acontecimentos.
Pérez venceu pela segunda vez nesse ano e novamente numa pista de rua que começou com piso molhado, mantendo a incrível sequência de vitórias da Red Bull no ano, além de se aproximar de Leclerc para ser vice-campeão. A dupla da Ferrari teve uma corrida burocrática, onde não erraram, mas não também não forçaram tanto para isso, como aconteceu com Hamilton e Verstappen, que erraram a vontade no dia de hoje. Foi uma corrida longa e dura, com os pilotos saindo do carro cansados. Nem mesmo a super preparação física dos pilotos atuais podem prever a tensão de uma corrida que começou com piso molhado e com muito calor. No dia das eleições mais tensas dos últimos anos no Brasil, a F1 apertou onze e elegeu Pérez como o vencedor da corrida em Cingapura.
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