segunda-feira, 29 de maio de 2023

Figura(MON): Max Verstappen

 Mais do que a vitória no domingo, o que largando na pole e tendo o melhor carro do grid é uma mera formalidade em Mônaco, Max Verstappen entra nessa parte da coluna pela volta assombrosa conseguida no sábado, que lhe garantiu a vantagem de não ter ninguém à sua frente na largada. Isso mostra que, mesmo tendo o grande carro de 2023 nas mãos, Verstappen tem a reserva técnica para superar seus adversários se sofrer algum tipo de ameaça.


Figurão(MON): Sérgio Pérez

 O que passa Checo? Mesmo em sua especialidade, os circuitos de rua, e vindo de uma vitória nas ruelas de Monte Carlo no ano passado, Sérgio Pérez teve um final de semana capaz de envergonhar Gregor Foitek de tão desastrado quanto foi. E o suíço ainda pode argumentar que nunca teve em suas mãos o melhor carro do pelotão, como é o caso de Pérez. O mexicano viu seu final de semana desmoronar com um erro ainda no Q1, quando bateu na St Devote e com isso, Pérez largou em último. E largar em último em Mônaco já complica todo o meio campo para a corrida, mesmo a Red Bull tendo uma vantagem tão grande frente à oposição. Porém, Pérez não ajudou em nada os táticos da equipe austríaca, se metendo em várias confusões, batendo no também nada inspirado Stroll, saindo da pista e visitando os pits nada mais, nada menos, do que cinco vezes. Pérez usou os três tipos de pneus (Slicks, Intermediários e de chuva forte) e nem assim esteve perto, sequer, da zona de pontuação. Ter tomado uma volta na pista de Max é um indicador do tamanho da diferença entre Verstappen e Pérez no momento. Para complicar, Checo já enxerga Alonso de perto no retrovisor no Mundial de Pilotos. Tendo o melhor carro disparado da competição, pegaria muito mal para Pérez não garantir, no mínimo, o vice-campeonato. Ricciardo sorri no lado de fora.

domingo, 28 de maio de 2023

A vez de Josef

 


Bicampeão da Indy e considerado o 'Golden Boy' da categoria, ainda faltava algo muito importante para Josef Newgarden. Sim, o piloto da Penske, uma das estrelas da Indy nos últimos anos, ainda não tinha vencido as 500 Milhas de Indianápolis e isso poderia fazer uma enorme diferença entre ser um imortal da Indy ou apenas um grande piloto. As expectativas nem eram tão grandes para Josef nessa edição. Em todo o mês de maio a Penske teve dificuldades em Indianápolis e Newgarden largou apenas em 17º, após ter tido a coragem de ter deletado sua primeira tentativa na classificação e ido para um tudo ou nada. E perdido duas posições. No Carb Day de sexta-feira, a Penske até deu um sinal de vida com o bom treino de Will Power, mas a corrida parecia que seria decidida entre Ganassi e McLaren. Newgarden foi galgando posições durante a primeira metade de prova e já estava no pelotão da frente antes da volta cem, se metendo na briga dos times favoritos. No caótico final, cheio de bandeiras vermelhas desnecessárias, Newgarden entrou definitivamente na briga e na última volta derrotou o atual vencedor em Indiana Marcus Ericsson para entrar no rol dos gigantes da Indy.

Desde o aumento da pressão aerodinâmica nos carros em Indianápolis, não existe mais aquela corrida espaçada entre os carros, mas uma rabo de pipa com praticamente todo o pelotão, numa fila indiana (sem trocadilhos) a maior parte da corrida, ainda mais nas primeiras cento e cinquenta voltas, onde os pilotos não querem abrir caminho no vento, liderando o pelotão. Foi nítido o quanto os pilotos tiravam o pé até mesmo antes da metade da reta dos boxes para não ultrapassar o piloto da frente e liderar o pelotão. Por longas voltas, a corrida se manteve num rali de regularidade, liderados ora por Alex Palou, Felix Rosenqvist e Pato O'Ward. Até a primeira bandeira amarela, nada demais aconteceu, mas bastou vir a primeira... O pole Palou saía dos boxes, quando foi atingido em cheio por Rinus Veekay, jogando o espanhol para o fundo do pelotão, além de ter rendido uma punição ao neerlandês. Na medida em que a corrida foi chegando às famosas 'cinquenta voltas finais', os pilotos que lutariam pelo título da edição de número 107 da Indy 500 foram ficando claros. Com Palou ainda se recuperando, Rosenqvist, O'Ward, Alexander Rossi, Santino Ferrucci, a grata surpresa com a equipe Foyt, e Josef Newgarden foram se garantindo como os pilotos que brigariam pela vitória ao final das duzentas voltas.

Uma bandeira amarela dividiu a estratégia dos pilotos no final da prova, quando houve o grande susto do domingo. Rosenqvist brigava com seu compatriota Ericsson e perdeu o rumo na curva um, batendo no muro. O carro da McLaren se arrastou pela curva 2 foi colhido por Kyle Kirkwood, que capotou seu carro da Andretti, mas estava tudo bem, apesar de pirotecnia. O problema foi um pneu que saiu voando e quase atingiu as arquibancadas. Felizmente, apenas um motorista terá que pagar um prejuízo ao ver seu carro atingido pela roda voadora, mas o incidente teve um grande risco. A primeira bandeira vermelha apareceu, mas infelizmente não seria a primeira.

Para quem está lendo essa resenha, esteja muito à vontade de discordar do meu ponto, mas se você reclama da artificialidade do DRS na F1, por exemplo, também não gostou do que ocorreu nas últimas voltas das 500 Milhas, pois foi tão artificial quanto. Assim como houve em Melbourne na F1, trazer a bandeira vermelha de forma artificial apenas para ter um final em bandeira verde é um passo além da linha entre esporte e entretenimento. Pato partiu para cima de Ericsson e acabou tendo um acesso de açodamento, batendo no muro e destruindo sua prova. Para completar, ainda foi atingido de forma bisonha por Agustin Canapino, que tinha batido ainda no rescaldo do acidente. Tudo muito simples de resolver, mas a bandeira vermelha apareceu. Relargada, todo mundo nervoso e no final do pelotão, um pequeno Big One faz com que a Indy tornasse o final das 500 Milhas um evento ao mesmo tempo emocionante, quanto circense. A última relargada aconteceu faltando duas voltas e estava claro que quem estivesse em segundo, teria uma enorme vantagem. Por um momento o felizardo foi Ferrucci, mas no 'photochart', Newgarden assumiu a posição vantajosa, onde iria atacar o líder Marcus Ericsson.

No ano passado, Ericsson usou manobras defensivas super-agressivas para se manter na frente de O'Ward, fazendo um perigoso zigue-zague na frente do mexicano. Na relargada, o sueco da Ganassi, que poderia se tornar bicampeão, usou a mesma tática na reta dos boxes, mas Newgarden não tem a inexperiência de O'Ward. O americano da Penske esperou a reta oposta. Ericsson tentou ziguezaguear, mas Newgarden foi por fora e na força do vácuo tomou a ponta e quando chegou na reta final, foi Josef que passou a ziguezaguear na frente de Ericsson para garantir seu primeiro anel das 500 Milhas.

Após a corrida Newgarden parou seu carro em frente a arquibancada e numa cena insólita, invadiu as arquibancadas e vibrou como nunca com a torcida. Conhecido pelo carisma e por ter sido modelo nas horas vagas, havia uma torcida da Indy para que Newgarden obtivesse sucesso e aumentasse ainda mais a popularidade da categoria. Com pilotos americanos tão carismáticos como uma porta, como o último ianque a vencer as 500 Milhas sete anos atrás (Rossi), a Indy via em Newgarden um rosto capaz de alavancar ainda mais a categoria, que está em crescimento. Para completar, Josef faz parte da Penske, a principal equipe do automobilismo americano, cujo dono Roger Penske comprou a Indy e aos 86 anos de idade, vibrou como nunca com a vitória de Newgarden.

Ericsson ficou incomodado com a última bandeira vermelha, que tirou uma vitória que parecia certa para ser do sueco. Tentando uma renovação de contrato mais vantajosa com a Ganassi, Ericsson sofreu um belo golpe com a derrota desse domingo. Ferrucci conseguiu um ótimo terceiro lugar, para alegria do velho AJ Foyt. Após ser atingido nos pits por Veekay, Alex Palou mostrou a força da Ganassi ao escalar o pelotão, num ano em que não era fácil ultrapassar em Indianápolis, e terminou em quarto, enquanto Dixon foi sexto, após o neozelandês também ter feito uma corrida de recuperação, após ter problemas de pneus ainda no início, um desafio para os pilotos. Uma das favoritas nesse domingo, a McLaren decepcionou com dois pilotos no muro e Rossi salvando um pouco a lavoura, terminando em quinto. Em sua última corrida na Indy, Tony Kanaan infelizmente ficou com o pior carro da McLaren e em nenhum momento esteve perto de brigar pela vitória ou até mesmo andar no mesmo ritmo dos seus companheiros de equipe. Isso não importa, pois Kanaan saiu da Indy pela porta da frente, após uma carreira gloriosa. Hélio Castroneves sempre é um piloto a ser observado em Indianápolis, ainda mais que após a segunda rodada de paradas ele pulou, do nada, de 19º para 12º. Porém o brasileiro teve que fazer uma parada não-programada e chegou a transitar na 30º posição. Com um péssimo carro em todo o mês de maio, Hélio só garantiu a 15º posição mais pelos abandonos alheios do que pela velocidade do seu carro. Cada vez mais um 'ex-piloto em atividade', Hélio não ficará na decadente Meyer Shank full time em 2024, mas muito provavelmente retornará à Indianápolis. Provavelmente para se despedir, como aconteceu com seu contemporâneo Kanaan, mesmo que Tony parece ter desfrutado melhor o que conquistou do que Hélio.

Foi uma edição de 500 Milhas bem usual, com uma primeira parte onde quase nada acontece, mesmo com praticamente todo os pilotos andando numa fila única, para tudo se decidir nas voltas finais. Pelo menos a mim, incomodou a quantidade de bandeiras vermelhas artificiais, mas Josef Newgarden não tem do que reclamar e o americano finalmente coloca seu nome entre os imortais da Indy. 

Só a chuva salva

 


O Grande Prêmio de Mônaco tinha tudo para repetir a grande maioria das corridas dessa temporada 2023, onde o marasmo foi a regra. Tenho a teoria de quando é mostrado brigas da décima posição para trás ou as câmeras miram as nuvens, a corrida não está nada emocionante. Pois foram as nuvens que estavam acima do principado que salvaram a corrida de Mônaco desse domingo. A esperada chuva finalmente chegou no principado no último terço de prova, mas nem isso conseguiu impedir mais uma vitória dominante de Max Verstappen. Na verdade, os três primeiros colocados do grid terminaram, sem nenhuma modificação, nas mesmas posições na bandeirada, significando a melhor posição de Alonso nessa temporada fantástica do espanhol e o primeiro pódio da Alpine em 2023, com Ocon.


Quando tirou da cartola a volta rápida que lhe deu a pole no sábado, Max Verstappen indicou que faria de tudo para vencer em Monte Carlo, principalmente após a polêmica ocorrida dentro dos boxes da Red Bull no ano passado. O neerlandês também sabia que não adiantaria nada conseguir a pole e não largar bem, principalmente com as declarações de Alonso dizendo que partiria para o ataque. Querendo fechar todas as brechas possíveis, Max colocou pneus médios, enquanto Alonso saiu com os duros. A aderência extra dos pneus médios era mais um diferencial para Verstappen se manter na ponta e apontando seu carro para dentro no grid, Max confirmou a pole ao passar pela St Devote impávido na frente, seguido por todo um comportado pelotão. A surpresa Ocon, terceiro colocado no grid após uma punição à Leclerc por o piloto da casa ter fechado Norris durante a classificação, claramente não tinha ritmo para acompanhar os dois líderes, que rapidamente se distanciaram, enquanto Esteban segurava um animado Sainz. Animado até demais. Na saída do túnel, Sainz tentou uma ultrapassagem atabalhoada e acabou se chocando na traseira de Ocon, quase destruindo a corrida dos dois, mas felizmente a única coisa destruída na manobra foi parte da asa dianteira do espanhol. Verstappen fazia uma corrida estilo Sunday Drive, onde não tinha trabalho em administrar a vantagem para Alonso, que chegou a assustar a sua equipe relatando um furo de pneu, mas Fernando continuou sua toada, ficando entre seis e onze segundos atrás de Max e em troca, o piloto da Aston Martin tinha 7s de frente para Ocon e toda uma turma que vinha atrás dele, tendo Sainz, Hamilton, Leclerc, Gasly e Russell, andando próximos.


À essa altura, a corrida entrou num período de prostração, com apenas pilotos do pelotão intermediário brigando mais seriamente. Como ultrapassar em Monte Carlo é difícil desde os tempos de Jackie Stewart e companhia, quem estava nos pontos não arriscava muito, mas quem estava fora dos pontos, era a famosa briga de foice no escuro. Hulkenberg colocou por dentro em cima de Sargeant que deixou o americano grogue na primeira volta. Não satisfeito, o piloto da Williams segurava um pelotão de carros, quando seus pneus médios começaram a dar adeus a essa vida terrena. Sargeant tinha o sempre empolgado Kevin Magnussen lhe pressionando, quando K-Mag emulou seu companheiro de equipe na Miranbeau e tomou a posição de Logan, que mais tarde seria ultrapassado por Stroll na Rascasse e por Pérez no embalo. Esse foi basicamente o único bom momento dos dois. Enquanto seus companheiros de equipes ponteavam a prova, Stroll e Pérez faziam uma corrida ridícula, principalmente Pérez, vencedor do ano passado e estando num final de semana totalmente bizarro para quem tem o melhor carro disparado do grid. Já Stroll estava sendo... Stroll! Porém, os céus monegascos ficavam cada mais negros no horizonte e isso mexeu na estratégia da maioria dos pilotos. Com chuva sendo iminente, muitos pilotos esperaram o máximo possível para fazer apenas uma parada. Tendo largado com pneus médios, Max Verstappen dava outro show de administração de pneus, mantendo um ritmo forte com pneus mais moles do que Alonso, não dando chances ao espanhol. Quem parou antes, ficava a tentativa de dar o famoso undercut, algo que a Ferrari falhou miseravelmente ao dar a dica para a Alpine. 'Carlos, pare agora para ultrapassar Ocon', era o recado no rádio na esperança de deixar a Alpine ouriçada e trazer Ocon para os pits. Os franceses não morderam a isca e quando Sainz parou, ele ficou ainda mais longe de Esteban, deixando o espanhol possesso. Mais uma presepada dos táticos ferraristas. Mas não seria o último.


Quando as últimas voltas já se aproximavam, a aguardada chuva, que ameaçou em todos os dias do final de semana, finalmente apareceu em Monte Carlo, deixando a corrida caótica e com várias decisões importantes a serem tomadas. A Aston Martin resolveu trazer Alonso para os pits. Seria o pulo do gato. Isso, se o time verde colocasse os pneus certos no carro do espanhol, montando slicks quando a pista estava tão encharcada na parte baixo do circuito, que Verstappen chegou a beijar o muro na Portier. Sainz acabou rodando na Mirabeau, perdendo a posição para Leclerc, que poucas voltas antes tinha feito o pit-stop. Isso acabou com qualquer chance de pódio para a Ferrari, pois os dois tiveram que voltar aos pits lentamente para colocar os intermediários, a escolha lógica de todo mundo. Stroll e Sargeant bateram, continuando suas corridas abaixo da crítica e o canadense foi o primeiro abandono do dia. Mesmo com o susto do toque no muro e a chuva repentina, Max Verstappen se valeu do erro tático da Aston Martin para aumentar ainda mais a diferença para Alonso e garantir mais uma vitória, a sua 39º carreira, se tornando o piloto com mais vitórias da Red Bull. Alonso sabe que perdeu uma chance dourada de vencer em 2023, em um ano que a Aston Martin simplesmente não está dando chances a ninguém, mas olhando para o copo meio cheio, o segundo lugar foi a melhor posição nesse ano.


Já Ocon era o mais alegre do pódio e também foi quem mais teve trabalho. Com a Ferrari se atrapalhando toda (oh novidade...), o francês passou a ser atacado pela dupla da Mercedes, mesmo com Russell tendo que cumprir uma punição de 5s por ter saído da pista e ter atingido Pérez (ele de novo!) na sua volta à pista na Mirabeau. O ritmo de Hamilton após as paradas indicavam que o inglês tinha uma chance boa de lutar pelo pódio, mas a chuva foi tão passageira quanto alegria de pobre e com um trilho aparecendo rapidamente, ultrapassar se tornou basicamente impossível, mesmo que em nenhum momento ninguém tentou montar os slicks nas voltas finais. Hamilton se conformou com o quarto lugar e com Russell não perdendo posição pela punição, a Mercedes está encostada na Aston Martin no Mundial de Construtores, já que o time de Lawrence é levado nas costas por Alonso, com Stroll tendo pouco mais de um terço dos pontos de Alonso. Uma lástima. Se tem o que lamentar no certame de construtores, a Aston Martin viu Alonso encostar em Checo, graças a atuação medonha do mexicano. Gasly chegou em sétimo e separou as duas Ferraris, com a dupla da McLaren garantindo as duas últimas posições pontuáveis com Lando Norris e Oscar Piastri tendo que ultrapassar Yuki Tsunoda nas últimas voltas, com o nipônico dando mais patadas via rádio por causa de problemas de freios que o deixaram sem pontos no final do dia.


Foi uma corrida mais animada do que o normal, mas apenas por causa da precipitação, que acabou nem sendo tão forte e duradoura. Tanto que o trio que saiu na frente às 15h de Monte Carlo recebeu a bandeirada nas mesmas posições uma hora e cinquenta minutos depois. No entanto, Verstappen, Alonso e Ocon tiveram desafios a enfrentar durante a chuva e se mantiveram na corrida para garantir o pódio. Verstappen já dispara no campeonato e não corre mais atrás do tricampeonato, mas agora corre atrás dos recordes.

sábado, 27 de maio de 2023

Para emoldurar num quadro


 Ok, Max Verstappen tem em suas habilidosas mãos um dos melhores carros da história e se bobear, a Red Bull consegue o fato histórico de vencer todas as corridas do longo calendário da F1 em 2023. No entanto isso não tira a beleza da volta conquistada pelo neerlandês nesse sábado, tirando o doce da boca de Fernando Alonso, enquanto a Aston Martin já comemorava a pole nos boxes.

Muito se falou que o clima em Monte Carlo não estaria bom, mas até o momento o sol se fez presente em todos os dias no principado. Correr em Mônaco nunca foi algo trivial, ainda mais com os carros atuais, tão longos quanto um Landau 1973. E é justamente nessas horas em que a magia do principado regido pela família Grimaldi aparece, mesmo que o beneficiário tenha sido praticamente o mesmo o ano inteiro. Max Verstappen chegou a figurar numa sexta posição durante o Q3 e Alonso tinha acabado de marcar um tempo próximo do imbatível. O próprio espanhol tinha declarado ter forçado como um animal para ficar com a pole, já que Fernando sabe que Mônaco é um das poucas chances que tem para vencer em 2023 e a pole é fundamental em Monte Carlo. O que Alonso não contava era com a magia de Verstappen, que tirou da cartola uma volta excepcional, principalmente no terceiro setor, já que Max não tinha feito o melhor tempo em nenhum dos dois primeiros setores. 

Isso apenas prova que por mais que tenha a vantagem de ter o melhor carro do grid, o piloto ainda faz muita diferença, ainda mais com Sérgio Pérez tendo que largar em último após dar uma senhora pancada na St Devote. O mexicano, expert em circuitos de rua, não foi o único a decepcionar nesse sábado. Enquanto Alonso brilhava e quase conseguia uma pole incrível, Lance Stroll amargava uma 14º posição. Será difícil a Honda engolir o canadense. A Mercedes finalmente se livrou do 'zeropod', mas o ganho foi mínimo, com Hamilton quase ficando pelo Q2, mas o inglês ainda foi capaz de conseguir o sexto tempo. Leclerc estava com a faca nos dentes em casa e arrancou um terceiro lugar levando sua Ferrari sempre no limite extremo. Após algumas semanas de broncas públicas, a Alpine deu um sinal de vida e Ocon garantiu um ótimo quarto lugar, com o francês chegando a figurar na primeira posição por um longo momento no Q3.

Verstappen foi brilhante em sua volta final, apenas provando que seu tricampeonato reflete muito bem o tamanho do talento do neerlandês. Amanhã a previsão novamente é de chuva, dessa vez chegando aos 80%. Se ela virá, como muitos torcem para dar uma virada no campeonato e nas corridas, não se duvida nada que Max Verstappen dará um jeito e contornará mais esse problema com a maestria demonstrada hoje.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Que pena...

 


O automobilismo brasileiro sofreu um duro golpe nessa quarta-feira. Alexandre 'Xandy' Negrão militou por vinte anos na Stock Car, se tornando um piloto de ponta durante a década de 1990, onde conquistou quatro vice-campeonatos quase que consecutivamente. Não se pode dizer que Xandy era um piloto profissional. Dono de uma importante marca farmacêutica, Xandy Negrão era um dos homens mais ricos do Brasil. A Medley, marca de Xandy, também patrocinou vários pilotos e atletas de outros esportes. Desde 2003 de fora da Stock, Xandy passou a focar na carreira do filho, Alexandre como ele e conhecido como Xandinho no meio. O jovem chegou à GP2, mas o sonho da F1 se mostrou alto demais e Xandinho voltou ao Brasil, onde correu na Stock e nos últimos anos se dedica à Endurance. Xandinho também ficou conhecido por ter casado com a atriz Marina Ruy Barbosa. Mesmo ainda acompanhando o filho nas corridas, Xandy sofria com um câncer e nessa quarta-feira o vitimou aos 70 anos de idade. Uma pena... 

Mandando recado

 


Lawrence Stroll realmente ama seu filho e o automobilismo. O canadense colocou na cabeça que seu filho Lance seria um piloto de F1 e não mediu esforços para alcançar o seu objetivo. Deu os melhores equipamentos à Lance na época do kart, que tendo vários coaches, conseguiu vitórias e títulos. Quando Lance chegou às categorias de base, Lawrence foi mais longe. Ele identificava as melhores equipes e as comprava, além de contratar pilotos experientes para rondear o jovem Lance, que venceu na F4 e na F3. Todos percebiam que a ascensão meteórica do canadense tinha alguns pormenores desabonadores, mas Lawrence não ligou para as críticas. Por que não comprar uma equipe de F1? Se pode comprar um, pode-se comprar duas, certo? E uma montadora?

Pois Lawrence Stroll fez tudo isso para ver Lance na F1. Até as zebras dos circuitos da F1 sabem que o canadense, no melhor das hipóteses, é um piloto mediano e que só está na categoria por um único motivo: o bolso fundo do papai bilionário. No entanto, Lawrence é daqueles que pensa alto. Após comprar a Aston Martin e os restos da Force India (dispensando a Williams, que fora a porta de entrada na F1), Stroll pai olha o futuro da sua equipe imaginando ser campeão. Uma equipe cliente dificilmente vence um campeonato na F1. Talvez o único caso seja mesmo a Brawn, que corria com motores Mercedes, sendo que a montadora alemã tinha como grande parceira a McLaren. No ano seguinte a Brawn foi absorvida... pela Mercedes, tornando-se uma equipe de fábrica. Com a Mercedes a quase trinta anos na F1 e com sua equipe consolidada, é claro que os melhores equipamentos ficam para o time de Toto Wolff, mesmo com várias clientes no grid. Lawrence é conhecido no mundo da moda por comprar marcas com problemas para transforma-las em artigos de luxo. Além de ter a satisfação de ter o filhão correndo, Lawrence Stroll enxerga a F1 como um negócio e como acontece no mundo fashion, Stroll não quer ser apenas um coadjuvante. Ele quer vencer. Tendo a Mercedes como parceira, inclusive com ações vendidas à Toto Wolff, Stroll sabia desde então que se quiser ser campeão um dia, ele precisava de uma montadora e transformar a Aston Martin uma equipe de fábrica, mesmo a montadora verde ser uma marca importante na Inglaterra.

Com a Honda procurando um parceiro para mais uma volta em 2026, a Aston Martin se tornou um alvo interessante aos japoneses, ainda mais com competitividade mostrada pela equipe em 2023, onde vários engenheiros de equipes de ponta foram contratados, além de Fernando Alonso. As notícias de que um acordo era iminente surgiram nessa semana e na quarta, foi anunciado o acordo entre Aston Martin e Honda, surgindo um nome tão esquisito quanto a Sauber BMW-Ferrari, de 2010. 

Mesmo com dificuldades em seu início com os motores híbridos, a Honda se consolidou como um dos melhores motores da F1, estando prestes a conquistar seu terceiro título consecutivo, mesmo não apoiando de forma oficial a Red Bull desde o final de 2021. Com todo seu know-how, a Honda voltará como uma força a ser observada a partir de 2026, enquanto Stroll verá sua equipe, sua marca, se tornar uma equipe oficial de fábrica. Porém, existe algumas perguntas a serem respondidas. A equipe Aston Martin ainda é vista como um projeto pessoal de Lawrence para o seu filho estar na F1, porém, a chegada da Honda poderá elevar ainda mais o patamar da equipe Aston Martin, deixando o limitado Lance Stroll no meio do caminho. Lawrence saberá observar a hora de dispensar o próprio filho? Logo no primeiro dia a Honda já mostrou-se interessada nos pilotos, praticamente indicando Yuki Tsunoda para a equipe. Não demorará para a Honda perceber que Lance Stroll não é um piloto de ponta.

Até lá, muito provavelmente Fernando Alonso já terá saído da equipe, evitando o constrangimento da Honda ter novamente o espanhol como piloto, ainda lembrando da turbulenta parceria na McLaren entre 2015 e 2018 e o épico 'GP2 Engine' bradado por Alonso em Suzuka, pista da Honda. A F1 vai atraindo mais e mais montadoras. A chegada da Honda na Aston Martin é um belo recado dado por Stroll sobre o futuro de sua equipe, mas será que Lance estará nela?

sexta-feira, 19 de maio de 2023

O Escocês voador da Indy


 Ele foi uma das grandes estrelas do automobilismo americano no começo desse milênio, se tornando uma lenda na Indy. Dono de um cartel impressionante nas categorias de base britânicas, Dario Franchitti tinha tudo para ir para a F1, mas o destino não quis assim, porém Dario não tem do que reclamar. Esse escocês de origens italianas mudou de continente para conquistar a América com sua pilotagem sólida e sua simpatia. Completando 50 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais da trajetória de Dario Franchitti.


George Dario Marino Franchitti nasceu no dia 19 de maio de 1973 em Bathgate, Escócia. Seus avós tinham raízes na Itália, por isso esse sobrenome, mas Dario nasceu nas ilhas britânicas, onde seu pai George Franchitti era comerciante. E apaixonado por corridas. Ainda muito pequeno Dario teve o primeiro contato com as corridas de carros, fazendo-o se apaixonar por automobilismo, correndo de kart antes mesmo de poder competir. E quando pôde competir, Dario Franchitti se tornou um dos kartistas mais laureados da Grã-Bretanha na década de 1980, vencendo mais de cem corridas, além de inúmeros títulos ingleses e escoceses de kart. Quando completou 17 anos, Dario estreou nos carros na recém-criada Formula Vauxhall Junior pela equipe de um amigo do seu pai. Como não era rico, George Franchitti chegou a hipotecar sua casa para que o filho começasse a traçar sua carreira no automobilismo e Dario não decepcionou, vencendo o campeonato logo em sua estreia. Isso chamou a atenção de outro escocês, bem mais famoso. Jackie Stewart tinha uma das equipes mais estruturadas do automobilismo de base britânico e viu em Franchitti uma estrela em potencial. Mesmo campeão, Franchitti não tinha dinheiro para se graduar para a Formula Vauxhall Lotus, seu próximo passo natural, numa categoria muito próxima do que era a F-Chevrolet no Brasil. Stewart investiu em Dario e o colocou em sua equipe, fazendo com que Franchitti fosse o novato do ano, conquistando vários pódios. No final de 1992, Franchitti ganhou seu primeiro grande prêmio, ao vencer o conceituado Autosport BRDC, além de preciosos vinte mil libras. Sem contar um teste com a McLaren F1 em alguns anos.


Ainda precisando de dinheiro, Dario chegou a se tornar instrutor de pilotagem e fez algumas corridas de turismo, algo que lhe ajudaria bastante num futuro breve. Enquanto isso, Franchitti faria um segundo ano na Formula Vauxhall Lotus em 1993 e dessa vez o escocês não dá chances ao azar e conquista o campeonato com antecedência, se credenciando para ser uma futura estrela no automobilismo internacional. Ainda na equipe de Jackie Stewart, Franchitti vai para a F3 Inglesa em 1994, alcançando o quarto lugar no campeonato e uma vitória em Silverstone. Olhando de uma perspectiva amena, o ano de Franchitti foi bem decente, mas olhando o contexto, Dario deixou um pouco a desejar. Seu companheiro de equipe Jan Magnussen conquistou o título com direito a quebra de recorde de vitórias no ano e Franchitti cometeu erros demais, que lhe privaram algumas vitórias. Mesmo mostrando bons resultados, a falta de financiamento ainda era um obstáculo para Dario Franchitti deslanchar na carreira e não querendo onerar ainda mais seu orçamento doméstico, cujo pai ainda suava sangue para manter o filho correndo, Franchitti aceitou uma proposta que o tiraria da trajetória para a F1, seu grande objetivo. 

Em meados da década de 1990, o DTM tinha um campeonato espetacular, com os carro tendo uma tecnologia muitas vezes superior à F1. Suspensão ativa, freios ABS, câmbio automático, motores turbo... todos esses aparatos proibidos na F1 eram presentes no DTM. A Mercedes tinha criado um programa para jovens pilotos, mas ainda bem focado no campeonato alemão de turismo. Pretendendo se tornar um piloto profissional, Franchitti aceitou a proposta da Mercedes e ao invés de ir para um segundo ano na F3 Inglesa ou graduar-se para a F3000, o escocês partiu para as disputadas corridas de turismo. E Dario não comprometeu. Já tendo alguma experiência em corridas de turismo, Franchitti rapidamente se tornou um dos principais pilotos do campeonato, vencendo uma corrida em Mugello e terminando o campeonato em quinto. Para 1996 o campeonato muda de nome e se torna o ITC, com chancela da FIA. Não é exagero dizer que o ITC era um dos melhores campeonatos da época, com corridas em todo o mundo, inclusive uma rodada dupla inesquecível em Interlagos, causando admiração até hoje para quem acompanhou aquelas corridas. Correndo ao lado do então campeão Bernd Schneider, Franchitti evoluiu ainda mais em seu segundo ano no campeonato, vencendo uma corrida em Suzuka. Contudo, o alto custo de um campeonato tão tecnológico acabou custando, literalmente, caro. Alfa Romeo e Opel desistiram do campeonato no final de 1996 e com somente a Mercedes se mostrando interessada, o ITC/DTM foi encerrado, terminando um dos certames mais charmosos e com carros mais bonitos de todos os tempos.



Isso foi um golpe e tanto para Franchitti, que fora quarto no campeonato e seu nome chegara a ser ligado a F1 novamente. Ron Dennis chegou a oferecer um longo contrato à Franchitti como piloto de testes, mas sem nenhuma garantia que Dario se tornasse piloto titular, ainda mais com seu compatriota e antigo rival no kart, David Coulthard, tendo acabado de chegar à equipe. No entanto, a Mercedes ainda tinha laços com Franchitti e Paul Morgan, sócio da Ilmor, indicou o escocês à Carl Hogan, que usava motores Mercedes na Indy. Hogan recebeu uma recomendação de Stewart e deu um teste para Franchitti no começo de 1997, o contratando logo em seguida. Rapidamente Franchitti se readaptou aos monopostos e todos na Indy perceberam que o escocês era uma joia a ser lapidada. Mesmo perdendo o título de novato do ano para Patrick Carpentier, Franchitti chamou a atenção das equipes grandes e ainda no meio de 1997 ele foi contratado pela equipe Green. Hogan ficou uma fera com a negociação debaixo do seu nariz e demitiu Dario antes do fim da temporada, mas Franchitti nem ligou muito. Ele iria para uma equipe mais estruturada em 1998, que usava o pacote vencedor Reynard/Honda/Firestone, que dera os últimos dois títulos para a equipe Ganassi. Franchitti teria ao seu lado o explosivo Paul Tracy e os bons resultados não demoraram a aparecer, subindo ao pódio em Long Beach e conquistando a primeira pole na Indy, na corrida Rio400. As primeiras vitórias só viriam no final do campeonato: Laguna Seca, Vancouver e Houston. Nessa última, Franchitti e Tracy brigavam pela vitória debaixo de muita chuva e o canadense acabou no muro. Ao chegar nos pits, Tracy e Barry Green quase saíram no tapa. Terminando em terceiro no campeonato, Franchitti foi ainda mais confiante para a sua segunda temporada na Green, mas ele não sabia que uma ameaça vinha do seu continente natal. Juan Pablo Montoya tinha sido campeão da F3000 e iria para a Indy como contrapeso da negociação que levou o bicampeão Alex Zanardi de volta para a F1. O fogoso colombiano não demorou a mostrar serviço, com seu estilo agressivo de pilotar, empilhando vitórias e... abandonos. Já Franchitti tinha uma pilotagem mais sóbria, mas bem mais eficiente. Quando venceu em Toronto e Detroit, Dario se tornou o maior adversário de Montoya, que impressionava a todos, mas quando Franchitti venceu pela terceira vez na temporada 1999, em Surfer's Paradise, era o escocês quem liderava o campeonato com nove pontos de vantagem em cima de Montoya, que tinha vencido incríveis sete vezes, quando a Indy foi para a sua corrida derradeira, em Fontana. 

Com seus 26 anos de idade, Dario Franchitti formou uma irmandade com pilotos com idades parecidas. Dario, Tony Kanaan, Max Papis e Greg Moore andavam constantemente juntos no circo da Indy. Já com contrato assinado com a Penske, Moore sofreu um acidente numa scooter, mas no sacrifício partiu para a corrida em Fontana. Ainda no início da prova, Greg Moore perdeu o controle do seu carro e se espatifou no muro interno do oval californiano, num dos acidentes mais brutais da história do automobilismo. Moore morreu poucos minutos depois. A corrida continuou normalmente. Com um carro longe do acerto ideal, Franchitti foi apenas décimo. Com um quarto lugar, Montoya empatou em pontos com Franchitti, mas faturou o título por ter mais vitórias. Informado da morte de Moore depois da corrida, Dario chorou bastante. Moore teria uma influência definitiva na vida de Dario, pois foi o canadense quem apresentou à Franchitti a jovem atriz Ashley Judd, com quem Dario Franchitti se casaria mais tarde e os dois se tornariam um dos casais mais conhecidos dos Estados Unidos.



Apesar do sucesso na Indy, Dario Franchitti ainda via a F1 como uma opção desejada. Dario chegou a ser convidado por Jackie Stewart a correr em sua equipe em 1999, mas recusou a proposta por achar que poderia ganhar experiência na Indy, brigando por vitórias. Porém, Jackie não havia esquecido seu pupilo. Tendo vendido sua equipe à Ford no final de 1999, renomeando a equipe para Jaguar, Stewart agendou um teste para Franchitti no ano 2000. Porém, tudo sairia bastante errado para o escocês. Ainda nos testes de pré-temporada da Indy no começo do ano, Franchitti sofreu um sério acidente em Homestead, onde teve fraturas por todo o corpo e uma séria concussão cerebral. Isso afetou o nível de atenção de Dario, que fez uma temporada muito abaixo do esperado. O escocês esteve longe da briga pelo título e não venceu nenhuma corrida na temporada. Seu teste com a Jaguar em julho de 2000 foi fracasso e as chances de Franchitti na F1 praticamente acabaram ali. Mesmo assim, a Green renovou o contrato de Dario, que voltou a vencer em 2001 (Cleveland), mas novamente esteve longe de lutar pelo título. Os resultados melhoraram em 2002, mas havia um porém. Com a saída da Penske da CART no final de 2001, o campeonato ficou esvaziado, deixando o grid com magros dezoito carros na maioria das provas. Franchitti venceu três vezes, mas a sua equipe já estava com a cabeça na IRL, tanto que Dario pôde estrear nas 500 Milhas de Indianápolis daquele ano, num ensaio da equipe Green para mudar de certame. Seguindo a Penske, Ganassi e Green foram para a IRL. Apenas a teimosa Newman-Hass permaneceu nos restos do que fora a grande CART e o time chegou a tentar contratar Franchitti, que resolveu seguir a equipe e ir para a IRL, que ainda mantinha algumas tradições do motivo que fora criada e só corria em oval na ocasião. Outra mudança era a entrada de Michael Andretti como um dos sócios da equipe, que passaria a se chamar Andretti-Green, sem contar que Dario receberia seu grande amigo Tony Kanaan na equipe. Contudo, o primeiro ano de Franchitti na nova categoria foi longe de ser um mar de rosas. Um acidente fora das pistas fez com que Dario passasse a maior parte do ano de fora, só participando de três corridas em 2003, sendo substituído por Bryan Herta e o jovem inglês Dan Wheldon. Mesmo com esse problema, Franchitti voltaria à equipe Andretti-Green em 2004 e a temporada se mostraria arrebatadora para o time. Enquanto Penske e Ganassi corriam com motores Toyota, a Andretti-Green usava motores Honda e tendo apoio da montadora, a equipe de Michael Andretti dominou a temporada. Com uma equipe entrosada e muita camaradagem entre os pilotos, Tony Kanaan conquistou o campeonato, enquanto Franchitti conquistava sua primeira pole na IRL (Texas) e vitória (Milwakee), terminando campeonato em sexto.


A Andretti-Green continuou dominando em 2005 e Franchitti se aproveitou para garantir mais uma vitória, ganhando duas posições no campeonato. Naquele ano a Toyota saiu da Indy e com todas as equipes usando motores Honda em 2006, a diferença para a Andretti-Green e as demais grandes (Penske e Ganassi) desapareceu e após duas temporadas de sonho, a equipe AGR viu a concorrência aumentar. Franchitti permanecia na equipe, mesmo com resultados medianos. O escocês pensou até mesmo em sair da Indy e mudar de carreira dentro do automobilismo. Dario completava dez anos nos Estados Unidos e a grande realidade era que após o acidente no início de 2000, Franchitti nunca mais tinha brigado pelo título. Franchitti resolve ficar mais um ano na Andretti-Green, que nunca lhe deveu apoio, além de ter sempre ao seu lado seu grande amigo Tony Kanaan. O início de 2007 não prometia algo muito melhor para Franchitti, com resultados entre os dez primeiros, mas sem grandes sobressaltos. Então veio as 500 Milhas de Indianápolis. A chuva estava à espreita daquela edição das 500 Milhas, mas a corrida começou no horário, com uma disputa intensa pela ponta entre Tony Kanaan, Marco Andretti e Scott Dixon. Com pouco mais da metade da corrida, uma chuva forte caiu sobre Indianápolis e tudo levava a crer que Tony Kanaan finalmente venceria as 500 Milhas, mas após três horas de espera, a pista foi seca e foi dada a relargada, com Tony sofrendo um acidente, adiando seu triunfo em Indiana. Quando Tony bateu, quem assumiu a liderança foi Dario Franchitti e quando houve forte acidente entre Marco Andretti e Dan Wheldon, outra chuva forte apareceu em Indianápolis, dessa vez para encerrar a corrida e consagrar Franchitti. Vencer em Indianápolis é uma bomba de confiança em qualquer um e Dario embalou no campeonato, vencendo mais duas vezes, se isolando na liderança do campeonato. Na penúltima corrida da temporada em Sonoma Franchitti tinha chances matemáticas de conquistar o título, mas um rumoroso toque com Marco Andretti quase pôs tudo a perder. Na última corrida em Chicago, a disputa entre Franchitti e Scott Dixon foi franca, acabando por ser vencida pelo escocês nas voltas finais, quando Dixon ficou sem combustível e Dario venceu pela quarta e decisiva vez.


A polêmica do toque com Marco em Sonoma tinha muito pelo o que acontecia nos bastidores. Após anos apostando em Dario, Michael Andretti esperava que, campeão da Indy e vencedor das 500 Milhas, a renovação com Franchitti seria natural, mas o escocês simplesmente aceitou uma proposta da Ganassi, deixando o clã Andretti irritadíssimo. Porém, o destino de Franchitti seria um pouquinho diferente. Querendo diversificar suas experiências nas corridas, Dario aceitou uma proposta bem arriscada. Na primeira década desse século, a Nascar vivia seu melhor momento na história, com uma popularidade nunca vista, a ponto da família Francis olhar para fora dos Estados Unidos. A categoria já contava com o colombiano Juan Pablo Montoya, animando os latinos, e a partir de 2008 contaria com o então vencedor das 500 Milhas de Indianápolis e europeu Dario Franchitti, chamando ainda mais atenção de todos dentro e fora dos Estados Unidos. Ainda em 2007 Franchitti fez suas primeiras corridas na ARCA e na Nationwide Series, com resultados decentes, mas quando estreou na então Sprint Cup, Franchitti percebeu que o buraco era mais embaixo e nem sua experiência em carros de turismo e ovais lhe ajudariam. Para piorar, Dario sofreu um sério acidente em Talladega, que lhe resultou numa fratura no tornozelo e lhe tirou do resto da temporada. Estava na cara que a passagem de Dario Franchitti pela Nascar não tinha dado certo, mas ainda com um contrato com a Ganassi, o escocês resolveu retornar para a Indy em 2009. Para começar uma rara era de dominação. Em sua terceira corrida de seu retorno, Franchitti venceria em Long Beach, entrando na briga pelo título com seu companheiro de equipe, Scott Dixon, e o australiano Ryan Briscoe, da Penske. Na última corrida em Homestead, Franchitti arrisca uma estratégia de economia de combustível que lhe daria a vitória e o título, quando já via Briscoe, muito mais rápido, encostando nele. Para 2010, Dario conquistaria sua segunda Indy500 numa prova dominante, onde liderou 155 voltas, deixando para trás o favorito e pole, Helio Castroneves. Porém, o maior rival de Franchitti no campeonato foi outro piloto da Penske. Will Power fazia sua primeira temporada completa na Penske e mostrava uma velocidade estonteante nos circuitos mistos, conseguindo cinco vitórias nesse tipo de pista, mas o australiano, vindo do automobilismo europeu, sofria nos circuitos ovais, algo que Franchitti já dominava faz algum tempo. Com as últimas quatro provas em pistas ovais, Franchitti conseguiu uma virada épica sobre Power, conquistando seu terceiro título, o segundo consecutivo.


Franchitti partiu para a defesa do seu título em 2011 sabendo que teria que administrar muito bem os pontos nos ovais, pois naquela época Power se mostrava quase imbatível em circuitos mistos. Logo na primeira etapa do ano, Franchitti venceu em St Petersburg, mostrando que poderia bater Power em seu próprio terreno. Porém, a primeira vitória de Power num oval, no Texas, provaria que aquele campeonato seria ainda mais difícil que o anterior. Naquela época, a Indy se autointitulava como a 'categoria mais rápida e emocionante do mundo'. Não faltavam chegadas apertadas, mas por trás de toda essa emoção, a Indy escondia um grande perigo. Em circuitos ovais, a Indy fazia com que os carros andassem muito próximos a grandes velocidades. Não faltavam cenas de carros andando a milímetros uns dos outros a mais 350 km/h. Alguns acidentes já aconteciam, mas nenhum com grande gravidade. O desastre apenas espreitava. Porém, para a última corrida do ano, no oval de uma milha e meia em Las Vegas, a Indy resolve fazer uma grande promoção da prova, fazendo convites a vários pilotos de outras categorias. Até mesmo da F1 e da MotoGP. Apenas um piloto aceitou o desafio de correr em Las Vegas. Dan Wheldon já não fazia a temporada inteira da Indy, mas naquele ano venceu as 500 Milhas de Indianápolis na base da sorte, lhe garantindo um lugar na Andretti em 2012. Como ninguém aceitara os convites da Indy, Wheldon entrou na brincadeira. Ele largou em último e se vencesse a corrida, ele e um torcedor sorteado ganhariam um prêmio milionário. Em meio a tudo isso, novamente Franchitti e Power brigavam pelo título, com Dario tendo uma vantagem de dezoito pontos. Um total de 34 carros largariam num circuito curto e as médias de velocidade chegavam a 355 km/h. Era a tempestade perfeita. Ainda no começo da corrida, um acidente impressionante envolveu vários carros, incluindo de Wheldon, que estava no meio do pelotão. O inglês se chocou contra a cerca de proteção e morreu na hora. Após uma longa espera, a morte de Wheldon foi anunciada e a corrida foi cancelada. Aos prantos, Dario Franchitti recebia a notícia que era tetracampeão da Indy, mas como ocorrera doze anos antes, não havia festa.


A Indy foi imensamente criticada por promover uma corrida com tantos pilotos (alguns sem condições) numa pista tão curta e rápida. O novo carro da Dallara estrearia em 2012 e com o acidente que matou Wheldon, novas medidas de segurança chegaram, como as rodas traseiras cobertas. Ironicamente, Franchitti teria muitas dificuldades com o novo carro que levava o nome do seu amigo Wheldon. Porém, a única vitória de Dario Franchitti ocorreria na corrida mais importante. A Honda estava muito forte o mês inteiro em Indianápolis e a Ganassi aproveitou para liderar boa parte da corrida com Franchitti. Porém, Takuma Sato vinha muito forte com um motor Honda vindo diretamente do Japão. Na abertura da última volta, Sato tentou uma manobra para lá de otimista em cima de Franchitti e acabou no muro. Usando sua experiência, Dario se livrou do atrapalhado japonês para vencer pela terceira vez as 500 Milhas de Indianápolis, entrando de vez na lista das lendas da Indy. Porém, o resto do ano não foi positivo para Dario, com quatro poles que não resultaram em nenhuma vitória e apenas o sétimo lugar no campeonato. A Indy começava a se recuperar após tantos anos de turbulência. Não havia mais duas Indys e o grid ia se fortalecendo com novos pilotos, sendo que alguns faziam como Franchitti, saindo da Europa para tentar a sorte nos Estados Unidos. Os resultados de Franchitti caíam a olhos vistos, quando a Indy foi para Houston, já no final da temporada 2013. Na volta final, Dario Franchitti se envolveu num sério acidente com Sato e Ernesto Viso, onde o carro do escocês bateu na cerca de proteção, machucando alguns expectadores e um comissário. Com um tornozelo quebrados, duas vértebras quebradas e uma séria concussão cerebral, Franchitti foi levado ao hospital para uma série de cirurgias. Após tantas pancadas ao longo da carreira, os médicos falaram à Dario Franchitti que um novo acidente poderia lhe deixar paralisado, sem contar que a pancada na cabeça, juntando às outras que já teve, o deixou com um déficit de atenção. Já contando com 40 anos de idade, Dario Franchitti resolveu abandonar as corridas com um cartel impressionante. Foram 151 largadas, 21 vitórias, 59 pódios, 23 poles, quatro títulos (2007, 2009, 2010 e 2011) e três vitórias em Indianápolis (2007, 2010 e 2012).


Imediatamente após sua aposentadoria, Franchitti se tornou consultor da Ganassi e lembrando do seu difícil início de carreira, resolveu ajudar seu irmão mais novo, Marino Franchitti, e seu primo, Paul di Resta no rumo do automobilismo profissional. Paul fez uma trilha bem parecida de Dario, indo para o DTM, mas ao contrário do primo, Di Resta conseguiu ir para a F1 e fez carreira decente, antes de se tornar comentarista. Nos seus tempos de Ganassi, Franchitti também participou das 24 Horas de Daytona, vencendo a prova em 2008, aumentando ainda mais sua cota como lenda do automobilismo americano, ao lado do seu compatriota Jim Clark. Por sinal, o apelido de Escocês Voador que Dario ganhou foi por causa de dois acidente idênticos, onde Franchitti saiu literalmente voando. Franchitti também se tornou comentarista de automobilismo, participou de filmes, mesmo se separando de Judd no momento em que se aposentava. Em 2014, Dario se tornou Membro da Ordem do Império Britânico e entrou em vários Hall da Fama. Dario Franchitti tinha sua carreira endereçada para a F1, mas mesmo não conseguindo seu objetivo, Dario se tornou uma lenda no automobilismo americano, ganhando tudo o que era possível na Indy para se tornar um dos gigantes da categoria.

Parabéns!

Dario Franchitti

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Molhou

 


A F1 é conhecida por ignorar a realidade ao seu redor e sediar corridas em lugares que viviam momentos peculiares, como a África do Sul no auge do Apartheid, onde nenhum esporte ia para o país e seu odioso regime. Ano passado mesmo correu-se na Arábia Saudita tendo como pano de fundo um tanque de petróleo em chamas, atingido por um míssil de um país antagonista dos sauditas e quando o Covid paralisava o mundo inteiro em março de 2020, a F1 só cancelou a corrida na Austrália nas portas do primeiro treino livre, com várias pessoas já... aglomeradas!

No entanto a F1 não pode ultrapassar todos os obstáculos, ainda mais naturais. Uma semana antes do Grande Prêmio da Emilia-Romagna, a região vivia um drama com tempestades e nesta terça-feira, com as equipes já se instalando na pista de Ímola, uma chuva torrencial alagou parte do paddock, mas o pior estava ao redor. As chuvas acumuladas transbordaram dezenas de rios, causando vários transtornos para os moradores da região, além de cinco mortes confirmadas. E a previsão era de mais chuva ao longo da semana e o bom senso foi mais forte do que o dinheiro dessa vez e a corrida em Ímola nesse final de semana foi cancelada.

Para quem é fã de F1, pode ser uma pena, porém, não há nenhum clima para se realizar um grande evento em Ímola, onde centenas de autoridades estão ajudando os desabrigados e não teriam como promover uma corrida de F1. No fim, a vida é mais importante e é esperado que o cotidiano ao redor de Ímola melhore com o fim das tempestades que destruíram toda a região. Que a F1 volte no futuro à Ímola, num ambiente mais ameno.

domingo, 14 de maio de 2023

Uma festa milionésima

 


O Mundial de Motovelocidade estava em festa nesse final de semana em Le Mans. Desde 1949 emocionando os fãs, a categoria principal chegou ao seu milionésimo Grande Prêmio e num palco mítico, viu uma vitória de Marco Bezzecchi, mas que teve como principal piloto Marc Márquez, um dos gigantes da MotoGP  ao longos dos anos, mas que infelizmente caiu na penúltima volta, após dar um verdadeiro banho de pilotagem em cima do impetuoso Jorge Martin. Enquanto isso, Bezzecchi sumia na frente e se aproveitando de mais uma queda de Bagnaia, encosta de vez na luta pelo campeonato.

A corrida em Le Mans foi bastante bagunçada e apenas treze pilotos receberam a bandeirada. Foram várias quedas, punições e até mesmo uma quase troca de sopapos na caixa de brita. Jorge Martin havia vencido a Sprint nesse sábado se aproveitando de uma ótima largada, mas no domingo os adversários estavam espertos e não deixou que o espanhol repetisse a manobra. Bagnaia largou com extrema cautela e não manteve a ponta, enquanto Márquez começava seu show ao ficar na ponta, segurando um pelotão de motos europeias muito mais equilibradas do que a sua. Claro que havia um entusiasmo maior dos pilotos em colocar seus nomes como o vencedor da corrida mil da Moto GP (claro, juntando às 500cc, pré-2002) e talvez por isso houve uma maior agressividade. Maverick Viñales vinha crescendo na corrida e já se aproximava de Bagnaia na luta pelo pódio. O espanhol da Aprilia completou a ultrapassagem de forma limpa na entrada de um Esse, mas quando Bagnaia tentou dar a volta, simplesmente ignorou a presença de Viñales e ambos foram ao chão. Nervosos, ambos quase foram às vias de fato, mas depois foram vistos fazendo as pazes.


Praticamente ao mesmo tempo, Alex Márquez, que quase fez um strike na curva 4, e Luca Marini protagonizaram um perigoso acidente, onde Alex ficou no meio da pista, correndo sério risco de atropelamento, mas felizmente nada houve com o espanhol, enquanto Marini foi ao hospital. Com quatro pilotos a menos na sua frente, Bezzecchi se aproveitou para subir novamente o pelotão. O italiano da equipe VR46 já tinha sido punido por ultrapassar Martin quase jogando o espanhol para fora da pista, mas já estava em terceiro, pressionando Jack Miller e Marquez. Mesmo usando a Ducati versão 2022, Bezzecchi não tomou conhecimento dos dois experientes pilotos e assumiu a ponta. Para ajudar a causa do italiano, Miller viu seus pneus dar 'bye' e Márquez começar um show de pilotagem defensiva, principalmente quando Martin começou seus ataques. A Honda errou novamente e enquanto Mir e Rins caíam quando corriam abaixo do top-10, Márquez segurava uma segunda posição literalmente no braço, mostrando ao impetuoso Martin que Marc não tem oito títulos à toa.

Porém, Márquez foi traído por sua péssima moto. Em mais uma tentativa de recuperar a posição de Martin, já na penúltima volta, Marc caiu e viu o pódio ir embora, numa tremenda injustiça. Para a torcida francesa, pelo menos Zarco fez as vezes de bom anfitrião e subiu ao pódio, encostrando em Martin por causa da disputa com Márquez, mas Johan preferiu manter o pódio. Quartararo fez uma corrida anônima, com a Yamaha disputando com a Honda pelo posto de pior moto da categoria rainha. Bezzecchi simplesmente desapareceu com a defesa de Márquez e venceu com quase 5s de frente para Jorge Martin, com Zarco completando um pódio inteiramente dominado por equipes satélites. Com o infortúnio de Bagnaia, não apenas Bezzecchi encostou, mas como também trouxe Martin e Binder para a briga do campeonato. Na corrida mil da MotoGP, tivemos uma corrida cheia de alternativas e que deixou o campeonato ainda mais aberto.

sábado, 13 de maio de 2023

Bom ensaio

 


Mesmo já contando com um título na Indy, Alex Palou não é aquele piloto de encher os olhos dos fãs. O espanhol tem na solidez e na eficiência suas maiores marcas, lhe garantindo corridas e campeonatos consistentes. A briga com que Palou se meteu com a Ganassi o atrapalhou no ano passado, praticamente lhe impedindo de defender o título conquistado em 2021, mas na corrida derradeira da temporada passada Alex já mostrava que, tendo arranjado uma conciliação com Chip Ganassi, o espanhol também era capaz de corridas dominantes. Nesse sábado no circuito misto de Indianápolis, Palou teve uma prova parecida com a vitória em Laguna Seca no ano passado. Numa prova fluída, Palou destruiu seus adversários, conseguindo uma diferença rara de 15s sobre o segundo colocado Pato O'Ward na bandeirada, iniciando o mês de maio em Indianápolis da melhor forma possível.

O início da prova em Indianápolis teve o novo pole da Indy, Christian Lundgaard, se mantendo na ponta, segurando bem o rojão de ter largado pela primeira vez na sua ainda curta carreira na Indy na frente do pelotão feroz da Indy. O dinamarquês da equipe Rahal já começa a chamar a atenção de equipes maiores e a exibição dele em Indianápolis só reforça que Lundgaard brevemente estará numa das equipes do trio de ferro. Palou largou em terceiro e saindo com os pneus macios, o espanhol rapidamente partiu para cima de Rosenqvist e Lundgaard, assumindo a ponta no começo da prova, após a única bandeira amarela do dia, num acidente tosco provocado por David Malukas. Os pneus macios tinham um desempenho muito superior no começo dos stints, mas perdia rendimento com o andar da corrida e Palou não durou muito na ponta, mas quando começaram as paradas, Alex tratou de ter o maior tempo possível os pneus duros, que resistiam muito bem na média geral. Palou se garantiu à frente de Lundgaard, mas a disputa pela ponta não havia terminado.

Se na F1 a McLaren sofre, na Indy a equipe vai muito bem, obrigado. Os três pilotos do time liderado por Zak Brown largaram entre os cinco primeiros e se manteve no pelotão dianteiro o tempo todo, alternando seus pilotos de acordo com os pneus que usavam. Com pneus macios, disparavam por um tempo, mas logo era ultrapassado pelo companheiro de equipe, mesmo que algumas vezes essa equação quase dava problema, como quando Rossi quase bateu em Rosenqvist numa tentativa de ultrapassagem. O'Ward logo se colocou como piloto principal e dos quatro stints da corrida, três usou a borracha dura e na saída da segunda parada, quase se colocou na frente de Palou, o que poderia atrapalhar o espanhol da Ganassi, mas o ritmo de Palou era simplesmente muito superior. No último stint, mesmo com pneus macios novos, O'Ward simplesmente não conseguiu se aproximar de Palou em nenhum momento. Quando os pneus macios de Pato começaram a decair, Palou impôs ótimos 15s sobre o piloto da McLaren, uma cena rara na Indy, mesmo numa corrida praticamente sem bandeiras amarelas. Lundgaard preferia os pneus macios e com eles o danês perdeu muito rendimento no quarto final da corrida, ultrapassado pelas duas McLarens de Rossi e Rosenqvist, completando um 2-3-4 para a McLaren.

Colton Herta, cada vez mais pressionado para conseguir novamente uma vitória na Indy, arriscou com pneus macios no fim, mas quando o desgaste chegou, o americano da Andretti caiu de quinto para nono, ultrapassado por Dixon e Newgarden. A equipe Penske mal apareceu na pista do patrão. Will Power foi tocado por Kirkwood no início, caiu para as últimas posições e ainda salvou posições no meio do pelotão, enquanto Newgarden foi o melhor colocado do time do Capitão, mas bem longe da batalha pela vitória. McLaughlin teve problemas no fim e caiu para as últimas posições, chegando próximo de Helio Castroneves. O implacável tempo chega para todos, até mesmo para pilotos que tiveram seus dias de glória, mas aos 48 anos recém-completados, Helio está cada vez mais assentado na categoria 'ex-piloto em atividade'. Além de exibições ruins, Castroneves está sendo bastante atrapalhado pela péssima fase de sua equipe, que chegou a liberar Pagenaud com uma porca frouxa de um pit-stop. Nem os ares de Indianápolis, que tão bem faz à Hélio, fez a diferença nesse ensaio para o que realmente importa.

Mesmo sendo num circuito misto, a corrida desse sábado é uma espécie de início dos trabalhos para o circo da Indy para a grande corrida do ano: as 500 Milhas de Indianápolis. Os testes já começam nessa terça-feira, com as classificações ocorrendo no próximo final de semana. Dependendo do que foi visto nesse sábado, a Ganassi vem muito forte, enquanto a Penske ainda titubeia e a Andretti precisa decidir focar na Indy ou em sua aventura na F1, que nem começou, mas já toma bastante tempo de Michael. Enquanto Penske e Andretti patinam, a McLaren vai forte com seus três pilotos. Alex Palou iniciou o programa de Indianápolis da melhor forma possível. Em 2021, Palou pecou pela pouca experiência na luta com Helio Castroneves pela vitória na Indy500, mas com mais cancha, Palou mostrou hoje que entrará nesse mês de maio ainda mais forte. 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Nascar nunca decepciona...

 Na última etapa no Kansas, Noah Gragson e Ross Chastain quase se tocaram numa típica disputa da Nascar, mas Gragson não gostou muito e foi tomar satisfação com Chastain. Ele deve ter se arrependido...


segunda-feira, 8 de maio de 2023

Figura(MIA): Max Verstappen

 Max Verstappen chegou à Miami farejando sangue. Para um animal competitivo como o neerlandês, perder duas vezes num mesmo final de semana para o seu companheiro de equipe, como aconteceu em Baku, deve ser uma dor lacerante para Verstappen, ainda mais com Sérgio Pérez se engraçando no campeonato. Verstappen já estava na F1 e pilotando nas primeiras posições em 2016 quando Nico Rosberg conseguiu tirar um título que estava endereçado à Lewis Hamilton, quando a Mercedes nadava de braçada, assim como ocorre com a Red Bull em 2023. Verstappen já tem a mentalidade mais sólida do que Hamilton em sua décima temporada de F1, na ocasião da derrota para Nico. Max não precisava apenas da vitória. Max precisava de uma consagração nesse final de semana. E Verstappen o fez na sem graça pista de Miami. Desde os primeiros treinos livres o piloto da Red Bull esteve em outro nível, inclusive em comparação à Sérgio Pérez, recém-empossado Rei das Ruas. Pois num circuito rua Verstappen vinha superando Checo de forma inapelável, mas tendo que largar em nono fruto do destino (e de mais uma presepada de Leclerc no sábado), Verstappen escalou o pelotão usando apenas a força do seu Red Bull RB19 nas primeiras voltas. Ao natural. Quando só teve Pérez à sua frente, Max soube administrar seus pneus duros por mais de quarenta voltas com um ritmo competitivo antes de dar um xeque-mate em Checo Pérez e vencer uma corrida que mostra de forma cristalina um recado de Verstappen ao mexicano: nem venha, Checo, o título de 2023 é meu!

Figurão(MIA): Charles Leclerc

 Sabemos que a Ferrari está fazendo uma temporada 2023 decepcionante, com resultados bem abaixo do que era visto ano passado, quando os italianos chegaram a dar a impressão que brigariam com a Red Bull pelo título, tendo Leclerc como ponta de espada contra seu antigo rival no kart, Max Verstappen. Também sabemos que o carro italiano desse ano está longe de ser equilibrado e que para se conseguir tirar tempo dele, o piloto tem que andar no limite. É de conhecimento geral que a Ferrari tem sérios problemas com o ritmo de corrida, caindo muito de desempenho, muito pelo alto desgaste de pneus. Porém, nada disso alivia o final de semana medíocre de Charles Leclerc em Miami. Vindo de uma surpreendente pole em Baku, Leclerc sabia que para repetir o feito em Miami, igualmente um circuito de rua, o monegasco precisava levar a Ferrari SF-23 ao limite. Porém, antes Charles precisava levar o carro inteiro até o final e Leclerc conseguiu a proeza de errar duas vezes na mesma curva nos treinos, batendo sua Ferrari em ambas ocasiões, inclusive decidindo a classificação, atrapalhando a volta do favoritíssimo Verstappen. Se na classificação a coisa já tinha sido complicada, a situação na corrida tendia a ser bem pior. E foi. Leclerc fez o que dele se esperava ao ultrapassar a Haas de Kevin Magnussen ainda nas primeiras voltas, mas quando todos pensavam que Charles ia... ele levou o troco do dinamarquês. Para piorar, Leclerc passou dois terços sem conseguiu ultrapassar K-Mag, condenando sua corrida ao ostracismo. O sétimo lugar de Leclerc, após ultrapassar a muito custo Magnussen, pode ser considerado um lucro para o piloto da Ferrari, mas mesmo com tantas dificuldades vindos de sua equipe, Leclerc precisa performar melhor e liderar seu time rumo a um reviravolta. 

domingo, 7 de maio de 2023

Resposta

 


Max Verstappen chegou à Miami farejando sangue. Para um animal competitivo como o neerlandês, perder duas vezes num mesmo final de semana para o seu companheiro de equipe deve ser uma dor lacerante, ainda mais com Sérgio Pérez se engraçando no campeonato. Verstappen já estava na F1 e pilotando nas primeiras posições em 2016 quando Nico Rosberg conseguiu tirar um título que estava endereçado à Lewis Hamilton, quando a Mercedes nadava de braçada, assim como ocorre com a Red Bull em 2023. Verstappen já tem a mentalidade mais sólida do que Hamilton em sua décima temporada de F1, na ocasião da derrota para Nico. Max não precisava apenas da vitória. Max precisava de uma consagração. E Verstappen o fez na sem graça pista de Miami. Largando apenas em nono fruto do destino (e de mais uma presepada de Leclerc), Verstappen escalou o pelotão usando apenas a força do seu Red Bull RB19 nas primeiras voltas. Ao natural. Quando só teve Pérez à sua frente, Max soube administrar seus pneus duros por mais de quarenta voltas com um ritmo competitivo antes de dar um xeque-mate em Checo Pérez e vencer uma corrida que mostra de forma cristalina ao mexicano: nem venha Checo, o título de 2023 é meu!


Conhecida por ser a Cidade Mágica, Miami se notabiliza pelo seu caldeirão cultural, com vários latinos morando na cidade da Flórida, além de um ambiente descontraído, como toda cidade a beira mar. Porém, isso não explica totalmente as equipes quererem mostrar novas cores em seus equipamentos e os pilotos trazerem capacetes com cores vibrantes, para usar um adjetivo ameno para brega. A pista de rua ao redor do estádio do Miami Dolphins nem parece muito um circuito de rua, com curvas abertas e praticamente sem nenhuma curva de esquina, como se caracteriza as pistas citadinas. Fora das pistas, uma imensidão de celebridades e convidados especiais, incluindo a unanimidade Roger Federer. Porém, os pilotos já avisavam que a pista miamian poderia trazer inúmeras dificuldades de ultrapassagem, como foi visto semana passada em Baku. Essa era a esperança de Pérez após a classificação desse sábado, quando o mexicano ficou com a pole, enquanto Verstappen sairia apenas em nono após cometer um ligeiro erro na classificação e ter sua segunda tentativa abortada por uma batida de Charles Leclerc. Na mesma curva onde batera no dia anterior, diga-se. Contudo, mesmo com toda a torcida a seu favor, Checo não contava com um Verstappen motivadíssimo para acabar com essa história de Rei das Ruas, alcunha ganha por Pérez semana passada. 


Como vem sendo norma nessa temporada, as equipes trataram de se programar para apenas uma parada, mas quem largou mais atrás optou por largar com pneus duros, esticando o primeiro stint antes de colocar os pneus médios. Já quem estava na frente, querendo se colocar bem após a largada, que poderia ser decisiva como fora em Baku, optaram pelo composto médio, parando o mais breve possível para colocar os pneus duros e terminar a corrida assim. Talvez um Safety-Car poderia ajudar, ainda mais num circuito de rua, mas como dito anteriormente, Miami tem várias situações diferentes, começando pela apresentação dos pilotos antes da largada até o fato de que o SC não deu as caras em nenhum momento, fazendo com que a corrida na Flórida terminasse sem nenhum abandono. Alonso declarara que iria para cima de Pérez na primeira curva, mas como gato tem medo de água fria, Checo imediatamente fechou o caminho de Alonso e se manteve na ponta, seguido por Sainz, continuando o top-3 com língua espanhola. Magnussen, que também se beneficiou da bandeira encarnada trazida por Leclerc no sábado, saiu muito mal e rapidamente caiu de quarto para sétimo, engolido por Gasly, Russell e Leclerc. Max largou de forma tão cautelosa, que chegou a perder a nona posição durante a largada, recuperando ainda na primeira volta ao ultrapassar Ocon. Antes mesmo que o DRS pudesse ser usado, Verstappen iniciava sua corrida de recuperação, com ultrapassagens cirúrgicas, enquanto suas vítimas nem colocavam muita objeção. O ritmo de Red Bull hoje é tão superior às demais nove equipes, que qualquer batalha com Checo ou Max é uma mera perca de tempo. Mais à frente, Pérez não abria uma grande diferença para a dupla hispânica, com Alonso ficando confortavelmente à frente de Sainz. Essa falta de ritmo de Pérez com os pneus médios acabaria por prejudicar sua corrida de forma decisiva. Enquanto você lia isso... Max já estava fungando no cangote de Sainz, para entrar no pódio. Newey é um gênio não apenas pelo conjunto da obra, mas por pequenos detalhes. O DRS da Red Bull é tão mais eficiente que os demais carros, que basta um carro azul abrir a asa que deltas de até 20 km/h surjam, deixando os pilotos à frente ainda mais indefesos. Enquanto isso, Max já ultrapassara a dupla espanhola e não estava nada distante de Pérez.


A grande verdade foi que Verstappen parecia estar querendo mostrar algo, mesmo que ninguém duvide da capacidade do neerlandês. Rei das Ruas? Max mostrou num circuito de rua quem é que manda na F1 e, principalmente na atual temporada, na Red Bull. Mesmo com pneus duros, Verstappen já estava 1,3s atrás de Pérez quando este foi aos boxes colocar os mesmos pneus duros de Max. Com borracha nova, Pérez foi ligeiramente mais rápido do que Max no início do segundo stint dele, mas não demorou para, com pneus com mais de trinta voltas de idade, Verstappen igualar o ritmo de Pérez e ainda tirar voltas mais rápidas, quando foi necessário. Como diria Prost trinta e cinco anos atrás: Max não queria derrotar Checo. Ele queria humilha-lo! Faltando doze voltas para o fim, Verstappen foi aos boxes colocar pneus novos. Pelo rádio, a Red Bull dizia que Max sairia dos pits com 1,7s de desvantagem. Na realidade, ele saiu com... 1,6s! Porém, era até covardia. Com pneus médios novos, Verstappen demorou pouco mais de uma volta e meia para completar a manobra decisiva. Pérez tentou algo. Colocou seu carro por dentro, freou no limite, mas nada que o chicano pudesse fazer poderia impedir Max Verstappen de conquistar a sua 38º vitória na carreira e dar uma resposta definitiva para Pérez.


Na briga pelo resto, Alonso esticou sua parada sabendo que Sainz tinha errado e ultrapassado o limite de velocidade nos pits, ganhando um pênalti de 5s. Além do mais, é sabido o tratamento nada amistoso que a Ferrari tem com os pneus Pirelli. Mesmo saindo atrás do compatriota quando fez sua parada, Alonso não demorou muito para ultrapassar Sainz e garantir o terceiro lugar, seu lugar mais comum em 2023 e que deverá terminar no final do ano. Com a Ferrari comendo pneus vorazmente, Sainz não apenas perdeu contato com Alonso, como acabou ultrapassado por George Russell, que fez uma corrida sólida, como é a característica do inglês. Leclerc fez uma corrida mequetrefe, onde sofreu horrores para ultrapassar a Haas de Kevin Magnussen. O monegasco levou dois trocos do danês e o sétimo lugar ainda pode ser considerado lucro para o final de semana de LeCrash... Leclerc! Hamilton não foi ao Q2, não largou bem, reclamou de um toque que só estava na cabeça do inglês, que chegou ao circuito com um estilo para lá de cafona domingo pela manhã, mas Lewis acabou se recuperando quando colocou pneus médios e fez várias ultrapassagens, culminando com a sexta posição tirada de Leclerc já nas voltas finais. Mesmo assim, a temporada da Mercedes até o momento vem sendo decepcionante e Toto Wolff não cansa de verbalizar isso, quase que cobrando seus engenheiros para soluções. O novo pacote da Mercedes surgirá em Ímola na próxima quinzena, mas Wolff já parece exausto em ter que dar explicações do porquê a Mercedes não ter nenhuma consistência em 2023, com seus pilotos ora indo ao pódio, ora penando para passar ao Q2.


Outra equipe que parece já ter problemas para explicar aos acionistas ter tantos desempenhos abaixo do esperado é a Alpine. Sendo uma equipe de fábrica, tendo todo o apoio da Renault, surgiu a informação de que a Alpine poderá ser parcialmente vendida por um fundo de investimento americano, enquanto o CEO da Alpine Laurent Rossi já trata os resultados da equipe como inaceitáveis. Otmar Szafnauer deve estar com o seu cargo na reta, enquanto os dois pilotos, tratados como arqui-rivais pelo rapper que apresentou os pilotos antes da largada, optaram por táticas diferentes, mas acabaram chegando próximos, com Gasly em oitavo e Ocon em nono. Correndo na casa da equipe e tendo o mérito de ter segurado por mais da metade da corrida uma Ferrari, Magnussen levou a Haas ao último ponto numa corrida onde, de novo, não teve um único abandono sequer. Na classificação a Aston Martin resolveu apostar que seus dois pilotos só utilizariam um jogo de pneus macios novos durante o Q1. O problema da Aston Martin é querer que Stroll faça a mesma coisa de Alonso. Isso é quase que pedir que o Sport do Recife marque cinco pênaltis em cima do Richard, goleiro do tricampeão do Nordeste. Simplesmente não dá! O resultado disso é que enquanto Alonso foi ao pódio, Stroll foi apenas décimo segundo, mas pelo menos foi elogiado por Alonso durante a corrida. Outra notícia do pelotão traseiro é a chegada de Gil de Ferran como consultor da McLaren. Pelo o que a McLaren mostrou em Miami, Gil terá muito trabalho...


Desde o começo desse milênio a F1 vai vivendo de domínios, com algumas exceções aqui e ali. A única esperança de que haja alguma briga no campeonato é se os dois companheiros de equipe sejam do mesmo nível e briguem forte pelo título. Max Verstappen tratou de dar uma resposta enfática para todos: não haverá emoção em 2023. O tricampeonato de Max virou, se alguém ainda tinha alguma dúvida, uma mera questão de tempo.