domingo, 28 de maio de 2023

Só a chuva salva

 


O Grande Prêmio de Mônaco tinha tudo para repetir a grande maioria das corridas dessa temporada 2023, onde o marasmo foi a regra. Tenho a teoria de quando é mostrado brigas da décima posição para trás ou as câmeras miram as nuvens, a corrida não está nada emocionante. Pois foram as nuvens que estavam acima do principado que salvaram a corrida de Mônaco desse domingo. A esperada chuva finalmente chegou no principado no último terço de prova, mas nem isso conseguiu impedir mais uma vitória dominante de Max Verstappen. Na verdade, os três primeiros colocados do grid terminaram, sem nenhuma modificação, nas mesmas posições na bandeirada, significando a melhor posição de Alonso nessa temporada fantástica do espanhol e o primeiro pódio da Alpine em 2023, com Ocon.


Quando tirou da cartola a volta rápida que lhe deu a pole no sábado, Max Verstappen indicou que faria de tudo para vencer em Monte Carlo, principalmente após a polêmica ocorrida dentro dos boxes da Red Bull no ano passado. O neerlandês também sabia que não adiantaria nada conseguir a pole e não largar bem, principalmente com as declarações de Alonso dizendo que partiria para o ataque. Querendo fechar todas as brechas possíveis, Max colocou pneus médios, enquanto Alonso saiu com os duros. A aderência extra dos pneus médios era mais um diferencial para Verstappen se manter na ponta e apontando seu carro para dentro no grid, Max confirmou a pole ao passar pela St Devote impávido na frente, seguido por todo um comportado pelotão. A surpresa Ocon, terceiro colocado no grid após uma punição à Leclerc por o piloto da casa ter fechado Norris durante a classificação, claramente não tinha ritmo para acompanhar os dois líderes, que rapidamente se distanciaram, enquanto Esteban segurava um animado Sainz. Animado até demais. Na saída do túnel, Sainz tentou uma ultrapassagem atabalhoada e acabou se chocando na traseira de Ocon, quase destruindo a corrida dos dois, mas felizmente a única coisa destruída na manobra foi parte da asa dianteira do espanhol. Verstappen fazia uma corrida estilo Sunday Drive, onde não tinha trabalho em administrar a vantagem para Alonso, que chegou a assustar a sua equipe relatando um furo de pneu, mas Fernando continuou sua toada, ficando entre seis e onze segundos atrás de Max e em troca, o piloto da Aston Martin tinha 7s de frente para Ocon e toda uma turma que vinha atrás dele, tendo Sainz, Hamilton, Leclerc, Gasly e Russell, andando próximos.


À essa altura, a corrida entrou num período de prostração, com apenas pilotos do pelotão intermediário brigando mais seriamente. Como ultrapassar em Monte Carlo é difícil desde os tempos de Jackie Stewart e companhia, quem estava nos pontos não arriscava muito, mas quem estava fora dos pontos, era a famosa briga de foice no escuro. Hulkenberg colocou por dentro em cima de Sargeant que deixou o americano grogue na primeira volta. Não satisfeito, o piloto da Williams segurava um pelotão de carros, quando seus pneus médios começaram a dar adeus a essa vida terrena. Sargeant tinha o sempre empolgado Kevin Magnussen lhe pressionando, quando K-Mag emulou seu companheiro de equipe na Miranbeau e tomou a posição de Logan, que mais tarde seria ultrapassado por Stroll na Rascasse e por Pérez no embalo. Esse foi basicamente o único bom momento dos dois. Enquanto seus companheiros de equipes ponteavam a prova, Stroll e Pérez faziam uma corrida ridícula, principalmente Pérez, vencedor do ano passado e estando num final de semana totalmente bizarro para quem tem o melhor carro disparado do grid. Já Stroll estava sendo... Stroll! Porém, os céus monegascos ficavam cada mais negros no horizonte e isso mexeu na estratégia da maioria dos pilotos. Com chuva sendo iminente, muitos pilotos esperaram o máximo possível para fazer apenas uma parada. Tendo largado com pneus médios, Max Verstappen dava outro show de administração de pneus, mantendo um ritmo forte com pneus mais moles do que Alonso, não dando chances ao espanhol. Quem parou antes, ficava a tentativa de dar o famoso undercut, algo que a Ferrari falhou miseravelmente ao dar a dica para a Alpine. 'Carlos, pare agora para ultrapassar Ocon', era o recado no rádio na esperança de deixar a Alpine ouriçada e trazer Ocon para os pits. Os franceses não morderam a isca e quando Sainz parou, ele ficou ainda mais longe de Esteban, deixando o espanhol possesso. Mais uma presepada dos táticos ferraristas. Mas não seria o último.


Quando as últimas voltas já se aproximavam, a aguardada chuva, que ameaçou em todos os dias do final de semana, finalmente apareceu em Monte Carlo, deixando a corrida caótica e com várias decisões importantes a serem tomadas. A Aston Martin resolveu trazer Alonso para os pits. Seria o pulo do gato. Isso, se o time verde colocasse os pneus certos no carro do espanhol, montando slicks quando a pista estava tão encharcada na parte baixo do circuito, que Verstappen chegou a beijar o muro na Portier. Sainz acabou rodando na Mirabeau, perdendo a posição para Leclerc, que poucas voltas antes tinha feito o pit-stop. Isso acabou com qualquer chance de pódio para a Ferrari, pois os dois tiveram que voltar aos pits lentamente para colocar os intermediários, a escolha lógica de todo mundo. Stroll e Sargeant bateram, continuando suas corridas abaixo da crítica e o canadense foi o primeiro abandono do dia. Mesmo com o susto do toque no muro e a chuva repentina, Max Verstappen se valeu do erro tático da Aston Martin para aumentar ainda mais a diferença para Alonso e garantir mais uma vitória, a sua 39º carreira, se tornando o piloto com mais vitórias da Red Bull. Alonso sabe que perdeu uma chance dourada de vencer em 2023, em um ano que a Aston Martin simplesmente não está dando chances a ninguém, mas olhando para o copo meio cheio, o segundo lugar foi a melhor posição nesse ano.


Já Ocon era o mais alegre do pódio e também foi quem mais teve trabalho. Com a Ferrari se atrapalhando toda (oh novidade...), o francês passou a ser atacado pela dupla da Mercedes, mesmo com Russell tendo que cumprir uma punição de 5s por ter saído da pista e ter atingido Pérez (ele de novo!) na sua volta à pista na Mirabeau. O ritmo de Hamilton após as paradas indicavam que o inglês tinha uma chance boa de lutar pelo pódio, mas a chuva foi tão passageira quanto alegria de pobre e com um trilho aparecendo rapidamente, ultrapassar se tornou basicamente impossível, mesmo que em nenhum momento ninguém tentou montar os slicks nas voltas finais. Hamilton se conformou com o quarto lugar e com Russell não perdendo posição pela punição, a Mercedes está encostada na Aston Martin no Mundial de Construtores, já que o time de Lawrence é levado nas costas por Alonso, com Stroll tendo pouco mais de um terço dos pontos de Alonso. Uma lástima. Se tem o que lamentar no certame de construtores, a Aston Martin viu Alonso encostar em Checo, graças a atuação medonha do mexicano. Gasly chegou em sétimo e separou as duas Ferraris, com a dupla da McLaren garantindo as duas últimas posições pontuáveis com Lando Norris e Oscar Piastri tendo que ultrapassar Yuki Tsunoda nas últimas voltas, com o nipônico dando mais patadas via rádio por causa de problemas de freios que o deixaram sem pontos no final do dia.


Foi uma corrida mais animada do que o normal, mas apenas por causa da precipitação, que acabou nem sendo tão forte e duradoura. Tanto que o trio que saiu na frente às 15h de Monte Carlo recebeu a bandeirada nas mesmas posições uma hora e cinquenta minutos depois. No entanto, Verstappen, Alonso e Ocon tiveram desafios a enfrentar durante a chuva e se mantiveram na corrida para garantir o pódio. Verstappen já dispara no campeonato e não corre mais atrás do tricampeonato, mas agora corre atrás dos recordes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário