domingo, 28 de maio de 2023

A vez de Josef

 


Bicampeão da Indy e considerado o 'Golden Boy' da categoria, ainda faltava algo muito importante para Josef Newgarden. Sim, o piloto da Penske, uma das estrelas da Indy nos últimos anos, ainda não tinha vencido as 500 Milhas de Indianápolis e isso poderia fazer uma enorme diferença entre ser um imortal da Indy ou apenas um grande piloto. As expectativas nem eram tão grandes para Josef nessa edição. Em todo o mês de maio a Penske teve dificuldades em Indianápolis e Newgarden largou apenas em 17º, após ter tido a coragem de ter deletado sua primeira tentativa na classificação e ido para um tudo ou nada. E perdido duas posições. No Carb Day de sexta-feira, a Penske até deu um sinal de vida com o bom treino de Will Power, mas a corrida parecia que seria decidida entre Ganassi e McLaren. Newgarden foi galgando posições durante a primeira metade de prova e já estava no pelotão da frente antes da volta cem, se metendo na briga dos times favoritos. No caótico final, cheio de bandeiras vermelhas desnecessárias, Newgarden entrou definitivamente na briga e na última volta derrotou o atual vencedor em Indiana Marcus Ericsson para entrar no rol dos gigantes da Indy.

Desde o aumento da pressão aerodinâmica nos carros em Indianápolis, não existe mais aquela corrida espaçada entre os carros, mas uma rabo de pipa com praticamente todo o pelotão, numa fila indiana (sem trocadilhos) a maior parte da corrida, ainda mais nas primeiras cento e cinquenta voltas, onde os pilotos não querem abrir caminho no vento, liderando o pelotão. Foi nítido o quanto os pilotos tiravam o pé até mesmo antes da metade da reta dos boxes para não ultrapassar o piloto da frente e liderar o pelotão. Por longas voltas, a corrida se manteve num rali de regularidade, liderados ora por Alex Palou, Felix Rosenqvist e Pato O'Ward. Até a primeira bandeira amarela, nada demais aconteceu, mas bastou vir a primeira... O pole Palou saía dos boxes, quando foi atingido em cheio por Rinus Veekay, jogando o espanhol para o fundo do pelotão, além de ter rendido uma punição ao neerlandês. Na medida em que a corrida foi chegando às famosas 'cinquenta voltas finais', os pilotos que lutariam pelo título da edição de número 107 da Indy 500 foram ficando claros. Com Palou ainda se recuperando, Rosenqvist, O'Ward, Alexander Rossi, Santino Ferrucci, a grata surpresa com a equipe Foyt, e Josef Newgarden foram se garantindo como os pilotos que brigariam pela vitória ao final das duzentas voltas.

Uma bandeira amarela dividiu a estratégia dos pilotos no final da prova, quando houve o grande susto do domingo. Rosenqvist brigava com seu compatriota Ericsson e perdeu o rumo na curva um, batendo no muro. O carro da McLaren se arrastou pela curva 2 foi colhido por Kyle Kirkwood, que capotou seu carro da Andretti, mas estava tudo bem, apesar de pirotecnia. O problema foi um pneu que saiu voando e quase atingiu as arquibancadas. Felizmente, apenas um motorista terá que pagar um prejuízo ao ver seu carro atingido pela roda voadora, mas o incidente teve um grande risco. A primeira bandeira vermelha apareceu, mas infelizmente não seria a primeira.

Para quem está lendo essa resenha, esteja muito à vontade de discordar do meu ponto, mas se você reclama da artificialidade do DRS na F1, por exemplo, também não gostou do que ocorreu nas últimas voltas das 500 Milhas, pois foi tão artificial quanto. Assim como houve em Melbourne na F1, trazer a bandeira vermelha de forma artificial apenas para ter um final em bandeira verde é um passo além da linha entre esporte e entretenimento. Pato partiu para cima de Ericsson e acabou tendo um acesso de açodamento, batendo no muro e destruindo sua prova. Para completar, ainda foi atingido de forma bisonha por Agustin Canapino, que tinha batido ainda no rescaldo do acidente. Tudo muito simples de resolver, mas a bandeira vermelha apareceu. Relargada, todo mundo nervoso e no final do pelotão, um pequeno Big One faz com que a Indy tornasse o final das 500 Milhas um evento ao mesmo tempo emocionante, quanto circense. A última relargada aconteceu faltando duas voltas e estava claro que quem estivesse em segundo, teria uma enorme vantagem. Por um momento o felizardo foi Ferrucci, mas no 'photochart', Newgarden assumiu a posição vantajosa, onde iria atacar o líder Marcus Ericsson.

No ano passado, Ericsson usou manobras defensivas super-agressivas para se manter na frente de O'Ward, fazendo um perigoso zigue-zague na frente do mexicano. Na relargada, o sueco da Ganassi, que poderia se tornar bicampeão, usou a mesma tática na reta dos boxes, mas Newgarden não tem a inexperiência de O'Ward. O americano da Penske esperou a reta oposta. Ericsson tentou ziguezaguear, mas Newgarden foi por fora e na força do vácuo tomou a ponta e quando chegou na reta final, foi Josef que passou a ziguezaguear na frente de Ericsson para garantir seu primeiro anel das 500 Milhas.

Após a corrida Newgarden parou seu carro em frente a arquibancada e numa cena insólita, invadiu as arquibancadas e vibrou como nunca com a torcida. Conhecido pelo carisma e por ter sido modelo nas horas vagas, havia uma torcida da Indy para que Newgarden obtivesse sucesso e aumentasse ainda mais a popularidade da categoria. Com pilotos americanos tão carismáticos como uma porta, como o último ianque a vencer as 500 Milhas sete anos atrás (Rossi), a Indy via em Newgarden um rosto capaz de alavancar ainda mais a categoria, que está em crescimento. Para completar, Josef faz parte da Penske, a principal equipe do automobilismo americano, cujo dono Roger Penske comprou a Indy e aos 86 anos de idade, vibrou como nunca com a vitória de Newgarden.

Ericsson ficou incomodado com a última bandeira vermelha, que tirou uma vitória que parecia certa para ser do sueco. Tentando uma renovação de contrato mais vantajosa com a Ganassi, Ericsson sofreu um belo golpe com a derrota desse domingo. Ferrucci conseguiu um ótimo terceiro lugar, para alegria do velho AJ Foyt. Após ser atingido nos pits por Veekay, Alex Palou mostrou a força da Ganassi ao escalar o pelotão, num ano em que não era fácil ultrapassar em Indianápolis, e terminou em quarto, enquanto Dixon foi sexto, após o neozelandês também ter feito uma corrida de recuperação, após ter problemas de pneus ainda no início, um desafio para os pilotos. Uma das favoritas nesse domingo, a McLaren decepcionou com dois pilotos no muro e Rossi salvando um pouco a lavoura, terminando em quinto. Em sua última corrida na Indy, Tony Kanaan infelizmente ficou com o pior carro da McLaren e em nenhum momento esteve perto de brigar pela vitória ou até mesmo andar no mesmo ritmo dos seus companheiros de equipe. Isso não importa, pois Kanaan saiu da Indy pela porta da frente, após uma carreira gloriosa. Hélio Castroneves sempre é um piloto a ser observado em Indianápolis, ainda mais que após a segunda rodada de paradas ele pulou, do nada, de 19º para 12º. Porém o brasileiro teve que fazer uma parada não-programada e chegou a transitar na 30º posição. Com um péssimo carro em todo o mês de maio, Hélio só garantiu a 15º posição mais pelos abandonos alheios do que pela velocidade do seu carro. Cada vez mais um 'ex-piloto em atividade', Hélio não ficará na decadente Meyer Shank full time em 2024, mas muito provavelmente retornará à Indianápolis. Provavelmente para se despedir, como aconteceu com seu contemporâneo Kanaan, mesmo que Tony parece ter desfrutado melhor o que conquistou do que Hélio.

Foi uma edição de 500 Milhas bem usual, com uma primeira parte onde quase nada acontece, mesmo com praticamente todo os pilotos andando numa fila única, para tudo se decidir nas voltas finais. Pelo menos a mim, incomodou a quantidade de bandeiras vermelhas artificiais, mas Josef Newgarden não tem do que reclamar e o americano finalmente coloca seu nome entre os imortais da Indy. 

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