Não foi preciso chuva ou uma overdose de Safety-Car para que Interlagos entregasse uma boa corrida. Houve entretenimento, ótimas atuações individuais e alguns erros aqui e acolá para vermos uma grande corrida de F1 na tradicional pista paulistana. Por mais que se fale de um moderno autódromo no estado do Rio de Janeiro, Interlagos tem que ficar no calendário da F1 como se por decreto. Hoje foi mais uma prova disso. Mesmo que Lando Norris não tenha dado qualquer chance aos seus adversários em uma atuação sem retoques do jovem inglês, não faltou emoção atrás da McLaren de número 4, além de outra exibição de gala de Max Verstappen, que vai construindo uma ligação incrível com o circuito de Interlagos, mesmo o neerlandês não sendo capaz de ultrapassar um incrível Andrea Kimi Antonelli nas voltas finais.
A esperada tempestade no final de semana em Interlagos não veio, mas isso não significou apreensão com a estratégia correta a escolher, além dos pneus a serem utilizados. Num final de semana de Sprint, as equipes não tiveram muitas oportunidades de aprender o desgaste de pneus, mesmo que os pneus duros não estivessem muito adequados para Interlagos. Depois de oito anos sem um piloto brasileiro em Interlagos, a simples presença de Gabriel Bortoleto no grid fez com que a torcida tupiniquim se animasse com o novato, que vinha fazendo uma temporada de estreia até o momento sem maiores senões. Contudo, Gabriel pareceu ter saído um pouco do prumo com toda essa atenção e o acidente grave que sofreu na última volta da Sprint não parecia um bom sinal. Largando na última fila por não ter participado da classificação, Bortoleto entrou na corrida talvez apreensivo demais em mostrar serviço e isso acabou sendo decisivo para o pior final de semana, disparado, de Gabriel em sua estreia na F1. Ficar lado a lado com Lance Stroll nunca foi um bom negócio e Bortoleto experimentou isso da pior forma ao ficar por fora no Bico do Pato. Freando na grama, a rodada foi inevitável e Gabriel acabou no muro, terminando sua primeira corrida caseira depois de pouco mais de 2 km. Uma estreia decepcionante e lembrando o quão mal fez à Antonelli seu 'dia de recreio' em Ímola, que Gabriel Bortoleto, que sempre pareceu ter uma maturidade maior do que sua idade, se concentre mais na pista do que fora dela em sua próxima apresentação em Interlagos.
O incidente de Bortoleto trouxe o único Safety-Car do dia e na relargada, Lando Norris mostrou a que veio com uma relargada esperta, deixando o novato Andrea Kimi Antonelli numa situação complicada, onde viu pressionado por Leclerc por fora e Piastri por dentro. Precisando mostrar serviço após uma sequência ruim no campeonato, Piastri executou uma manobra audaciosa por dentro, praticamente fazendo uma ultrapassagem dupla, mas Kimi fechou por dentro, com Piastri comprometido freando na zebra. O toque foi inevitável e quem acabou pagando o pato foi Leclerc, que acabou acertado por Antonelli e quebrou a sua suspensão dianteira. O piloto da Mercedes incrivelmente permaneceu na pista e perdendo apenas a sua posição para Piastri. Por mais que fosse claro que Antonelli tenha feito a curva de forma como se Piastri não estivesse ali, os comissários puniram o australiano da McLaren em 10s, destruindo tanto a corrida como muito provavelmente também o campeonato de Oscar. Já com o mental fragilizado, Piastri sequer andou próximo de Norris, numa tentativa de fazer o australiano recuperar terreno. Lando Norris esteve simplesmente imparável nesse final de semana. O inglês liderou todas as sessões do final de semana e numa corrida sem erros, Norris venceu pela sétima vez em 2025 e pela primeira vez 'varrendo' o final de semana, com os pontos da vitória na Sprint. Ninguém tem dúvida da capacidade de Lando Norris em ser rápido, mas fica a pergunta: porque não fez isso antes?
Com Piastri ficando 10s parado no seu pit-stop, a briga pela segunda posição parecia que seria animada entre a dupla da Mercedes, mas lá de trás, saindo do pit-lane, o 'craque' do jogo fazia outra corrida monumental. O ritmo de classificação da Red Bull tinha sido tão ruim que o próprio Max Verstappen falou que o título já tinha ido embora, todavia, Max ganhou forças com a chegada de domingo e se a vitória não veio como no ano passado, a exibição de hoje foi tão impressionante como a de 2024. E o início de Max não foi dos melhores, pois ele teve um pneu furado nas primeiras voltas e com isso ele caiu para último novamente após o fim do SC Virtual. Foi o início de uma saga onde Max Verstappen tinha um racecraft parecido apenas com o do líder inconteste Lando Norris. Max foi ultrapassando quem via pela frente, não importando se o piloto à frente estava com pneus macios, pneus médios, pneus novos, pneus usados ou no meio de um trem de DRS. Verstappen subverteu a lógica com uma pilotagem sublime e rapidamente já se encontrava na luta pelo pódio, principalmente quando ficou claro que a ordem do dia seria a estratégia de duas paradas. Com a eliminação no Q1 no sábado, Max tinha mais pneus novos à disposição e quando todos pararam à sua frente, o neerlandês, que chegou a liderar poucas voltas saindo do pit-lane, tinha pneus macios novinhos para atacar a dupla da Mercedes. Max não tomou conhecimento de Russell, mas encontrou uma oposição ferrenha de Andrea Kimi Antonelli, um dos grandes destaques do final de semana.
O italiano teve uma oscilação em seu ano de estreia, principalmente após o 'recreio' em Ímola, mas Kimi voltou a performar nas últimas etapas e em Interlagos, em particular, Antonelli teve seu primeiro final de semana onde superou com clareza Russell, inclusive com um segundo lugar na Sprint. Porém, Antonelli teria pela frente um Max Verstappen cheio de confiança em seu cangote nas voltas derradeiras e o piloto da Mercedes se comportou de forma magnífica, resistindo aos ataques de Verstappen com pouquíssimos erros, no que pode ter sido seu batismo de fogo na F1. O terceiro lugar não apagou a corrida estupenda de Max Verstappen, mas sua situação no campeonato ficou bastante complicada, agora 49 pontos atrás de um Lando Norris mais confiante e 'dono' da McLaren, ainda o melhor carro da F1 atual. Após a punição Piastri não fez mais nada e afora uma pressão sobre Russell nas duas voltas finais, o australiano pouco fez, terminando em quinto lugar e vendo a diferença que o separa para o companheiro de equipe subir de um para vinte e quatro pontos. Como Max ainda é uma ameaça, não seria surpresa a McLaren pedir a Piastri exercer a função de segundo piloto, algo que Verstappen não usufrui. Tsunoda vai enterrando sua carreira dentro da Red Bull com outra corrida desastrada, onde bateu em Stroll de forma bisonha, falhou em cumprir a consequente punição e terminou em último, quase um minuto atrás de Verstappen.
A Ferrari teve um dia para esquecer, com Leclerc sendo vítima do toque entre Piastri e Antonelli e Hamilton fazendo outra corrida horrorosa, onde largou mal e acabou tocado, resultando no inglês nas últimas posições. Na tentativa de se recuperar rapidamente, Lewis bateu na traseira de Colapinto de forma não condizente para um piloto com experiência dele. Com o carro todo remendado, Hamilton recolheu e a Ferrari zerou em sua passagem pela América do Sul, complicando-se na briga pelo vice-campeonato no Mundial de Construtores. Se serve de consolo, a Ferrari vê seu piloto Oliver Bearman fazendo provas cada vez mais consistentes pela Haas e se consolidando como um dos destaques da turma dos novatos. Após o quarto lugar no México, Bearman foi sexto em São Paulo, mais uma vez sendo o melhor das equipes intermediárias, contudo, o jovem inglês chegou 23s à frente do próximo carro, de Liam Lawson, sem contar que foi muito mais veloz que o seu já experiente companheiro de equipe, Esteban Ocon, que não pontuou.
A Racing Bulls fez uma corrida consistente, com ambos os pilotos nos pontos e Lawson segurando uma fila de carros atrás de si e o time satélite da Red Bull marcando pontos importantes. Se Bortoleto teve um final de semana problemático, Hulkenberg navegou em mares tranquilos e pela primeira vez avançou ao Q3, terminando a corrida nos pontos, superando o surpreendente Pierre Gasly, que foi capaz de levar a decadente Alpine aos pontos pela segunda vez no final de semana. Mesmo com uma pintura bonita, a Williams mal apareceu e a Aston Martin foi muito bem na Sprint, mas como normalmente acontece nos finais de semana, o time esmeraldino vai perdendo ritmo no sábado e ainda mais no domingo.
Foi uma bela corrida em Interlagos, como normalmente acontece e se não teve o caos do ano passado, não se pode negar que não faltou entretenimento. E ótimas exibições. Lando Norris deu um belo passo rumo ao seu primeiro título e as defesas de Antonelli podem ter sido decisivos, pois Norris pode tirar Max Verstappen da contenda já na próxima corrida, em Las Vegas. Piastri está no meio do caminho, mas somente uma remontada histórica do australiano o salva nesse campeonato. Mesmo com o campeonato ficando cada vez mais difícil, Max Verstappen mostrou novamente que é o melhor piloto do pelotão atual. E com sobras!
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário