segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Balanço 2007

Dizer que a temporada 2007 entrou para a história é cair numa vala comum, mas não há como negar que este ano foi histórico para F1 por vários motivos. Mas isso não é garantia de emoção. O campeonato deste ano foi recheado de corridas mornas, apesar das três últimas terem sido ótimas e terem definido um campeonato que foi, isso sim, muito equilibrado e polêmico entre Ferrari e McLaren. Dentro e fora da pista.

Se no passado houve vários campeonatos sem graça, o deste ano tem muita história para contar. A sensacional virada de Kimi Raikkonen aos 45 minutos do segundo tempo, o surgimento da sensação Lewis Hamilton, a volta às vitórias da McLaren, a briga interna dentro da equipe prateada, os arroubos de Fernando Alonso, os altos e baixos de Felipe Massa, o crescimento da BMW, a queda da Renault, a consolidação de nomes como Nico Rosberg e Robert Kubica, a tentativa de ressurgimento da Williams, a derrocada da Toyota, o vexame da Honda, a chegada do jovem Sebastian Vettel nesse final de ano e, principalmente, a guerra jamais vista entre Ferrari e McLaren, incluindo como prato principal um caso de espionagem para lá de rumoroso.

Em julho, ninguém em sã consciência colocava Kimi Raikkonen como um dos possíveis campeões no final do ano. O finlandês tinha vencido sua primeira corrida na Ferrari logo na estréia, mas suas dificuldades em se entender com os 27(!) botões do volante da Ferrari e o esperado tempo de aclimatação dentro da nova equipe vinha minando a temporada do finlandês, com o ápice da má fase chegando num erro totalmente bizonho durante os treinos para o Grande Prêmio de Mônaco e sua posterior apresentação sem sal no principado. Nesse momento, o nome da Ferrari para enfrentar os pilotos da McLaren era Felipe Massa, mas o brasileiro passou por um péssimo momento após suas duas vitórias seguidas no Bahrein e na Espanha e isso foi a deixa para o crescimento de Kimi dentro da equipe a partir das corridas na América do Norte. A partir de Magny-Cours, quando conseguiu sua segunda vitória na temporada, até o Grande Prêmio final no Brasil, Raikkonen conseguiu incríveis 78 pontos, lhe garantindo um título que lhe escapava desde 2003, quando foi vice-campeão pela primeira vez. Lógico que não faltou a velha má sorte do finlandês quando este abandonou na Espanha e em Nürburgring quando tinha chances reais de vencer, mas Kimi finalmente usufruiu do seu apelido de Homem de gelo e teve a cabeça fria para se aproveitar dos erros da McLaren nas duas corridas finais e derrotar seu companheiro de equipe Felipe Massa na reta final do campeonato. Raikkonen não foi tão brilhante como em 2005, quando conseguiu vitórias épicas, como na famosa corrida no Japão quando largou em décimo sétimo e ultrapassou Fisichella na última volta, mas Kimi aprendeu a vencer corridas utilizando a lei do menor esforço e finalmente teve a sorte ao seu lado na corrida final no Brasil, quando era o piloto com menos chances de se tornar campeão e conseguiu uma virada totalmente improvável nos momentos derradeiros do campeonato.

Conta a lenda que em novembro do ano passado, Alonso foi a um teste de sua nova equipe, a McLaren, e quem estava na pista era o atual campeão da GP2 e protegido de Ron Dennis, que dava suas primeiras voltas num F1. Lógico que Alonso conhecia, mesmo que por nome, Lewis Hamilton, mas ainda não conhecida o jovem inglês na pista com um F1. Naquele momento a McLaren ainda não tinha definido seu segundo piloto e no final daquele dia de novembro, Alonso ficou tão impressionado com Hamilton que teria ligado para Ron Dennis pedindo a contratação imediata de Pedro de la Rosa como segundo piloto. Dennis percebeu que o seu protegido estava mesmo pronto para chegar na F1 e Lewis Hamilton seria, teoricamente, o segundo piloto de Fernando Alonso na temporada 2007. Seria uma temporada de aprendizado ao lado do bicampeão mundial de F1 e quem sabe, Hamilton contabilizaria uma ou outra vitória no seu ano de estréia. Veio a primeira corrida na Austrália e Hamilton larga melhor do que Alonso e fica na frente do espanhol a maior parte da corrida, só perdendo a segunda posição no segundo pit-stop, quando Hamilton foi atrapalhado por um retardatário na sua volta anterior a entrada nos boxes. Como se não bastasse ser o primeiro piloto negro da história da F1, Hamilton conseguia o seu primeiro pódio logo na sua estréia. O problema é que Hamilton consegue nove pódios consecutivos. Hamilton não errava. Hamilton não quebrava. Faltava a primeira vitória? Hamilton a conseguiu no Canadá e ainda repetiu a dose uma semana depois. Era o líder inconteste do campeonato com mais de vinte pontos de vantagem para o seu teórico tutor Alonso. Ser apenas um aprendiz já não bastava. O título estava logo ali. Seu jeito simpático e espontâneo conquistou a todos na F1 e a Inglaterra ficou histérica com o novo ídolo surgindo tão depressa. Mas acabamos nos esquecendo de um único detalhe. Hamilton era apenas um novato na F1 e seus erros não tardariam a aparecer, por melhor que fosse. E eles vieram no pior momento possível. Na China, o espírito competitivo de Hamilton o fez brigar com Raikkonen com os pneus em frangalhos e ele acabou errando bizonhamente na entrada dos boxes, quando tinha chances quase que totais de ser campeão em território chinês e se tornar o primeiro estreante a ser campeão do mundo. Ok. Ele tinha que errar uma vez, mas ele não cometeria erro algum neste final de temporada. Ledo engano. Ainda líder do campeonato, Hamilton errou logo na primeira volta ao entrar numa briga desnecessária com Fernando Alonso. Vá lá. Ainda era oitavo e tinha 70 voltas para se recuperar. Mas aí, conseguiu a proeza de errar uma marcha num câmbio semi-autômático e pôs fim ao sonho de ser campeão logo na estréia da F1. Mesmo arrasado, Hamilton ainda sorriu e disse que ano que vem tem mais. E tem mesmo. Com 22 anos Hamilton iniciou sua carreira na F1 de uma forma nunca vista antes e com certeza terá novas chances de ser campeão.
Quando Alonso anunciou sua saída da Renault para a McLaren ainda no final de 2005, muitas pensavam que o espanhol seria para a McLaren o que Michael Schumacher foi para a Ferrari quando o alemão chegou na escuderia italiana. Afinal, 2006 tinha sido um péssimo ano para a McLaren e somente um bicampeão mundial poderia mudar cenário negro que tinha sido um ano sem vitórias para a escuderia de Ron Dennis. Tudo foi preparado para a chegada de Alonso. Engenheiros da Renault fora trazidos com antecedência para que o novo carro da McLaren fosse construído com toda feição para Fernando Alonso. Nano, como é chamado, era o cara da McLaren. Não resta dúvidas de que Alonso trouxe a motivação e o desempenho que faltou nos últimos anos para a McLaren, mas nem tudo foi flores para o espanhol. Ron Dennis sempre foi um dirigente para lá de competente, mas seu modus operandi sempre foi criticado por todos os pilotos que passaram pela McLaren e não demorou a surgir as primeiras desavenças entre Alonso e Dennis. Não restava dúvidas que Hamilton era o queridinho de Ron Dennis e Alonso começou a se incomodar com isso. Em Mônaco, a primeira confusão. Após uma dobradinha sem precedentes da McLaren, Hamilton reclamou de que foi preterido pela equipe à favor de Alonso. A imprensa inglesa, já apaixonada por Hamilton, fez um carnaval na história e iniciou uma lamentável guerra contra a imprensa espanhola, que defendia seu piloto. Na tentativa de compensar, a McLaren entrega um carro ótimo para Hamilton conquistar suas primeiras vitórias na América do Norte e Alonso começou a chiar, inclusive reclamando de forma acintosa da equipe durante uma tentativa de ultrapassagem sobre Hamilton em Indianápolis. Fernando exigiu da McLaren que seus acertos não fossem passados para Hamilton e na Inglaterra a tática deu certo, pois Hamilton se atrapalhou em casa e Alonso foi superior. Então chegamos à Hungria. Alonso teria a vantagem de sair na frente durante a Q3, mas Hamilton tomou a frente do espanhol e Dennis pediu para o inglês deixar o espanhol passar. Dennis ouviu dois "fuck you" de Hamilton. Alonso não tardaria a se vingar. Na segunda tentativa dos dois, Alonso trocou seu pneus, foi mandado sair e simplesmente ficou parado. Hamilton estava parado atrás dele. O tempo foi passando, passando, passando... Alonso foi para a pista e ficou com a pole, enquanto Hamilton não teve tempo suficiente para melhorar o tempo do espanhol, que seria punido no final do dia pela manobra e Hamilton acabou vencendo a corrida húngara. Foi o definitivo fim da lua-de-mel Alonso-McLaren. O espanhol passou a falar mal da equipe, que estaria claramente preferindo Hamilton e que não o estava tratando como um bicampeão mundial e que tinha trazido "seis ou sete décimos". Em Spa, Alonso e Hamilton quase fizeram a temida curva Eau Rouge lado a lado, após Alonso dar um chega pra lá em Hamilton, que reclamou muito. Na China, Alonso reclamou de Hamilton não ter sido punido pelas manobras no Japão e de que foi sabotado pela equipe durante a Classificação. Por mais que Dennis tivesse a experiência anterior de lidar com Senna e Prost na mesma equipe, estava claro que o chefão da McLaren tinha perdido o controle dos seus pilotos e a briga não era mais apenas Hamilton x Alonso. Era Inglaterra x Espanha. O resultado disso foi à derrota histórica deste campeonato que estava nas mãos da McLaren desde o início da temporada, mas graças a um relacionamento mal resolvido entre suas estrelas acabou entregando o título para sua maior rival e inimiga Ferrari.
Nos primeiros testes de pré-temporada deste ano, Felipe Massa tinha se tornado o principal favorito a conquista do mundial desse ano e tudo conspirava a favor do brasileiro. Agora Massa não teria a companhia de Michael Schumacher, primeiro piloto de direito e por contrato da Ferrari. Seus principais rivais estavam com mudanças significativas para esse ano. Seu novo companheiro de equipe Raikkonen passaria por um período de adaptação na Ferrari, enquanto Alonso teria o mesmo problema na McLaren e Hamilton era apenas um novato. A Renault não era a mesma sem Fernando Alonso e a BMW ainda não está no mesmo nível de Ferrari e McLaren. Fora que Massa vinha de uma vitória esmagadora na última etapa no Brasil. Enfim, Massa tinha uma chance única de ser campeão esse ano, mas uma série de fatores acabou destruindo seu sonho. Logo na primeira etapa, Massa teve problemas na Classificação e viu Raikkonen venceu logo na estréia pela Ferrari. Em Sepang, foi humilhado por Hamilton numa tentativa de ultrapassagem desastrosa e Massa foi massacrado pela imprensa italiana durante toda a semana. Quando tudo parecia perdido, Felipe consegue duas vitórias consecutivas no Bahrein e na Espanha, onde dá um chega pra lá em Alonso na primeira curva em casa. Quando tudo parecia certo para uma arracancada, Massa entra num inferno astral e seu desempenho cai vertiginosamente. No Canadá, Massa simplesmente é desclassificado por não ver o sinal vermelho na saída dos boxes. Felipe perde a corrida em Magny-Cours para Kimi quando era o mais rápido e trava um ácido bate-boca com Fernando Alonso durante o Grande Prêmio da Europa. Alonso tinha ultrapassado Massa, mas um toque entre eles fez o espanhol se lembrar da corrida em Barcelona e os dois quase trocam tapas na frente de milhões de espectadores, que ouviram Massa mandar Alonso cagar em bom italiano. A Ferrari comete dois erros com Massa, intercaladas por uma vitória magnífica do brasileiro em Istambul. Porém, a temporada estava terminada para o brasileiro, que termnou o ano tendo que entregar uma vitória em casa para Raikkonen dentro de casa, para que o seu companheiro de equipe conquistasse o título. Massa foi importante para a Ferrari, mas não resta dúvidas que o brasileiro ainda erra bastante e sua irregularidade foi a maior culpada por não ter chegado ao Brasil, onde sempre anda muito bem, com chances de ser campeão. Mesmo negando, Massa mostrou esse ano que não anda bem na chuva e que lhe falta ainda um pouco mais de maturidade para se tornar campeão, mas a Ferrari confia tanto em Massa que seu contrato foi renovado até 2010. Quem sabe até lá ele melhore, mas Massa pode ter uma certeza: dificilmente terá uma chance tão boa como ele teve esse ano para se tornar campeão.
Até 2005 a Sauber não passava de um apêndice da Ferrari em questões políticas e técnicas. Com a compra da BMW, a Sauber hoje tem dinheiro e ambição para se tornar uma das grandes equipes da F1. Depois de uma temporada de reconhecimento em 2006, a BMW investiu em pessoal e na parte técnica para se tornar a terceira força do campeonato deste ano. Heidfeld fez sua melhor temporada na carreira e conseguiu dois pódios esse ano e uma espetacular ultrapassagem sobre Fernando Alonso no Bahrein. Contudo, mais uma vez os holofotes ficaram em cima do polonês Robert Kubica, que não foi tão constante quanto seu companheiro de equipe, mas mostrou mais velocidade e chegou a liderar a corrida chinesa, quando sofreu uma das várias panes que infestaram a temporada do jovem polonês, mas o que mais chamou a atenção do público em cima de Kubica foi seu impressionante acidente em Montreal, quando seu carro ficou despedaçado após um choque a mais de 300 km/h. Milagrosamente Kubica só torceu o tornozelo e ficou de fora apenas de uma corrida na semana seguinte nos Estados Unidos. Mas o susto foi enorme e Kubica foi convocado pelo Vaticano no processo de beatificação de João Paulo II por causa do seu acidente. Como para mostrar que nem tudo foi ruim durante o ano, Kubica protagonizou junto com Felipe Massa a melhor disputa por posições nos últimos vince anos na chuvosa corrida em Fuji, que estreava nesse ano no calendário da F1. Mesmo perdendo a sexta posição para Massa, a batalha debaixo de muita água entre o polonês e o brasileiro ficará por muito tempo marcada na memória de quem gosta de F1.

A Renault deu mostras claras que o piloto faz, sim, grande diferença dentro de uma equipe. Com a saída de Alonso no final de 2006, a equipe chefiada por Flavio Briatore deu seus derradeiros suspiros de competitividade e nunca foi capaz de repetir os ótimos resultados dos últimos dois anos. Giancarlo Fisichella mostrou o porquê nunca teve condições de ser campeão ao não conseguir liderar a equipe durante o ano e no final da temporada foi superado por Heikki Kovalainen, novato finlandês que fez uma péssima estréia na Austrália que chegou a colocar seu emprego em risco, mas com o tempo Kova foi ganhando experiência, marcou pontos em várias corridas seguidas e culminou no único pódio da equipe na chuvosa corrida japonesa, quando Heikki segurou a pressão do seu mais experiente compatriota Raikkonen nas voltas finais.Após sua separação com BMW, a Williams entrou em depressão a partir de 2006 e todos esperavam o pior para a equipe de Frank Williams em 2007. Não faltou quem disesse que a Williams acabaria nas últimas posições e que acabaria fechando suas portas em breve, mas como a própria equipe Williams mostrou no seu passado, a equipe é feita por pessoas abnegadas e a Williams acabou em quarto no Mundial de Construtores, à frente de várias equipes com o dobro de seu orçamento. Nico Rosberg foi um dos pilares dessa ressureição da Williams com uma temporada sólida e o jovem alemão só não conquistou mais pontos pelas constantes quebras do ainda frágil carro da Williams, que conquistou seu primeiro pódio desde 2005, mas com o decadente Alex Wurz, que abandonou a carreira antes do GP Brasil, cedendo seu lugar a Kazuki Nakajima, que mostrou que é filho de quem é ao atropelar vários mecânicos durante um pit-stop.

As equipe nipônicas demonstraram, mais uma vez, que nem sempre dinheiro traz felicidade. A Honda começou o ano com sua nova pintura ecológica e sem patrocinadores. Excelente para os piadistas. O carro era tão ruim que não faltaram apelidos como Eca-Honda, Tartaruga e etc... Após um ótimo ano em 2006, Jenson Button e Rubens Barrichello amargaram os piores anos de suas carreiras na F1, com o brasileiro ficando com zero ponto pela primeira vez em sua longa carreira e também chegou em último na Hungria, atrás até mesmo da Spyker. O carro é tão ruim, que a Honda teve a total certeza de que a culpa não foi dos pilotos e renovaram com ambos para 2008, quando Barrichello quebrará o recorde de Patrese de Grandes Prêmios disputados e torcerá para um carro melhor. Já a Toyota continuou seu martírio nessa sua aventura pela F1, mesmo com alguns raros bons resultados, principalmente com Trulli durantes as Classificações, onde várias vezes o italiano ficou entre os dez mais rápidos, mas ia perdendo rendimento nas corridas. Ralf Schumacher fez um começo de temporada ridículo e antes que fosse demitido sumariamente da equipe, o alemão pediu demissão e seu futuro em 2008 é para lá de sombrio, pois as equipes ainda se lembram de sua péssimas corridas deste ano e ninguém parece querer investir no alto salário do último Schumacher na F1. A Super Aguri saiu dos últimos lugares do ano passado e Takuma Sato marcou alguns pontos para a equipe de Aguri Suzuki, mas problemas financeiros abalaram a equipe no final da temporada e por muito pouco a equipe voltava a ocupar o lugar que ocupava da temporada anterior. Anthony Davidson fez uma boa temporada de estréia como piloto titular, mas provou ser um ótimo de testes, pois não raro Davidson andou melhor do que Sato durante os treinos, mas caia muito nas corridas.

Adryan Newey fez um carro de sua assinatura para a Red Bull. Um carro ao mesmo tempo muito rápido e muito frágil, acabando com várias boas corridas da equipe austríaca. Mark Webber continua muito forte nos treinos, mas conseguiu um avanço durante as corridas, inclusive com um pódio durante o conturbardo Grande Prêmio da Europa em Nürburgring. David Coulthard fez mais uma temporada característica sua. Muitas corridas regulares, outras pífias e outras ótimas. Como sempre fez na carreira. A equipe júnior da Red Bull, a Toro Rosso, começou o ano com os desastrados e festeiros Scott Speed e Vitantonio Liuzzi, mas logo Gerhard Berger começou a critica-los publicamente. Durante o Grande Prêmio da Europa, Speed quase foi agredido pelo chefe de equipe Franz Tost por causa de sua indolência e foi demitido logo depois, abrindo caminho para a mais nova revelação deste ano. Sebastian Vettel começou o ano como piloto de testes da BMW e substituiu o acidentado Kubica no Grande Prêmio dos Estados Unidos e logo na estréia marcou um ponto, se tornando o piloto mais jovem a conseguir essa façanha. Substituindo Speed na Toro Rosso, Vettel demorou um pouco para aparecer, mas quando chegaram as corridas asiáticas debaixo de chuva, o alemão deu um verdadeiro show, principalmente no Japão, quando liderou algumas voltas e estava em terceiro quando foi surpreendido pelas manobras nada éticas do líder Lewis Hamilton. Mesmo alemão, Vettel mostrou toda sua emoção ao chorar copiosamente na frente de todos, mas a compensação viria na semana seguinte quando, também debaixo de chuva, conseguiu um impressionando quarto lugar, se tornando a nova promessa da categoria. Talvez acomodado quando estava ao lado de Speed, Liuzzi pouco fez ao lado do americano, mas quando foi anunciado que não faria mais parte da Toro Rosso em 2008 e a chegada fulminante de Vettel na equipe, o italiano começou a andar forte e finalmente mostrou o talento que mostrava na época do kart.

Mesmo tendo o gênio indomável Mike Gascoyne, a Spyker passou todo o ano nas últimas posições, mas também revelou ao mundo Adrian Sutil, mais um alemão muito bom se revelando na F1, mas ao contrário de Vettel, Sutil ainda erra bastante, mas seu primeiro lugar durante o treino livre de sábado em Monte Carlo, a briga por posição com Coulthard em Spa e o ponto marcado no Japão com certeza levarão Sutil a um novo patamar em breve. Só basta que ele crie mais juízo. Porém, os companheiros de equipe de Sutil foram para lá de desastrados. Christijan Albers, ótimo piloto no DTM e casado com a linda filha de um dos sócios da equipe, parece ter sentido a velocidade Sutil e fez uma temporada terrível em 2007, com o ápice chegando na incrível trapalhada em Magny-Cours, quando arrancou dos boxes com a mangueira de combustível ainda no seu carro. No dia seguinte, o jornal alemão Bild estampou o que achava da manobra: Christijan Albers, o idiota holandês. Após a demissão do holandês, para o lugar de Albers entrou Sakon Yamamoto, costumaz frequentador da última posição em todas as corridas que se fez presente.

Porém, a maior história desse ano foi o famoso caso de espionagem. Tudo começou quando Nigel Stepney, mecânico chefe da Ferrari não foi promovido na reformulação da equipe italiana feita no final do ano passado e o inglês não ficou nada satisfeito em ter sido preterido por pessoas, na visão dele, incapazes de realizar um bom trabalho. Stepney pediu a Jean Todt um tempo de folga e o francês aceitou. Nos primeiros treinos desse ano, a McLaren impressionou com a sua performance com os novos pneus Bridgestone, mas a equipe esteve longe de vencer na Austrália. Porém, na terça-feira, a McLaren mandou uma carta para FIA pedindo explicações sobre o assoalho da Ferrari, que estaria se movendo em altas velocidades. A FIA investigou e mudou o regulamento, aumento o rigor nos testes no assoalho e no Grande Prêmio seguinte, a Ferrari não andou tão forte como na Austrália.

A Ferrari ficou com um pulga atrás da orelha. Como a McLaren conseguiu descobrir que o assoalho se movia à alta velocidade? Como a McLaren pôde enxergar algo se movendo debaixo do carro a mais de 300 km/h? A Ferrari iniciou uma investigação interna, na tentativa de procurar algum sabotador. Após as duas vitórias de Massa no Bahrein e na Espanha, a McLaren consegue um aumento de performance brutal. Antes do GP de Mônaco, a Ferrari anuncia ter encontrado um pó branco dentro dos tanques de combustível dos seus carros e o principal suspeito seria Stepney, que estava suspenso. Após um período de três vitórias seguidas, a Ferrari anuncia a bomba. Stepney fora acusado de ter mandado um relatório para um funcionário da McLaren contendo segredos industriais ferraristas. Logo depois se descobriu que o funcionário em questão era Mike Coughlan, projetista-chefe da McLaren e antigo companheiro de Stepney na Lotus e na Benetton. Stepney foi demitido e Coughlan afastado da McLaren, que rapidamente negou qualquer ligação com o já chamado Stepneygate.A polícia inglesa invade a casa de Coughlan e encontra um relatório de 780 páginas com tudo que possa imaginar da Ferrari F2007. Como a Ferrari descobriu tudo isso? De forma amadora, Coughlan mandou sua esposa, Trudy, tirar cópias do relatório e gravar tudo nem DVD. O que Coughlan não contava era que o funcionário da copiadora, que fica em frente a sede da McLaren em Woking, era um ferrarista doente e quando deu de cara com os documentos com o selo Ferrari, telefonou para a Itália e fez a denúncia. Em julho a McLaren foi julgada pelo Conselho Mundial da FIA e de uma forma inacreditável, julgou a McLaren como culpada, mas não aplicou nenhum punição. O motivo era que a equipe não tinha utilizado os documentos para benefício próprio, mas que a McLaren seria punida duramente se algo de novo aparecesse. A Ferrari ficou estupefata com a decisão e o presidente da associação italiana da automobilismo entrou em contato com o presidente da FIA, Max Mosley, e ele concedeu uma reunião na corte de apelação da FIA.
Quando a data da apelação se aproximou, outra bomba explodiu. Mosley cancelou a apelação e chamou novamente o Conselho Mundial da FIA, pois novas provas tinham aparecido. Essas evidências mostraram o clima de guerra existente dentro da McLaren. Na manhã de domingo na Hungria, algumas horas após Alonso ter impedido Hamilton fazer sua última volta mais rápida na Classificação, o espanhol foi falar com Ron Dennis. Alonso queria ser o primeiro piloto da equipe de qualquer jeito e ameaçou seu chefe. Se não tivesse seu desejo realizado, Alonso iria a FIA entregar e-mails contendo informações de que todos na McLaren sabiam das informações passadas por Stepney desde o início do ano. Dennis ficou chocado com a chantagem do seu piloto e tão somente para sacanear Alonso, o próprio Dennis telefonou para Mosley dizendo que Alonso tinha e-mails comprometedores.A reunião do Conselho Mundial foi numa quinta-feira anterior a etapa belga do mundial. E foi tensa. Hamilton e o piloto de testes Pedro de la Rosa estavam presentes a reunião, enquanto Alonso já estava em Spa para a corrida no domingo. Durante o dia, surgiu um boato de que a McLaren seria excluída, mas logo depois foi negada. Veredicto: McLaren culpada. Punição: uma multa de 100 milhões de dólares, a perda de todos os pontos no Mundial de Construtores e a obrigatoriedade de mostrar os desenhos do carro de 2008 para análise da FIA. E os pilotos? Bem, Hamilton e Alonso estavam no auge da briga entre eles pelo campeonato e a FIA resolveu apenas passar a mão sobre eles, deixando que a batalha entre eles continuassem.Foi justo? Dizem que o boato de que a McLaren fora excluída foi verdadeiro e que um pedido de Bernie Ecclestone salvou a McLaren da forte punição. Alonso e Hamilton continuaram no páreo pelo campeonato, enquanto a Ferrari ganhava o Mundial de Construtores. O mundo ficou dividido se os pilotos não tinham que ser punidos, afinal, foram eles que usufruiram da vantagem conseguida de forma irregular pela McLaren. Soube-se depois que o relatório de Stepney entregue à Coughlan em Barcelona, foi entregue em maio, exatamente o mês em que a McLaren mais dominou durante o ano. Coinscidência? Durante o ano, a McLaren se meteu em várias confusões extra-pista. Hamilton, o novo darling da FIA foi inocentado de várias decisões polêmicas em que se envolveu, ao contrário dos seus principais concorrentes. Mas como diz a famoso frase, que Deus escreve certo por linhas tortas, Hamilton jogou fora um campeonato praticamente ganho, Alonso se perdeu com suas intrigas dentro da equipe e Raikkonen, ex-piloto McLaren, acabou levando o título para a Ferrari. Com toda a justiça!

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