Normalmente os engenheiros, principalmente os automotivos, são pilotos frustrados. Sem talento para dirigir carros de corrida, essas pessoas apaixonadas pelo automobilismo trocam o volante pela prancheta (ou pelo PC) e desenvolvem carros que se tornam vencedores na pista em outras mãos. Jean-Pierre Jabouille foi uma excessão, pois além de engenheiro e ajudar o desenvolvimento do motor turbo da Renault, esse francês elegante e popular se tornou um dos pilotos mais fortes da F1 no final dos anos 70 e começo dos 80. Apesar de não ter conseguido grandes resultados e não ser dotado de um talento excepcional, Jean-Pierre Jabouille foi um pioneiro em seu meio ao ser o primeiro piloto a andar com com um carro turbinado e também foi um dos últimos pilotos que se aventuraram também na engenharia das corridas. Completando hoje 65 anos de idade, vamos conhecer um pouco mais da carreira desse francês.
Jean-Pierre Alain Jabouille nasceu no dia primeiro de outubro de 1942 em Paris, filho de um bem sucedido arquiteto, por isso Jean-Pierre estudou nos melhores colégios da França. Primeiramente Jabouille estudou arte moderna na conhecida Sorbonne, mas o vírus da velocidade pegou o francês de forma bem tardia, tanto que Jabouille só fez sua primeira corrida quando este tinha 22 anos, quando ele participou de uma corrida de subida de montanha em Mont Dore no seu Alpine A110 particular em agosto de 1965. E venceu a corrida!
Convencido de que tinha alguma habilidade atrás do volante, Jabouille participa de um novo torneio chamado Renault 8 Gordini Cup em 1966, onde termina o campeonato num bom quarto lugar e logo de cara participa de suas primeiras corridas internacionais, nos 1000 km de Monza e nos 1000 km de Paris, à bordo de um Mini-Marco ao lado de Jean-Louis Rose. O pequeno carro foi preparado por Jabouille e seu amigo Jacques Laffite. Persuadido por Laffite, Jabouille passa para os monopostos e participa do campeonato francês de F3 de 1967 com um chassi da Brabham comprado e preparado por Jabouille, mas logo o francês é chamado para correr com um Matra patrocinado por uma marca de uma lavanderia e termina o campeonato em quarto, com duas vitórias em Reims e numa corrida na Dinamarca.
Em 1968 Jabouille perde o patrocínio da lavanderia, mas permanece com seu Matra, sem nenhum apoio da fábrica francesa, que a essa altura estava focada na F1 e F2. Sem muita estrutura Jabouille chama novamente seu amigo Laffite para ser seu mecânico, mas ainda assim Jabouille acaba o campeonato em segundo com cinco vitórias, superado apenas por François Cevert. Com essa grande atuação, Jabouille é notado por Jacques Cheinisse, chefe da equipe Alpine-Renault, e é contratado pela fábrica para ser piloto da equipe no campeonato francês de F3 ao lado de Patrick Depailler. Jabouille termina o ano em terceiro e... desempregado! A equipe Alpine terminou suas atividades na F3 no final de 1969 e Jabouille passou para as corridas de Esporte-Protótipos.
Jabouille tem algum destaque com o segundo lugar nos 1000 km de Paris numa Ferrari 512SS ao lado de José Juncadella. Em 1971 Depailler vence o campeonato francês de F3 com apoio de Jabouille e isso encoraja a Elf e a Alpine a construir um carro de F2 com apoio e pilotagem de Jabouille. Como todo carro novo, o começo é muito difícil, mas a Elf segura a barra e é recompensada com uma vitória de Jabouille na F2 em Hockenheim em 1974. Em 1973, Jabouille termina em terceiro lugar nas 24 Horas de Le Mans com um Matra 670 ao lado de Jean Pierre Jaussaud e repete a façanha no ano seguinte, mas desta vez ao lado de François Migault.
Ainda em 1974 Jabouille fez sua primeira participação na Fórmula 1, não conseguindo a qualificação com uma Williams para o Grande Prêmio da França e com um Surtees, para o Grande Prêmio da Áustria. Graças ao apoio da Elf, Jabouille é chamado pela equipe Tyrrell para participar do Grande Prêmio da França de 1975 e o francês termina sua primeira corrida na F1 em décimo segundo e nesse mesmo ano é vice-campeão do europeu de F2, derrotado pelo velho amigo Jacques Laffite. Contudo, no ano seguinte Jabouille se concentra unicamente no europeu de F2 e finalmente se torna campeão da categoria. Já nessa época, Jabouille já estava envolvido no novo projeto da Renault. Com patrocínio da Elf, a montadora francesa estava se preparando para entrar na F1 com um novo motor turbo e Jabouille usou toda sua experiência de engenheiro nessa empreitada e foi o escolhido para ser o piloto da nova equipe.
Após meses de testes em Paul-Ricard, Jabouille fez a estréia da equipe Renault no Grande Prêmio da Inglaterra de 1977 em Silverstone. Como tinha acontecido com o chassi de F2, Jabouille teve que ter muita paciência com o novo motor turbo da Renault, que quebrava muito e era difícil de pilotar em circuitos estreitos. Porém, quando a pista era rápida, o motor turbo debitava toda sua potência e Jabouille conseguia boas posições no grid, como a sexta posição em Kyalami em 1978. Após várias quebras, Jabouille finalmente marca seus primeiros pontos em Watkins Glen em 1978 com um quarto lugar. Para 1979, a Renault teria um segundo carro para a René Arnoux e Jabouille consegue sua primeira pole e também para a a equipe no Grande Prêmio da África do Sul de 1979.
Correndo em casa em 1979, a Renault dominou a primeira fila com Jabouille e Arnoux. O motor turbo tinha um pequeno retardo na largada e os pilotos da Renault foram ultrapassados antes mesmo da primeira curva, mas Jabouille se recuperou logo e partiu para sua primeira vitória na F1 e a primeira da Renault. E em casa! Porém, esse triunfo foi totalmente ofuscado pela selvagem disputa entre Villeneuve e Arnoux pela segunda posição. A briga era tão feroz nas últimas voltas que a TV quase se esqueceu de mostrar a bandeirada de Jabouille. Esse foi o único momento de glória de Jabouille no ano, pois ele abandonou todas as demais corridas do ano.
Com duas temporadas completas de experiência, a Renault já entrava no rol das favoritas para 1980 e Jabouille confirmou isso com sua quinta pole na carreira em Interlagos. No rápido circuito brasileiro, Jabouille usa toda a potência do motor turbo e dispara na liderença, mas o turbo rouba a vitória de Jabouille e ela acaba ficando para René Arnoux, que assim conquistava sua primeira corrida na F1. A etapa seguinte na África do Sul tem o mesmo enredo e o mesmo final. Pole de Jabouille, dominação da corrida, mas um infeliz abandono entrega a vitória para Arnoux. Quando Jabouille chega em Zeltweg, décima etapa do campeonato de 1980, o francês ainda não tinha marcado pontos e a Renualt ainda tinha vários problemas de confiabilidade, mas o circuito austríaco era amplamente favorável à Renault e Jabouille larga na primeira fila ao lado de Arnoux. O duo da Renault lidera com tranqüilidade até que Arnoux experimenta o mesmo remédio que Jabouille tinha amargado anteriormente e tem problemas que deixam duas voltas atrás do seu companheiro de equipe. Jabouille liderava com tranqüilidade, mas problemas no pneus Michelin fazem com que Jabouille perca muito rendimento e o final da corrida se torna dramático, com o ataque de Jones em cima de Jabouille, que se segura firme e garante sua segunda vitória na carreira.
Jabouille começa a ser superado constantemente por René Arnoux e o veterano francês começa a ser deixado de lado pela equipe que ajudou a construir, mas o pior ainda estava por vir. Durante o Grande Prêmio do Canadá de 1980, Jabouille sofre uma quebra de suspensão do seu Renault e bate de frente nas barreiras de pneus. Jabouille quebra uma perna e fica de fora das demais corridas do ano. Convidado pelo velho amigo Jacques Laffite, Jabouille já tinha assinado um contrato com a Ligier para 1981, mas sua perna ainda não estava curada quando a temporada começou a Jabouille perdeu as duas primeiras corridas da temporada, só entreando no Grande Prêmio de San Marino daquele ano. Com 39 anos de idade, Jabouille já não era mais nenhum garoto e seu desempenho estava muito aquém do esperado e após mais abandono no Grande Prêmio da Espanha, Jabouille resolve abandonar a F1 com um cartel de 49 Grandes Prêmios, 2 vitórias, 6 poles positions e 21 pontos conquistados.
Jabouille se aposenta por completo do automobilismo e abre um restaurante em Paris em 1984. Porém, o vírus da velocidade ainda permanece no sangue de Jabouille e ele volta às pistas no mesmo ano e é contratado pela Peugeot para dirigir seus carros no Campeonato francês de Superturismo. Jabouille volta à pilotar protótipos e em 1992 e em 1993 fica em terceiro lugar nas 24 Horas de Le Mans à bordo do Peugeot 905. Em 1993 Jabouille substitui Jean Todt no comando da Peugeot Sport e continua tocando um projeto do dirigente recém saído para a Ferrari: o projeto F1. A Peugeot se associa com a McLaren em 1994 e depois de duas temporadas muito ruins, Jabouille abandona o barco no final de 1995.
Incansável, em 1997 Jabouille se associa a Jean-Michel Bouresche e cria a equipe JB Competion, reservada apenas para corridas de endurance. Após se separar se Bourescher no ano 2000, Jabouille se junta a Philippe Alliot e David Halliday numa equipe de FIA GT em 2002. Mesmo sendo chefe de equipe, Jabouille nunca deixou de disputar corrida e se você quiser encontrar Jean-Pierre Jabouille, basta ir para um autódromo francês acompanhar o campeonato francês de GT, onde Jabouille até hoje mostra seu talento, tanto na pista como fora dela.
Parabéns!
Jean-Pierre Jabouille
Muito bem escrito. Melhor do que o meu!
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