terça-feira, 6 de maio de 2008

Mike

Um piloto rápido e talentoso, mas que nos deixou cedo demais. Isso seria a síntese da carreira do piloto inglês Mike Spence. Sempre vivendo próximo das corridas, Spence se tornou um dos vários pilotos ingleses promissores que surgiram nos anos 60, tendo o seu nome seriamente ligado com a Lotus durante os seus anos de F1, F2 e F-Junior. Infelizmente, foi a bordo de um Lotus que Spence encontrou o seu destino e como isso aconteceu exatos quarenta anos atrás, vamos conhecer um pouco mais da carreira desse inglês.

Michael Henderson Spence nasceu no dia 30 de dezembro de 1936 em Croydon, Inglaterra. A família Spence vivia toda em torno de carros e corridas. Filho mais velho de um engenheiro, Spence sonhava em ser piloto de corrida, ainda mais que, nasceu numa família que tinha pilotos. Os Spence tinham uma revendedora de carros em Maidenhead, Berkshire. Após servir o exército, iniciou a sua carreira, pilotando um Turner 950, em 1957. Em 1958, seu pai o ajudou a comprar um modelo AC-Bristol para o filho e no ano seguinte Mike estreou na Fórmula Júnior, em um Emeryson. Os bons resultados conseguidos por Mike lhe proporcionaram uma estréia bem prematura na F1 em uma corrida fora do campeonato em Solitude, na Alemanha. Com apenas 24 anos, ele era bastante novo para os padrões da época. Mesmo tendo quebrado o câmbio do seu carro apenas na sexta volta, Spence mostra o seu valor ainda naquele ano ao conseguir um surpreendente segundo lugar em outra corrida de F1 fora do campeonato, o Lewis-Evans Trophy em Brands Hatch.

Esses bons resultados chamam a atenção da Lotus, que cede um Lotus 22 de Fórmula Júnior para que Mike corresse pela equipe particular de Ian Walker. Após vencer uma prova em Reims, Spence é promovido para a equipe de Ron Harris em 1963, praticamente a equipe oficial da Lotus nas categorias de base do automobilismo europeu. Colin Chapman contrata Mike Spence por três anos e o piloto inglês faz sua estréia na F1 no Grande Prêmio da Itália de 1963 quando Travor Taylor, o piloto titular, tinha se machucado um pouco antes da corrida italiana. Ao lado de Jim Clark, Spence não faz uma estréia brilhante, mas estava na sétima posição quando abandonou com problemas de pressão de óleo.

Para 1964, Spence se torna uma espécie de terceiro piloto da Lotus, enquanto Jim Clark e Peter Arundell eram os titulares na F1. Spence permaneceria na equipe Ron Harris Lotus Team de F2, porém Arundell sofre um sério acidente em Rouen, quando pilotava um carro de F2, e Spence volta a substituir um piloto contundido da Lotus, reestreando no Grande Prêmio da Inglaterra. Claramente como segundo piloto da Lotus, Spence teve que se contentar em ajudar Jim Clark na tentativa do escocês em vencer seu segundo título mundial. Exatamente um ano após sua estréia na F1, Spence marca seu primeiro ponto no Grande Prêmio da Itália de 1964, mas sua melhor exibição no ano viria logo a seguir. Durante os treinos para o Grande Prêmio dos Estados Unidos em Watkins Glen, Clark vinha tendo muitos problemas e Spence, mesmo sem conhecer plenamente a posta americana, consegue ser o mais rápido na sexta. A Lotus percebe que Spence tinha conseguido um ótimo acerto no Lotus 33 e simplesmente... entrega o carro para Clark! Pensam que isso só acontecia com o Rubinho?

Graças a essa boa exibição, mais o título da F2 Inglesa conquistado em 1964, Spence é chamado pela Lotus para participar do Campeonato de 1965 como titular. Aquele seria o grande ano de Jim Clark e por mais que Spence tenha se esforçado e ter conquistado alguns resultados de relevo, como o seu único pódio na F1 com um terceiro lugar no Grande Prêmio do México, Mike foi totalmente ofuscado por Clark e acabou fora da Lotus no final da temporada. Mesmo fora da equipe, a Lotus inscreve Mike para uma corrida fora do campeonato em East London e o inglês surpreende ao vencer. Porém, para o resto do campeonato Spence foi contratado pela equipe de Reg Parnell em 1966 e usaria um antigo Lotus 25 com motor BRM. Mesmo com todo seu talento, tudo o que Mike consegue são dois quinto lugares na Itália e na Holanda.

Mesmo sem grandes resultados para mostrar, Spence impressionava os demais chefes de equipe com o seu conhecimento técnico e sua velocidade e por isso foi chamado pela equipe de fábrica da BRM para fazer parte da equipe em 1967 e mais uma vez teria como companheiro de equipe um escocês que entraria para a história: Jackie Stewart. Porém, o que acabaria sendo um sonho se tornou pesadelo rapidamente graças ao problemático motor H16 da BRM. Nem mesmo o talento de Jackie Stewart foi capaz de fazer o carro andar e no final do ano o escocês se mudou para a equipe de Ken Tyrrell. Cada vez mais experiente, Spence apenas levava seu carro ao final das provas e com isso consegue quatro quintas colocações e termina o campeonato apenas um ponto atrás de Stewart. Ainda em 1967, Spence consegue uma bela vitória pela equipe Chaparral, em dupla com Phil Hill, na BOAC 500, uma corrida longa e muito tradicional realizada em Brands Hatch. Isso mostrava a versatilidade de Spence, mas seu ápice na carreira estava apenas se aproximando.

Mesmo permanecendo na BRM, que se apequenava aos poucos, Mike Spence consegue dois ótimos resultados na Corridas dos Campeões e no International Trophy, duas corridas de F1 fora do campeonato realizadas após a primeira etapa do Mundial que tinha acontecido na África do Sul no começo do ano. Com a morte de Jim Clark em abril, Colin Chapman se lembra de Mike Spence para substituir o escocês em mais um projeto ousado do dono da Lotus. Juntamente com Andy Granatelli, dono da STP, Chapman projetava o Lotus 56, que era movido com um motor de helicóptero, para as 500 Milhas de Indianápolis de 1968. Durante os testes, Graham Hill diz que o carro era muito rápido, mas também bastante instável. No dia 7 de maio de 1968, Mike Spence vai à pista de Indianápolis mais vez para testar o novo carro e saiu rapidamente. Talvez rápido demais. Na Curva 1 de Indy, Spence perde o controle do seu carro e bate no muro num ângulo de 45 graus. Porém, a tragédia ocorreu quando a roda dianteira direita se soltou e veio na direção do capacete de Mike, que se partiu com o impacto. Spence foi levado imediatamente ao hospital, mas morreu quatro horas depois, devido às fraturas em sua cabeça.

A morte de Spence, praticamente um mês depois da morte de Clark, faz Chapman pensar seriamente em abandonar as corridas, mas não o fez. Porém, o dono da Lotus desistiu de participar oficialmente da edição das 500 Milhas daquele ano. Mesmo tendo apenas 36 Grandes Prêmios, 1 pódio e 27 pontos na F1, Spence deixou sua marca no automobilismo mundial e se não tivesse morrido com apenas 31 anos de idade, ele poderia ter sido um dos grandes pilotos do começo da década de 70. Como falou Granatelli, após a morte de Spence. "Mike não era só talento, mas puro brilhantismo."

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