quinta-feira, 1 de maio de 2008

História: 25 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1983


A atmosfera para o Grande Prêmio de San Marino de 1983 estava ainda mais elétrica do que o normal. A Ferrari vinha fazendo uma temporada razoável até então, mas não havia vitórias ao lado dos nomes de Patrick Tambay e René Arnoux quando a F1 chegou a Ímola para disputar a quarta etapa do Mundial. A Brabham começara o ano muito bem, mas a vitória sem contestação da Renault de Alain Prost em Paul Ricard mostrava que o título seria bastante disputado e a Ferrari queria entrar nela de qualquer jeito. Próximo a fábrica da Ferrari e com o nome do seu fundador em homenagem, o circuito de Ímola era em feudo ferrarista e não existia dúvidas que os tifosi fariam uma grande festa durante o fim de semana. Porém, havia mais uma pitada neste caldeirão. Um ano antes, o grande ídolo da Ferrari Gilles Villeneuve fazia sua última corrida em Ímola, numa das corridas mais polêmicas da história da F1. A festa estaria garantida e a Ferrari teria que vencer em honra de Gilles.

E no sábado a festa começara, com a primeira pole de René Arnoux pela Ferrari e na temporada vingente. Contratado para ser o primeiro piloto da scuderia, Arnoux ainda não tinha se destacado de forma plena e a fanática torcida italiana preferia Patrick Tambay, que largaria na terceira posição, mesma posição em que largou Gilles Villeneuve um ano antes. Quem estragou a festa da Ferrari foi Nelson Piquet, que ficou com a segunda posição, enquanto Prost continuava mostrando sua boa fase ao ficar em quarto, à frente de Patrese e Cheever. Os motores turbos fizeram diferença nas subidas e descidas de Ímola e a corrida seria decidida entre Ferrari, Brabham e Renault.

Grid:
1) Arnoux(Ferrari) - 1:31.238
2) Piquet(Brabham) - 1:31.964
3) Tambay(Ferrari) - 1:31.967
4) Prost(Renault) - 1:32.138
5) Patrese(Brabham) - 1:32.969
6) Cheever(Renault) - 1:33.450
7) Winkelhock(ATS) - 1:33.470
8) De Cesaris(Alfa Romeo) - 1:33.528
9) De Angelis(Lotus) - 1:34.332
10) Baldi(Alfa Romeo) - 1:35.000

O dia primeiro de maio de 1983 começou com o típico sol forte italiano que sempre caracterizou o Grande Prêmio de San Marino e os italianos não esqueceram Gilles Villeneuve e à noite pintaram várias mensagens em homenagem ao canadense em todo o circuito. Patrick Tambay, grande amigo de Gilles e sucessor do canadense na Ferrari número 27, ficou muito emocionado com grande sensibilidade dos tifosi e chegou a chorar antes da largada. Para melhorar ainda mais o ânimo dos torcedores da Ferrari, talvez o maior inimigo deles, Nelson Piquet, deixou seu Brabham parado na primeira fila, equanto os carros partiam rumo a Tamburello. O Brabham ainda foi empurrado e Piquet pôde correr, mas abandonou cedo com o motor quebrado.

Quando os carros partiam para a freada da Tosa, onde boa parte da torcida se amontoava, houve um grande urro quando as duas Ferraris lideravam o pelotão, com Arnoux à frente de Tambay. Porém, uma vitória ferrarista em casa não poderia ser assim tão fácil. Mais atrás, Riccardo Patrese usa seu grande conhecimento da pista italiana e do ótimo conjunto que tinham em mãos para ultrapassar Alain Prost ainda na primeira volta e assumir a terceira posição. Quando os carros de aproximaram da freada para a Rivazza, o colombiano Roberto Guerrero sofreu um forte acidente, mas felizmente sem grande conseqüências.

Patrese se tornara o maior empecilho para uma vitória ferrarista e ainda na segunda volta ultrapassa Patrick Tambay e parte para cima de René Arnoux, conseguindo a manobra de ultrapassagem na sexta volta. Patrese vinha forte e começa a se distanciar das duas Ferraris e de Alain Prost, que vinham juntos, mas sem muita briga entre eles. Na volta 11, Michele Alboreto bate numa pilha de pneus colocada erradamente no esse antes da Variante Alta e para comprovar o erro da organização da corrida, Niki Lauda bate na mesma pilha de pneus uma volta depois, abandonando imediatamente.

De repente, a corrida fica morna, enquanto Patrese partia para uma vitória consagradora em casa, mas nos boxes a Ferrari se aprontava para algo que não fazia a 35 anos. No embalo do pioneirismo da Brabham, logo copiada por Williams e Renault, a Ferrari chamava o segundo colocado René Arnoux para o seu pit-stop na volta 20. Mesmo tendo feito sua última parada programada em 1957, a Ferrari não perde muito tempo e o francês retorna à pista em quinto. Na volta 26 foi a vez de Prost fazer sua parada e ficar atrás de Arnoux, enquanto Tambay fazia sua parada momentos depois. Como dá para perceber, as paradas não eram realizadas com tanta rigidez como hoje, mas pelo ritmo que vinha imprimindo, era líquido e certo que Patrese faria sua parada mais cedo, ou mais tarde.

Na volta 34, o italiano da Brabham chegou ao seu box. Com a ânsia de vencer na frente dos seus torcedores (?), Patrese entra nos boxes rápido demais e acaba passando do ponto em sua marca dentro do pit. Para piorar, Riccardo tinha atropelado uma pistola pneumática e a mangueira de ar tinha saído, o fazendo perder ainda mais tempo. No desespero, Patrese põe as mãos na cabeça e seu pit dura eternos 21s. Enquanto isso, Patrick Tambay rasgava a reta dos boxes de olho na saída de box, esperando a saída de Patrese, que acabou não ocorrendo. A torcida italiana enlouquecia novamente com Patrick Tambay na frente, mas a corrida ainda não havia terminado. Como acontecera em 1982, a corrida pôde ter ficado chata em alguns momentos, mas teve lances de emoção extrema no seu final.

Patrese não tinha se dado por vencido e começou a andar tão forte que nem parecia o simpático italiano de quem todos gostavam. Se não fosse o capacete, parecia que o Brabham número seis era pilotado por Nelson Piquet, tamanha a velocidade e a capacidade de não errar de Patrese. Tambay tinha 10s de vantagem na volta 35, mas Patrese era claramente o carro mais rápido da pista e na volta 47 a diferença tinha caído para menos de 5s. Cinco voltas depois a diferença era de apenas 1.5s. O público de 100.000 italianos prendia a respiração. Todos os olhos do Autodromo Enzo e Dino Ferrari estavam naqueles dois carros que se aproximavam feito ímã. Para piorar as coisas, o motor de Tambay começou a cortar e na volta 55, menos de seis para o final, Patrese fez a manobra de ultrapassagem na curva Tosa. Silêncio de velório em Ímola. Porém, quando os dois se aproximaram da Acque Minerale, a curva posterior em que Alboreto e Lauda tinham se acidentado mais cedo e deixado alguns detritos, Patrese comete um pequeno (e fatal) erro.

O piloto da Brabham saí da curva um pouco aberto, passa por cima da sujeira e acaba se estatelando no muro de pneus. Então houve uma explosão de alegria em toda a Itália! Mesmo sendo francês, Tambay estava de Ferrari e para os torcedores italianos, não importava muito qual a nacionalidade de quem estava naquele carro 27. O que importava era Ferrari no alto do pódio! Italiano da gema, Patrese ficou inconformado com a reação dos seus compatriotas e nunca perdoou a torcida italiana por isso. Talvez como forma de castigo, René Arnoux rodou na mesma curva em que Patrese tinha batido e isso impediu uma dobradinha ferrarista em Ímola. Durante as últimas voltas, Tambay ainda se assustou quando Mansell rodou na sua frente, mas nada poderia impedir que a Ferrari comemorasse mais uma vitória em seu quintal de casa. Correndo com o mesmo número de Villeneuve, Tambay foi saudado como nunca e durante a volta de desaceleração, os tifosi fizeram o francês parar e Tambay foi erguido como um trófeu, só voltando aos boxes, a pé, comboiado por policiais. Foi uma corrida inesquecível para a Ferrari, que entrara na briga pelo título e também para a França, que colocava três pilotos no pódio. Porém, a recordação de Gilles foi o principal destaque daquele dia. Como provou Patrick Tambay depois da corrida. "Eu juro que não era eu que estava pilotando aquele carro. Eu sentia como se Gilles estivesse comigo".

Chegada:
1) Tambay
2) Prost
3) Arnoux
4) Rosberg
5) Watson
6) Surer

2 comentários:

  1. Que espetáculo heim! Saudade desse tempo. Muito bom JC! Muito bom. Um grande abraço.
    SAVIOMACHADO

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  2. DE facto, foi uma corrida emocionante, em muitos aspectos. E o irónico é que esta foi a última vitória do Tambay em Formula 1, e provavelmente a melhor corrida de sempre que o Riccardo Patrese fez.

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