Os tifosi amam a Ferrari, mas para os torcedores italianos há um lugar especial para um dos maiores pilotos que já domou um carro vermelho com o símbolo amarelo com o "cavalino rampante" no fundo. Se para um estrangeiro andando de Ferrari, os italianos já o colocam no céu, imaginem um italiano sendo campeão mundial pela equipe do Il Comendatore. Alberto Ascari foi um dos primeiros ídolos da F1 e da Ferrari e sua curtíssima carreira é até hoje lembrada pelos fãs, sejam italianos ou de qualquer parte do mundo. Se fosse vivo, Alberto Ascari estaria completando 90 anos de idade e aproveitando o ensejo, iremos conhecer um pouco mais desse piloto baixinho e gordinho que foi ídolo em todo o mundo.
Alberto Ascari nasceu no dia 13 de julho de 1918 na cidade de Milão. O autobilismo entrou cedo na vida do pequeno Alberto, pois seu pai, Antonio Ascari, era um dos melhores pilotos italianos da década de 20 e freqüentemente levava o seu filho para as corridas. Infelizmente, apenas quinze dias antes de completar sete anos, Alberto chorou a perda do pai quando Antonio liderava o Grande Prêmio da França de 1925 no circuito de Montlehry e sofreu um acidente. Apesar de ter crescido sem o carinho do pai por causa do automobilismo, Alberto ficou alucinado por corridas e fez de tudo para se iniciar como piloto, inclusive atrapalhando os seus estudos. Alberto Ascari começou sua carreira no esporte a motor nas motos, mas em 1940 fez sua primeira corrida em automóveis na tradicional Mille Miglia. Seu carro foi preparado pelo amigo e antigo companheiro de equipe do seu pai: Enzo Ferrari. Ainda em 1940 Ascari se casou com Mietta e com ela teve dois filhos: Antonio e Patrizia.
Quando a carreira de Ascari começava a deslanchar, a Segunda Guerra Mundial atrapalhou os seus planos ele teve que esperar até 1947 para voltar às corridas. Juntamente com seu amigo e mentor, Luigi Villoresi, Ascari comprou um Maserati 4CLT da família Orsi por cinco milhões de liras e ambos começavam a construir uma carreira de sucesso na Itália. Graças a seu físico, Ascari receberia o apelido de "Ciccio", que significava "baixo e gordo". A primeira vitória de Ascari seria no Grande Prêmio de San Remo de 1948 e no mesmo ano conseguiria um ótimo segundo lugar no Grande Prêmio da Inglaterra. Agora dono de equipe, Enzo Ferrari se interessa pelo filho do seu grande amigo e contrata Ascari em 1949, trazendo também Luigi Villoresi. O detalhe é que o irmão de Villoresi tinha corrido para Ferrari anos antes e foi morto num teste em Monza, causando uma grande inimizade entre Villoresi e Ferrari. Porém, Ascari consegue um bom ano e termina aquele ano com cinco vitórias.
Em 1950, a FIA cria o Campeonato Mundial de Fórmula 1 e a equipe Ferrari faz sua estréia no Grande Prêmio de Monte Carlo, segunda etapa do ano, com Ascari, Villoresi e o piloto francês Raymond Sommer. Correndo contra a imbatível Alfa Romeo, Ascari consegue levar sua Ferrari ao segundo posto, atrás da Alfa de Juan Manuel Fangio. Ascari consegue outro segundo lugar no Grande Prêmio da Itália e termina o Campeonato apenas na quinta posição. No ano seguinte, a Ferrari começa a ameaçar o domínio da Alfa Romeo com seus motores de 4.5l e no Grande Prêmio da Alemanha, em Nürburgring, Alberto Ascari consegue sua primeira vitória na F1. A Ferrari começava a superar o velho modelo Alfa 158 e no Grande Prêmio da Itália, Ascari vence novamente, indo para a última etapa do ano, o Grande Prêmio da Espanha, com grandes chances de conquistar o título de 1951. Contudo, a Alfa Romeo contava com a malandragem de Juan Manuel Fangio, que fez a Ferrari acreditar que usaria um tipo de roda diferente e se sagrou campeão de 1951, com Ascari na segunda posição.
Ainda no final de 1951, a F1 entrou em crise com a saída da Alfa Romeo e da Talbot. Praticamente sem grid, a FIA decidiu que o Campeonato da F1 seria disputado com carros da F2 em 1952. Era tudo que a Ferrari e Ascari queriam. A Ferrari 500 era o melhor carro de F2 da época e praticamente sem adversários, massacrou todos os oponentes. Claramente o mais rápido da equipe, Ascari superou Villoresi e Giuseppe Farina para conquistar o seu primeiro Campeonato Mundial em 1952. Ascari venceu todas as seis corridas européias, quebrando o recorde de volta mais rápida em todas elas. Ele não participou do Grande Prêmio da Suíça, pois estava nos Estados Unidos tentando algo inédito. A Ferrari decidira tentar vencer as 500 Milhas de Indianápolis, que na época fazia parte do Campeonato Mundial de F1, e levou o carro de 1951 para Indy, mas Ascari não conseguiu mais do que uma décima nona posição no grid e abandonou ainda na volta 40, com um rolamento quebrado.
Na época, muitos insinuaram que a facilidade encontrada por Ascari em 1952 se deveu ao acidente sofrido por Fangio em uma corrida em Monza, em junho, que deixou o argentino de fora de toda a temporada. Demonstrando que não era bem assim, Ascari venceu as três primeiras provas de 1953, estabelecendo o recorde de nove vitórias consecutivas (não contando Indianápolis). Essa seqüência só foi quebrada no Grande Prêmio da França, quando Alberto foi "apenas" quarto. Mesmo com Fangio na pista, Ascari mostrou que era um dos grandes da F1 e venceu o seu segundo título com mais duas vitórias.
Com todos os recordes possíveis da F1 ao seu poder, considerado, ao lado de Fangio, como o melhor piloto da época, Ascari necessitava de novos desafios e saiu da Ferrari no final de 1953, se mudando para a Lancia, que tinha um plano ousado de construir o primeiro carro de corridas da marca. Porém, o desenvolvimento do novo carro foi lento, na medida em que uma ameaça alemã aparecia para acabar com a supremacia italiana na F1. A Mercedes-Benz voltava à cena do automobilismo de competição com o novo W196, que tinha várias novidades tecnológicas e ainda teria Juan Manuel Fangio ao volante. O carro alemão estreou de forma fulminante no Grande Prêmio da França de 1954, enquanto Ascari usou um Maserati nessa corrida, para ver o quanto o carro de Fangio era bom. Alberto quebrou o motor do seu carro na segunda volta tentando seguir a Mercedes...
A Lancia resolveu lançar o novo carro às pressas na última corrida de 1954, o Grande Prêmio da Espanha em Pedralbes. Alberto assumiu a liderança da prova e quando começava a disparar, seu carro quebrou na nona volta com a embreagem quebrada. Com a Ferrari totalmente perdida e a Maserati ainda desenvolvendo o modelo 250F, a Lancia parecia ser a única em condições de encarar a Marcedes. O modelo D50 começava a conquistar vitórias em corridas menores e no Grande Prêmio de Mônaco, Ascari estava andando muito bem, ficando um bom tempo na segunda posição, atrás de Stirling Moss. Quando o inglês abandona, Ascari assume a liderança, mas de forma inexplicável, o italiano da Lancia perde o controle do carro na chicane do porto e, após bater nos fardos de feno, dá um mergulho espetacular no Mar Mediterrâneo. Mergulhadores chegaram a se jogar ao mar, mas Ascari logo voltou à superfície apenas com um nariz quebrado e pequenas escoriações.
Quatro dias depois, no dia 26 de maio de 1955, Ascari foi a Monza ver como estava o desenvolvimento do novo Ferrari 750 Monza, que seria usada por ele e Eugenio Castellotti nos 1000 km Supercortemaggiore. Atiçado em poder testar a nova máquina, Ascari entrou no carro, vestindo roupas "civis" e usando o capacete de Castellotti. Na terceira volta, Ascari perdeu o controle do seu carro e capotou duas vezes. Ascari foi jogado para fora do carro e morreria minutos depois. O acidente não foi visto por ninguém e até hoje é envolto em mistério. O acidente aconteceu na Curva di Vialone, umas das curvas mais rápidas do antigo circuito de Monza e que hoje foi substituída por uma chicane chamada Variante Ascari.
A lenda dizia que Ascari era um homem extremamente supersticioso. Uma das manias mais conhecidas de Ascari era que ele não corria se visse um gato preto no dia da corrida. Outra era que ele sempre usava o seu velho capacete azul. No dia em que Ascari morreu, o seu capacete estava sendo consertado ainda por causa do acidente em Mônaco e pela primeira vez ele usou um capacete diferente do seu. O branco de Castellotti. As coincidências entre os acidentes entre Alberto e Antonio Ascari impressionam a todos. Alberto Ascari morreu aos 36 anos, mesma idade que Antonio tinha quando faleceu. Pai e filho tinha ganho 13 Grandes Prêmios e dirigiam um carro com o número 26. Foram mortos exatos quatro dias após escaparem vivos de um sério acidente e no vigésimo sexto dia do mês. Ambos morreram na saída de uma curva rápida à esquerda e deixaram para trás uma esposa e duas crianças. Para evitar novas coincidências, Mietta Ascari disse a Enzo Ferrari que seu filho não seguiria a carreira do pai.
Três dias após o funeral, a Lancia anunciou oficialmente que estava saindo das corridas e cedeu todo o seu equipamento para a Ferrari. Provando a competitividade do material, a Ferrari seria campeã em 1956 com Fangio. Os números de Ascari impressionam pela quantidade de excelentes resultados em tão pouco tempo. Foram dois títulos mundiais em cinco temporadas completas, 13 vitórias, 14 poles, 12 melhores voltas, 17 pódios e 140,14 pontos em apenas 32 corridas! Até hoje, Ascari detém o recorde de sete voltas mais rápidas consecutivas, algo que pode ser igualado nesse final de semana por Kimi Raikkonen, que tem seis. Os números de Ascari comprovam que ele foi um dos maiores pilotos da história da F1, mas seu carisma era tamanho, que chegava a ofuscar Enzo Ferrari. Quando da sua morte, uma faixa foi colocada na Igreja San Carlo al Corso: "Na linha de chegada, encontre, Deus, a alma de Alberto Ascari".
Ótimo texto! Gostaria de saber se posso colocá-lo na minha comunidade do Orkut dedicada a Alberto Ascari (com os devidos créditos, claro).
ResponderExcluirSem problemas sidney, mas me passa o link dessa comunidade ok?
ResponderExcluirO link é esse: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=21492391
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