quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O voo de Donnelly


Dentre as várias mortes na F1, uma das cenas de acidente mais conhecidas da história da categoria, felizmente, não ocasionou o falecimento do protagonista. Mas foi por muito pouco. Vinte anos atrás, Martin Donnelly pilotava seu Lotus-Lamborghini em Jerez de la Frontera no primeiro dia de treinos para o Grande Prêmio da Espanha de 1990, quando perdeu o controle em uma rara curva de alta do circuito espanhol. O carro amarelo se espatifou com tamanha violência que se partiu em dois e Donnelly foi jogado longe, ainda preso ao banco. Seu corpo inerte no asfalto fez lembrar de cenas que não eram vistas desde 1986, com a morte de Elio de Angelis em Paul Ricard num teste privado. O socorro foi rápido e mesmo com algumas fraturas nas pernas e hemorragias internas, Donnelly se recuperou a ponto de dar algumas voltas num carro de F1 após um tempo. Porém, o promissor piloto britânico nunca mais correria profissionalmente.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

História: 30 anos do Grande Prêmio do Canadá de 1980


Após a última prova na Europa, apenas dois pilotos podiam ser campeões da temporada de 1980 de F1. Alan Jones e Nelson Piquet eram muito diferentes entre si e talvez por isso tinham objetivos diferentes naquela disputa em particular. Jones estava em sua sétima temporada de F1 e teve que ralar em equipes pequenas até ter em mãos um carro bom o suficiente para lhe garantir estar na briga pelo título mundial. Desde 1978 na Williams, Jones ajudou a então equipe pequena inglesa a se consolidar como um time forte e os esforços foram recompensados em 1979, quando o australiano venceu sua primeira corrida na F1 e fez da Williams o time a ser batido em 1980. Já Nelson Piquet, mesmo já tendo 28 anos de idade, fazia apenas sua segunda temporada completa na F1 e havia conquistado sua primeira vitória ainda em 1980. Muitos diziam que o talento do brasileiro ainda lhe proporcionaria vários títulos em seguida, enquanto para Jones, aquela poderia ser sua última oportunidade de se tornar campeão.

Tentando uma intimidação frente ao seu jovem oponente, Jones apareceu no circuito de Montreal com um macação verde escuro, quase negro. O australiano parecia mais tenso, ao mesmo tempo que também parecia mais determinado, enquanto Piquet estava mais relaxado com suas chances. Nos treinos, como por obra do destino, Piquet e Jones compartilhariam a primeira fila, com Nelson conquistando sua segunda pole na carreira, com Jones ao seu lado. Piquet não poderia contar com a ajuda de Hector Rebaque, seu lento companheiro de equipe, mas de outro lado, Jones e Reutemann já não eram os melhores amigos no final desta temporada.

Na parte de trás do pelotão, havia algumas novidades. Mike Thackwell se tornava o piloto mais jovem da história a largar na F1 com apenas 19 anos de idade, com um terceiro Tyrrell. Vittorio Brambilla se aposenta e para o seu lugar, a Alfa Romeo promove a estréia de Andrea de Cesaris, de apenas 21 anos de idade. Apesar dos bons resultados do italiano na F2 e do jovem De Cesaris ter mostrado velocidade no Canadá, a realidade foi que o dinheiro da Marlboro proporcionado pelo italiano foi o motivo para seduzir a equipe italiana. Enquanto uns estreavam, outros ficavam pelo caminho. Com a aposentadoria já anunciada, Scheckter apenas cumpria contrato na Ferrari e mesmo após surras homéricas ante a Gilles Villeneuve, o sul-africano ainda passou pela humilhação de não conseguir tempo para largar em Montreal! Tudo graças aos péssimos pneus da Michelin, que não se deu muito bem com o tempo frio no Canadá e ainda viu o próprio Villeneuve ficando apenas na penúltima fila, enquanto Arnoux, que havia conquistado duas vitórias ao longo do ano, teve que se contentar com a penúltima posição. Porém, os protagonistas estavam na primeira fila!

Grid:
1) Piquet (Brabham) - 1:27.328
2) Jones (Williams) - 1:28.164
3) Pironi (Ligier) - 1:28.322
4) Giacomelli (Alfa Romeo) - 1:28.575
5) Reutemann (Williams) - 1:28.663
6) Rosberg (Fittipaldi) - 1:28.702
7) Watson (McLaren) - 1:28.755
8) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:29.026
9) Laffite (Ligier) - 1:29.130
10) Rebaque (Brabham) - 1:29.377

O dia 28 de setembro de 1980 estava ensolarado no Canadá, mas o clima de outono fazia que o tempo ficasse muito extremamente frio naquele dia. Havia uma tensão aparente entre Piquet e Jones e a largada era muito aguardada. Devemos nos lembrar que o circuito de Montreal nos anos 80 era ligeiramente diferente do atual. Primeiramente, após o grampo não havia a enorme reta oposta de hoje, mas duas retas separadas por um esse de alta velocidade. A largada ocorria exatamente na primeira reta, com a primeira curva sendo na primeira perna desse esse. Na hoje 'Chicane dos Campeões', havia um chicane de média velocidade, mas também um bom ponto de ultrapassagem. Não restavam dúvidas que a largada era bem mais perigosa do que é atualmente e também não era segredo que Piquet e Jones não aliviariam na próxima primeira curva. As imagens não mostram muito bem o incidente, mas Jones teria largado melhor e ficou lado a lado com Nelson Piquet, que não aliviou, como imaginado. O resultado foi o toque entre os dois protagonistas pelo título, com Piquet levando a pior. A sorte do brasileiro foi que vários carros, sem espaço para desviar, acabaram se acidentando e a corrida foi interrompida.

Porém, o que ninguém poderia imaginar, foi que o destino da corrida de Nelson Piquet havia sido decidido naquele momento. E por uma falta de atenção sem tamanho. Com o carro titular parcialmente destruído, Piquet partiu para o carro reserva, com o qual havia treinado no dia anterior. Até aí tudo bem, o problema foi que o chefe de mecânicos da Brabham havia esquecido de trocar o motor especial de Classificação por um motor acertado para corrida no bólido reserva. O motor de Classificação era bem mais potente do que o normal, mas inversamente proporcional a confiabilidade. Sem tempo para trocar os motores, Piquet largaria com o carro reserva com motor de treinos. Mais atrás, Thackwell não largaria, pois teve que ceder seu carro ao companheiro de equipe Jarier, enquanto Rosberg teve que declinar sua ótima posição no grid para largar dos boxes com o carro titular consertado. De alguma forma, Jones fica sabendo do drama de Piquet e por isso não forçaria em nenhum momento durante a prova. Porém, o australiano parte para cima na segunda largada e toma o primeiro lugar de Piquet, enquanto Pironi também ultrapassa o piloto da Brabham, mas com consequencias mais tarde.

Com um super-motor na mão, Piquet não toma conhecimento de Jones e Pironi, ultrapassando-os em apenas duas voltas. E dispara. Na corrida e a rezar para que acontecesse o milagre do motor suportar as 70 voltas da prova. Enquanto Piquet abria uma grande diferença para Jones, o australiano apenas administrava a diferença para Pironi, que o acompanhava de perto. Giacomelli tentava finalmente consolidar o bom rendimento do seu Alfa Romeo, mas o italiano acabaria abandonando ainda na sexta volta, fazendo com que Watson, que havia feito uma temporada terrível com a McLaren, assumisse o seu posto. Na volta 24, a TV mostra um carro branco estacionando com muita fumaça saindo de sua traseira. Após um pequeno suspense, descobre-se que os temores da Brabham havia se confirmado e Piquet tinha quebrado o motor. E Bernie Ecclestone, ainda correndo atrás do seu primeiro título na F1 - mas não da Brabham -, com certeza colocou nos Classificados do dia seguinte e vaga de um chefe de mecânicos...

Alan Jones assumiu a liderança da corrida e assim terminasse, seria o novo Campeão Mundial. Correndo na nona posição, Jean-Pierre Jabouille fazia uma corrida apenas para chegar ao final, pois o experiente piloto francês sabia que o seu Renault não tinha condições de lhe entregar um bom resultado. Porém, a suspensão do seu carro quebra num ponto de alta velocidade e Jabouille acaba por bater de frente numa barreira de pneus. O francês fica preso em seu carro, com suas pernas quebradas e foi preciso um bom tempo para que Jabouille fosse retirado do seu Renault. De saída para a Ligier, aquele acidente acabou por acelerar a aposentadoria de Jabouille da F1, o que ocorreria em 1981. Mais atrás, a McLaren fazia uma corrida surpreendente, com Watson correndo de forma solitária em terceiro e com o jovem Alain Prost, que acabara de ultrapassar Reutemann, em quarto. O francês tenta se aproximar do seu companheiro de equipe, mas também tem a suspensão quebrada. Prost bate forte e machuca a mão, usando o argumento desse acidente para dizer que a McLaren tinha um carro inseguro e por isso rescindiu o contrato com a equipe de Ron Dennis (que havia acabado de comprar a equipe de Teddy Mayer) e ir para a Renault, no lugar do recém-acidentado Jabouille.

Pironi se aproxima rapidamente de Jones e o ultrapassa facilmente na volta 44. As esperanças brasileiras terminam quando é finalmente anunciado a penalidade de um minuto ao francês por queima de largada. Fazendo uma boa corrida, Pironi teria que livrar uma diferença superior a um minuto em cima de Jones em 26 voltas, mas o australiano, que já havia deixado Pironi passar com essa informação na cabeça, passou a controlar a diferença. Contudo, num ritmo alucinante, Pironi abriu mais de 40s sobre Jones e quase conseguia a segunda colocação. Watson passou a ter problemas de pneus nas últimas voltas e acabou ultrapassado por Reutemann e Laffite, sendo que o francês teve uma pane seca nas últimas voltas. Apesar dos esforços de Pironi, o piloto da Ligier ainda perdeu o 2º lugar por apenas 4s para Reutemann, enquanto Jones apenas passeava no bonito circuito de Montreal para conquistar mais uma vitória na temporada e seu esperado título. Mesmo não sendo um dos pilotos mais brilhantes da história, Alan Jones estava numa fase fenomenal em 1980 e soube aproveitar todas as oportunidades que lhe apareceram, conquistando até mesmo algumas vitórias incertas. Ao lado de Jack Brabham, Jones estrava para a história como o segundo piloto australiano a ser Campeão Mundial de F1.

Chegada:
1) Jones
2) Reutemann
3) Pironi
4) Watson
5) Villeneuve
6) Rebaque

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Figura(CIN): Fernando Alonso

É difícil colocar o mesmo personagem nesta parte da coluna, mas é impossível não colocar Fernando Alonso como destaque máximo do final de semana em Cingapura. Desde os primeiros treinos, Sebastian Vettel levou seu Red Bull à liderança com ampla vantagem e apenas Alonso parecei ser capaz de ficar mais próximo do imbatível alemão. Porém, nos treinos, Vettel cometeu um erro e como grande campeão que é, Alonso soube farejar a oportunidade e capitalizou o deslize do jovem alemão para ficar com a pole. Num circuito de difícil ultrapassagem, o piloto da Ferrari sabia que a largada seria essencial e mesmo com Vettel largando melhor ao seu lado, Alonso foi agressivo e jogou o seu carro para cima do Red Bull do alemão, com o intuito de permanecer na ponta da corrida. Alonso teve que andar no limite através do longo e traiçoeiro circuito de Marina Bay em praticamente todas as 61 voltas da corrida e após uma hora e 57 minutos de prova, onde soube administrar a vantagem sobre Vettel de forma magistral, Alonso parte para as quatro provas finais com a moral em alta, assumindo a vice-liderança do campeonato com apenas onze pontos de desvantagem para Webber. Com 50 pontos em 50 possíveis, Alonso sabe que não poderá errar ou desperdiçar oportunidades criadas pelos seus adversários. Em Cingupura, Alonso aproveitou essa chance!

Figurão(CIN): McLaren

Acostumada a disputar títulos desde a década de 70, a McLaren deveria estar com a careca de Ron Dennis para saber que pontos cruciais não podem ser perdidos na fase final do campeonato, e que o desenvolvimento do carro deve chega ao auge justamente nessa época. Pois em 2010 o time prateado está fazendo exatamente o inverso. Apesar dos esforços do time para desenvolver o carro, a infeliz verdade para os ingleses é que Red Bull e Ferrari estão à frente no momento e mesmo num circuito onde, teoricamente, a McLaren estaria melhor, o time foi derrotado de forma acachapante pelos dois rivais, tanto em treino, como em ritmo de corrida no circuito de rua de Cingapura. Por sinal, Lewis Hamilton, piloto com melhores chances dentro da equipe, jogou outra corrida fora ao tocar com Mark Webber. Outro zero para o inglês e com o MP4/25 claramente atrás dos seus rivais, dificilmente a McLaren poderá conquistar outro título.

domingo, 26 de setembro de 2010

Acima das expectativas


Em outro 'Tilkodromo', as expectativas para este Grande Prêmio de Cingapura não eram das melhores, mesmo com toda a emoção da disputa pelo título, que se afunila na medida em que o campeonato vai chegando ao fim. A corrida do ano passado provara que Marina Bay era outro circuito chato, de ultrapassagens difíceis e a prova tendia a ser enfadonha. À primeira vista, com Alonso e Vettel segurando as mesmas posições da primeira a última volta pode trazer a falsa sensação de uma corrida monótona, mas a verdade foi que hoje vimos uma das melhores corridas do ano, cheia de ultrapassagens, disputas, toques, acidentes, uma pequena polêmica e um final de corrida emocionante. Enfim, todos os ingredientes para uma baita prova!

Ao contrário de Valencia e Abu Dhabi, a pista em Cingapura é o que se pode chamar de um verdadeiro circuito rua, com muros cercando uma pista estreita, com pouco espaço para erro, já que as áreas de escape não são muito volumosas. Porém, há boas retas que permitem ultrapassagens. Ou seja, para os saudosos, um circuito de rua muito parecido com o de Detroit, palco de várias ótimas corridas nos anos 80. Além de tudo isso, há o diferencial de ser uma prova noturna e muito longa, beirando as duas horas. Ou seja, poderia haver muitas coisas durante a corrida e realmente houve. A largada foi sem muitos incidentes, com um toque aqui e ali, mas com os cinco primeiros mantendo suas posições. Porém, a movimentação começou cedo, com Liuzzi batendo no muro e quebrando sua suspensão. Felipe Massa já tinha colocado as cartas na mesa ao parar logo na primeira volta para cumprir o regulamento e não parar mais no decorrer da corrida. E assim fez vários pilotos, com destaque para Mark Webber. O australiano tinha demonstrado que não suas condições de almejar algo melhor durante a corrida era minímo pelas próprias forças e apenas algo fora do comum, ou uma boa estratégia, poderia lhe colocar numa posição melhor. E a Red Bull, tão criticada por seus erros de estratégia pensou rápido e acertaria mais tarde com Webber.

Os líderes permaneceram na pista, com Alonso sempre à frente de Vettel, Hamilton e Button. Talvez pensando num pulo da Red Bull com Webber, Alonso acelerou tudo o que podia e fazia volta mais rápida, em cima de volta mais rápida, mas tinha Vettel sempre por perto. O piloto da Ferrari chegou a ter mais 3s de vantagem sobre Vettel, mas seu ritmo começava a diminuir e Alonso praticamente venceu a prova quando foi trocar seus pneus e deve ter visto com surpresa o carro de Vettel no seu retrovisor. A Ferrari trabalhou muito bem e Alonso saiu na frente de Vettel, como era para ser. Porém, estava claro que a Red Bull estava mais equilibrada e quando Vettel parecia mais próximo, eis que surge a segunda entrada do Safety-Car. Para quem prestou atenção, Alonso foi malandro na sua relargada, ao fugir, trazer Vettel colado, mas freando na antepenúltima curva, ganhando uma boa distância sobre Vettel. O alemão atacava, mas quando a diferença para Alonso caía para menos de 1s, o ferrarista respondia. Foi uma briga tensa até o final, principalmente quando Vettel encostou de vez nas duas últimas voltas e uma tentativa Banzai do piloto da Red Bull era até esperada, mas não aconteceu. Quando Alonso dizia que era favorito ao título, muita gente, eu inclusive, tirou onda com o espanhol, preferindo destacar a arrogância de sua afirmação. Contudo, nunca é bom desconfiar de um bicampeão mundial do quilate de Fernando Alonso. Sua atuação neste final de semana, na corrida em particular, foi de tirar o chápeu e o espanhol partirá para as quatro últimas corridas do ano com a moral em alta e todo o apoio da Ferrari e de Felipe Massa. O brasileiro fez o que pôde e ganhou várias posições quando o Safety-Car entrou logo no início da corrida, mas depois Massa só ultrapassou Petrov porque o russo foi alboroado por Hulkenberg e o ferrarista pegou a sobra. Para quem largou em último, marcar um pontinho não é de todo mal, mas faltou a Massa a garra dos campeões, mostrada claramente por Alonso. E ainda tem quem reclame o porquê da Ferrari preferir Alonso com relação a Massa...

O sorriso amarelo de Vettel após a prova é de ter perdido uma chance enorme de entrar de vez na briga. Batendo facilmente seu companheiro de equipe e líder do Mundial, Vettel começou a se complicar ao errar no Q3 e ficar em segundo lugar no grid. O alemão até largou melhor do que Alonso, mas era de se supor que o espanhol lhe fechasse a porta como realmente o fez. Vettel passou a noite inteira vendo a marca Santander na sua frente, mas o alemão não mostrou a voracidade de um piloto que ainda persegue um título. Sendo constantemente avisado pela equipe da situação dos freios, Vettel parecia ter receio em colar em Alonso e tentou dar o bote nas últimas voltas, mas para quem se segurou a corrida inteira, estava claro que Alonso iria fazer o possível e o impossível para se segurar na ponta. Porém, não podemos desmerecer a boa corrida de Vettel, pois o alemão fez a corrida inteira com o pé no fundo, sem erros e tinha na sua frente um bicampeão do mundo com um talento enorme e cada vez mais completo, que é Fernando Alonso. Porém, para quem liderou todos os treinos livres com ampla margem de vantagem, Vettel saiu de Cingapura com um gosto amargo na boca. Se a Red Bull não foi audaciosa com Vettel, ao parar o alemão na mesma volta de Alonso, o time descontou com Mark Webber, mas o australiano ajudou e muito na estratégia da equipe. Webber não ficou apenas perseguindo os carros da frente e fez belas ultrapassagens sobre Glock, Kobayashi e Schumacher. Em todas elas, Webber esperou por algum erro do adversário e foi frio e decisivo em suas manobras. Porém, após o segundo Safety-car, Webber se envolveu na polêmica da corrida.

O australiano havia acabado de assumir o terceiro lugar com as paradas das duas McLarens, mas na relargada acabou sendo atrapalhado por Lucas di Grassi, permitindo a Hamilton uma tentativa real de ultrapassagem. Como manda o figurino, Webber deu o lado de fora para o inglês, mas Hamilton tinham mais impulso e freou forte e tinha tudo para ultrapassar por fora, porém se esqueceu que Webber ainda teria que contornar a curva por dentro. O toque foi inevitável e mesmo leve, acabou por quebrar a suspensão traseira de Hamilton, que saiu chateado do seu carro. Segundo abandono seguido em um momento decisivo da temporada. Mesmo ainda em terceiro lugar no Mundial, Lewis sabe que a McLaren não acompanhou o desenvolvimento de Ferrari e Red Bull e a corrida de hoje foi prova cabal disso. Hamilton e Button faziam corridas discretas atrás de Alonso e Vettel, inclusive com Button ficando mais para ser atacado por Rosberg do que atacar seu companheiro de equipe. Quando a metade da corrida se aproximou, as duas McLarens perderam tanto rendimento, que permitiu a Webber, mesmo atrás da Williams de Barrichello, ficar à frente dos carros prateados com folga. Hamilton irá reclamar de Webber, mas aquilo nada mais foi que um dos famosos 'toque de corrida' e o inglês só irá lamentar nos braços de sua linda namorada os vários pontos perdidos que podem ter lhe tirado o campeonato num momento de clara decadência de sua equipe. Button ainda salvou a lavoura ao levar seu carro em segurança ao quarto lugar, já bastante próximo de Webber, que nesse momento estava com os pneus bem desgastados. O inglês é de uma regularidade ímpar e se não é tão veloz quanto seus adversários, compensa isso com uma pilotagem inteligente e consistente. Por isso, mesmo sem vencer há vários meses, Button ainda está na luta pelo título.

Rosberg fez uma corrida correta, onde largou bem e tomou o lugar de Barrichello e ficou sempre próximo de Button, mas nunca a ponto de ameaçar o inglês ou ser ameaçado por quem fosse. O alemão vai marcando seus pontinhos, enquanto seu famoso companheiro de equipe vai se complicando. Michael Schumacher parece ter tido algum problema com a equipe Sauber, pois o alemão se envolveu com problemas com os dois pilotos da equipe. Primeiro, foi vítima de uma freada maluca de Kamui Kobayashi que, se não batesse na Mercedes de Schumacher, bateria no muro. E depois, talvez se confundindo de capacete, Schumacher efetuou uma ultrapassagem atabalhoada em cima de Heidfeld, que fez seu compatriota abandonar. Com o bico quebrado e claramente desfavorecido pela estratégia de não parar logo na primeira intervensão do Safety-Car, Schumacher ficou longe dos pontos. Barrichello não largou bem e perdeu duas posições, mas esse foi o único ponto baixo do veterano brasileiro. Rubens foi rápido e consistente com sua Williams e não se importou muito com os ataques de Webber, deixando o australiano atrás de si sem precisar de uma única manobra mais brusca. Barrichello fez sua corrida certinha rumo aos pontos, ao contrário do seu companheiro de equipe. Nico Hulkenberg vem se caracterizando por uma agressividade em suas manobras de ultrapassagem e em dois momentos teve sorte em não quebrar seu carro ou mesmo ser punido. Em disputas com Timo Glock e Vitaly Petrov, o jovem alemão da Williams chegou a tocar rodas e sair da pista, mas acabando por completar a ultrapassagem e marcar alguns pontinhos, mesmo tentando uma manobra final em cima de Sutil no final.

Tirando Alonso, talvez o grande nome da corrida de hoje seja Kubica. O polonês vinha fazendo uma corrida tranquila, onde largou bem, ganhou uma posição e corria sozinho na frente. Porém, a tranquilidade acabou quando teve um furo no pneu traseiro direito e teve que ir aos boxes. Perdendo várias posições, Kubica partiu para as últimas voltas com a faca entre os dentes e efetuou belíssimas ultrapassagens sobre Buemi, Petrov (muito parecido com ordem equipe...), Massa, Hulkenberg e Sutil, com destaque para esse último, quando Kubica passou Sutil por fora no mesmo local do incidente entre Hamilton e Webber mais cedo. A manobra, muito bonita, praticamente tirou a razão de Hamilton reclamar de alguma coisa. Sutil foi um dos que pararam logo no início e foi até o fim da prova sem trocar pneus, garantindo pontos que pareciam difíceis pelo mal rendimento da Force India no final de semana. Liuzzi pouco apareceu, mas ao menos ajudou a equipe quando trouxe o safety-car e Sutil aproveitou para efetuar a estratégia que lhe deu os pontos. A Toro Rosso andou próximas das equipes médias, mas tudo começou a dar errado quando Jaime Alguersuari, que havia feito um ótimo treino no sábado, teve que largar dos boxes. Buemi andou próximo do pelotão que brigava com Sutil, já que o alemão tinha os pneus bem desgastados no final, mas não brigou pelos pontos, a mesma coisa ficando com Alguersuari. A Sauber teve momentos distintos, com Kobayashi fazendo uma ultrapassagem maluca em Schumacher, mas sendo o protagonista da segunda entrada do safety-car ao bater sozinho. Na relargada, Heidfeld acabou sendo a vítima de Schumacher, sendo que o alemão trouxe algum prejuízo a sua equipe na sua volta a F1, pois já havia trocado o bico do seu carro após um toque na primeira volta.

Glock supreendeu ao segurar por várias voltas um trem de carros atrás de si. O alemão deu muito trabalho aos compatriotas Sutil e Hulkenberg, mas após ser ultrapassado, Timo pouco apareceu e acabou abandonando. O único piloto das equipes pequenas a ver a bandeirada acabou sendo Lucas di Grassi, já que Jarno Trulli abandonou, Heikki Kovalainen teve que dar uma de bombeiro e apagar o incêndio em seu carro na penúltima volta, Klien abandonou anonimamente e Senna acabou por acertar a traseira do carro batido de Kobayashi. É bom destacar que Bruno andou o final de semana inteiro atrás de Christian Klien, que não corria de F1 há mais de quatro anos e foi chamado às pressas para esta corrida. Antes de criticar o péssimo carro que tem em mãos, seria ainda melhor Bruno Senna fazer um auto-crítica melhor.

A corrida de hoje prova o grande crescimento da Ferrari e Alonso vem aproveitando isso para brigar ainda com mais força pelo tricampeonato. Se Webber viu sua diferença para o segundo colocado mais do que dobrar, agora tem um piloto mais completo e estável que Hamilton, ainda se envolvendo em incidentes que não poderia se envolver, ainda mais num tão crucial do campeonato. A Red Bull perdeu o primeiro round das corridas que lhe favorecem, mas Vettel e Webber ainda tem boas chances nas quatro últimas provas. Button caiu para o 5º lugar, mas ainda está 25 pontos atrás do líder, o que significa uma vitória. Após uma primeira etapa horrível, a temporada 2010 está realmente bem acima das expectativas de todos.

sábado, 25 de setembro de 2010

Força da camisa


Desde a época da Copa do Mundo, insisto na tese da comparação entre o futebol e a F1 no que tange a força da camisa, ou do nome, no caso da F1. Não é segredo que times e seleções muitas vezes vencem partidas com base da 'carteirada', batendo equipes até melhores, mas com menos tradição. Na F1 é a mesma coisa. Desde 1998 Ferrari e McLaren vem dividindo os títulos entre si, com algumas excessões. Outro fator visto hoje, em que podemos comparar com o futebol, é a tarimba do jogador ou piloto. Fernando Alonso, Jenson Button e Lewis Hamilton já tem títulos em seus respectivos currículos e por isso sabem lhe dar melhor com a pressão do que Sebastian Vettel e Mark Webber, a bordo da inexperiente Red Bull.

Sebastian Vettel vinha construindo o que parecia ser um passeio no parque no domingo, com uma dominação avassaladora em todos os treinos livres com sua Red Bull inalcançável. Porém, na hora do vamos ver, com a decisão do campeonato se aproximando, o alemão de 23 anos raspou o muro em sua primeira tentativa no Q3 e talvez com receio de cometer um erro que prejudicasse ainda mais sua posição no grid, o alemão não foi tão incisivo em sua segunda volta voadora. Como resultado, a vantagem que Vettel tinha sobre os demais, que chegou a ser de 1s no treino de sexta-feira, se transformou numa desvantagem de menos de um décimo para Fernando Alonso, o piloto mais sólido desta metade final do campeonato. Não sendo coinscidência o espanhol ser o mais experiente dos postulantes ao título na equipe mais tradicional do mundo. Sendo o mais jovem, da equipe mais inexperiente, Vettel parece ter que derrotar ainda alguns demônios para confirmar tudo o que se espera dele, mas nem tudo está perdido para o alemão, que provou ter o carro mais rápido do pelotão.

A McLaren colocou seus dois pilotos na segunda fila, com sua dupla de pilotos sendo fiéis aos seus estilos, com Hamilton mais espetacular, enquanto Button sendo mais contido e frio. Ambos ao seu estilo, colocam a McLaren numa posição clara de briga pelo campeonato. Mark Webber, mesmo tendo a disposição um motor novo, não foi páreo para o seu companheiro e aos demais pilotos com que briga pelo título. O australiano ficou muito atrás de Vettel em todas as sessões do final de semana e para piorar, foi o último colocado dos cinco que brigam pelo título neste sábado. Como as largadas não vem sendo o forte de Webber, o domingo não parece promissor ao mais velho dos candidatos ao título. Felipe Massa não fez tempo ao ter problemas mecânicos logo cedo na Classificação, tendo que largar entre os últimos. Para os que ainda tinham o sonho de verão que o brasileiro ainda tinha chance de conquistar seu primeiro título, agora é pensar em 2011.

Aos demais, a Mercedes colocou seus dois carros no Q3 e Rosberg superou Schumacher por uma diferença menor do que a média. Kubica fez seu papel, enquanto Barrichello mostra a grande subida da Williams durante esse ano. Para uma equipe que não tem um grande orçamento, chega a ser um feito o quanto a Williams se desenvolveu durante o ano. Kobayashi levou tempo do 'novato' Nick Heidfeld o final de semana inteiro, mas na Classificação o japonês foi mais rápido, com o bônus de ter passado ao Q3. A Toro Rosso deu pinta que andaria bem com Alguersuari, mas ficou pelo caminho, assim como a Force India, uma equipe em clara fase de decadência. Das novatas, a Virgin parece ter se juntado a Lotus numa animada briga pelo melhor das novatas, enquanto a Hispania estagnou-se e 2011 é uma incógnita para o time espanhol.

Apesar das imagens mostrarem muita nebulosidade durante a Classificação e não ter caído uma gota, a previsão é de chuva para amanhã, o que pode embaralhar bastante as coisas para a corrida. Com os cinco primeiros do campeonato largando nas cinco primeiras posições, a previsão, essa mais certeira, que a corrida amanhã tende a ser muito tensa, com ninguém querendo arriscar demais para não perder pontos preciosos ou a tragédia extrema de um abandono, mas Alonso, Vettel, Hamilton, Button e Webber procurarão a melhor posições possível neste domingo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

História: 10 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2000


A última passagem da F1 pelos Estados Unidos em 1991 não tinha sido das mais felizes, com Ayrton Senna vencendo uma corrida com arquibancadas vazias em Phoenix. Bernie Ecclestone adoraria conquistar o difícil mercado americano e por isso teve a idéia de voltar à 'America' através da Capital Mundial das Corridas novamente. Indianápolis respita automobilismo em sua forma mais pura e em 1998 o veterano dirigente entrou em contato com Tony George, dono do circuito, para levar a F1 para o tradicionalíssimo circuito. Foi feito um circuito misto improvisado no gigantesco infield, mas o grande destaque seria a utilização da Curva 1 do Oval e praticamente toda a reta dos boxes. Mesmo que no sentido inverso. Após um ano e meio de reformas, o circuito ficou pronto e no final do século 20, dois nomes importantes do automobilismo se juntariam novamente: F1 e Indianápolis.

Apesar da festa pela corrida no estado de Indiana, havia um campeonato a ser decidido e Michael Schumacher e Mika Hakkinen polarizavam a disputa. O piloto da Ferrari se recuperara de uma fase menos boa, onde perdeu a liderança para Hakkinen, com uma vitória categórica no triste Grande Prêmio da Itália, marcado pela morte do bombeiro Paolo Ghilinsberti. Com Schumacher e Hakkinen com boa vantagem sobre Rubens Barrichello e David Coulthard, ordens de equipes eram esperadas, mas era a Ferrari que vinha em melhor forma, porém Rubens não acompanhou o ritmo dos líderes e deixou Schumacher praticamente sozinho, na pole, contra as duas McLarens na hora da largada.

Grid:
1) M.Schumacher (Ferrari) - 1:14.266
2) Coulthard (McLaren) - 1:14.392
3) Hakkinen (McLaren) - 1:14.428
4) Barrichello (Ferrari) - 1:14.600
5) Trulli (Jordan) - 1:15.006
6) Button (Williams) - 1:15.017
7) Frentzen (Jordan) - 1:15.067
8) Villeneuve (BAR) - 1:15.317
9) Diniz (Sauber) - 1:15.418
10) R.Schumacher (Williams) - 1:15.484

O dia 24 de setembro de 2000 trazia um adicional a mais para fazer daquele Grande Prêmio dos Estados Unidos ainda mais especial. Estava chuvendo. Milhares de pessoas compraram ingressos no domingo para assistir a corrida, pois simplesmente nunca haviam visto um prova debaixo d'água em Indianápolis. Como resultado, aproximadamente 250.000 pessoas encheram as arquibancadas no Indianapolis Motor Speedway, dissipando todas as dúvidas de sucesso da prova. Porém, havia outro problema. A tradicional linha de tijolos estava muito molhada e com isso Schumacher teria problemas na largada. Jean Todt foi reclamar do fato com a FIA e conseguiu que a primeira fila fosse deslocada para a terceira fila, 16m adiante. "Ferrari Inconditional Aid"?

A largada foi um pouco confusa quando as luzes vermelhas demoraram um pouco para se apagarem e a emoção deve ter sido demais para Coulthard, que queimou a largada de forma clamorosa. O escocês imediatamente assumiu a ponta da corrida, seguido por Schumacher, Hakkinen e Barrichello. Em último lugar, ficava Johnny Herbert, o único que largara com pneus slicks. Os outros 21 pilotos largaram com pneus intermediários. Na briga para saber quem era o melhor do resto, Jenson Button e Jarno Trulli vinham lado a lado na longa reta dos boxes e acabaram se tocando. Era o segundo toque entre eles em três corridas, fazendo com que Trulli chamasse Button de idiota. Schumacher não se preocupou muito em atacar Coulthard, pois sabia que o piloto da McLaren receberia sua punição a qualquer momento, mas então as ordens de equipe entraram em cena e Coulthard diminuiu drasticamente seu ritmo para segurar Schumacher e trazer Hakkinen para a briga. Schumacher sabia que precisava deixar rapidamente o escocês para trás e ataca Coulthard, que lhe fechava a porta com decisão, permitindo a aproximação de Hakkinen. Porém, na volta 7, Schumacher efetua uma bela e corajosa ultrapassagem sobre Coulthard na Curva 1, com os dois pilotos chegando a se tocar e cruzar a chicane lado a lado, mas com o alemão assumindo a primeira posição.

Porém, nesse momento, a pista já estava praticamente seca e vários pilotos vão aos boxes colocar pneus slicks. Há uma verdadeira mistura de pilotos retardando suas paradas (inclusive Schumacher) e outros parando logo, se encontrando na pista e brigando por melhores posições, proporcionando um belo show para os americanos. Schumacher é o último a fazer sua parada, retornando ainda na ponta da corrida, mas Mika Hakkinen vinha num ritmo alucinante, marcando volta mais rápida em cima de volta mais rápida. O finlandês tirava 1s por volta com relação ao grande rival e quando todos se preparavam para uma briga titânica entre os dois líderes do Mundial, algo inesperado praticamente definiu o título do Campeonato Mundial de Pilotos de 2000. Hakkinen vinha pontuado de forma ininterrupa por doze corridas, com seu McLaren mostrando uma confiabilidade espantosa, mas na volta 26 o motor Mercedes estourou bem na entrada dos boxes e a corrida de Hakkinen estava terminada, quando o piloto da McLaren já tinha a traseira da Ferrari de Schumacher na sua alça de mira.

Schumacher tinha uma vantagem monstruosa com relação ao novo segundo colocado, o seu irmão Ralf. Na verdade, o alemão tinha a faca e o queijo na mão. Barrichello e Coulthard se recuperavam na corrida e quando Ralf Schumacher tem problemas em seu motor BMW, o brasileiro assumia a terceira posição, mas bem próximo de Frentzen. Quando ocorre a segunda rodada de paradas, o brasileiro assumia o segundo posto, enquanto Frentzen tinha que lhe dar com a pressão de Jacques Villeneuve, talvez o nome mais conhecido da multidão por ter vencido as 500 Milhas de Indianápolis em 1995. O canadense partiu para cima de Frentzen, mas o alemão se defendia muito bem, principalmente na freada para a Curva 1. Numa dessas tentativas, Villeneuve acaba perdendo o ponto de freada e passa reto, praticamente se conformando com a 4º posição. Mais na frente, a vantagem de Schumacher era tamanha que o alemão acaba se desconcentrando e roda sozinho na parte mais lenta do circuito quando faltavam apenas cinco voltas. Schumacher 'acorda' e parte para sua mais decisiva vitória naquela temporada. Com oito pontos de vantagem sobre Hakkinen, o alemão tinha chances de finalmente tirar a Ferrari da fila de 21 anos. já na próxima corrida no Japão. Após ser considerado culpado pelo acidente fatal em Monza, Frentzen retornava ao pódio e a Ferrari conseguia algo inédito em sua longa tradição de corridas. Em mais de 50 anos nas pistas, o time de Maranello conseguia sua primeira vitória em Indianápolis, com direito a dobradinha, colaborando para o sucesso da associação F1-Indianápolis. Por enquanto...

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Barrichello
3) Frentzen
4) Villeneuve
5) Coulthard
6) Zonta

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

História: 20 anos do Grande Prêmio de Portugal de 1990


Nigel Mansell ainda mantinha de pé sua palavra de que se aposentaria no final de 1990, mas quem frequentava os bastidores da categoria sabiam que era mentira. O inglês negociava abertamente com Frank Williams uma volta para a equipe que o fez se tornar um piloto de ponta, mas havia vários acordos a fazer. Mansell queria o status de piloto número 1, fazendo com que Thierry Boutsen negociasse sua saída do time inglês, por não aceitar a condição. Jean Alesi havia sido contratado pela Williams desde fevereiro, mas muitas equipes queriam o rápido piloto francês, inclusive a Ferrari, para substituir Mansell na equipe. O time de Maranello primeiramente procurou Alessandro Nannini, mas quando viu a possibilidade de colocar as mãos em Alesi, não pensou duas vezes e anunciou o francês como companheiro de equipe de Prost em 1991. Mansell tinha agora caminho livre para voltar à Williams de acordo com suas exigências, pois Patrese já provara no passado que podia ser um ótimo escudeiro. Conta a lenda que uma das condições para que Williams liberasse Alesi, era que Frank ganhasse um carro Ferrari F1. Até hoje, o carro vermelho está no museu do time em Grove...

Um dos motivos de grande insatisfação de Mansell era seu tratamento dentro da Ferrari, que apoiava claramente Prost e o inglês queria vingança. Aparentemente os dois pilotos vermelhos se davam muito bem, mas Mansell não faria nenhum esforço para Prost na difícil briga que travava com Senna pelo título mundial. Numa pista travada, a Ferrari conseguiu a primeira fila, mas com Mansell na frente, enquanto as McLarens ficavam na segunda fila.

Grid:
1) Mansell (Ferrari) - 1:13.557
2) Prost (Ferrari) - 1:13.595
3) Senna (McLaren) - 1:13.601
4) Berger (McLaren) - 1:14.292
5) Patrese (Williams) - 1:14.723
6) Piquet (Benetton) - 1:14.728
7) Boutsen (Williams) - 1:14.934
8) Alesi (Tyrrell) - 1:15.122
9) Nannini (Benetton) - 1:15.411
10) Bernard (Lola) - 1:15.673

O dia 23 de setembro de 1990 não tinha muito sol no Estoril, mas não havia previsão de chuva para a hora da corrida. De forma até inocente, Prost pensou que Mansell o ajudaria durante a corrida e assim buscar ficar mais próximo de Senna na briga pelo título, já que o brasileiro tinha uma boa vantagem na liderança do campeonato. Até mesmo Senna imaginava que Mansell faria um claro jogo de equipe para ajudar seu arqui-rival, mas o brasileiro deve ter ficado boquiaberto com o que viu à sua frente. Mansell joga seu carro de forma acintosa em cima de Prost durante a largada, espremendo o francês contra o muro dos boxes. Prost recolhe, enquanto Mansell deixa uma verdadeira passarela para as duas McLarens assumirem a ponta, enquanto Prost ainda era ultrapassado por Piquet.

Mesmo com um carro mais adaptado ao circuito do Estoril, Mansell não ataca Berger, o segundo colocado, enquanto Senna não conseguia abrir uma grande vantagem sobre o companheiro de equipe. Os três andavam próximos, mas sem grandes chances de mudança de posição. Enquanto isso, Prost perdia tempo atrás de Piquet, só conseguindo a ultrapassagem sobre o tricampeão na volta 13, quando já tinha 5s de desvantagem para Mansell. Prost força o ritmo para encostar no pelotão da frente e na volta 26, quando já tinha Mansell na sua alça de mira, o inglês sai de frente numa curva de forma, digamos, suspeita e Prost assumia o terceiro posto. Bem no momento em que as equipes se preparavam para os pit-stops.

Senna e Mansell entram juntos na volta 29, enquanto Prost e Berger parariam três voltas depois. Apesar de paradas sem grandes problemas, há mudanças entre os quatro primeiros. Quem havia parado mais cedo tem uma vantagem e Senna reassume a liderança com uma boa vantagem sobre Mansell, enquanto Prost caía novamente para o quarto lugar, atrás de Berger. A corrida fica estática, mas Mansell parecia querer aquela vitória de qualquer maneira e encosta em Senna. Querendo evitar uma repetição do problema que ocorreu na própria pista portuguesa em 1989, Senna faz sinal para Mansell passar no final da reta dos boxes, na volta 50, mesmo local do entrevero dos dois no ano anterior. Mesmo perdendo a ponta da corrida, Senna sabia que para o campeonato a situação era a melhor possível, pois a Ferrari estava mais equilibrada que sua McLaren no Estoril e ainda assim estava à frente de Prost, que tinha acabado de perder a sexta marcha, mas nem por isso desistiu de ir para cima de Berger.

Provando que sua decisão de renunciar a uma briga com Mansell estava certa, Senna viu de camarote o inglês jogar o retardatário Philippe Alliot no guard-rail. O Leão estava naqueles dias! Mesmo com problemas de câmbio, Prost consegue ultrapassar Berger na volta 58 e nutria esperanças de atacar seu grande rival pelo título, quando a corrida foi terminada de forma abrupta. Alex Caffi e Aguri Suzuki brigavam pela nona posição e acabaram se tocando no mesmo local em que Alliot havia batido a pouco tempo, porém, o italiano levou a pior e quebrou o tornozelo, ficando preso em seu Arrows. O local era perigoso, numa curva rápida e sem nenhuma área de escape, tornando o resgate do italiano algo bastante complicado. Como a prova já se aproximava do final, a bandeira vermelha foi mostrada e Mansell vencia novamente. No pódio, o clima sempre tenso entre Mansell e Senna (não devemos nos esquecer que ambos já trocaram sopapos em outras ocasiões) estava mais ameno, com direito a um abraço carinhoso entre os dois. No outro lado do pódio, Prost estava claramente irritado. O francês reclamaria publicamente do comportamente de Mansell na largada e anuncia para todos que havia jogado a toalha com relação ao campeonato. Senna conhecia Prost como ninguém e sabia que aquilo não passava de um blefe do experiente francês, ainda zangado com seu companheiro de equipe. Muita água ainda iria rolara debaixo da ponte do campeonato de 1990.

Chegada:
1) Mansell
2) Senna
3) Prost
4) Berger
5) Piquet
6) Nannini

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O dia em que Ronnie Peterson endoidou


Nesses dias em que fico muito tempo em casa, um dos meus passatempos favoritos é ver o acervo da Quatro Rodas no site da revista, principalmente na parte da F1. Particularmente, no início da década de 70. Mesmo sendo um documento histórico, os textos são apenas relatos de Emerson Fittipaldi sobre o seu final de semana de corrida, não mostrando em detalhes como foi a corrida em si. Porém, é legal ver os bastidores das corridas nos anos 70 e como eram até mesmo mambembes equipes fortes, como a Lotus.

Na edição de Novembro de 1972, Emerson conta uma passagem curiosa sobre seu grande amigo Ronnie Peterson durante o Grande Prêmio do Canadá do mesmo ano. Foi um verdadeiro Dia de Fúria. Quem explica, é o próprio Emerson Fittipaldi:

Tudo começou quando Peterson, que já ia colocar uma volta sobre Hill, encontrou dificuldade para ultrapassá-lo. O circuito só permite ultrapassagens em alguns pontos e Peterson tentou fazê-lo na curva que fica antes dos boxes, onde isso não é possível. Assim, acabou batendo em Hill. E teve de parar a poucos metros do boxe, com a suspensão dianteira de seu March entortada.

Os mecânicos empurraram o carro, de marcha à ré até os boxe, e trocaram rapidamente a barra de direção. Peterson saiu novamente para a pista, mas, em vez de tentar recuperar o terreno perdido, passou a andar bem devagar, olhando pelo espelho retrovisor, à espera de que Hill se aproximasse. Quando o inglês veio vindo, Peterson passou a fechá-lo propositalmente e, pouco depois, deixou-o passar e jogou o carro contra a traseira do Brabham, como se quisesse fazê-lo virar.

Uau! Já pensou se isso acontecesse nos dias de hoje? Acho que era prisão pérpetua para Peterson! Não soube de nenhuma punição ao sueco, fora a desclassificação da corrida em Mosport Park. Mas Emerson prometeu "falar com Stewart para que conversasse seriamente com ele, para que não repita o que fez, do contrário a GPDA terá que tomar medidas mais enérgicas."

domingo, 19 de setembro de 2010

E Tilke acertou


Na maioria das vezes criticado, Herr Tilke parece ter acertado no circuito de Aragón, mais conhecido como Motorland. Assim como fez na Turquia, o novo circuito espanhol tem subidas e descidas, com direito a uma média de velocidade alta. Se em Kurtkoy a referência é uma curva rápida, a oito, em Aragón é um esse fechado, claramente inspirado no mítico Saca-rolha em Laguna Seca. Além disso, o circuito não exibe muita ostentação e a pista não é apenas curva fechada-reta longa-curva fechada. São várias sequencias de curvas de média velocidade e algumas freadas mais fortes, além de uma reta de quase um quilometro. Um circuito que utilizou o relevo natural do terreno e isso sem contar a belíssima paisagem.

Mas para infelicidade dos donos da casa, quem venceu a corrida inaugural em Aragón não foi um espanhol, apesar do domínio de Jorge Lorenzo e Daniel Pedrosa no atual campeonato da MotoGP. Casey Stoner chegou a criticar abertamente sua Ducati e como está se despedindo da equipe italiana, pouco podia se esperar do australiano, mas na nova pista, o australiano dominou todo o final de semana e esse domínio se prolongou na corrida, onde não foi incomodado em nenhum momento. Foi uma vitória categórica e provavelmente a última na Ducati. Com certeza, uma bela despedida. Stoner agora se firma na terceira colocação, principalmente com a queda do infeliz Andrea Doviziozo na última volta. Apesar de gostar do italiano, é por essa e outras que ele está fora da equipe oficial da Honda.

Dani Pedrosa saiu de suas características e não largou bem, mas rapidamente se recuperou e quando ganhou a segunda posição, deu a pinta de que poderia incomodar Stoner, mas o representante da Ducati deu a resposta e Pedrosa continuou sua recuperação no campeonato se conformando com a segunda colocação, mas não foi de todo mal no contexto geral, pois Nicky Hayden conseguiu seu primeiro pódio com uma bela ultrapassagem sobre Lorenzo na última volta, quando ninguém mais esperava nada do americano. Também pela primeira vez na temporada, Lorenzo não subiu ao pódio e vê sua diferença caindo com relação ao seu rival Pedrosa. Indiscutivelmente a Yamaha perdeu muito rendimento e Rossi pareceu não ligar muito em chegar em sexto, com a queda de Doviziozo, parecendo que abandonou (ou forçaram abandonar) o desenvolvimento da moto, deixando esse cargo para Lorenzo. Será que o espanhol não teria a experiência necessária para tamanha tarefa? O tempo dirá...

Na Moto2, Iannone continou a estragar o final de semana que tinha tudo para ser de festa na Espanha e de longe dominou a prova, cercada por várias homenagens a Shoya Tomizawa. Toni Elias marcou seus pontinhos, mesmo chegando a ficar em 16º no início da corrida, mas subiu ao 4º posto. A melhor corrida ficou nas 125cc, com Pol Espargaró ultrapassando Nicolas Terol na última curva, após uma disputa limpa entre os espánhois. Como Marc Márquez, líder destacado do campeonato e piloto mais rápido do final de semana, ainda na primeira curva da corrida. A queda de Márquez deu um pouco mais de emoção ao campeonato.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Filho de peixe, peixinho é


Certos pilotos não tem seus feitos reconhecidos e muitas vezes é subestimado ou até mesmo marginalizado, mas quando se aposentam, suas reais qualidades ficam aparentes e passam a ser mais respeitados pelos críticos. Esse reflete bem o caso de Damon Hill. Até chegar a F1, Damon era apenas o filho do grande Graham Hill, bicampeão mundial de F1 e um dos pilotos mais carismáticos da história da categoria. Em apenas um ano de carreira, Damon se vê como primeiro piloto da melhor equipe da F1 de então e tendo que enfrentar um futuro monstro sagrado chamado Michael Schumacher. Nem mesmo o título conquistado com todos os méritos fizeram com que Hill fosse mais respeitado, mas seu cavalheirismo e simpatia, além de desempenhos surpreendentes nas pistas após sua passagem pela Williams, fizeram com que Damon finalmente conseguisse mais respaldo entre os amantes da F1. Completando 50 anos nessa semana, iremos conhecer um pouco mais da carreira do filho de Graham Hill.

Damon Graham Devereux Hill nasceu no dia 17 de setembro de 1960, em Hampstead, próximo a Londres, pouco mais de um mês após seu pai, Graham Hill, ter abandonado o Grande Prêmio de Portugal com problemas de câmbio. Mesmo não tendo o talento de Jim Clark ou John Surtees, Graham Hill era um dos pilotos mais carismáticos do mundo e por isso permitia que sua família morasse numa mansão em Haberdashers, com 25 quartos. Nessa 'pequena' casa, a família Hill recebia personalidades como Colin Chapman, Jim Clark, Stirling Moss (nascido exatamente 31 anos antes de Damon) e outras feras da velocidade. Inicialmente, o pequeno Damon, que sempre acompanhava seu pai nas corridas pelo mundo, se interessa por motos e longe de se opor, Graham lhe presenteia com uma mini-moto quando o filho tinha 11 anos. Desde cedo Damon Hill também se interessa por música, participando da banda do colégio. Contudo, toda a estrutura familiar Hill sofre um colapso em 1975 quando Graham sofre um acidente de avião em um monomotor particular, causando não apenas a morte do bicampeão, mas de toda a sua equipe de F1, incluindo aí o promissor Tony Brise. Soube-se então que Graham estava tendo problemas financeiros e seu avião não tinha seguro, fazendo com que Bette Hill, a matriarca da família, tivesse que arcar com todas as indenizações pelo acidente aéreo.

Junto com suas irmãs Samantha e Brigitte, Damon passou por um aperto enorme pela nova situação financeira, mas Bette teve mão firme para segurar a barra nesse momento tão complicado. Para continuar a estudar (ele estudou Inglês, História, Economia e Administração), Damon foi operário e motoboy e quando se envolveu novamente com motos, ele se sentiu encorajado a voltar ao seu antigo amor pelo motociclismo e em 1981 fez sua estréia tardia no esporte a motor, utilizando uma cópia fiel do antigo capacete do seu pai: oito lâminas de remo branco na vertical, com um fundo azul escuro. Mesmo tendo vencido uma corrida de 350cc em Brands Hatch, Damon não chama muita atenção dos especialistas e seu orçamento apertado não lhe permitia comprar bons equipamentos. Para poupar dinheiro, Hill preparava ele mesmo as motos, rebocava a moto com seu próprio carro e dormia em uma barraca. Contudo, Damon Hill sabia que uma passagem para o automobilismo chamaria mais atenção e dinheiro para sua empreitada no esporte a motor e por isso troca as duas pelas quatro rodas em 1983. Como esperado, a imprensa inglesa dá uma ampla cobertura para o filho de Graham, que utilizava o mesmo capacete e também como o pai, iniciava no automobilismo muito tarde para os padrões da época. Porém, as coisas não saem como esperado e Damon não embala rapidamente no Campeonato Inglês de Formula Ford, só conseguindo uma temporada mais digna em 1985, seu terceiro ano na categoria. Hill se muda para a F3 em 1986, mas apenas no ano seguinte consegue bons resultados, mas o máximo que realiza em três anos na F3 são três vitórias. Estava longe de ser um currículo primoroso, mas Hill não desiste e pula para o Campeonato Europeu de F3000 em 1989. Mesmo com o sobrenome famoso, Hill não conseguia muitos patrocínios e seus resultados, a primeira vista, são pífios na F3000. Porém, houve algumas evoluções e vários azares na passagem de Hill pela importante categoria de base. O inglês largou várias vezes em boas posições, mas incidentes de corrida e problemas mecânicos faziam-no desistir da corrida. Nunca da carreira!

Seu enorme esforço chama a atenção de Frank Williams, que enxerga em Damon Hill uma boa chance de conseguir alguma publicidade, mesmo o colocando apenas como piloto de testes, em 1991. Damon aproveita a chance e testa alucinadamente o fantástico Williams FW13, ganhando uma experiência valiosa. Nigel Mansell conquista seu único título em 1992 com o pé nas costas num bólido que Damon testou por mais de 10.000 km. Mesmo sem nenhuma experiência em corrida, Hill conhecia muito bem um carro de F1 e por isso foi chamado para correr pela Brabham em 1992. Williams sabia das dificuldades em manter seus dois pilotos de então (Mansell e Riccardo Patrese) para 1993 e por isso liberou facilmente Hill para ganhar rodagem, em caso de alguma necessidade futura. Porém, a Brabham de 1992 estava anos-luz dos seus tempos auréos e Hill não ganhou a experiência desejada, participando de apenas duas corridas em oito tentativas, por culpa única e exclusivamente da ruindade do carro. Porém, como se esperava, Frank Williams tem dificuldades em renovar o contrato com seus dois pilotos para 1993, principalmente porque Mansell e Patrese sabiam que a Williams tinha tudo acertado com Alain Prost. Mansell tivera uma péssima experiência como companheiro de equipe de Prost na Ferrari e se mandou para os Estados Unidos, enquanto Patrese não queria outro ano como segundo piloto. Mesmo tendo sondado pilotos mais experientes, como Martin Brundle e Mika Hakkinen, Williams resolve apostar na prata da casa e promove Damon Hill como piloto titular da Williams em 1993.

Não faltou quem criticasse a escolha de Hill como piloto da Williams. Já contando com 33 anos, sem nenhum título nas categorias de base e parca experiência na F1, muitos diziam que Damon seria apenas um subserviente segundo piloto da Williams enquanto estivesse por lá. Corroborando com isso, Hill tem um péssimo início de temporada quando sofre um acidente ainda no início do Grande Prêmio da África do Sul, mas se recupera de forma magistral ao conseguir ficar em 2º lugar em Interlagos e Donington Park, em situações difíceis na chuva onde Prost foi muito mal. A curva de crescimento de Hill era clara e mesmo que Prost tivesse a primazia dentro da equipe, Damon melhorava no decorrer da temporada. Ele consegue sua primeira pole na carreira em Magny-Cours e só não vence por ordens de equipe para Prost triunfar em casa. Correndo em Silverstone, Hill levou os ingleses à loucura quando liderou boa parte da corrida, mas seu motor Renault lhe deixou na mão. Na prova seguinte, em Hockenheim, Damon liderou até próximo do fim quando foi um pneu a lhe tirar a sonhada primeira vitória. Porém, quando o triunfo veio, Hill deslanchou. A primeira vitória de Damon na F1 foi na Hungria. A primeira de uma série de três triunfos consecutivos! Prost foi tetracampeão, mas Damon Hill surpreendeu o mais cético dos seus críticos ao ficar em terceiro lugar do Mundial, com três vitórias. Com Prost se aposentando definitivamente no final do ano, Hill teria um novo companheiro de equipe, pois apesar de sua excepcional primeira temporada completa, todos sabiam que o inglês ainda precisava ganhar mais experiência.

Senna realizava um velho sonho de ingressar na Williams e mesmo tendo a mesma idade do brasileiro, Damon Hill ficaria numa situação muito parecida com a temporada anterior, com mais uma dificuldade. Prost era conhecido por não se esforçar muito nas Classificações, muito ao contrário de Senna, que forçava ao máximo nos sábados. O resultado foi uma situação desagradável para o inglês, levando sempre mais de 1s para Senna nos treinos classificatórios. Porém, uma tragédia muda tudo. No dia primeiro de maio de 1994, Senna deixava de ser apenas um grande campeão para se tornar um mito e Damon Hill se vê como único piloto da Williams, até então a melhor equipe do campeonato. Na teoria. Michael Schumacher e sua Benetton vencera as quatro primeiras corridas do ano e para bater o alemão naquele momento, somente por motivos extra-pista. A Williams, de forma tímida, passa a apostar em Hill, mas procura outros pilotos, como Rubens Barrichelo, Heinz-Harald Frentzen e até mesmo Nelson Piquet, que menos de um ano antes quase perdera um pé num acidente em Indianápolis. Mostrando sua tenacidade, Hill vence o Grande Prêmio da Espanha, um mês após a morte de Senna, imitando o que seu pai fizera 26 anos antes, quando Jim Clark, primeiro piloto da Lotus em 1968, perdeu a vida e Graham venceu uma prova na Espanha poucos dias depois. Porém, Schumacher já havia conquistado uma enorme diferença no campeonato sobre Hill e a própria Williams contratara Nigel Mansell, com 42 anos de idade, para ajudar Damon na difícil luta pelo título. Porém, como imaginado, foram forças extra-pista que fizeram que Schumacher quase perdesse aquele título. Primeiro, foi uma desclassificação no Grande Prêmio da Inglaterra por desrespeitar uma bandeira preta por que o alemão havia ultrapassado Hill na volta de apresentação. Mais tarde, Schummy roda durante o Grande Prêmio da Bélgica e estraga o extrator de madeira embaixo do seu carro, causando-lhe mais uma desclassificação. Por mais uma desclassificação, Schumacher é suspenso de outras duas corridas, numa manobra bastante discutível da FIA, acusada de querer manter o campeonato aberto de forma artificial.

De qualquer forma, o fato foi que Damon venceu as quatro provas em que Schumacher tem problemas e encosta no alemão no final do campeonato. Schumacher acusa Hill de que não teria estofo para ser Campeão Mundial e vence sua primeira corrida em sua volta após as suspensões. Damon devolve com uma vitória categórica em Suzuka, debaixo de um diluvio que interrompeu a corridas duas vezes, fazendo com que os dois rivais chegasse a última etapa do campeonato, em Adelaide, separados por um ponto, com vantagem sobre o alemão. Schumacher e Hill se aproveitam de uma má largada do pole Mansell e partem para uma tensa corrida de gato e rato nas ruas australianas. Damon começava a colocar seu Williams de lado no final da grande reta dos boxes, mas Schumacher acaba errando numa curva besta e quebra sua suspensão, ao bater no muro. Mostrando sua inexperiência, Damon Hill não espera Schumacher encostar e o ataca na curva seguinte, com o alemão iniciando definitivamente sua carreira polêmica ao jogar seu carro em cima do Williams de Hill. Schumacher quase capota, mas o estrago estava feito. Damon se arrasta até os boxes e lá os mecânicos percebem que a suspensão da Williams estava amassada. Final de prova para Damon e Schumacher campeão de forma controversa. Mesmo Hill sendo visto nas comemorações do título do alemão, isso foi estopim de uma rivalidade que marcaria a carreira de ambos e toda a F1 nos próximos anos.

A Williams não protesta pelo incidente em Adelaide, ainda enterrada no caso Senna, e dá um voto de confiança para Damon Hill, não contratando nenhum piloto de ponta e deixando o inglês como líder da equipe. David Coulthard seria o que foi Damon em 1993, um segundo piloto obediente. Hill inicia o ano de forma inédita, como um dos favoritos ao título e primeiro piloto da equipe campeã do Mundial de Construtores. Mesmo abandonando na primeira corrida do ano no Brasil, Hill vence duas corridas seguidas e pela primeira vez na carreira lidera o campeonato, mas logo Schumacher tira no braço a desvantagem técnica que tinha com relação aos carros da Williams e vence sete corridas, conquistando o título com duas corridas de antecedência. Hill começa a ficar frustrado e em duas oportunidades erra bizonhamente em disputas com Schumacher e tira ambos da corrida. Por mais que Hill fosse considerado um gentleman, ele não falava mais com Schumacher. Os críticos retornam com força, afirmando que Damon Hill realmente não era capaz de brigar pelo título e que a Williams necessitava de um piloto realmente de ponta. Contatos foram feitos e Heinz-Harald Frentzen foi sondado novamente, mas Hill ainda tinha mais um ano de contrato. Se não podia substituí-lo, a Williams resolve lhe trazer uma sombra. Jacques Villeneuve havia acabado de conquistar o então forte Campeonato da Formula Indy e as 500 Milhas de Indianápolis e é contratado pela Williams ainda em 1995. Para não repetir o papelão de Michael Andretti dois anos antes, Jacques testa com o carro da Williams por mais de 5.000 km. Agora, Damon não era mais o primeiro piloto absoluto da equipe.

A Williams iniciava 1996 com uma inédita dupla de pilotos filho de antigas lendas do automobilismo, mas havia algumas vantagens com relação aos anos anteriores. Schumacher saía da vitoriosa Benetton rumo a claudicane Ferrari numa espetacular transação e já nos primeiros testes fica claro que o alemão teria muito trabalho na equipe italiana. Tanto que promete o título em três anos! A Benetton contrata os decadentes Jean Alesi e Gerhard Berger e mesmo com os motores Renault, faltava ao time um diferencial, como Schumacher era até 1995. A Williams começa o ano arrasadora, novamente com o melhor carro, mas Hill não tem vida fácil com Villeneuve conquistando uma pole surpreendente logo na sua estréia e só perdendo a vitória quando tem problemas de vazamento de óleo no final da corrida. Damon Hill vence, mas compreende que o seu sonhado primeiro título não viria por osmose. Damon vence as próximas quatro corridas em seis e nunca largaria fora da primeira fila. Porém, quando o campeonato se aproxima do seu final, Hill novamente tem problemas e Villeneuve se aproxima. Damon tinha tudo para conquistar o título na penúltima etapa do mundial em Portugal, mas Villeneuve faz uma corrida espetacular (com direito a ultrapassagem por fora em Schumacher na temida curva Parábolica) e chega a Suzuka ainda com chances de roubar o título de Hill. Damon vê velhos fantasmas lhe atormentar, ainda mais quando Villeneuve fica com a pole no Japão, mas Hill faz uma prova cerebral, onde utilizou seu melhor equipamento e contou com uma corrida problemática de Villeneuve, onde o canadense abandonou quando perdeu uma roda no meio da prova. Finalmente, contra todos os prognósticos, Damon Hill era Campeão Mundial de F1, se tornando o primeiro filho de campeão a repetir o feito do pai.

Apesar de toda a festa pelo título, Damon finalizava 1996 numa tremenda encruzilhada na carreira. Durante a negociação para renovar seu contrato, Hill pediu um salário digno do Campeão Mundial que era, mas Frank Williams faz com Hill o que já fizera com pilotos como Nelson Piquet e Nigel Mansell: manda-o embora mesmo campeão. Apesar do título incontestável, com direito a oito vitórias, a verdade foi que Hill ainda cometeu pequenos erros (como a corrida bizonha na Espanha, onde saiu da pista três vezes em onze voltas) que fizeram muitos falar, injustamente, que ele era um campeão medíocre. No pensamento da Williams, Jacques Villeneuve era um substituto mais do que natural de Hill. Era até melhor! Carregando apenas o número um nas costas, Damon procura outras equipes, mas apenas Tom Walkinshaw acreditou no talento do inglês o contratou para 1997. Walkinshaw tinha um projeto ousado quando passou a controlar a Arrows e via em Hill uma forma de chamar a atenção para uma equipe que não havia ganho uma corrida em 20 anos de F1. Porém, Damon sofreria bastante com a combinação do motor Yamaha e os novos pneus Bridgestone. Logo na apresentação do carro, houve tantos problemas que o bólido só apareceu ao público de noite! Mas o pior ainda estava por vir. Na primeira corrida na Austrália, o carro apresenta um rosário de problemas e Damon faz poucas voltas nos treinos, fazendo com que ficasse na penúltima fila do grid. Tudo isso para abandonar... na volta de apresentação! Foi um prelúdio do que estava por vir, com o carro quebrando muito e sem muitos resultados. Apesar de todos os esforços de Damon, ele só marcaria seu primeiro ponto em casa, em Silverstone, por abandono de Shinji Nakano na última volta. Apesar de tudo isso, Damon Hill foi protagonista de um dos momentos mais emocionantes da história recente da F1. Em Hungaroring, a Bridgestone acha uma 'fórmula mágica' e os pneus japoneses funcionam otimamente no quente asfalto hungáro. Se a melhor posição de grid da Arrows até aquele momento em 1997 era um nono lugar, na Hungria Hill consegue um ótimo terceiro lugar! Damon faz uma corrida mágica e para nos fazer relembrar os bons tempos das brigas com o seu arqui-rival Schumacher, Hill ultrapassar o alemão no final da pequena reta dos boxes após várias voltas. Damon liderava a corrida e para surpresa de todos, a Arrows faz todos os pit-stops de forma perfeita e Hill tinha uma diferença tranquila em cima da Williams de Villeneuve. Porém, os deuses da velocidade não estavam bondosos naquele dia e Hill tem um problema hidráulico na penúltima volta. Quando Damon iniciou a última volta, se arrastando, Villeneuve já estava muito próximo, mas o canadense tem que sair da pista para conseguir a ultrapassagem e a injusta vitória. Todo o paddock aplaudiu Damon Hill naquele dia, que provava que era um piloto de alto nível se tivesse o equipamento certo.

O segundo lugar na Hungria provocou lágrimas de alegria (era o melhor resultado da Arrows em anos) e tristeza (pela vitória se esvair pelos dedos tão no final da corrida), mas Hill procurava algo melhor para sua carreira, pois o inglês sabia que milagres como aquele em Hungaroring não acontecem muitas vezes. Primeiramente ele negocia com Prost, seu antigo companheiro de equipe e agora chefe de escuderia, mas Damon enxerga mais potencial na emergente Jordan, do também roqueiro Eddie Jordan. A equipe era uma das mais divertidas da F1, mas Damon teria ao seu lado o piloto mais antipático da F1 de então, Ralf Schumacher, irmão do seu velho inimigo Michael Schumacher. Em 1998 a F1 teve o primeiro 'Pacotão do Max Mosley' e a Jordan não se adapta rapidamente aos novos regulamentos, com a equipe não marcando pontos até metade da temporada. O ano para Hill era bem similar a temporada anterior, até por que seu primeiro ponto na temporada precede uma espetacular pilotagem. Em Spa, Hill consegue um surpreendente terceiro lugar, mas como normalmente acontece na pista das Ardenas, uma chuva forte se abateu no domingo e Hill se aproveitou dos problemas de Schumacher (que quase saiu no tapa com Coulthard) e Hakkinen (que bateu na primeira curva da segunda largada, após a primeira ter sido cancelada por um acidente com 15 carros) e deu a Jordan sua primeira vitória na F1. Ao contrário do que muitos imaginavam, Damon Hill foi capaz de vencer no seu período pós-Williams. Hill terminou 1998 em alta, após uma ultrapassagem em Frentzen na última volta da última corrida do ano, mas a chegada do próprio alemão na equipe causou danos em sua moral. Frentzen queria provar que ainda era um piloto de ponta após sua passagem apagada na Williams e forma com Jordan um duo capaz de enfrentar McLaren e Ferrari, as duas potências em 1999. Já contando com 39 anos de idade, Damon fica para trás com relação ao seu companheiro de equipe e após uma péssima corrida na França, quando abandonou ao bater em outro carro em pleno pit-lane, enquanto Frentzen vencia, Hill anuncia que estava abandonando a carreira naquele momento. Na verdade, foi o início de uma chata novela mexicana, com Hill sempre anunciando sua aposentadoria para a próxima corrida, mas desistindo no meio do caminho. Eddie Jordan sempre levava Jos Verstappen a tira colo, pois tinha receio das decisões de Hill. Na última corrida de 1999, em Suzuka, Damon Hill sente que seu carro não estava bem equilibrado e abandona de forma espontânea, terminando sua carreira na F1. Foram 115 Grandes Prêmios, 22 vitórias, 20 poles, 19 melhores voltas, 42 pódio, 360 pontos conquistados e o título mundial em 1996.

Após o final de sua carreira, Damon Hill passou a se dedicar a revendas de carros e a sua família. Sua esposa, Georgie, foi uma companheira fiel em todos os momentos de Hill, sempre presente nos boxes para lhe consolar em caso de derrota ou lhe felicitar em caso de sucesso. Eles tiveram quatro filhos, inclusive Oliver, que tem Síndrome de Down e por isso o casal sempre participa de Associações para pessoas com Síndrome de Down. Logo no início de sua carreira, Hill passou a se dedicar também a uma antiga paixão: a música. Um bom guitarrista, Damon sempre toca em algumas festas beneficentes. Em 2006, já com um visual de antigo roqueiro, Damon Hill assumiu a presidência da BRDC e iniciou a cruzada para manter Silverstone no calendário da F1, em complicadas negociações com Bernie Ecclestone, culminando com a reforma de Silverstone vista este ano. Se antigamente Damon se esquivava das comparações com seu pai, aos poucos ele passou a juntar sua imagem a Graham Hill e prepara a terceira geração da família Hill nas pistas, com seu filho Joshua, que participa atualmente do Campeonato Inglês de F-Ford. Se repetir os feitos do pai e do avô, o garoto vai longe! Damon passou por cima de vários obstáculos para chegar ao sonhado título mundial, contra todas as expectativas e hoje é tão respeitado quanto os outros Campeões Mundiais de F1.

Parabéns!
Damon Hill

terça-feira, 14 de setembro de 2010

História: 30 anos do Grande Prêmio da Itália de 1980


Desde a morte de Ronnie Peterson em 1978 que o veloz circuito de Monza sofria ameaças de deixar o calendário da F1, mesmo a tradicional pista italiana ser o santuário sagrado ferrarista. Ímola havia recebido uma corrida não-oficial em 1979 e com o sugestivo nome de Autodromo Enzo e Dino Ferrari, poderia suprir muito bem como no templo ferrarista em solo pátrio e por isso recebeu o Grande Prêmio da Itália de 1980, pela primeira vez não sendo realizado em Monza desde a década de 30. Ímola trazia de volta dois ícones ferrarista, que era o próprio Enzo, desaparecido das pistas havia mais de quinze anos, além de Clay Regazzoni, que voltava ao paddock de cadeira de rodas após seu pavoroso acidente no início do ano.

A parte veloz de Ímola, entre a Variante Bassa e a Tosa, era um prato cheio para a Renault conseguir sua quarta pole seguida, com Arnoux, já fora da briga pelo título, se sobressaindo sobre Jabouille. A Williams mostrava o equilíbrio do seu carro com Reutemann ficando em terceiro, com Bruno Giacomelli conseguindo um quarto lugar apesar de todos os infortúnios possíveis e imaginários de sua equipe na sexta-feira. O helicóptero da equipe caiu, ferindo o piloto e três mecânicos. Para completar, o segundo piloto Vittorio Brambilla tentou compensar o atraso para chegar ao autódromo, juntamente com o chefe de equipe Carlos Chiti e Giacomelli, e acabou por sofrer um acidente sério em seu Alfetta Turbo. Apesar do carro ter capotado, ninguém ficou ferido.

Grid:
1) Arnoux (Renault) - 1:33.988
2) Jabouille (Renault) - 1:34.339
3) Reutemann (Williams) - 1:34.686
4) Giacomelli (Alfa Romeo) - 1:34.912
5) Piquet (Brabham) - 1:34.960
6) Jones (Williams) - 1:35.109
7) Patrese (Brabham) - 1:35.618
8) Villeneuve (Ferrari) - 1:35.751
9) Rebaque (Brabham) - 1:35.872
10) Andretti (Lotus) - 1:36.084

O dia 14 de setembro de 1980 estava ensolarado e com clima relativamente ameno, condições muito parecidas do que são vistas em Monza nessa época do ano. Portanto, o desgaste de pneus não seria um problema, se o piloto em questão soubesse dosar bem sua velocidade. Sabendo do famoso retardo do turbo do carro da Renault, Reutemann tenta dar o bote logo na largada e força demais seu carro. Apesar do argentino ter conseguido a ultrapassagem, a embreagem do seu Williams quebra quase que imediatamente e Reutemann cai para último. Mas ainda permanece na corrida. Arnoux assume a ponta da corrida, seguido por Jabouille, Piquet, Giacomelli, Rebaque e Villeneuve.

Ao contrário do script habitual, a dupla da Renault resolve brigar entre si e faz com que Nelson Piquet ficasse próximo dos carros amarelos. O brasileiro vinha numa ótima fase e tentava desesperadamente se aproximar de Jones no campeonato. Uma vitória seria essencial. Sem querer saber muito dos problemas de Piquet e dos interesses da equipe, Arnoux e Jabouille se engafinham na pista veloz de Ímola e Jabouille ultrapassa o companheiro de equipe no início da terceira volta. Piquet se aproveita da hesitação de Arnoux e toma o segundo lugar do francês ainda na mesma volta, na Acqua Minerale. Aproveitando o embalo, Piquet permanece encostado em Jabouille, num incômodo recheio da Renault, mas o brasileiro rapidamente sai dessa situação na volta seguinte deixando Jabouille para trás na mesma curva em que ultrapassara Arnoux. Ao contrário dos prognósticos, Piquet passa a abrir dos carros da Renault, num trem de corrida alucinante, mas ao mesmo tempo, sem erros.

Mais atrás, Villeneuve fazia mais uma de suas corridas extremamente fortes, sem se importar muito em resguardar o seu material. Sua Ferrari lhe proporcionara apenas o oitavo posto com muito custo, mas o canadense achou pouco e numa de suas famosas largadas-relâmpagos, já estava em quinto, pressionando Giacomelli. Na quarta volta o ferrarista deixa o representante da Alfa para trás, mas Gilles pilotava claramente acima dos limites respeitáveis de segurança, destruindo seus frágeis pneus Michelin. Na rápida curva anterior a Tosa, Villeneuve tem seu pneu estourado e bate no muro a 250 km/h, fazendo com que sua Ferrari voltasse a pista e ainda atingisse a Alfa de Giacomelli, que também abandonou ali. O azar da Alfa foi tamanho, que Brambilla, que vinha logo atrás, acabou tendo o pneu furado ainda por destroços do acidente de Villeneuve e abandonou logo depois. Pela violência do acidente, foi um milagre Villeneuve ter emergido de sua Ferrari praticamente ileso, mas os tifosi ficaram emocionados com a forma como o canadense tirou tudo de sua Ferrari naquele dia. E a curva sem-nome anterior a Tosa passou a se chamar Villeneuve!

A corrida fica estática na frente, com Piquet cada vez mais distante das Renaults, mas havia um destaque não esperado mais atrás. Mesmo sem embreagem, Reutemann dava um show e fazia uma corrida de recuperação repleta de ultrapassagens, deixando vários pilotos para trás em carros em condições muito melhores do que o dele. Quando estava num dia bom, era difícil bater Carlos Reutemann. O problema era que esses dias às vezes demoravam muito a aparecer. Ao contrário do seu companheiro de equipe, Alan Jones fazia uma corrida apagada, ganhando posições na base de abandonos à sua frente, mas o australiano, claramente já pensando no campeonato, já estava em quarto na volta 11 quando ele se aproximou de Arnoux.

Os carros da Renault já eram poupados pelos seus pilotos, tão acostumados a quebras espetaculares do bólido francês. Arnoux foi ultrapassado sem muita cerimônia por Jones, enquanto Jabouille já não fazia a mínima questão de acompanhar Piquet lá na frente. Por isso, não foi surpresa quando Jones começou a tirar a diferença para o francês e efetuar a ultrapassagem na volta 28. Com seu único adversário ao seu alcance, Jones tratou de forçar o ritmo atrás de Piquet, mas o brasileiro tinha o domínio da situação. Quando Jones assumiu a segunda posição, tinha 14s de deficit para Piquet, mas o brasileiro nunca deixava que a diferença caísse para menos de 10s. Quando isso acontecia, Piquet era informado pelo box e acelerava por duas ou três voltas para por ordem na casa. Jones desiste e Piquet vence com uma ótima diferença para o piloto da Williams. O brasileiro ainda tinha chances reais de conquistar o título em sua segunda temporada completa da F1 e Jones sente o baque a ponto de não comparecer ao pódio. Com os abandonos das duas Renault, já na parte final da corrida, Reutemann coroa sua excelente atuação com o lugar mais baixo do pódio. O campeonato saía da Europa com o campeonato a ser decidido de forma encarniçada entre Jones e Piquet nas duas últimas etapas do certame.

Chegada:
1) Piquet
2) Jones
3) Reutemann
4) De Angelis
5) Rosberg
6) Pironi