Em outro 'Tilkodromo', as expectativas para este Grande Prêmio de Cingapura não eram das melhores, mesmo com toda a emoção da disputa pelo título, que se afunila na medida em que o campeonato vai chegando ao fim. A corrida do ano passado provara que Marina Bay era outro circuito chato, de ultrapassagens difíceis e a prova tendia a ser enfadonha. À primeira vista, com Alonso e Vettel segurando as mesmas posições da primeira a última volta pode trazer a falsa sensação de uma corrida monótona, mas a verdade foi que hoje vimos uma das melhores corridas do ano, cheia de ultrapassagens, disputas, toques, acidentes, uma pequena polêmica e um final de corrida emocionante. Enfim, todos os ingredientes para uma baita prova!
Ao contrário de Valencia e Abu Dhabi, a pista em Cingapura é o que se pode chamar de um verdadeiro circuito rua, com muros cercando uma pista estreita, com pouco espaço para erro, já que as áreas de escape não são muito volumosas. Porém, há boas retas que permitem ultrapassagens. Ou seja, para os saudosos, um circuito de rua muito parecido com o de Detroit, palco de várias ótimas corridas nos anos 80. Além de tudo isso, há o diferencial de ser uma prova noturna e muito longa, beirando as duas horas. Ou seja, poderia haver muitas coisas durante a corrida e realmente houve. A largada foi sem muitos incidentes, com um toque aqui e ali, mas com os cinco primeiros mantendo suas posições. Porém, a movimentação começou cedo, com Liuzzi batendo no muro e quebrando sua suspensão. Felipe Massa já tinha colocado as cartas na mesa ao parar logo na primeira volta para cumprir o regulamento e não parar mais no decorrer da corrida. E assim fez vários pilotos, com destaque para Mark Webber. O australiano tinha demonstrado que não suas condições de almejar algo melhor durante a corrida era minímo pelas próprias forças e apenas algo fora do comum, ou uma boa estratégia, poderia lhe colocar numa posição melhor. E a Red Bull, tão criticada por seus erros de estratégia pensou rápido e acertaria mais tarde com Webber.
Os líderes permaneceram na pista, com Alonso sempre à frente de Vettel, Hamilton e Button. Talvez pensando num pulo da Red Bull com Webber, Alonso acelerou tudo o que podia e fazia volta mais rápida, em cima de volta mais rápida, mas tinha Vettel sempre por perto. O piloto da Ferrari chegou a ter mais 3s de vantagem sobre Vettel, mas seu ritmo começava a diminuir e Alonso praticamente venceu a prova quando foi trocar seus pneus e deve ter visto com surpresa o carro de Vettel no seu retrovisor. A Ferrari trabalhou muito bem e Alonso saiu na frente de Vettel, como era para ser. Porém, estava claro que a Red Bull estava mais equilibrada e quando Vettel parecia mais próximo, eis que surge a segunda entrada do Safety-Car. Para quem prestou atenção, Alonso foi malandro na sua relargada, ao fugir, trazer Vettel colado, mas freando na antepenúltima curva, ganhando uma boa distância sobre Vettel. O alemão atacava, mas quando a diferença para Alonso caía para menos de 1s, o ferrarista respondia. Foi uma briga tensa até o final, principalmente quando Vettel encostou de vez nas duas últimas voltas e uma tentativa Banzai do piloto da Red Bull era até esperada, mas não aconteceu. Quando Alonso dizia que era favorito ao título, muita gente, eu inclusive, tirou onda com o espanhol, preferindo destacar a arrogância de sua afirmação. Contudo, nunca é bom desconfiar de um bicampeão mundial do quilate de Fernando Alonso. Sua atuação neste final de semana, na corrida em particular, foi de tirar o chápeu e o espanhol partirá para as quatro últimas corridas do ano com a moral em alta e todo o apoio da Ferrari e de Felipe Massa. O brasileiro fez o que pôde e ganhou várias posições quando o Safety-Car entrou logo no início da corrida, mas depois Massa só ultrapassou Petrov porque o russo foi alboroado por Hulkenberg e o ferrarista pegou a sobra. Para quem largou em último, marcar um pontinho não é de todo mal, mas faltou a Massa a garra dos campeões, mostrada claramente por Alonso. E ainda tem quem reclame o porquê da Ferrari preferir Alonso com relação a Massa...
O sorriso amarelo de Vettel após a prova é de ter perdido uma chance enorme de entrar de vez na briga. Batendo facilmente seu companheiro de equipe e líder do Mundial, Vettel começou a se complicar ao errar no Q3 e ficar em segundo lugar no grid. O alemão até largou melhor do que Alonso, mas era de se supor que o espanhol lhe fechasse a porta como realmente o fez. Vettel passou a noite inteira vendo a marca Santander na sua frente, mas o alemão não mostrou a voracidade de um piloto que ainda persegue um título. Sendo constantemente avisado pela equipe da situação dos freios, Vettel parecia ter receio em colar em Alonso e tentou dar o bote nas últimas voltas, mas para quem se segurou a corrida inteira, estava claro que Alonso iria fazer o possível e o impossível para se segurar na ponta. Porém, não podemos desmerecer a boa corrida de Vettel, pois o alemão fez a corrida inteira com o pé no fundo, sem erros e tinha na sua frente um bicampeão do mundo com um talento enorme e cada vez mais completo, que é Fernando Alonso. Porém, para quem liderou todos os treinos livres com ampla margem de vantagem, Vettel saiu de Cingapura com um gosto amargo na boca. Se a Red Bull não foi audaciosa com Vettel, ao parar o alemão na mesma volta de Alonso, o time descontou com Mark Webber, mas o australiano ajudou e muito na estratégia da equipe. Webber não ficou apenas perseguindo os carros da frente e fez belas ultrapassagens sobre Glock, Kobayashi e Schumacher. Em todas elas, Webber esperou por algum erro do adversário e foi frio e decisivo em suas manobras. Porém, após o segundo Safety-car, Webber se envolveu na polêmica da corrida.
O australiano havia acabado de assumir o terceiro lugar com as paradas das duas McLarens, mas na relargada acabou sendo atrapalhado por Lucas di Grassi, permitindo a Hamilton uma tentativa real de ultrapassagem. Como manda o figurino, Webber deu o lado de fora para o inglês, mas Hamilton tinham mais impulso e freou forte e tinha tudo para ultrapassar por fora, porém se esqueceu que Webber ainda teria que contornar a curva por dentro. O toque foi inevitável e mesmo leve, acabou por quebrar a suspensão traseira de Hamilton, que saiu chateado do seu carro. Segundo abandono seguido em um momento decisivo da temporada. Mesmo ainda em terceiro lugar no Mundial, Lewis sabe que a McLaren não acompanhou o desenvolvimento de Ferrari e Red Bull e a corrida de hoje foi prova cabal disso. Hamilton e Button faziam corridas discretas atrás de Alonso e Vettel, inclusive com Button ficando mais para ser atacado por Rosberg do que atacar seu companheiro de equipe. Quando a metade da corrida se aproximou, as duas McLarens perderam tanto rendimento, que permitiu a Webber, mesmo atrás da Williams de Barrichello, ficar à frente dos carros prateados com folga. Hamilton irá reclamar de Webber, mas aquilo nada mais foi que um dos famosos 'toque de corrida' e o inglês só irá lamentar nos braços de sua linda namorada os vários pontos perdidos que podem ter lhe tirado o campeonato num momento de clara decadência de sua equipe. Button ainda salvou a lavoura ao levar seu carro em segurança ao quarto lugar, já bastante próximo de Webber, que nesse momento estava com os pneus bem desgastados. O inglês é de uma regularidade ímpar e se não é tão veloz quanto seus adversários, compensa isso com uma pilotagem inteligente e consistente. Por isso, mesmo sem vencer há vários meses, Button ainda está na luta pelo título.
Rosberg fez uma corrida correta, onde largou bem e tomou o lugar de Barrichello e ficou sempre próximo de Button, mas nunca a ponto de ameaçar o inglês ou ser ameaçado por quem fosse. O alemão vai marcando seus pontinhos, enquanto seu famoso companheiro de equipe vai se complicando. Michael Schumacher parece ter tido algum problema com a equipe Sauber, pois o alemão se envolveu com problemas com os dois pilotos da equipe. Primeiro, foi vítima de uma freada maluca de Kamui Kobayashi que, se não batesse na Mercedes de Schumacher, bateria no muro. E depois, talvez se confundindo de capacete, Schumacher efetuou uma ultrapassagem atabalhoada em cima de Heidfeld, que fez seu compatriota abandonar. Com o bico quebrado e claramente desfavorecido pela estratégia de não parar logo na primeira intervensão do Safety-Car, Schumacher ficou longe dos pontos. Barrichello não largou bem e perdeu duas posições, mas esse foi o único ponto baixo do veterano brasileiro. Rubens foi rápido e consistente com sua Williams e não se importou muito com os ataques de Webber, deixando o australiano atrás de si sem precisar de uma única manobra mais brusca. Barrichello fez sua corrida certinha rumo aos pontos, ao contrário do seu companheiro de equipe. Nico Hulkenberg vem se caracterizando por uma agressividade em suas manobras de ultrapassagem e em dois momentos teve sorte em não quebrar seu carro ou mesmo ser punido. Em disputas com Timo Glock e Vitaly Petrov, o jovem alemão da Williams chegou a tocar rodas e sair da pista, mas acabando por completar a ultrapassagem e marcar alguns pontinhos, mesmo tentando uma manobra final em cima de Sutil no final.
Tirando Alonso, talvez o grande nome da corrida de hoje seja Kubica. O polonês vinha fazendo uma corrida tranquila, onde largou bem, ganhou uma posição e corria sozinho na frente. Porém, a tranquilidade acabou quando teve um furo no pneu traseiro direito e teve que ir aos boxes. Perdendo várias posições, Kubica partiu para as últimas voltas com a faca entre os dentes e efetuou belíssimas ultrapassagens sobre Buemi, Petrov (muito parecido com ordem equipe...), Massa, Hulkenberg e Sutil, com destaque para esse último, quando Kubica passou Sutil por fora no mesmo local do incidente entre Hamilton e Webber mais cedo. A manobra, muito bonita, praticamente tirou a razão de Hamilton reclamar de alguma coisa. Sutil foi um dos que pararam logo no início e foi até o fim da prova sem trocar pneus, garantindo pontos que pareciam difíceis pelo mal rendimento da Force India no final de semana. Liuzzi pouco apareceu, mas ao menos ajudou a equipe quando trouxe o safety-car e Sutil aproveitou para efetuar a estratégia que lhe deu os pontos. A Toro Rosso andou próximas das equipes médias, mas tudo começou a dar errado quando Jaime Alguersuari, que havia feito um ótimo treino no sábado, teve que largar dos boxes. Buemi andou próximo do pelotão que brigava com Sutil, já que o alemão tinha os pneus bem desgastados no final, mas não brigou pelos pontos, a mesma coisa ficando com Alguersuari. A Sauber teve momentos distintos, com Kobayashi fazendo uma ultrapassagem maluca em Schumacher, mas sendo o protagonista da segunda entrada do safety-car ao bater sozinho. Na relargada, Heidfeld acabou sendo a vítima de Schumacher, sendo que o alemão trouxe algum prejuízo a sua equipe na sua volta a F1, pois já havia trocado o bico do seu carro após um toque na primeira volta.
Glock supreendeu ao segurar por várias voltas um trem de carros atrás de si. O alemão deu muito trabalho aos compatriotas Sutil e Hulkenberg, mas após ser ultrapassado, Timo pouco apareceu e acabou abandonando. O único piloto das equipes pequenas a ver a bandeirada acabou sendo Lucas di Grassi, já que Jarno Trulli abandonou, Heikki Kovalainen teve que dar uma de bombeiro e apagar o incêndio em seu carro na penúltima volta, Klien abandonou anonimamente e Senna acabou por acertar a traseira do carro batido de Kobayashi. É bom destacar que Bruno andou o final de semana inteiro atrás de Christian Klien, que não corria de F1 há mais de quatro anos e foi chamado às pressas para esta corrida. Antes de criticar o péssimo carro que tem em mãos, seria ainda melhor Bruno Senna fazer um auto-crítica melhor.
A corrida de hoje prova o grande crescimento da Ferrari e Alonso vem aproveitando isso para brigar ainda com mais força pelo tricampeonato. Se Webber viu sua diferença para o segundo colocado mais do que dobrar, agora tem um piloto mais completo e estável que Hamilton, ainda se envolvendo em incidentes que não poderia se envolver, ainda mais num tão crucial do campeonato. A Red Bull perdeu o primeiro round das corridas que lhe favorecem, mas Vettel e Webber ainda tem boas chances nas quatro últimas provas. Button caiu para o 5º lugar, mas ainda está 25 pontos atrás do líder, o que significa uma vitória. Após uma primeira etapa horrível, a temporada 2010 está realmente bem acima das expectativas de todos.
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