Para quem não sabe, entrei nessa de facebook no começo do ano e recentemente recebi uma foto com a pose histórica do Big-4 no pit-wall de Estoril em 1986 e embaixo tinha a legenda: Nessa época valia a pena acordar mais cedo. Desculpem os saudosistas, mas 2012 está no proporcionando uma temporada tão incrível como a de 26 anos atrás. Ou até melhor! O nível está altíssimo, o equilíbrio é ainda maior e as surpresas acontecem aos montes. Claro que Lewis Hamilton ser o sétimo piloto diferente a vencer nesta temporada este longe de ser zebra, mas quem poderia supor ver Romain Grosjean e Sérgio Pérez no pódio com Sebastian Vettel e Fernando Alonso na ponta a corrida inteira? Pois Grosjean ganhou seis posições e Pérez incríveis doze postos numa corrida normal, onde os jovens pilotos usaram a estratégia como se fossem pilotos experientes. E a F1 via outro pódio diferente e 25s separando os dez primeiros colocados na bandeirada.
E 2012 vem sendo tão incrível, que Montreal teve uma corrida normal, sem safety-car ou chuvas torrenciais que pudessem atrapalhar o andamento normal da corrida. Vettel, Hamilton e Alonso dominaram a corrida inteira e como disse Jacques Villeneuve, a corrida realmente estava chata até a estratégia definir a corrida nas voltas finais. Disparado na frente, Hamilton fez sua segunda parada nas voltas finais, ao contrário de Alonso e, inicialmente, Vettel. Quando parou nos boxes, o inglês retornou à pista em terceiro e andando 1s mais rápido do que os líderes, foi para cima como manda seu ímpeto e efetuou as ultrapassagens nas voltas finais, conseguindo a vitória que merecia ser sua desde o momento em que assumiu a ponta da prova na primeira rodada de paradas e dominou a prova. Lewis venceu e tirou a ponta do campeonato de Alonso, ultrapassado nas voltas finais completamente sem pneus. Porém, a McLaren deve estar perguntando nesse momento: O que passa com Jenson Button? Único piloto a largar com pneus macios dentre os dez primeiros, Button fez outra corrida ridícula, terminando a prova em 15º, à uma volta do companheiro de equipe. De postulante ao título, Button passou a ter exibições de Felipe Massa em seus piores momentos no começo desta temporada.
O pódio de Grosjean e Pérez serviu para responder aos críticos de ambos nas últimas provas. Parece haver certa má-vontade com Grosjean, pois mesmo campeão da GP2 e tendo conquistado outros bons resultados em 2012, os seus críticos preferem lembrar seus acidentes nas primeiras voltas e vira e mexe aparecem notícias sobre mudanças envolvendo Grosjean na Lotus. Porém, todos parecem esquecer (principalmente a transmissão Global, ainda chateada por Grosjean ter ‘tomado’ o lugar de Bruno Senna na Lotus) que Grosjean vem superando com regularidade Raikkonen em treinos e na corrida mais uma vez não tomou conhecimento do seu ilustre companheiro de equipe e fez uma prova cerebral, onde conseguiu resguardar seus pneus para fazer uma única parada e ainda assim não ficar sem pneus como outros que tentaram estratégia parecida. Foi um pódio redentou para Grosjean e também para a Lotus, pois a equipe não vinha exibindo a mesma performance de antes. Raikkonen marcou pontos e teve a mesma estratégia de Grosjean, mas a boa posição no grid do francês foi determinante no final. Após sua estupenda corrida em Sepang, Sérgio Pérez não marcou mais pontos e não faltou quem dissesse que ele teve apenas um deslumbre de um ótimo resultado na Malásia e pronto. Até mesmo Luca di Montezemolo havia declarado que Pérez ainda precisava mostrar melhores resultados se quisesse se tornar piloto Ferrari. Pois o mexicano fez isso hoje. Largando fora do top-10, Pérez fez outra corridaça e aproveitando o bom trato com os pneus da Sauber, Sérgio fez uma única parada e ainda assim era um dos mais rápidos no final da corrida com os pneus supermacios. Esse pódio pode mostrar que Pérez já pode, sim, requerer um lugar melhor que tem hoje. Kobayashi só apareceu brigando com Schumacher, marcou pontos em Montreal, mas foi totalmente ofuscado pelo companheiro de equipe. Chamado de mito, Koba precisa de resultados para compensar a espetacularidade de sua pilotagem.
Quando a F1 estava sem muitas emoções, Alain Prost, um dos que estava sentado no muro do Estoril 26 anos atrás, disse que a emoção dos anos 80 eram os erros que pilotos e equipes cometiam, proporcionando ultrapassagens, quebras e surpresas. O nível dos pilotos da atualidade é bem alto, mas as equipes ainda fazem apostas arriscadas e como dizia o treinador Oto Glória, se acertar é bestial, se errar é uma besta. Hoje, os estrategistas de Ferrari e Red Bull ficaram com a alcunha de bestas! Líderes junto com Hamilton a corrida toda, Alonso e Vettel resolveram arriscar e ficar na pista até o final, mesmo com os pneus desgastados e cada vez piores. A facilidade com que foi ultrapassado por Hamilton fez Vettel perceber a besteira que havia feito e tentou diminuir o prejuízo indo aos boxes nas voltas finais, enquanto Alonso investiu na aposta de sua equipe e acabou se dando mal, andando 3 ou 4s mais lento que os demais pilotos nas voltas finais, terminando em quinto, mas com Rosberg e Webber colados nele. Porém, a ultrapassagem de Vettel nas voltas finais lhe tirou a liderança do campeonato e mostrar que nem sempre uma aposta arriscada sempre vale a pena. Os segundos pilotos de Ferrari e Red Bull tiveram uma tarde para esquecer, com Webber muito abaixo da ótima exibição de Monte Carlo duas semanas atrás e ficando apenas em sétimo, enquanto Felipe Massa destruindo o que poderia ter sido seu melhor final de semana do ano ao rodar bisonhamente ainda no começo da corrida, após uma boa ultrapassagem sobre Nico Rosberg, ficando apenas em décimo, mas apenas 25s atrás do líder.
Nico Rosberg mais uma vez fez uma corrida decente, onde marcou pontos mais uma vez e por muito pouco não ultrapassou Alonso na volta final, enquanto Schumacher parece concentrar todo tipo de problema que pode afetar a Mercedes. Até mesmo falhas simplórias, como a asa traseira móvel travar e o alemão ter que abandonar por causa disso. Paul di Resta chegou a andar em quinto, mas perdeu muito rendimento durante a prova e ficou fora dos pontos, enquanto Hülkenberg fez uma corrida apagada e sempre fora dos pontos. Assim como fez a Toro Rosso com seus dois pilotos, mas é de impressionar como a Williams perdeu rendimento desde a vitória de Maldonado em Barcelona. O time entrou na descendente a tal ponto de Bruno Senna ter ficado boa parte da corrida atrás de um carro da Caterham! Claro que isso significou festa para o time malaio, enquanto a Marussia ficou em último, já que a HRT abandonou com seus dois carros ainda no início da prova.
Foi uma corrida que teve um final empolgante, mas de maneira geral, normal para os padrões loucos de Montreal. Por isso mesmo, é surpreendente ver um pódio contendo Grosjean e Pérez numa prova sem maiores problemas. Esse vem sendo o segredo dessa F1 equilibrada e cheia de surpresas. Tirando Sepang, todas as corridas foram normais e ainda assim equipes ditas médias conseguiram se sobressair e se colocar junto às grandes, fazendo desse campeonato de 2012 um dos melhores da história e fazendo valer a pena ficar na frente da TV e assistir a F1.
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