sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fon

Se até a década de 70 era comum pilotos disputarem várias categorias, Alfonso de Portago foi além. Sem contar sua velocidade atrás de um volante e sua fama com as mulheres, o milionário nobre espanhol foi um dos mais diversos e excelentes desportistas já vistos, pois além de piloto, Fon, como era conhecido, foi campeão espanhol de mergulho, campeão francês de saltos e participou das olimpíadas de inverno. Tudo isso não apenas por ser um atleta, mas principalmente para se divertir e se auto-promover. A carreira de Portago nas corridas foi curta e marcante, ainda mais por que sua trágica morte marcou todo o automobilismo mundial. Se estivesse vivo, Alfonso de Portago estaria completando 85 anos e por isso vamos ver um pouco mais da carreira do espanhol, que estabeleceu recordes que só seriam quebradas por Fernando Alonso muitos anos depois. 

Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton nasceu no dia 11 de outubro de 1928 em Londres, mais conhecido como o 17º Marquês de Portago e ficaria mais conhecido pelo seu título do que pelos seus vários sobrenomes. Alfonso fazia parte de uma linhagem da nobreza espanhola e seu padrinho era simplesmente o rei da Espanha Alfonso XIII. De família milionária, Alfonso teve sua infância passada em uma propriedade da família em Biarritz, na Costa Oeste francesa e sua educação foi refinada, onde ele estudou música, literatura e aprendeu quatro línguas. Aos 15 anos, Alfonso botou na cabeça que seria famoso e escolheu o esporte para conseguir seu objetivo. A primeira paixão do espanhol foi os cavalos e se tornou campeão de saltos, além de jogar pólo, mesmo que seu porte físico avantajado (1,83m e 78kg), não o ajudasse muito nesse tipo de esporte. Aos 17 anos Alfonso tirou brevê de piloto que logo foi caçado por causa de uma aposta: De Portago teria dito um amigo que seria capaz de passar debaixo de uma ponte com um avião... e conseguiu! Mas quando foi descoberto pelas autoridades, ele não pôde mais pilotar.

Assim era a vida de Alfonso de Portago. Cheia de aventuras que todo milionário poderia comprar, isso sem contar a boêmia, quando morou em Paris e Nova Iorque, onde chegou a se casar. Em 1955, Alfonso criou a equipe espanhola de bobsleigh e no ano seguinte participou das Olimpíadas de inverno em Cortina d'Ampezzo, na Itália, e de forma surpreendente o time espanhol ficou em quarto lugar, a menos de dois décimos da medalha olímpica! Após tantos relatos, alguém deve estar perguntando: quando De Portago começou a correr? Em sua temporada americana, Alfonso conheceu Edmund Nelson, que o levou a uma corrida e De Portago conheceu o afamado Luigi Chinetti, representante da Ferrari nos Estados Unidos. Imediatamente Alfonso se apaixona pela aventura que era as corridas na época e logo de cara compra uma Ferrari 250MM de Chinetti para participar da famosa Corrida Panamericana, onde juntamente com Nelson fez sua estreia nas corridas em novembro de 1953, que terminou em um abandono com motor quebrado. Alfonso já era conhecido por ser insano atrás de um volante, mas ele provou que poderia levar sua loucura para as pistas, mas já em sua primeira apresentação, Portago impressionou tanto que Nelson teria dito que se Alfonso pilotasse daquele jeito, não sobreviveria até os 30 anos. Seria uma triste premonição.

Ainda em 1954 Alfonso é convencido pelo piloto americano Harry Schell a fazer parte de corridas de Endurance e logo em sua segunda corrida, ainda com sua Ferrari, De Portago conseguiu um bom segundo lugar nos 1000 km de Buenos Aires. No meio do ano Alfonso foi a Europa participar das 24 Horas de Le Mans e com seu dinheiro consegue comprar um lugar na equipe oficial da Maserati, mas acaba abandonando. De novo com sua Ferrari particular, Alfonso vence sua primeira corrida na Corrida Internacional de Velocidade em Nassau. Com muito dinheiro e também pretensão, Alfonso esperava um lugar na equipe oficial da Ferrari, mas o máximo que consegue é que os italianos o vendam um lugar na equipe, algo que Portago aceita e se arrependeria duplamente. Primeiro, por que desde a década de 50 os chamados 'pilotos pagantes' não eram bem vistos na F1 e era isso que todos imaginavam De Portago ser. Segundo por que em sua primeira corrida de F1, numa corrida extra-oficial em Silverstone, Alfonso sofre um sério acidente que o faz quebrar a perna em vários lugares e isso faz com que ele passe a maior parte de 1955 de molho, mas quando se recupera, ele seria piloto titular da Ferrari para 1956.

Primeiramente Alfonso ficaria mais focado nas corridas de Endurance, até por causa de sua pouca experiência frente a pilotos como Juan Manuel Fangio, Peter Collins, Luigi Musso e Eugenio Castellotti. Porém, De Portago acabaria fazendo algumas corridas de F1 e em Silverstone, local do seu grave acidente no ano anterior, Alfonso faz sua melhor corrida na categoria e após largar em 12º, ele estava em terceiro quando foi chamado pela equipe para entregar seu carro à Peter Collins (isso era coisa-comum na F1 em seus primórdios) e com o inglês ao volante, De Portago chegou em segundo, se tornando o primeiro espanhol a subir no pódio até o surgimento de Fernando Alonso nos anos 2000. Em cinco corridas que fez na F1 em 1956, De Portago abandonou quatro com problemas mecânicos quando estava bem colocado, sem contar a ótima posição na Inglaterra. Isso afastava de Fon sua fama de Pay-Driver. Ambicioso, Alfonso de Portago sonhava ganhar cada vez mais experiência e com o tempo conseguir ser campeão mundial, algo que o espanhol imaginava conseguir antes dos 35 anos de idade.

Porém, Alfonso de Portago foi chamado por Enzo Ferrari a participar da Mille Miglia de 1957 com uma Ferrari 355S no dia 12 de maio. Como era uma corrida de longa duração que mais parecia um rally dos dias atuais, Alfonso chama seu velho amigo Ed Nelson para ser seu navegador. No último checkway, os mecânicos da Ferrari pedem para trocar os pneus dianteiros desgastados, em especial o direito. Em segundo lugar e sabendo que uma troca o faria perder muito tempo, Alfonso se recusa a troca e parte para o que seria seus últimos quilômetros de vida. Quando se aproximava de Guidizollo, aproximadamente a 250 km/h, restando apenas 50 km para o fim da corrida, o pneu dianteiro direito explodiu, fazendo Alfonso perder o controle do seu carro. A Ferrari bateu num poste telefônico, atingiu alguns espectadores, voltou para a pista, acertou mais algumas pessoas no outro lado até cair num riacho de cabeça para baixo. O que se via era uma cena de terror! Dez espectadores, contando cinco criança, morreram na hora, assim como Nelson e Portago, que tiveram seus corpos desfigurados. Essa tragédia definiu o fim da Mille Miglia e as tradicionais corridas de estrada na Europa. Enzo Ferrari e a fabricante de pneus Englebert tiveram que passar por um duro julgamento onde foram inocentados, apesar de que a fama de Enzo ficasse muito arranhada na Itália, principalmente por causa das crianças. A carreira de Alfonso de Portago foi curta, tendo apenas 36 corridas, a maioria delas em corridas de longa duração, mas o aproveitamento do espanhol era incrível, com 18 pódios em 28 bandeiradas. Foram sete vitórias. Seu fraco conhecimento técnico era compensando por uma coragem que beirava a insanidade. Foram apenas 29 anos. Mas muito bem vividos por Alfonso de Portago. 

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