terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O mestre de Alonso

Vindo de uma família de pilotos e começando no auge do 'Sennamania' no Brasil, Tarso Marques teve uma carreira meteórica no automobilismo de base, quebrando até mesmo alguns recordes de precocidade por onde passou, mas Tarso acabou entrando na porta errada na F1 (Minardi) e se tornou mais conhecido por ter sido um mentor para o jovem Fernando Alonso quando o espanhol debutou na F1 quinze anos atrás. Completando 40 anos no dia de hoje, vamos olhar um pouco mais a carreira desse curitibano.

Tarso Aníbal Sant'anna Marques nasceu no dia 19 de janeiro de 1976 em Curitiba e passou boa parte de sua infância nos autódromos, pois seu pai, Paulo de Tarso, era um piloto regular de turismo no Brasileiro de Marcas na década de 1980 e depois criou a equipe Action Power, que logo se tornou uma das mais fortes da Stock Car, conquistando alguns títulos com Ingo Hoffmann. O pequeno Tarso começou a correr de Kart aos 12 anos de idade e em quatro anos se tornou um dos melhores pilotos de sua geração, vencendo campeonatos no Paraná e se destacando no tradicional Brasileiro de Kart. Quando completou a idade mínima (16 anos) para subir para os carros, Tarso contou com a estrutura da equipe do seu pai, que formou um time na F-Chevrolet para o filho. A F-Chevrolet faria sua estreia no automobilismo brasileiro em 1992 contando com carros modernos e rápidos, o que acabou por 'matar' a tradicional F-Ford das pistas brasileiros. Contando com talento e uma ótima equipe, Tarso Marques surpreende ao conseguir quatro vitórias em sua primeira temporada nos monopostos, mas o curitibano acabou o campeonato apenas em terceiro, superado pelo experiente Djalma Fogaça e seu antigo rival no kart, Helio Castroneves. Quando venceu sua primeira corrida na F-Chevrolet, em Curitiba, Tarso Marques havia se tornado o piloto mais jovem do mundo a vencer uma corrida de carro e com talento, o piloto subiu para a F3 no ano seguinte.

Correndo ainda pela equipe do pai, a Action Power, Tarso Marques tem outro ano de destaque na F3 Brasileira, conseguindo uma vitória, mas acabou derrotado pelo experiente argentino Fernando Croceri no campeonato. Sentindo-se preparado para dar outro passo na carreira, Tarso Marques se muda para a Europa em 1994 e estreia na F3000, ante-sala da F1 naquele momento. O Brasil vivia o auge de popularidade do automobilismo e naquele ano, haviam cinco jovens pilotos brasileiros (Gil de Ferran, Pedro Paulo Diniz, o próprio Tarso Marques, Norio Matsubara e Paulo Carcasci) na F3000, prontos para subir para a F1 se as condições permitissem. Porém, a morte de Ayrton Senna, principal piloto do mundo da época e referência do automobilismo brasileiro, em maio marcou a todos naquele momento. Com 18 anos, Tarso Marques era a principal esperança de subir com sucesso na F1, mas correndo na pequena equipe holandesa Vortex, aliado ao pouco conhecimento das pistas europeias, fez com que Tarso sofresse nas suas primeiras corridas na F3000, mas na última corrida da temporada em Magny-Cours, Marques consegue um ótimo quarto lugar e se torna o mais jovem piloto a marcar pontos na F3000. Com bons patrocinadores e com seu talento reconhecido, Tarso Marques vai para a equipe campeã da F3000, a DAMS, para a temporada de 1995. Marques toma as rédeas da equipe e se torna o primeiro piloto, mas num ano dominado pela equipe SuperNova de Vicenzo Sospiri e Ricardo Rosset, Marques só consegue uma vitória no Estoril e o quinto lugar no campeonato. Contudo, o ano esteve longe de ser ruim para o brasileiro. Após sua vitória em Portugal, Marques é convidado por Giancarlo Minardi, notório caça-talentos da F1, para um dia de testes na sua equipe de F1 no Estoril, no qual Tarso faz um bom papel e consegue o cargo de piloto de testes da Minardi.

Mesmo que há vinte anos os testes eram praticamente liberados para as equipes de F1, a Minardi vivia sem dinheiro e Tarso Marques pouco testava naquele início de 1996. Contudo, quando o piloto titular Giancarlo Fisichella não pagou o que prometeu, Minardi acionou Tarso Marques (que injetava dinheiro na equipe através de seus patrocinadores...) para as duas corridas sul-americanas de 1996, no Brasil e na Argentina. Quando saiu dos boxes em Interlagos, Tarso Marques se tornava o piloto brasileiro mais jovem a correr num F1 até então, aos 20 anos. Com o pior carro do grid nas mãos, Marques pouco pôde fazer na frente do seu público, mas uma semana mais tarde, na Argentina, Marques fez uma classificação assombrosa ao colocar seu Minardi num honroso 14º lugar no grid, mas assim como em São Paulo, Tarso Marques acabou abandonando na corrida em Buenos Aires, após bater na traseira de Martin Brundle, quando o experiente inglês aplicou um break-test no novato. Minardi chegou a prometer, numa entrevista à Rede Globo, que Marques continuaria na Minardi para o resto da temporada, mas quando Fisichella pagou sua fatura, o italiano voltou ao cockpit e Marques assistiu o resto da temporada dos boxes. Com a Minardi sem testar e vendendo seu cockpit a quem aparecesse com algum dinheiro, Marques foi liberado para ser piloto de testes da Arrows ainda em 1996, conseguindo uma boa experiência na posição, o que lhe ajudaria mais tarde. Mesmo conseguindo uma boa quilometragem, Marques retorna para a Minardi em 1997, novamente como piloto de testes. Porém, Tarso acabou bafejado pela sorte durante a temporada. Olivier Panis fazia uma temporada de sonho com a Prost, até o francês quebrar as pernas num forte acidente em Montreal. Para substituir Panis, Alain Prost é aconselhado por Flavio Briatore a trazer o jovem Jarno Trulli, que fazia a sua estreia pela Minardi sem chamar muita atenção. Trulli se muda para a Prost no meio da temporada e consegue o destaque que todos esperavam, mas abria uma vaga na Minardi. Talvez Marques esperasse que algum piloto endinheirado comprasse o cockpit, mas para surpresa de todos, Tarso assume o lugar até o fim da temporada. Em Silverstone, Tarso completa sua primeira corrida em décimo, mas a Minardi tinha um carro ruim demais e o brasileiro acaba o ano longe de pontuar e com várias quebras mecânicas, sempre lembrando que em 1997 apenas os seis primeiros pontuavam.

As corridas decentes de Tarso Marques pela Minardi não convencem o chefe da equipe a contrata-lo para 1998 e o curitibano acaba demitido e substituído pela grana do ainda mais jovem argentino Esteban Tuero. Sem dinheiro e sem lugar na F1, Marques faz o que a maioria dos pilotos brasileiros faziam na época: atravessou o Atlântico e procurou abrigo na Indy. E Marques consegue um lugar de respeito: piloto de testes da Penske. Porém, a sina de Marques parecia estar no lugar certo, mas na hora muito errada. A Penske vivia uma crise inimaginável na época e mesmo construindo o seu próprio chassi, a Penske era derrotada de forma sucessiva pelas equipes Ganassi e Green, que utilizavam o imbatível pacote Reynard-Honda-Firestone. Contratado para desenvolver o chassi da Penske, que ainda utilizava o motor Mercedes e os pneus Goodyear, Marques teve algumas oportunidades em 1999, substituindo o lesionado Al Unser Jr e depois utilizando o segundo carro da equipe, mas a crise era tão braba, que Marques pouco pôde fazer e o máximo que conseguiu foi um nono lugar. O curitibano fica mais um ano na Indy/CART em 2000, mas Tarso não consegue um bom cockpit, correndo pela fraca equipe Dale Coyne, contudo, na última corrida do ano, em Fontana, Marques consegue um honroso sétimo lugar. Após uma carreira meteórica nas categorias de base, Tarso Marques parecia estar marcando ponto em equipes pequenas e de promessa do automobilismo brasileiro, Tarso se tornava, ainda muito jovem, um piloto de equipes minúsculas e sem perspectivas de crescimento. Então, o milagre.

Em 2001 a Minardi chama Tarso Marques para uma terceira temporada com eles com apenas um intuito. Ser o mentor do jovem Fernando Alonso. Quatro anos após sua última temporada na Minardi, Tarso Marques encontra uma equipe totalmente diferente. Giancarlo Minardi havia vendido a equipe para o empresário australiano Paul Stoddart se última hora, faltando poucas semanas para a primeira corrida da temporada 2001. Fernando Alonso era um piloto extremamente promissor, que tinha feito uma temporada muito boa de estreia na F3000 no ano anterior e, principalmente, era protegido de Flavio Briatore, que praticamente comprou o lugar da recém-comprada Minardi para Alonso como primeiro piloto. Com apenas 19 anos e sem muita experiência, Alonso precisava não apenas de uma referência, mas também de um piloto que o guiasse nos acertos do carro. Tarso Marques parecia ter bem mais do que os 25 anos que tinha então. O curitibano foi lembrado pela Minardi poucos dias antes do Grande Prêmio da Austrália e entrou no carro sem nenhum teste. Na verdade, Marques não havia feito nem o molde do banco do carro e como é bem mais alto do que Alonso, o brasileiro teve que correr sem banco. Tamanho era o improviso na Minardi! Alonso tinha o carro reserva, os melhores motores e as poucas atualizações que a Minardi ofertava aos seus pilotos, mas Tarso Marques ainda conseguiu superar Alonso alguma vezes, mas a grande verdade foi que Marques foi a primeira vítima de Alonso, que o superou com ampla vantagem, mas isso não impediu que os dois se tornassem bons amigos, com Alonso considerando Tarso Marques um dos melhores pilotos que já dividiu uma equipe e que o ajudou bastante. Porém, estamos falando de Minardi. Logo faltou dinheiro para a equipe e Stoddart teve que substituir Marques pelo maior 'Reject' da primeira década do século 21 da F1: Alex Yoong. Quando recebeu a bandeirada do conturbado Grande Prêmio da Bélgica de 2001 em 13º, Tarso Marques completava sua última corrida de F1. Foram 24 corridas e nenhum ponto.

Após sua passagem pela F1, Tarso Marques se tornou um andarilho do automobilismo. Seu irmão mais novo, Thiago Marques, começava a sua carreira na Stock Light e tinha Tarso como mentor e apoiador. Em 2002 o brasileiro voltou aos Estados Unidos, mas não conseguiu um lugar na Indy/CART, que vivia seu último ano competitivo. Em 2004 Marques se mudou para o turismo, voltando à Europa no FIA GT, antes de retornar ao Brasil e correr na Stock em 2006. vencendo uma corrida no falecido autódromo do Rio de Janeiro. Quinze anos após ter corrido pela equipe do pai, Tarso Marques voltou à Action Power em 2008 na Stock Car, mas Tarso se mostrava cada vez mais desmotivado na categoria de turismo nacional. Em 2009, Tarso Marques foi pego num exame antidoping e foi suspenso por dois anos, mas isso acabou sendo o fim definitivo da carreira do curitibano, que não retornou mais ao automobilismo de forma profissional. Na verdade, Tarso Marques já estava focado em outros negócios. Desde 2004 o curitibano montou uma oficina de customização de carros e motos (TMC) e é isso que faz até hoje Tarso Marques. De piloto extremamento promissor, Tarso Marques se tornou um piloto marcado por ter corrido apenas pela Minardi, não podendo mostrar seu talento na categoria de base e se tornando mais conhecido por ter sido o mentor de Fernando Alonso. Conta a lenda que Tarso Marques tinha tudo acertado para ser um dos protegidos de Briatore, mas quando o curitibano declinou do convite, o italiano apostou tudo em Jarno Trulli e mesmo o italiano não tendo conseguido mais do que uma vitória na F1, ele fez bem mais do que Tarso Marques na F1. Se, se, se... Nunca saberemos o que Marques poderia ter feito com mais apoio e se tivesse atrás de um volante de uma equipe diferente da Minardi.

Parabéns!
Tarso Marques

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