Quando Sérgio Pérez foi contratado pela Red Bull para a temporada 2021, cessando uma prática do time de sempre confiar nos jovens pilotos do seu programa, a equipe austríaca tinha como claro objetivo fazer com que Verstappen tivesse companhia em sua eventual luta contra a Mercedes. Mesmo quando os alemães tinham nitidamente o melhor carro, Max era capaz de incomodar os pilotos da Mercedes aqui e ali, mas acabava sempre derrotado pelo potencial do carro rival e pela estratégia. Veio 2021 e a diferença entre Mercedes e Red Bull caiu bastante, mas a situação de Max ainda é a mesma. Lutando contra um Hamilton que nitidamente subiu seu sarrafo para enfrenta-lo, Verstappen se viu sozinho hoje em Barcelona contra a Mercedes e foi atropelado no final por Hamilton, sem que o neerlandês nada pudesse fazer contra a estratégia da Mercedes. E fica a pergunta: onde estava Pérez?
A corrida em Barcelona foi bem normal para os baixíssimos padrões de qualidade catalães. Não importa a geração de carros, pilotos e motores, as provas em Montmeló normalmente são chatas e desprovidas de emoção. Sabendo disso, a posição de pista é essencial na Espanha e os estrategistas tem um papel fundamental na prova. Max Verstappen fez uma ótima largada, mas o surpreendente foi a passividade de Hamilton ao ficar por fora no aproche da primeira curva e simplesmente tomar a ultrapassagem de Max sem maiores problemas ou dramas. Com Max assumindo a primeira posição, as cartas estavam na mesa para os estrategistas moverem suas peças. Verstappen parecia que tinha uma ligeira vantagem quando Bottas teve que desviar de Hamilton na curva 3 e perdeu a terceira posição para Leclerc, não o ultrapassando até a primeira rodada de paradas. Enquanto isso, Verstappen se manteve confortavelmente na ponta e levava a corrida em banho-Maria até que as movimentações nos boxes começassem. Era claro que Hamilton tinha o carro mais rápido, mas não a ponto de ultrapassar Max na pista naquelas condições. Quando Max parou e Hamilton ficou mais algumas voltas na pista, a Mercedes indicava que Lewis pararia apenas uma vez, deixando a Red Bull numa situação complicada, pois Verstappen teria que dar bem mais voltas do que Hamilton se quisesse chegar a bandeirada sem uma segunda parada. Pensando em igualar a tática da Mercedes, Max baixou seu ritmo, deixou Hamilton ficar na mesma situação de antes da parada, mas havia uma diferença: Bottas era terceiro. Com a Mercedes tendo a garantia de que não perderia a segunda posição e que tendia a ficar empacada atrás de Verstappen se nada de diferente ocorresse, o time comandado por Toto Wolff trouxe Hamilton para os boxes para uma segunda parada. Sem se preocupar com Bottas, Lewis apenas acelerou muito e andando 1,5s mais rápido por volta, foi engolindo a vantagem de Verstappen, que nada pôde fazer quando Hamilton entrou na famigerada janela em que podia usar o DRS. Bastou uma tentativa para Hamilton fazer a ultrapassagem vencedora e partir impávido rumo a terceira vitória do campeonato e com a liderança do campeonato cada vez mais solidificada.
Restou à Verstappen fazer um segundo pit-stop para garantir o ponto extra para a melhor volta, mas Max esteve em posição desfavorável a partir do momento em que a Mercedes tinha duas cartas alta na mesa, podendo escolher qual seria a próxima jogada para dar a cartada decisiva. Enquanto isso, Sérgio Pérez, piloto de qualidade inquestionável, largou apenas em oitavo, ganhou duas posições na largada, penou atrás de Ricciardo até fazer uma bela ultrapassagem sobre o australiano e terminar num obscuro quinto lugar, longe até mesmo da Ferrari de Leclerc. Apesar de alguns problemas de saúde terem afetado o mexicano no sábado, sua posição dentro da Red Bull já começa a ficar delicada na medida em que ele não consegue andar no ritmo dos líderes justamente quando a Red Bull finalmente tem um carro no mesmo patamar da Mercedes. Deixado sozinho contra os dois carros da Mercedes, Verstappen foi um alvo fácil, enquanto Marko pode estar começando a chegar a conclusão de que Pérez não faz nada de muito diferente de Gasly e Albon. E é bom Pérez ficar ligado no que foi o destino de ambos...
No melhor do resto, Charles Leclerc fez uma corrida esplendida, superando Bottas na largada e o segurando no primeiro stint sem maiores dramas, mostrando a clara evolução do motor Ferrari. Quando Valtteri teve pista livre, Leclerc não teve chances, mas o monegasco segurou a quarta posição sem maiores sustos, ficando à frente de um carro da Red Bull e, o que é melhor, bem à frente dos pilotos da McLaren, grande rival da Ferrari nesse momento pelo posto de terceira força. Daniel Ricciardo se mostrou bem superior à Lando Norris nesse final de semana e segurou até onde pôde Pérez, mas garantiu a sexta posição, logo à frente do piloto da casa Carlos Sainz, ainda tateando o carro da Ferrari em ritmo de corrida. Seu compatriota Alonso fez uma corrida ruim, onde uma parada no final da prova o colocou apenas em décimo sétimo. Muito pouco para um bicampeão da qualidade de Alonso, principalmente quando se olha que Ocon conseguiu salvar uns pontinhos num dia não tão bom para a Alpine, apesar do bom ritmo na classificação. Mesmo punido por ter largado no lugar errado, Gasly ainda salvou um ponto para a Alpha Tauri, chegando colado em Ocon. Após uma estreia promissora, Tsunoda se mostra um piloto de cabeça quente, bem diferente dos seus compatriotas e foi o único abandono do dia, por problema mecânico.
A Aston Martin já vai se tornando uma das decepções do ano, ao não conseguir repetir o desempenho do ano passado, quando era conhecida como Mercedes rosa. Isso apenas aumenta a sensação de declínio de Vettel, que sequer consegue andar na frente de Stroll, que ainda brigou pela última posição pontuável, mas acabou na P11. A Alfa Romeo se atrapalhou todinha em sua primeira parada, jogando Giovinazzi para as últimas posições, enquanto Raikkonen esteve perto de pontuar quando foi o último a parar com pneus médios e estava bem rápido com o composto macio. George Russell estava no bolo que estava na briga pela décima posição, mas acabou mesmo fora dos pontos, enquanto Mick Schumacher fez o dever de casa ao humilhar o péssimo Mazepin.
Se a corrida de hoje não foi das mais emocionantes, respondeu muitas perguntas que ainda pairavam no ar. Por mais que diga que não, a Mercedes ainda tem o melhor carro da F1 e a grande diferença é que a Red Bull nunca esteve tão próxima como agora. Se nos tempos da Ferrari próxima, Hamilton soube administrar muito bem um Vettel já em começo de declínio, dessa vez ele está enfrentando um piloto num momento mais forte. Max Verstappen hoje é um piloto quase completo e ansioso para confirmar o que todos sabem do que ele é capaz: bater a Mercedes e Hamilton para ser campeão. Sabendo disso, Lewis Hamilton aumentou seu sarrafo e ao invés de bater de forma protocolar Bottas, agora o inglês está incomodado e lutando por cada vitória para bater Verstappen. O problema é que o neerlandês olha para o lado e não vê ninguém para auxilia-lo. Enquanto isso, Hamilton vai empilhando vitórias rumo ao oitavo título.