domingo, 23 de maio de 2021

Que pena...

 


Ainda no começo da corrida em Mônaco, uma notícia surgiu e foi como um soco na boca do estômago. Nossas boas lembranças se confundem com o momento em que vivemos. Quem não sente saudades dos tempos despreocupados da adolescência? Na minha adolescência a Indy vivia seu melhor momento e com o SBT se comprometendo a transformar a Indy na principal categoria automobilística do Brasil, aqueles foram tempos áureos, principalmente com vários pilotos brasileiros na Indy. Além do onipresente Emerson Fittipaldi, haviam ótimos pilotos abandonando o sonho da F1 para tentar triunfar na Indy, como eram os casos de Christian Fittipaldi e Gil de Ferran. E André Ribeiro. André não tinha o talento de Christian ou Gil, mas tinha uma tenacidade incrível. Sua carreira não foi das mais normais, pois ele começou no kart já aos 19 anos, onde precisou trabalhar para se manter correndo, com uma idade que muitos pilotos já estavam nos monopostos. Sem tempo a perder, André ficou apenas três anos no kart e logo partiu para a F-Ford brasileira, que usou como trampolim para a Europa. Foram anos na F-Opel e na F3 Inglesa, sendo contemporâneo de pilotos como Rubens Barrichello, David Coulthard e Gil de Ferran. Piloto que sabia se vender como ninguém e consciente de suas possibilidades, André percebeu que não teria muito sucesso rumo à F1, mas teria chances nos Estados Unidos. Aproveitando o bom momento da Indy, André juntou patrocinadores e foi para a Indy Lights, onde foi vice-campeão em 1994, garantindo um lugar na ascendente equipe Tasman na Indy para 1995. Era o auge da Indy, bem no ano anterior à famosa cisão. Como novato, André se mostrou bastante combativo e conseguiu uma vitória em New England, mas perdeu o título de Rookie para Gil de Ferran. Permanecendo na Tasman, André conseguiria sua grande consagração na carreira ao vencer de forma até surpreendente a Rio 400, a primeira corrida da Indy no Brasil. André Ribeiro apareceu na capa de praticamente todos os jornais brasileiros na segunda-feira seguinte 25 anos atrás e com mais uma vitória, em Michigan, garantia seu melhor ano na Indy. Após um ano menos feliz em 1997, ele se mudou para a poderosa Penske em 1998, mas André deu o azar de chegar na equipe de Roger Penske no pior momento possível e Ribeiro pouco fez. Ribeiro não era um piloto brilhante, mas tinha o tino comercial que fez Roger Penske o convencer a abandonar sua carreira com apenas 31 anos de idade e torna-lo sócio nos negócios da Penske no Brasil. Mesmo na melhor idade para um piloto de corridas, André Ribeiro aceitou a proposta de Roger e encerrou sua carreira prematuramente. Ribeiro ajudou na criação da F-Renault brasileira e empresariou Bia Figueiredo quando ela esteve nos Estados Unidos. Nos últimos anos, André Ribeiro ficou fora dos holofotes, mas foi bastante lembrando quando a sua vitória na Rio 400, a primeira de um brasileiro em casa numa categoria de ponta desde Senna em 1993, completou 25 anos. Porém, André voltou aos noticiários da pior forma possível no dia de hoje. De forma surpreendente, como acontecera em Jacarepaguá em 1996, André Ribeiro nos deixou com apenas 55 anos de idade, vítima de um câncer no estômago. Quando um personagem de sua adolescência se vai dessa maneira, parece que a aquelas boas lembranças ficam mais e mais para trás. Porém, aqueles momentos da Indy e a vitória de André Ribeiro no Rio de Janeiro ficarão para sempre na nossa memória. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário