A atual equipe McLaren pouca tem a ver com o seu fundador. A equipe chefiada por Ron Dennis é conhecida por ser tão carrancuda como o próprio dono. Bruce McLaren era uma pessoa simples, com muito bom humor e foi para europa para estudar, mas o vício pela velocidade foi maior e ele se tornou um dos grandes pilotos dos anos 60. Usando seus conhecimentos de mecânica e sua visão empresarial, Bruce fundou a equipe McLaren, que fez sucesso nos dois lados do Atlântico e deixou um grande legado na F1 e para o Brasil, pois foi na equipe McLaren que Emerson conquistou seu segundo título e Ayrton Senna conquistou todos os seus campeonatos. Se fosse vivo, Bruce McLaren estaria fazendo 70 anos hoje. Vamos olhar um pouco a carreira desse grande piloto e construtor.
Bruce Leslie McLaren nasceu no dia 30 de Agosto de 1937 em Auckland, Nova Zelândia e era o segundo filho de um engenheiro, "Pop" McLaren. As corridas sempre estiveram na vida do pequeno Bruce graças ao seu pai, mas aos nove anos ele levou um baita susto. Bruce sofreu uma queda quando brincava e desenvolveu o mal de Perthes, uma doença na bacia, que o fez passar dois anos num hospital ortopédico. Ele passou o resto da vida com as seqüelas dessa doença. Bruce começou a estudar com um tutor e em 1951 ele entrou, muito novo, para a faculdade de engenharia. O envolvimento com o automobilismo começou também muito cedo, quando Bruce tinha apenas 15 anos e ele sempre teve muito apoio de sua família. Ele andava num Austin em corridas de subida de montanha e pequenos rallys.
Em janeiro de 1957, o australiano Jack Brabham foi para a Nova Zelândia disputar uma corrida à bordo de um Cooper e um mês depois, Pop McLaren comprou esse carro para que Bruce pudesse correr. Era a primeira vez que os nomes McLaren e Brabham se ligariam. Um ano depois, Brabham voltaria para a terral natal de McLaren com dois Coopers e um dos carros ficaria para Bruce. Esta seria a primeira vez que a dupla Brabham-McLaren correriam juntos à bordo de um Cooper e o sucesso foi imediato. No Grande Prêmio da Nova Zelândia em Ardmore McLaren ficou em segundo atrás de Brabham e ganharia um prêmio para lá de especial. Ele receberia uma bolsa do New Zealand International Grand Prix Association para correr na Europa.
Juntamente com o amigo e mecânico Colin Beanland, Bruce McLaren partiu para a Europa com apenas 20 anos e assim que chegou à Inglaterra, foram "adotados" por Jack Brabham, John e Charles Cooper. Eles pilotariam para a equipe Cooper na Fórmula 2 e não demorou muito para que Bruce conseguisse bons resultados. No Grande Prêmio da Alemanha de 1958 em Nürburgring, alguns carros de F2 correriam juntos com os F1 e Bruce conseguiu um impressionante quinto lugar no geral com um... Cooper de F2! Neste momento a carreira de McLaren deslancharia.
Ainda em 1958 McLaren conheceu outra pessoal que também daria nome a uma equipe de F1: Ken Tyrrell. McLaren fez algumas corridas na equipe de Tyrrell com um Cooper e a amizade entre ambos duraria até fim. Isso sem contar todo o aprendizado que McLaren tinha absorvido de Tyrrell. A meteórica trajetória de McLaren fez com que o jovem piloto estreasse na F1 pela equipe oficial da Cooper um ano depois de chegar à Europa. Ele correria ao lado do americano Masten Gregory e do seu protetor Jack Brabham. A primeira corrida de McLaren foi no Grande Prêmio de Mônaco e logo de cara ele consegue seus primeiros pontos com uma quinta posição. McLaren era uma espécie de piloto júnior da equipe e por isso ele fazia a maior parte dos testes. No entanto, McLaren mostrava muita regularidade e completou nos pontos as três primeiras corridas da sua carreira na F1, inclusive com um pódio na Inglaterra, onde conseguiu um terceiro lugar.
O carro da Cooper foi um marco na F1 com seu motor traseiro e o ano de 1959 foi o primeiro do domínio dos carros de John Cooper. Brabham era o líder da equipe e venceu duas corridas, mas seu principal rival, Tony Brooks da Ferrari, também havia vencido duas vezes e os dois decidiriam o título na etapa final em Sebring. Brabham lidera a corrida inteira com McLaren em segundo, mas Brabham fica sem gasolina na reta final e assim McLaren se torna o piloto mais jovem a vencer uma corrida na F1. E Brabham empurra seu carro e vence o campeonato. Por muitos anos, a afirmativa de que Bruce McLaren era o mais novo a vencer na F1, mas se soube depois que Troy Ruttman, então alguns meses mais novo do que McLaren, havia vencido as 500 Milhas de Indianápolis de 1955, e como a corrida fazia parte do calendário da F1, Ruttman seria o mais jovem vencedor na F1, mas talvez nem Ruttman soube disso. Quando Alonso venceu o GP da Hungria em 2003 com 22 anos e um mês, a dúvida acabara.
A boa forma de McLaren se confirma com uma nova vitória na primeira etapa na Argentina e McLaren liderava o campeonato pela primeira vez na carreira, porém o piloto principal da equipe Cooper era Brabham e o australiano conquistou cinco vitória e faturou o bicampeonato. McLaren consegue vários pódios e termina o ano com o vice-campeonato. Este seria o seu melhor campeonato na F1. Com dois anos de experiência, McLaren parecia pronto para enfrentar os maiores rivais, mas 1961 começava o declínio da equipe Cooper e o ano foi totalmente dominado pela Ferrari.
Jack Brabham sai da Cooper em 1962 para construir seus próprios carros. McLaren se torna o primeiro piloto da Cooper e as equipes inglesas tomaram conta do ano. Se em 1961 a Ferrari dominou o campeonato, em 1962 o campeonato seria dominado pelas equipes inglesas, com BRM(Graham Hill), Lotus(Jim Clark) e Cooper(Bruce McLaren). McLaren vence sua segunda corrida em Mônaco e na base da consistência chega em terceiro lugar no campeonato. McLaren começa a disputar várias corridas em sportcars na Europa e nos Estados Unidos. No inverno de 1963-64, Bruce McLaren funda sua própria equipe para disputar a famosa Série Tasman. McLaren leva para a Oceania dois Coopers e se torna campeão. A série Tasman era um espécia de mini-campeonato de pré-temporada de F1 realizado na Oceania durante o inverno europeu e os melhores pilotos da F1 participavam do campeonato.
Nessa época Bruce McLaren conhece o jovem e promissor Timmy Mayer, que fazia sua primeira temporada na F3. McLaren e Ken Tyrrell ajudam a carreira do norte-americano e Bruce leva Mayer para a equipe Cooper para a temporada 1965, mas Timmy morre num acidente na última corrida da Série Tasman, onde McLaren se tornara mais uma vez campeão. Mesmo com tristeza pela morte do irmão mais novo, Teddy Mayer e o mecânico Tyler Alexander se juntam a Bruce McLaren e fundam a McLaren Racing Ltd. no início de 1966. Bruce McLaren permanece na Cooper até final de 1965, quando abandona a equipe para correr com o carro próprio. Porém, o início da equipe é difícil. O McLaren M2B desenhado por Robin Herd era empurrado por um motor Ford 4.2 V8 usado em Indianápolis que teve de ser diminuído para 3.0. McLaren fez sua estréia no Grande Prêmio de Mônaco e abandonou com um vazamento de óleo no motor.
McLaren continuava correndo em vários tipos de corrida e em 1966 ele vence as 24 Horas de Le Mans com um Ford GT40 MarkIV ao lado do compatriora Chris Amon. Em Brands Hatch, no Grande Prêmio da Inglaterra, McLaren é convencido a usar um motor V8 italiano chamado Serenissima. A pista estava molhada e McLaren consegue o primeiro ponto de sua equipe com um sexto lugar. Porém, o motor Serenissima não era nada sereno e a equipe ficou de fora do campeonato até reaparecerem no Grande Prêmio dos Estados Unidos, com o motor Ford de volta e um quinto lugar no bolso. Para 1967 McLaren usa um motor BRM V12 para sua equipe de F1, mas os motores tinham sido construídos para fazer corridas longas e não correspondeu.
Contudo, se as coisas não estavam boas na F1, nos Estados Unidos tudo ia muito bem. McLaren constrói carros para correr no campeonato Can-Am e o sucesso foi imediato. O M6 pintado de laranja tinha motor Chevrolet e pneus Goodyear e a equipe venceu cinco das seis corridas em 1967, quatro em seis em 1968 e todas as onze em 1969. A equipe tinha, além de McLaren, Denny Hulme nas suas fileiras e a dominação dos dois ficou conhecido na América como “The Bruce and Denny Show”. Bruce McLaren é campeão da Can-Am em 1967 e 1969, enquanto Hulme triunfou em 1968.
Em 1968 a equipe McLaren traz o atual campeão Denny Hulme para correr também na equipe de F1. Os motores Ford-Cosworth estrearam no ano anterior e a equipe também teria os motores americanos empurrando o modelo M7A. No Grande Prêmio da Bélgica, na primeira vez que se viu um aerofólio traseiro num carro da McLaren, Bruce vence sua última corrida de F1. O carro era bom o suficiente para que Hulme brigue pelo campeonato até o final do ano, enquanto McLaren termina o ano em quinto lugar com 22 pontos. Hulme termina o campeonato em terceiro com duas vitória em Watkins Glen e Monza. Em 1969 os carros da McLaren se tornam ainda mais confiáveis, porém esse ano pertenceria a Jackie Stewart e seu Matra-Ford. Bruce consegue um terceiro lugar em Jarama e termina o ano em terceiro lugar.
As pespectivas para 1970 eram boas, com a equipe de F1 cada vez melhor. McLaren partia para sua décima terceira temporada, mesmo tendo apenas 32 anos de idade. Denny Hulme consegue um segundo lugar na primeira etapa em Kyalami e Bruce McLaren repete o resultado em Jarama na etapa seguinte. No dia 2 de Junho, Bruce foi para Goodwood testar o novo McLaren M8 para a temporada de Can-Am. O teste vinha ocorrendo bem até que o capô do carro se soltou e voou para cima de Bruce em plena reta. McLaren perdeu o controle do carro e atingiu em cheio uma cabine de fiscais, que felizmente estava vazia, mas custou a vida de Bruce.
O mundo da F1 ficou chocada com a morte de Bruce McLaren, que era uma figura adorada por todos por causa de sua simpatia. Ele era casado com Sarah e tinha uma filha. A equipe McLaren continuou sendo tocada por Teddy Mayer, agora com uma base na Europa e outra nos Estados Unidos. A McLaren também construía carros de F5000 e Indycars. Em 1972 Mark Donohue venceu as 500 Milhas de Indianápolis pela equipe e em 1974 Emerson Fittipaldi papou o título da F1. Era o primeiro de muitos! A McLaren seria campeã novamente em 1976 com James Hunt, mas os bons resultados começaram a rarear e o dinheiro também. Mayer ficou à frente da equipe até 1980, quando vendeu a equipe para Ron Dennis. A equipe passou por uma reformulação profunda e elevou o nível de toda a F1. Nos anos 80 a McLaren conquistou cinco títulos de pilotos (84/85/86/88/89) e de Construtores quatro vezes (84/85/88/89). A saída de Senna em 1993 foi o início de um pequeno declínio, mas a parceira com a Mercedes devolveu a McLaren de volta ao topo. Este ano a equipe briga pelo campeonato com a velha rival Ferrari. Porém, a McLaren tem o seu início com a chegada de Bruce McLaren e toda a sua criatividade, personalidade e estilo em pilotar carros e dirigir equipes.
Excelente, José Carlos! esta tua biografia é mais extrensa e mais completa do que a minha. Fiz uma em Junho, quando comemorei mais um aniversário da morte de Bruce.
ResponderExcluirNão sei se sabes, mas em principio, está a ser preparado um filme sobre a vida dele, produzido por neo-zelandeses. Agora, não sei se tem a ver com os amiguinhos do Senhor dos Aneis"...