Atualmente se fazem pista nos lugares mais inóspitos do mundo para trazer emoção a F1. São pistas largas, com retas enormes, áreas de escape maiores ainda e curvas extremamente lentas. Mas em 58 anos de F1, nunca será construído uma pista como Spa. Que nos traga tanta emoção, independentemente se faz chuva ou sol. E quando se faz sol e chuva numa mesma corrida então, a prova em questão se torna histórica. O que Hamilton e Raikkonen fizeram nas duas últimas voltas mostraram que a F1 pode ter seus defeitos na atualidade, mas a emoção de dois grandes pilotos disputando a posição em condições nada ideais pode nos mostrar que nem tudo está perdido na nossa amada F1.
Mesmo que a chuva não tivesse dado as caras em Spa, a corrida desse domingo já teria sido ótima, com grandes disputas e ultrapassagens de tirar o fôlego. Mostrando que o ar belga faz bem para ele, Kimi fez um início de corrida arrasador, ultrapassando Felipe Massa na primeira volta com direito a expremida na grama e depois passou Hamilton numa bela disputa na saída da Eau Rouge. O finlandês começava a abrir diferença para Hamilton, que errou na ainda molhada primeira curva, e Massa era um mero coadjuvante, sem condição alguma de se aproximar dos líderes. A forma como Kimi guiava era uma espécia de redenção do atual campeão mundial, mas a previsão de chuva para o final da prova foi o golpe de misericórdia na bela corrida de Raikkonen. Com pneus mais duros, Hamilton se aproximava de Raikkonen, mas somente algo extraordinário poderia dar a vitória ao inglês. E ela veio nas quatro últimas volta em forma de tímidos pingos de chuva, que logo molharam completamente a pista de Spa!
O que se viu nas duas últimas voltas entraram para a história, com Hamilton e Raikkonen trocando de posição praticamente a cada curva, pouca se importando com a chuva que caía mais forte e a enorme quantidade de retardatários que deram uma pitada de dificuldade aos dois. Houve ultrapassagem, toques, retomada de posição, rodada, saída de pista... Sensacional! Kimi e Lewis davam um grande espetáculo de coragem e perícia, enquanto Felipe, extremamente conservador, se juntava a briga. Quando viu seu companheiro de equipe se aproximando, Raikkonen deve ter se assustado com uma nova derrota dentro da pista e cometeu o seu erro fatal. Na saída da Banchimont, o piloto da Ferrari pegou na faixa branca e estatelou sua Ferrari no muro, acabando com o sonho de se igualar a Senna e conquistar a quarta vitória seguida em Spa.
Sem o seu principal rival na corrida, Hamilton não foi aos boxes e, literalmente, se arrastou na última volta, talvez não passando dos 100 km/h! Foi outra vitória numa corrida confusa de Hamilton, mas esta deve ser a mais especial. Lewis teve o mérito de nunca ter perdido as esperanças numa corrida que caminhava para as mãos de Raikkonen, partiu para cima do finlandês numa disputa histórica e ainda segurou sua McLaren em condições extremamente adversas. Porém, para o campeonato, esse resultado não foi 100% bom.
Com Kimi a léguas de distância de Hamilton no campeonato, a Ferrari deverá colocar todas as suas fichas em Massa, que fez uma corrida discreta e conservadora, mas que lhe rendeu um sortudo segundo lugar e mesmo com oito pontos de desvantagem para o piloto da McLaren, terá todas as atenções do mundo da Ferrari, que hoje, na minha opinião, tem o melhor carro do ano. Praticamente descartado da briga pelo título, Raikkonen tem duas opções para este resto de ano. Ou repete a atuação de hoje e corre despreocupado com tudo e com todos, ou volta para as suas atuações apáticas das últimas corridas, onde levava um banho de Felipe. Da mesma forma que se beneficiou por ordens de equipe ano passado, Raikkonen poderá ser a vítima este ano.
A briga na frente foi tão emocionante, que acabamos não vendo o que ocorreu para trás. Que pelas trocas de posições, não deve ter devido nada ao que ocorreu lá na frente. Assim como Raikkonen, Bourdais acabou sendo o grande injustiçado de hoje. Lembrando os seus tempos da Champ Car, o francês fazia uma ótima corrida, subiu de décimo para quarto na primeira volta, superou seu afamado companheiro de equipe em todo o final de semana e andou solidamente na frente da BMW de Kubica. Quando a chuva desabou no final da prova, a Toro Rosso resolveu imitar McLaren e Ferrari, permanecendo com seus dois pilotos na pista. Seria um pódio redentor para Bourdais, com Vettel logo atrás! Porém, quase todos os pilotos tinham parado para trocar os pneus e Heidfeld deu o pulo do gato ao colocar pneus para chuva, enquanto a maioria colocou intermediários. Bourdais e Vettel se arrastava, enquanto Alonso, Heidfeld, Kubica e Kovalainen vinham quem nem loucos na última volta. O resultado foi Heidfeld passando todo mundo por fora, Bourdais perdendo todas as posição, inclusive para Vettel, e Kovalainen fora da pista.
Assim como Bourdais, Heidfeld também estava ameaçado dentro da própria equipe, mas com mais esse resultado o alemão deve ter algo a mais para mostrar nas mesas de negociação com a BMW. Alonso viu uma ótima chance de subir ao pódio quando foi ultrapassado por Heidfeld na última volta maluca e repetiu a sua melhor posição do ano: quarto. Porém, o espanhol fez uma prova bastante forte, inclusive ficando próximo de Felipe Massa no seu início. Em pistas rápidas como Spa e a próxima em Monza, Alonso poderá fazer a diferença, pois Nelsinho Piquet ficou com a duvidosa honra de ter sido o primeiro a abandonar a corrida após bater forte, depois de tocar numa faixa branca que estava úmida no início da prova.
Vettel ainda segurou, a duras penas, Robert Kubica na volta final e conquistou um ótimo quinto lugar, duas posições à frente de Bourdais. Mostrando que está numa ótima fase, Timo Glock conseguiu o último ponto depois de uma corrida em que a Toyota nunca se encontrou, mas o alemão levou seu carro a uma posição impensável no meio da prova. Webber chegou colado em nono, mas o australiano não será lembrado por essa posição na corrida. Heikki Kovalainen foi um dos animadores da corrida após uma péssima largada. Numa atuação de extrema agressividade, o piloto da McLaren vinha ultrapassando quem via pela frente, inclusive numa arrojada manobra em cima de Nelsinho Piquet, quando deixou a Renault para trás numa ultrapassagem por fora na rapidíssima Banchimont. Porém, quando encontrou Mark Webber, o finlandês se animou demais e colocou o australiano para fora na freada da Bus Stop. Após receber uma punição, Heikki desapareceu e só apareceu quando teve que deixar sua McLaren na última volta após a batalha pela terceira posição. Foi uma corrida animada de Kovalainen, mas para ajudar Hamilton no campeonato, ele terá que andar no pelotão da frente, não vindo de trás passando todo mundo!
Mostrando que a evolução da Force India e que é realmente bom em Spa, Adrian Sutil conseguiu um ótimo resultado ao ficar em décimo terceiro, à frente de vários carros mais rápidos do que o seu. Inclusive Trulli, que se envolveu numa série de toques no início da prova. Após uma largada espantosa, o italiano da Toyota levou um toque de Bourdais na Source e só apareceu novamente quando voltou perigosamente à pista após rodas na Bus Stop. Até agora não entendi porquê ele ainda não foi punido! Barrichello abandonou com a sexta marcha quebrada, mas a décima quinta posição de Button mostra que a Honda não poderia lhe proporcionar muita coisa na corrida de hoje.
Foi uma corrida histórica num circuito histórico. O clichê "tudo pode acontecer em Spa" apareceu mais uma vez neste ano e beneficiou Hamilton e Massa. O inglês por mais uma vitória na sua curta carreira e o brasileiro no campeonato, já que agora deverá ser anunciado como piloto número um da Ferrari.
Nenhum comentário:
Postar um comentário