Quando Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na F1, ele disse que ficou muito feliz, pois garantiu seu primeiro triunfo por méritos próprios, largando na pole e vencendo de ponta a ponta, não precisando da ajuda de quebras de adversários ou da sorte. Este sentimento pode estar passando pela cabeça de Nico Rosberg, pois com uma estratégia ousada pelas características do seu carro, levou a Mercedes a vencer pela primeira vez em 57 anos. O jovem alemão esperou pela 111º corrida na F1 para conseguir seu primeiro triunfo e dá para dizer que sua conquista foi na hora certa, pois no meio da confusão sobre a realização ou não do Grande Prêmio do Bahrein semana que vem, a notícia de que um acionista da Daimler questionou seriamente a permanência da Mercedes na F1 ficou em segundo plano. Essa vitória, depois de 50 Grandes Prêmios da Mercedes, pode ser uma resposta a quem duvidava da presença da montadora na F1.
A prova desta madrugada teve momentos mornos, mas como um enorme tabuleiro de xadrez, a corrida foi melhorando na medida em que as estratégias diferentes foram sendo colocadas na mesa e pilotos tentavam se sobressair sobre os rivais com seu ás na manga. Nico Rosberg tinha uma estratégia arriscada pela vida pregressa do seu carro em 2012. A Mercedes tinha mostrado um ótimo desempenho em todos os treinos na Austrália e na Malásia, mas perdia rendimento de forma repentina nas corridas, principalmente devido a um desgaste acentuado dos pneus. Por isso, era esperado uma estratégia de mais visitas nos boxes da Mercedes e a boa largada de ambos pilotos da Mercedes parecia ser a prova de que ambos, Rosberg e Schumacher, fariam isso na China. Nico fez uma largada perfeita, disparando na frente e não dando chance a Schumacher, que se livrou facilmente dos demais. Os dois carros prateados dispararam na ponta, apesar de Schumacher estar bem ao alcance de Jenson Button, terceiro colocado. O que Schummy faria durante a prova será um mistério, pois logo na primeira parada o mecânico responsável pela roda dianteira direita não apertou o pneu e o homem do pirulito liberou Schumacher inadvertidamente, fazendo o alemão abandonar ainda nas primeiras voltas. O sorriso de Schumacher, quando Rosberg cruzou a bandeirada, ao contrário do que disse Galvão, me pareceu sincero de felicidade pelo companheiro de equipe. Enquanto isso, Rosberg mantinha uma boa diferença para Button e quando o inglês foi aos boxes pela segunda vez, Nico permaneceu na pista várias voltas, enquanto Jenson tinha que ultrapassar vários carros. A tática das equipes estava na mesa. Rosberg pararia duas vezes, enquanto os pilotos da McLaren parariam três. Isso seria temeridade pelo histórico da Mercedes, mas quem não se lembra das várias vitórias de Schumacher na Ferrari pelo senso estratégico de Ross Brawn? O engenheiro inglês manteve a estratégia e se viu com 25s de vantagem sobre o segundo colocado Raikkonen nas voltas finais, praticamente garantindo a primeira vitória da Mercedes e de Rosberg. Foi uma vitória histórica para Nico, que se tornou o terceiro filho de um antigo vencedor na F1 a repetir o feito do pai e tira o peso de mais de cem corridas nas costas sem vitórias, mesmo com todos reconhecendo seu talento. Foi uma vitória consagradora de Nico Rosberg, que se comportou em sua primeira vitória como um experiente vencedor de vários Grandes Prêmios.
A McLaren segue a sina de ter o melhor carro, mas não garantir a vitória. Novamente na China, o time comandado de Martin Whitmarsh parecia ter a vitória nas mãos, mas viu outra escuderia ir receber o troféu no pódio. Desta vez com Jenson Button, que largou muito bem, ao pular de quinto para terceiro, o time vacilou em uma estratégia de três paradas, onde o posicionamento na volta do carro à pista é sempre um complicador, além de um erro no terceiro pit-stop de Jenson pôs toda a corrida a perder. Vale lembrar que o erro da McLaren que custou algo em torno de 5 a 6s a Button não garantiria a vitória ao inglês. Fazendo uma projeção, Button sairia dos boxes à frente de Raikkonen, mas ainda uns 20s atrás de Rosberg. Mesmo com um ritmo melhor, o que poderia ocorrer era uma emocionante perseguição nas voltas finais, mas não uma ultrapassagem fácil de Button sobre Rosberg. Contudo, foi importante Button se recuperar do seu acidente bizarro na Malásia e voltar ao pódio, mesmo não mostrando sua principal característica no processo, que é cuidar bem dos pneus. Lewis Hamilton, prejudicado pela sua punição de cinco posições no grid devido a troca de câmbio antes da classificação, tentou compensar com uma pilotagem sólida e correta, onde se aproveitou da afobação de Mark Webber para conseguir o último lugar no pódio, assumir a liderança do campeonato e fazer um favor a Mercedes. No pódio Norbert Haug teve todo orgulho do mundo a mostrar que três motores Mercedes dominaram o pódio. Definitivamente a Red Bull terá que lutar muito para tentar conquistar seus títulos este ano. Mark Webber era sempre o primeiro a ir aos boxes trocar os pneus, mostrando que estava desgastando demais seus pneus. Contudo, andando mais rápido quando voltava à pista, o australiano conseguiu tomar a posição de Hamilton, mas quando Raikkonen perdeu rendimento nas voltas finais, o australiano viu o inglês da McLaren retomar a posição e conseguir um lugar no pódio, algo que Webber ainda não o fez, mesmo estando na frente de Vettel no campeonato. O alemão fez uma corrida tática neste domingo e quase conseguiu um baita resultado. Discreto na primeira parte da corrida, já tinha gente desconfiando do talento de Vettel, mas usando a estratégia, Seb era segundo colocado nas voltas finais, mas sem pneus para segurar os pilotos que tinham uma estratégia de três paradas, o alemão foi ultrapassado nas últimas voltas e caiu para quinto, um bom resultado vide o lugar que largou, mas regular para os altos padrões de Vettel.
A Lotus investiu na estratégia de duas paradas e teve dois resultados distintos. Raikkonen era o segundo colocado, segurando Vettel quando sofreu o ataque do alemão da Red Bull. Kimi tentou resistir e isso acabou sendo seu grande problema, pois saiu da pista, sujou os pneus já muito desgastados e caiu pelotão abaixo, terminando a corrida num obscuro 14º lugar. Já Romain Grosjean, necessitando de um bom resultado depois de completar apenas cinco voltas nas duas primeiras provas do ano, fez uma prova sólida e gastando bem menos os pneus, chegou em sexto lugar, já próximo de Vettel. O francês marcou seus primeiros pontos na F1 com uma boa colocação e mostrou que pode usar seu reconhecido talento em uma boa estratégia e conseguir bons resultados com isso. A Ferrari voltou à dura realidade e mesmo com Alonso chegando a andar no mesmo nível de Hamilton e Webber boa parte da prova, o espanhol não conseguiu outro milagre e foi apenas nono, enquanto Massa, com uma estratégia diferente do companheiro de equipe, não soube utilizar os pneus macios nas voltas finais e ficou numa obscura 13º posição, longe dos pontos e da recuperação prometida e altamente necessária. À frente de Alonso chegou os dois pilotos da Williams, mostrando o quão bom são os carros de Sr Frank Williams. Bruno Senna mais vez fez uma boa corrida e marcou ótimos pontos com um sétimo lugar, brigando de igual para igual com vários pilotos consagrados, sedimentando seu nome na F1, enquanto Pastor Maldonado espantou a zica e finalmente marcou pontos, mas sem se esquecer de suas características agressivas e se metendo em várias brigas por posições arriscadas, mas muito bonitas de ver. Novamente mostrando que não tem medo de cara feia, Maldonado segurou Alonso nas voltas finais e não deu chance ao bicampeão mundial.
Outro que voltou a realidade foi a Sauber. Kamui Kobayashi tinha a chance de ser ele o nome da vez da equipe na China, como Pérez foi na Malásia, mas uma largada ridícula deixou o japonês em posição de fazer apenas uma corrida burocrática, enquanto Sérgio Pérez brigava um pouco mais à frente, porém o japonês conseguiu chegar a frente do mexicano mesmo Pérez tendo que usar toda a pista para se defender do companheiro de equipe, numa manobra brusca e que pode arranhar a harmonia dentro da Sauber. Force India e Toro Rosso foram discretas ao extremo, sendo que apenas Paul di Resta fez um algo a mais ao chegar à frente de Felipe Massa, enquanto a Toro Rosso ficava apenas à frente das nanicas, com a formação Carterham-Marussia-HRT de sempre.
Essa vitória de Rosberg dá um bom fôlego ao campeonato, pois mostra uma terceira força no mundial, já que aparentemente a Mercedes tendo consertado o problema no desgaste de pneus e podendo brigar pela ponta também durante a corrida. Mostrando o equilíbrio deste campeonato neste início com apenas três provas, houve três pilotos diferentes vencendo, dezessete pilotos marcando pontos e todos os times, afora as nanicas, já tendo pontos no campeonato. E para melhorar, a Pirelli finalmente proporcionou a equipes e pilotos estratégias diferentes, seu objetivo não alcançado ano passado e que pode garantir boas corridas ao longo do ano, como a deste domingo. Se no ano passado houve várias boas corridas e um campeonato chato e em 2010 houve o contrário, 2012 tem a pinta de mostrar boas corridas e um campeonato emocionante, apertado e equilibrado. Uma ótima notícia!
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