Num tempo em que jovens pilotos tentam seguir a carreira gloriosa de seus pais, ele foi um dos primeiros a fazê-lo e repeti-lo com enorme sucesso. Dono de uma longa carreira recheada de sucessos, Al Unser Jr foi um dos protagonistas da era dourada da F-Indy, onde conquistou por duas vezes o campeonato, além de vencer também por duas vezes as 500 Milhas de Indianápolis, o que era por si só um campeonato a parte. Com cara de garoto, enfrentou de igual para igual lendas como Rick Mears, Emerson Fittipaldi e seu pai, Al Unser Sr, mas quando a idade chegou, infelizmente Al Unser Jr passou a sofrer com problemas de alcoolismo e essas foram suas últimas, péssimas, notícias. Porém, completando cinqüenta anos essa semana, vamos conhecer um pouco mais da carreira deste piloto que marcou o automobilismo americano nas décadas de 80 e 90.
Alfred Unser Junior nasceu no dia 19 de abril de 1962 na cidade de Albuquerque, no Novo México, nos Estados Unidos, numa família que até hoje respira automobilismo. Seu pai, que tem o mesmo nome, é uma lenda do automobilismo americano com quatro vitórias em Indianápolis e seu tio, Bobby Unser, não ficou por menos, com três triunfos no solo sagrado do circuito de Indiana. Nada menos que outros seis parentes da família Unser correram nas pistas americanas no último meio século, inclusive seu tio Jerry, morto ainda na década de 50. Com seu pai começando a obter sucesso no automobilismo no rastro de Bobby, Al Unser Jr começou a correr de kart aos nove anos de idade, juntamente com seu primo Johnny. Little Al também correu muitos anos nas famosas corridas de terra em gaiolas, também conhecidas como outlaw (fora-da-lei) e foi nesse tipo de pista que ele ganhou experiência para derrapagens controladas. Quando chegou aos 18 anos, Al Unser Jr começou a se aventurar nas corridas de asfalto com imediato sucesso, conquistando o título da F-Super Vê em 1981 e já no ano seguinte, participando pela primeira vez de algumas provas da F-Indy na pequena equipe Forsythe, enquanto paralelamente vencia o conceituado campeonato da Can-Am, que era composto por protótipos de alta potência na América do Norte.
Mesmo com apenas 20 anos de idade, Al Unser Jr estreou oficialmente na F-Indy pela equipe Galles numa época interessante para a categoria. A F-Indy iniciava uma era com jovens pilotos ameaçando as velhas raposas dos tempos da USAC, o que incluía Al Unser Sr e Bobby Unser, além de Tom Sneva e Mario Andretti, que se aposentava da F1 e retornava à Indy full-time. Rick Mears estava no auge de sua carreira e sua pilotagem em ovais assombrara a todos. Em 1982 Bobby Rahal estreava na Indy, vindo de uma passagem apagada na F1 e de relativo sucesso na Can-Am, em grande estilo, ficando com o vice-campeonato e iniciando uma carreira gloriosa. Teo Fabi cruzava o Atlântico com sucesso e isso atrairia nos anos seguintes pilotos marcantes na década de 80, como Danny Sullivan, Emerson Fittipaldi e Roberto Guerrero. E finalmente, Al Unser Jr encontraria o que talvez fosse seu maior rival na Indy ao longo de sua carreira, por sinal, também filho de um grande piloto americano: Michael Andretti. Essa junção de grandes nomes fazia com que a Indy iniciasse um momento de glória e os anos 80 seria de grande crescimento para a categoria. Al Unser Jr fez um ótimo primeiro ano na Indy e ficaria em sétimo lugar no campeonato, ainda que perdesse o valoro título de Novato do Ano para Teo Fabi. Contudo, uma passagem conhecida aconteceria nas 500 Milhas daquele ano. Retardatário no final da prova, Al Jr tentou ajudar seu pai ao segurar Tom Sneva nas voltas finais, mas o velho Al Sr não conseguiu a vitória em Indianápolis, mas acabaria vencendo o campeonato. Para 1984 Al Unser Jr ganharia o patrocínio da Domino’s Pizza e um companheiro de equipe, Pancho Carter, mas num ano dominado por Mario Andretti, da Newman-Hass, Little Al teve que se conformar com o sexto lugar e sua primeira vitória na categoria, em Portland. Mesmo jovem, Al Unser Jr já era considerado uma das estrelas da categoria e em 1985 ele levou seu patrocínio para Shierson Racing, uma equipe do mesmo nível da Galles, mas Al Jr seria o piloto único, ficando com toda a atenção do time. Seu pai não participaria da temporada de 1985 inicialmente, mas como Rick Mears ainda se recuperava do seu grave acidente em Quebec em 1984, Al Unser Sr foi convidado pela Penske a fazer parte da temporada, mas como os resultados do veterano piloto eram muito bons, Al Sr foi ficando. Al Unser Jr tem um começo de temporada ruim, mas duas vitórias consecutivas em Meadowlands e Cleveland o colocou no páreo do campeonato. Por incrível que pareça, a disputa pelo campeonato de 1985 estava na casa dos Unser, com o velho Al Unser superando o filho na penúltima etapa do ano em Phoenix, numa inédita dobradinha pai e filho. A última etapa, nas ruas de Miami, foi um show de experiência do velho Al Sr, que mesmo preferindo os ovais, enquanto Al Jr se dava melhor nos mistos, seguiu seu filho e com um quarto lugar, superou seu filho por apenas um ponto.
Al Unser Jr não repetiu a mesma performance do ano anterior, mesmo com seu pai tendo se aposentado após o triunfo no ano anterior, mas Little Al não sairia de 1986 com as mãos abanando, pois ele participaria com enorme sucesso da série IROC, de carros de turismo super-preparados, onde derrotou, além dos grandes pilotos da Indy, também os grandes da Nascar, como Richard Petty e Dale Earnhardt. Com duas vitórias em quatro corridas, Al Unser Jr se tornou o mais jovem vencedor da categoria com 24 anos e Little Al repetiria a dose em 1988. 1987 veria o bicampeonato de Bobby Rahal e mesmo sem conquistar nenhuma vitória, Al Unser Jr ficaria com o terceiro lugar do campeonato basicamente na base da regularidade. A Shierson não parecia mais capaz de lhe dar um carro vencedor e por isso ele se voltou para a Galles em 1988, onde passaria a correr com o patrocínio no qual ele ficaria conhecido: o belo carro azul da Valvoline. A troca se mostra acertada e Al Unser Jr volta a vencer depois de dois anos, mas nem suas quatro vitórias lhe possibilitaram o título daquele ano, que ficou com certa facilidade com Danny Sullivan, da Penske. Até aquele momento da carreira, Indianápolis não havia sido um lugar de muita sorte para Al Unser Jr. Com um quinto lugar como melhor resultado, Al Jr teria sua melhor chance de acabar com sua seca em 1989, numa disputa épica com Emerson Fittipaldi. O brasileiro da Patrick dominou toda a corrida, mas no último pit-stop, sua equipe cometeu uma gafe incrível ao encher demais o tanque de combustível do Penske de Emerson e com o carro mais pesado, o brasileiro foi alcançado por Al Unser Jr e ultrapassado com facilidade nas voltas finais. Porém, o americano deu de cara com um grupo de retardatários no meio da reta oposta e por um segundo, Al Jr hesitou. Era o que Emerson necessitava para colocar seu carro por dentro, mas vendo a vitória tão perto, Unser Jr não recuou e o toque foi inevitável. Pior para o americano, que foi direto para o muro de concreto e teve que se conformar com a segunda colocação. Porém, as glórias não demorariam a acontecer.
Em 1990 sua equipe se une a Kraco, formando um super-time com Bobby Rahal. Usando um Lola-Chevrolet, o time Galles-Kraco iria enfrentar todo o poderio da Penske, que acabara de contratar Emerson Fittipaldi para se unir a Rick Mears e Danny Sullivan, enquanto a Newman-Hass teria o mesmo equipamento da Galles-Kraco e uma dupla familiar, com Mario e Michael Andretti. Seria um duelo de titãs pela primazia da Indy. Al Unser Jr teria como maior rival naquele ano Michael Andretti, com quem disputava a liderança palmo a palmo do campeonato até a sua metade, quando Unser consegue uma espetacular sequencia de quatro vitórias consecutivas (Toronto, Michigan, Denver e Vancouver), que era um recorde na categoria, e conquistou seu primeiro título na carreira da Indy. A F-Indy estava no seu auge e seus pilotos eram alvos para a F1 e Al Unser Jr, mesmo há tanto tempo na categoria ainda tinha 28 anos, teve sua chance de experimentar um Williams em 1991, mas aquele seria o único contato do americano com a F1, apesar das especulações de uma possível mudança de categoria. A Galles-Kraco resolve desenvolver seu próprio chassi em 1992 e isso acarretaria muitos problemas para o time, pois o Galmer não era capaz de fazer frente aos desenvolvidos Lola e o moderno Penske. Para piorar as coisas, Bobby Rahal saiu do time para montar sua própria equipe e no seu lugar veio Danny Sullivan, com o qual Al Unser Jr teve um péssimo relacionamento, a ponto dos dois terem trocado sopapos durante o final de semana em Detroit. Contudo, 1992 acabaria sendo bastante especial para Al Jr. Aquela edição das 500 Milhas de Indianápolis foi marcada por vários acidentes graves, como o que quase aleijou Nelson Piquet e fez Rick Mears cruzar toda a reta oposta de cabeça para baixo. Isso aconteceu nos treinos, mas na corrida não foi muito diferente, com vários dos favoritos tendo problemas ou sofrendo acidentes, fazendo daquela corrida bastante truncada. Isso fez com que Al Unser Jr liderasse a corridas nas voltas finais com relativa facilidade, mas uma ameaça inesperada fez daquela corrida histórica. Scott Goodyear só correu em Indianápolis porque sua equipe, a Walker, classificou com outro piloto e ainda assim preferiu o americano. Goodyear largou em último e teve todo tipo de problemas ao longo das três horas de corrida, mas nas voltas finais estava em segundo e se aproximando de Unser Jr. Para piorar, o terceiro colocado Al Unser Sr não podia fazer nada para ajudar o filho. A corrida se torna dramática e na última volta Goodyear encosta de vez e bem na reta de chegada, coloca seu carro de lado, mas Unser Jr garante sua primeira vitória em Indiana com a ínfima margem de 0.043s, a menor diferença até então em Indianápolis.
A Galles retorna ao chassi Lola em 1993, mas o time não parecia capaz de dar um carro para Unser Jr brigar pelo título, ganho naquele ano por Nigel Mansell. Antes da temporada começar, Al Unser Jr participa das 500 Milhas de Daytona da Nascar, mas nunca faria outra prova na stock-car americana. Considerado um dos grandes pilotos da Indy na época, Unser Jr seguiria o caminho do seu pai e do seu tio ao seu unir a Roger Penske, dono da melhor estrutura da época. Mesmo satisfeito com Emerson Fittipaldi e Paul Tracy, Roger Penske procurava derrotar a Newman-Hass e para isso consegue um acordo com a Mercedes Benz para lhe fornecer um motor revolucionário, bastante pequeno e leve. O propulsor alemão faz sucesso imediatamente e em Indianápolis, o motor era nitidamente mais potente do que os demais. Ainda no começo do campeonato, Al Unser Jr se adapta rapidamente a Penske, inclusive mudando as cores do seu capacete, conseguindo sua primeira vitória na nova equipe em Long Beach, corrida anterior a Indianápolis. Little Al consegue o que seria sua única pole em Indiana, mas rapidamente Emerson Fittipaldi toma as rédeas da prova de forma dominadora. O brasileiro estava a ponto de colocar uma volta em Al Unser Jr (que vinha em segundo!), quando Emerson bateu na curva quatro destruindo o que seria sua terceira vitória em Indianápolis. Al Unser Jr tem sua pequena vingança de 1989 e toma seu litro de leite na Victory Lane pela segunda vez. Na verdade, ninguém poderia segurar Al Unser Jr em 1994 e com oito vitórias, conquista seu segundo campeonato com sobras. Foi um ano atípico da F-Indy, pois a Penske dominou como nunca havia feito uma equipe, com Emerson Fittipaldi ficando com vice-campeonato, seguido por Paul Tracy.
Aquele momento era o auge de Al Unser Jr, que faturou o prêmio de Atleta do Ano da ABC, mas no ano seguinte ele teria uma grande decepção. Nos treinos para as 500 Milhas de Indianápolis de 1995, mesmo palco da dominação da Penske um ano antes, Al Unser Jr e Emerson Fittipaldi não conseguem um lugar no grid de 33 lugares, ocasionando um das maiores zebras da história do circuito. A Penske e Al Jr ainda se recuperariam durante o ano e o piloto ficaria com o vice-campeonato com quatro vitórias, com o título ficando com Jacques Villeneuve. Contudo, o que ninguém sabia era que a vitória em Vancouver, a 31º, seria a última de Al Unser Jr na F-Indy. A Penske entraria numa grande crise a partir de 1996, com os motores Mercedes não conseguindo fazer frente aos Honda, que levaria a Chip Ganassi a quatro títulos consecutivos. A saída das 500 Milhas de Indianápolis do calendário da CART a partir de 1996 fez com que Al Unser Jr não pudesse refazer o vexame de 1995 e sua falta de resultados fez com que Al Jr começasse a beber cada vez mais. Na abertura da temporada de 1999 Al Unser Jr sofre seu mais sério acidente na Indy até então, quebrando a perna e ficando boa parte da temporada de fora. Aquilo desmotivou ainda mais Al Jr e quando ficou claro que não estava nos planos da Penske para 2000, o piloto abandonou a CART (desfazendo a parceria gloriosa com a Penske) e se juntou a categoria rival, para poder participar das 500 Milhas.
Os primórdios da IRL eram de uma categoria com pilotos se segundo nível, com carros defasados tecnologicamente e corridas somente em ovais. O nível geral era bem mais baixo do que a CART, principalmente em meados da década de 90, mas ainda assim Al Unser Jr não se sobressaiu. Retornando pela terceira vez à Galles, que estava na IRL, Unser ainda venceu duas corridas entre 2000 e 2001, mas um sério acidente de trânsito em outubro de 2003 fez com que Al Jr anunciasse sua aposentadoria em 2004, mas o já veterano piloto teimava em voltar para participar, particularmente, das 500 Milhas de Indianápolis. Sem a mesma magia que o fez ser considerado um dos grandes pilotos da Indy na década de 90, no auge da categoria, Al Unser Jr exibia um preparo físico precário, mesmo para um piloto semi-aposentado e em janeiro de 2007 ele foi preso ao sofrer um acidente e não prestar socorro. Mais tarde foi provado que ele estava bêbado e ele teve que se internar numa clínica de desintoxicação, enquanto auxiliava seu filho, Al Unser III, a iniciar sua carreira nos monopostos americanos. Sem sucesso. Aparentemente curado de sua dependência do álcool e atuando como consultor da Indy, Al Unser Jr acabaria preso novamente no final de 2011, acusado de estar guiando embriagado. Uma notícia triste para um piloto que marcou uma época com sua pilotagem agressiva e seu rosto de garoto, enfrentando grandes lendas do automobilismo americano. Só nos resta torcer por uma reviravolta na vida de Little Al.
Parabéns!
Al Unser Jr
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