No momento em que a blogueira Yoani Sánchez é escorraçada pela parte radical (e, por que não dizer, babaca) da política esquerdista brasileira apenas por ser contra a ditadura de Fidel dentro da própria ilha, Cuba foi protagonista de um lance pitoresco 55 anos atrás.
Fulgêncio Batista via sua ditadura (Cuba parece ter 'sorte' com essas coisas...) ir para o brejo em 1958 e para tentar tirar o foco da insurreição vinda da Sierra Miestra, resolveu promover uma corrida de carros esporte em Havana no dia 24 de Fevereiro, data que marca o começo do processo de independência de Cuba. Os grandes pilotos da época foram contratados, inclusive o mitológico Juan Manuel Fangio. O argentino era uma estrela na época e principal atração da corrida, visto que poucos meses antes havia vencido seu quinto título na F1. Isso chamou a atenção de Arnol Rodriguez, responsável pelo setor de propaganda dos revoltosos.
Com o mundo inteiro olhando para Cuba, o sequestro da estrela principal não apenas estragaria a festa de Batista, como promoveria a causa Castrista. Para isso, era fundamental que Fangio não fosse mal-tratado quando sequestrado, para não passar a impressão de que os revoltosos eram também terroristas. No dia 23 de fevereiro de 1958, Fangio é abordado pelo sequestrador Manuel Uziel na porta do elevador do Hotel Lincoln, onde estava hospedado. O argentino é levado para um carro Plymouth que o esperava na porta do Hotel e passa a noite com seus sequestradores em uma casa próximo à praia.
Não faltam lendas a respeito das horas em que Fangio passou com seus sequestradores. Conta-se que quando o pentacampeão mundial sentou no carro e se encontrou com Rodriguez, o cubano pediu-lhe mil desculpas e que não lhe faria mal. Fangio passou o tempo necessário com seus raptores para que o mundo soubesse da 'revolução' cubana e escapasse de ver a morte novamente nas pistas. Explico: mesmo com o escândalo do sequestro de Fangio, a corrida aconteceu normalmente no domingo, mas o espanhol Armando Garcia Cifuentes acabou se acidentando ainda no começo da prova, ao perder o controle de sua Ferrari e atingir a multidão que se aglomerava nas ruas de Havana. Sete pessoas acabaram morrendo.
Após a corrida, Fangio foi libertado pelos seus sequestradores junto a representantes da embaixada da Argentina. Depois desse susto, Juan Manuel Fangio começou a desistir de sua carreira internacional e no meio do ano fez sua última corrida na F1 na França. Quanto aos sequestradores, eles ganharam a notoriedade que desejavam e subiram ao poder poucos meses depois. E também ganharam um amigo! Fangio se tornou amigos de todos os seus raptores, em especial Arnol Rodriguez e Faustino Perez, que foi o chefe da parte operacional do sequestro. Fangio sempre tratou esse episódio como um 'sequestro amável'. Trinta e dois anos depois, Fangio voltou à Cuba como representante da marca capitalista Mercedes-Benz. E foi super bem tratado pelos seus antigos algozes. Ao contrário de Yoani Sánchez...
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